Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Imprensa dá voto de confiança a Ortega

O recém-eleito presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, prometeu não agir como seu governo sandinista na década de 80 – com direito a censores na redação do La Prensa, maior jornal do país, e tanques estacionados em frente ao diário. O ex-revolucionário marxista se recusou a falar com repórteres durante a campanha, e magnatas de mídia adotaram uma postura de cautela, esperando para ver como o novo presidente se posicionará. ‘Nossas portas continuam abertas para interpretar apropriadamente o governo dele. Mas estamos dando a ele o benefício da dúvida’, afirma Xiomara Chamarro, editora-política do La Prensa.


Depois de eleito, na semana passada, Ortega imediatamente tentou se aproximar da Igreja Católica Romana e de empresários, dois dos três setores que mais o criticaram durante seu primeiro mandato, de 1985 a 1990. Mas Ortega ainda tem de conquistar a imprensa. ‘[Os jornalistas] podem falar o que quiserem. Há liberdade de expressão aqui’, teria dito ele no discurso de vitória após o pleito do dia 5/11.


Lua-de-mel


Na opinião de Xiomara, o momento atual assemelha-se ao modo como os sandinistas de Ortega agiram no início da década 80, após forçarem o ditador Anastasio Somoza a deixar o poder em 1979, adotando, inicialmente, uma postura de apoio a uma imprensa livre. ‘Parecia uma lua-de-mel. Vamos ver, agora, quanto esta atual lua-de-mel vai durar’, desabafa. Segundo ela, o La Prensa foi duramente censurado durante o primeiro governo de Ortega. Na ocasião, os sandinistas chegaram a aprovar uma lei que tornava ilegal criticar a revolução.


A relação do político com o diário é complexa. A ex-publisher do La Prensa, Violeta Chamorro, derrotou Ortega nas eleições de 1990, colocando fim ao governo sandinista. Pedro Joaquin Chamorro, seu marido e ex-editor do jornal, foi assassinado por seguidores de Anastasio Somoza em 1978.


Mesmo diante deste passado, muitos editores acreditam que o novo governo de Ortega não vai valer-se de censura, em parte porque os jornais atualmente dependem menos de anúncios governamentais – usados geralmente para influenciar a cobertura editorial. Joel Gutierrez, diretor da emissora de TV Canal 2, diz acreditar que o novo governo tenha aprendido com os erros passados, muitos influenciados pelo fato de o país estar em guerra civil com a guerrilha Contra, financiada pelos EUA. Informações de Joseph B. Frazier [Associated Press, 13/11/06].