Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Joan Harlow

‘Mesmo num lugar cheio de reviravoltas como é Hollywood, poucos apostariam que uma comédia de baixo custo, contando a história de um professor divorciado e infeliz e de um ator louco por sexo, iria mexer com um mercado que movimenta US$ 20 bilhões por ano – o dos vinhos americanos.

Isso foi exatamente o que fez Sideways, filme recém premiado com o Oscar de roteiro adaptado, para desespero dos proprietários de vinícolas que cultivam a uva merlot. O protagonista do filme, um professor apaixonado por vinhos vivido por Paul Giamatti, detesta vinhos merlot, os mais populares nos Estados Unidos nos últimos 15 anos, e adora os pinot noir, até então um rival bem menos favorecido.

Numa viagem com um amigo por uma região vinícola perto de Los Angeles, o protagonista se apaixona por uma estudante vivida por Virginia Madsen e declara a ela que o bouquet do pinot é ‘o mais assombroso e brilhante e excitante e sutil e… antigo no planeta’. E se recusa a beber o merlot com um sonoro palavrão.

Entre outubro, quando Sideways foi lançado nos Estados Unidos, e janeiro, quando o filme recebeu o prêmio dos críticos de cinema, as vendas de merlot caíram pela metade no oeste americano. Em contrapartida, as vendas de pinot noir através do país se multiplicaram e muitos apreciadores de vinho trocaram o pinot francês pelo californiano.

O filme ainda bateu recorde de afluência de turistas às vinícolas de Santa Ynez, onde foi rodado. Analistas de negócios da ACNielsen acreditam que o merlot vai passar por uma crise de popularidade, pelo menos enquanto durar o que eles chamam de ‘efeito Sideways’. Vendedores de vinho colocam garrafas de pinot em pôsteres de vinhos californianos e oferecem visitas guiadas às vinícolas.

O varejo britânico divide o brinde: a rede Sainsbury comemora o crescimento de 20% nas vendas do pinot, enquanto Tesco e Oddbins – que tem uma promoção Sideways – afirmam que as vendas cresceram cerca de 10% desde que o filme foi lançado.

Além disso, o fenômeno provocou uma corrida aos cursos de primavera sobre vinhos. Segundo alguns experts, é possível acabar com várias fobias com um par de garrafas de vinhos.

‘Pinot é uma uva difícil de se acertar’, afirma um enólogo do respeitado Dick Blind, loja de vinhos de Los Angeles. ‘Você estará melhor com um merlot barato e seguro do que com um pinot barato, mas sem segurança.’

Miles, o personagem de Giamatti, pediria perdão por discordar. Ele passa parte do filme instruindo Jack, o amigo que está prestes a se casar, vivido por Thomas Haden Church, sobre a fraqueza da uva merlot e as virtudes da pinot noir. A ponto de, antes de um jantar, avisar: ‘Se alguém pedir merlot, vou embora. Não vou me juntar ao lado negro.’

Mais tarde, explicando seu amor pelo pinot a Maya (Virginia Madsen), ele descreve a uva como ‘frágil, temperamental e difícil de desenvolver, exigindo constante atenção’, mas que, quando se consegue obtê-la, ‘é assombrosa, brilhante, excitante’. Maya responde que uma garrafa de vinho ‘é viva. Está em constante evolução e ganhando complexidade. E assim vai, até chegar ao auge. E então inicia seu invariável e inevitável declínio’.

Os vendedores de vinho americanos viram, no Oscar, uma oportunidade de lucrar, aumentando os preços do pinot noir. ‘As pessoas vêm e perguntam pela uva de Sideways, mesmo quando não lembram o nome dela’, conta um lojista de Ohio.

Na Stanford Winery – onde as uvas crescem e também se transformam em vinho – turistas reconhecem Chris Burroughs, o gerente, como a pessoa que, no filme, serviu a primeira taça de pinot a Miles e Jack. Burroughs, que descreve Sideways como uma ‘confusa canção de amor ao vinho’, diz que a safra se esgotou em tempo recorde. ‘Os visitantes compram caixas e as relacionam a partes do filme’, conta.

De fato, o pinot californiano jovem tem procura. Tanto, que os realizadores do filme não encontraram quantidade suficiente para a estréia em Tóquio no último fim de semana e tiveram de se contentar com caixas de pinot vindas do Oregon.

O frenesi pelo pinot deve se intensificar nos próximos meses, quando será lançado o filme em DVD nos Estados Unidos, com extras que incluem as locações.

O diretor Francis Ford Coppola, entusiasta das variedades merlot e cabernet da região de Napa Valley, na Califórnia, respondeu num resmungo à pergunta sobre o que achava do ‘efeito Sideways’: ‘Bebo pinot noir, adoro os melhores, mas não vou incentivar isso. É tudo um truque.’’



SBT
Keila Jimenez

‘Dedé estréia no SBT em abril’, copyright O Estado de S. Paulo, 14/03/05

‘O trapalhão Dedé Santana terá um programa no SBT. O humorista, que há oito meses faz participações especiais em A Praça É Nossa, fechou contrato com a emissora na semana passada para comandar Dedé e o Comando Maluco, atração produzida em parceria com a empresa de Beto Carrero.

O humorístico será semanal e terá uma hora de duração. ‘Fizemos um piloto e o Silvio adorou. O sucesso do Dedé na Praça também foi fator decisivo’, conta Beto Carreiro, empresário de Dedé e criador do grupo de humoristas Comando Maluco, que participa de circos e de atrações de TV há quatro anos. ‘O Silvio pretende colocar o programa aos sábados à noite e a previsão de estréia é abril’, conta o empresário.

Dedé e o Comando Maluco está sendo gravado nos estúdios de Beto Carreiro, em Santa Catarina, e deve ter também gravações na sede do SBT, na Anhangüera.

‘São várias histórias curtas. Somos uma espécie de agentes secretos de Beto Carrero, com missões para resolver. Sou o general e os meus comandados serão: Durão, Rapadura, Dudu, Bananinha e a Batatinha’, conta Dedé, que ficou emocionado ao rever Silvio Santos. Segundo o humorista, o dono do SBT foi amigo de seus pais e trabalhou com ele próprio no início de sua carreira, em circos.

Dedé e seus companheiros usarão figurino militar na nova atração, algo que lembra as graças que fazia ao lado de Didi e o sargento Pincel em Os Trapalhões. Só lembra, pois Dedé garante que as semelhanças com a atração da Globo param por aí.’



MEMÓRIA / ZILKA SALLABERRY
O Globo

‘Obituário’, copyright O Globo, 11/03/05

‘Adeus Dona Benta

Durante duas décadas a imagem de Zilka Sallaberry esteve ligada à das bruxas e outras personagens malvadas que encarnou no ‘Teatrinho Troll’, da TV Tupi, nos anos 50. Mas a partir de 1977, com a estréia do ‘Sítio do Pica-pau Amarelo’ na Rede Globo, a atriz tornou-se a avó do Brasil, uma doce criatura que todas as crianças tinham vontade de ter em casa.

Zilka estava mesmo mais para Dona Benta, personagem que se confundiu com ela durante onze anos, do que para uma bruxa de conto de fadas. Nos últimos anos, com saúde debilitada, pouco saía de seu apartamento em Copacabana, a não ser para trabalhar, e continuava a zelar pelos três netos, já adultos, como se ainda fossem crianças. Na vida real, entretanto, era uma avó moderna. Do tipo que adorava jogos de computador e se exercitava em sua bicicleta ergométrica até dois anos atrás, quando sofreu uma isquemia.

— Dona Benta é um milagre. Tive pavor no começo. Durante toda a minha vida, eu praticamente só fiz bruxas, rainhas más. E aquela não era minha maneira de ser. Sou agitada – disse a atriz ao GLOBO, há um ano.

Agitada e moderna. Às vezes, pós-moderna. Zilka foi a primeira atriz brasileira a aparecer nua no palco, na década de 50, na revista ‘Na Copa do Mundo’. Adorava andar de moto e quando o movimento hippie surgiu, percebeu que já era hippie há muito tempo, com seus cabelos sempre em desalinho e as roupas largas, de um estilo absolutamente particular.

Talvez pelo seu jeito transgressor considerasse como seu melhor trabalho na TV a Sinhana de ‘Irmãos Coragem’, de 1970. A novela de Janete Clair revolucionou a teledramaturgia nacional ao tratar de uma temática genuinamente brasileira: a vida dos garimpeiros. E ela era a mãe dos protagonistas da história.

Zilka nasceu numa família de artistas: seu bisavô, Cândido Nazareth, ganhava a vida atuando. A mãe, a radioatriz Luísa Nazareth, era contra seu ingresso na carreira artística por causa da instabilidade da profissão, mas tanto Zilka como as irmãs rejeitaram os conselhos maternos.

Quando se casou com o ator Mário Sallaberry, aos 19 anos, Zilka se viu livre para fazer o que queria. Começou no Teatro Escola, companhia de Renato Viana, e logo ganhou seus primeiros bons papéis no teatro. Trabalhou com Procópio Ferreira, Dulcina Moraes, Cacilda Becker, Fernanda Montenegro, Sérgio Brito, Ítalo Rossi.

Na televisão, começou por intermédio de uma das irmãs, Lourdes Mayer, que já fazia sucesso no novo veículo e pediu aos produtores do programa ‘Câmera Um’, da TV Paulista, que lhe dessem uma chance. Pouco depois foi chamada por Fábio Sabag para fazer uma ponta num episódio do ‘Teatrinho Troll’, na TV Tupi. Acabou tornando-se membro do elenco fixo e uma das estrelas do grupo. Mais tarde, quando aceitou substituir Fernanda Montenegro, que passara mal, duas horas antes da exibição de um ‘Grande Teatro’, tornou-se definitivamente respeitada.

A TV foi o veículo que lhe trouxe mais reconhecimento. Fez cinco minisséries e 27 novelas. Outros de seus papéis de destaque foram a misteriosa cigana de ‘O outro’ (1987), a cafetina Veneranda da minissérie ‘Tereza Batista’ (1992) e a Bá, do remake de ‘Pecado capital’ (1995). Zilka participou também das novelas ‘Irmãos Coragem’ (1970), ‘O casarão’ (1976) e ‘O bem-amado’ (1977). Seu último papel na TV foi em 2002, na novela ‘Esperança’, de Benedito Ruy Barbosa. No mesmo ano, ela fez uma participação no filme ‘Xuxa e os Duendes 2’.

Capaz de interpretar papéis tão distintos, por vezes ela parecia não perceber a força que tinham seus personagens. Em 2001, às vésperas do lançamento da nova versão do ‘Sítio do Picapau Amarelo’, com Nicette Bruno no papel de Dona Benta, vaticinou:

– Estou entregando o bastão. Daqui a pouco ninguém mais vai lembrar que fiz a Dona Benta.

Estava enganada.

Viúva há mais de 40 anos, Zilka deixa um filho e três netos. A atriz morreu na madrugada desta quinta-feira no Rio, aos 87 anos. Ela estava internada desde o dia 15 de fevereiro e sofria de insuficiência renal, infecção urinária e desidratação. O corpo, que foi velado na capela 7 do Cemitério do Caju, deverá ser cremado hoje.

A saudade dos amigos

‘Estou muito emocionado… (chora!) Foram dez anos trabalhando juntos no Sítio. Foi uma grande dama. Acho que o teatro e a TV brasileiros ficaram mais pobres.’

ANDRÉ VALLI Ator, fez o Visconde de Sabugosa por dez anos no ‘Sítio’

‘ Ela era uma pessoa maravilhosa, engraçada, boa colega. Acho que todo mundo vai ficar com uma boa lembraça, principalmente as crianças.’

STELLA FREITAS Atriz, fez a Cuca do ‘Sítio’, de 1978 a 1980

‘Ela tinha uma fantástica origem teatral. Sua imagem estará sempre ligada ao ‘Sítio’. Afinal, a essência do Monteiro Lobato está na sabedoria da Dona Benta.’

PAULO GOULART Ator

‘Zilka teve uma trajetória muito corajosa, dinâmica, não só como profissional mas como mulher. Artistas como ela jamais morrem.’

NICETTE BRUNO Atriz

‘Quando recebi o convite para fazer dona Benta ela me deu sua bênção, fiquei muito feliz!’

SUELY FRANCO Atriz, atual Dona Benta do ‘Sítio’

‘Ela sabia muita coisa, viveu muito. Espero que na outra dimensão, para onde foi, ela tenha a recompensa por tudo que viveu.’

ARLETE SALLES Atriz’