Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Expansão da net assusta radiodifusores

Desde a abertura do 25º Congresso Nacional de Radiodifusão, na terça-feira, 19, o assunto mais persistente nos debates tem sido o avanço da Internet e seu potencial predatório da radiodifusão. Na quarta-feira, 21, uma das últimas reuniões realizadas no encontro promovido pela Abert revelou que o tamanho do temor dos radiodifusores de que as novas mídias invadam seu espaço no mercado. A oficina inicialmente prevista para discutir o PL 29/2007, que cria novas regras para a TV por assinatura e para o audiovisual, e seus impactos na radiodifusão, transformou-se em um fórum de queixas de diversos representantes de emissoras, que se mostraram assustados com a rapidez com que a internet tem ocupado espaços de divulgação de conteúdos.


‘Tem uma tempestade em curso e já começou a pingar. Vem ai uma tempestade de tecnologia e pessoas mais ansiosas e apressadas já pensam: `Vou vender minha rádio´, `, Vou vender minha TV´, `Não vou migrar pra TV digital porque a banda larga vai acabar comigo´. Não dá para a gente desistir e pensar que vamos nos molhar e já perdemos’, afirmou o vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo e consultor da Abert, Evandro Guimarães, tentando acalmar os ânimos dos participantes.


Mas mesmo com a intervenção do executivo, diversos representantes de emissoras, principalmente retransmissoras do Nordeste, não se contiveram e apresentaram aos deputados Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) e Júlio Semeghini (PSDB-SP) suas preocupações. ‘Essa tempestade já chegou para as empresas menores’, queixou-se uma representante de retransmissora.


Inevitável


Em suas apresentações, Lustosa e Semeghini, a seu modo, falaram da inevitabilidade do avanço da internet e defenderam a urgência de uma reforma na regulação na oferta de conteúdo, que pode ser atendida pelo PL 29 em parte. Lustosa incentivou os radiodifusores a apoiar a reforma, argumentando que a manutenção das regras em vigor não impedirá o avanço da internet. ‘O novo campo de jogo é de grandes incertezas. E a tendência é ficar parado onde está porque pode não estar bom, mas ao menos se sabe como está. O problema de um futuro de incertezas é que, muitas vezes, ele nos prende a uma realidade de inconveniências. É preciso aceitar que a internet é uma realidade inexorável’, avaliou o deputado.


Semeghini também criticou a postura de empresas que defendem a manutenção das regras atuais, sem qualquer revisão. ‘As pessoas dizem: `Ah, Júlio, enquanto não passar o projeto (PL 29) é bom porque o setor de radiodifusão está protegido´. Eu penso absolutamente o contrário’, afirmou o parlamentar. ‘A gente tem que imaginar a chegada de um mundo novo muito mais rápido do que vocês estão imaginando’, complementou, apontado para o crescimento dos acessos de internet, inclusive móvel.


Defesa


Esse nervosismo dos radiodifusores garantiu, ao menos, a defesa da Abert de que a veiculação de conteúdo na internet sofra algum tipo de regulação, bandeira levantada inclusive pelo presidente da associação, Daniel Slaviero, em seu discurso de abertura do congresso. O conselheiro de relações institucionais da Abert e da ANJ, Fábio Andrade, que mediou a discussão, incluiu a necessidade de um controle de conteúdo na web como um dos itens que o setor não abre mão na negociação sobre o PL 29. ‘A concorrência de um serviço totalmente desregulado como é a rede internacional de computadores pode ser predatória tanto para a televisão paga quanto para a TV aberta’, argumentou.


Evandro Guimarães reforçou a intenção da Abert de entrar na briga para preservar a radiodifusão e criticou sutilmente o setor de telecomunicações, que classificou como de ‘capital intensivo e poder, às vezes, excessivo’. ‘Tem que morrer atirando, se é que vamos morrer. Atirando, talvez a gente descubra que não é a gente que vai morrer’, declarou o consultor da Abert.


PL 29


Exagerado ou não, os apelos das empresas presentes demonstraram que a idéia de regulamentar a oferta de conteúdo na Internet tem potencial para ser a nova grande polêmica no setor. A janela para que isso ocorra já está aberta no PL 29. O novo substitutivo, apresentado pelo relator Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) na Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) inclui a veiculação de conteúdos audiovisuais pagos na web na lista de ofertas afetadas pelas regras do projeto. E, por enquanto, o futuro relator na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara, deputado Paulo Henrique Lustosa, não pretende retirar esse item do texto.


Lustosa disse que tentará enquadrar quais ofertas via internet devem seguir a nova lei, caso aprovada, mas demonstrou preocupação com o tema. ‘Eu acho que qualquer tentativa de restringir a Internet vai gerar uma reação muito forte contra o projeto’, afirmou. Como o assunto já vinha sendo negociado com os relatores anteriores, o deputado tem esperança de que é possível costurar um acordo para uma regulação mínima. Mas, segundo ele, a prioridade é que a tramitação continue avançando e que o texto possa ser colocado em votação ainda neste ano, com ou sem uma definição sobre a venda de conteúdos pela internet.