Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Fazer um novo rádio aqui e agora

É público e notório que nosso rádio precisa mudar. As fórmulas de ação e de confecção de programas ainda são bastante atrasadas e não refletem muito os anseios dos ouvintes. Temos ouvido programas que se perdem em fofocas, horóscopos e outras formas de ludibriar os ouvintes, mostrando a falta de conteúdo e de investimento jornalístico para que a informação seja o carro-chefe do processo comunicativo radiofônico. Claro que o argumento de sempre é de que estas fórmulas dão audiência. Será? Já se fez uma consulta ao ouvinte sobre o que ele realmente quer do rádio? Já foi dada a oportunidade do ouvinte dizer o que pensa das programações e já se tentou fazer o rádio aos moldes do pensamento do ouvinte que tem consciência, sabe o que quer e pode fazer a diferença?

O rádio tem de ser um instrumento de informação e serviço, buscando dar àqueles que o procuram a oportunidade de saber o que se passa no mundo e, principalmente, em seu local de vivência. Às vezes, muitas informações que saem no meio rádio são deslocadas da realidade vivida pelo ouvinte e diferenciada do contexto em que o mesmo pensa. O rádio precisa se atualizar no quesito interatividade, pois o ouvinte tem de ter oportunidade de dizer o que pensa da comunicação emitida e dar opinião sobre as programações para que haja um processo de sintonia perfeita entre o usuário e o emissor. Claro que não estamos duvidando da criatividade de nossos programadores nem criticando por criticar, mas acreditamos que muitos aspectos da comunicação radiofônica têm de ser mudados para que todos sejam beneficiados no processo comunicativo.

Freqüência e qualidade de emissão

É importante que se faça investimento na conquista do público jovem para o rádio AM que com certeza não procura esta modalidade, preferindo a comunicação musical das rádio FM´s e não buscando o papel informativo que só o AM tem dado durante o decorrer de sua história. Mas é importante também buscar a opinião deste público em relação ao modelo de rádio que ele busca para fazer uma programação que seja adequada ao pensamento jovem e que traga a comunicação que ele gosta para conquistar a audiência desse grupo que geralmente tem se afastado do rádio AM e tem em muito sido vítima da alienação da comunicação que, às vezes, tem sido promovida por algumas rádios do modelo FM. Claro que este modelo de comunicação já tem mudado um pouco e buscado mais informação, porém ainda é a informação da novela, e não da vida real e do cotidiano de seus ouvintes.

Outra mudança urgente no rádio, principalmente AM, é a qualidade das emissões, que tem sido muitas vezes cheia de ruídos, com dificuldade de sintonia e de emissão, o que com certeza faz com que o ouvinte se afaste da programação, pois a emissão tem de ser limpa, cristalina e perfeita para o deleite do ouvinte. É preciso que os que administram as rádios invistam na melhoria da freqüência e na qualidade da emissão para que o som do rádio seja perfeito e estimule o ouvinte a buscar a programação.

Respeito ao ouvinte

A comunicação com o ouvinte deve ser reforçada dando ao mesmo a oportunidade de saber da programação e conhecer qualquer tipo de mudança que venha a ocorrer, pois em muitos casos a programação é mudada e sequer é feita uma comunicação sobre as transformações ocorridas, deixando o ouvinte perdido no dial sem saber o que ocorreu. É preciso que as emissoras de rádio exponham sua programação e comuniquem qualquer mudança ocorrida como sinal de respeito ao seu usuário (o ouvinte).

Outra transformação que deve ocorrer no mundo radiofônico diz respeito às suas relações com o mundo publicitário, mostrando a este a importância e o alcance deste meio de comunicação para dar aos investidores oportunidade de saber que o investimento no meio rádio tem retorno garantido, pois o produto divulgado vai ser conhecido por muitas pessoas que tem sempre o rádio como companheiro em casa, no carro ou no trabalho. Esta característica do meio rádio tem de ser conhecida pelos investidores e negociantes, que muitas vezes desconhecem seu alcance e não dão a devida importância a este meio no que diz respeito à propaganda.

É preciso também que o Ministério das Comunicações tenha um papel mais sério e firme no que diz respeito ao processo de emissão radiofônica e na qualidade da comunicação tanto em termos de mensagem quanto em emissão, pois sabe-se que muitas outorgas de rádio estão vencidas e que muitas vezes a tipologia técnica do rádio não é cumprida pelos concessionários.

É preciso, sim, mudar nosso rádio, mas mudar com respeito ao ouvinte, com melhoria técnica e o respeito que seus usuários, buscam, merecem e lutam para a construção de um mundo comunicativo verdadeiro, solidário e justo.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE