Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Escritores criticam rigidez do governo

Escritores e editoras do Irã alegam que as novas regras de censura do país os impedem de lançar novos livros, noticia Golnaz Esfandiari [Radio Free Europe / Radio Liberty, 31/10/06]. Eles afirmam que o Ministério da Cultura do Irã tem prejudicado a publicação de novos títulos, chegando a pedir que os livros já publicados sejam submetidos a uma nova aprovação.

Críticos da campanha do governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad de controlar autores e editoras temem que a medida destrua a indústria editorial do Irã. Para a escritora iraniana Farkhondeh Hajizadeh, o processo de obtenção de licença para novos títulos tornou-se ‘um monstro’. Ao longo do ano passado, muitos de seus livros não foram publicados. ‘Seria mais fácil me perguntar quantos livros meus receberam licença’, responde ela quando questionada sobre o número de livros de sua autoria que foram retidos por censores. ‘No ano passado, nenhum de nossos livros recebeu permissão sem modificações. Parece que a indústria editorial está devastada, ou que editoras independentes não podem mais existir’.

Mudança radical

A publicação e distribuição de livros no Irã sempre necessitaram de permissão do Ministério da Cultura, que exige a exclusão de conteúdo considerado anti-islâmico, imoral ou politicamente inaceitável. As restrições foram atenuadas no governo do reformista Mohammad Khatami, no poder de 1997 a 2005, e em especial sob a administração de seu primeiro ministro da Cultura, Attaollah Mohajerani. Ele foi obrigado a deixar o cargo após as diversas críticas de conservadores.

Quando o presidente Ahmadinejad assumiu o governo, em 2005, colocou o ex-editor do diário conservador Kayhan, Hossein Saffar Harandi, no posto de ministro da Cultura. Harandi iniciou uma campanha para retirar do país ‘produtos não-saudáveis’ e para reavivar os valores da revolução Islâmica. Segundo Farkhondeh, antes era possível prever quais livros enfrentariam dificuldades para se obter a licença, mas hoje não existe mais um critério claro.

Alguns escritores, como o romancista Ali Ashraf Darvishian, decidiram não submeter seus livros ao Ministério da Cultura. ‘Eu posso lhe dizer quatro mil títulos que estão atualmente esperando permissão. Alguns dos escritores e poetas publicam seu trabalho fora do Irã ou em sítios na internet. Isto colocou muita pressão na indústria editorial, e algumas editoras foram à falência. Muitos vendedores de livros mudaram de profissão’, diz.

A Associação de Escritores do Irã afirmou na semana passada que a censura atingiu um auge crítico no país. A associação alertou que a comunidade cultural do Irã não ficará silenciosa. ‘Eu acho que teríamos resultados se os protestos se tornassem mais espalhados na forma de manifestações ou cartas com muitas assinaturas. Porque um país não pode continuar sua vida sem arte, sem escritores, sem poetas e sem poesia’, desabafa Darvishian.