Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Mistérios que rondam o rádio

Normalmente temos ouvido que o rádio passa por crises e que seus supostos
proprietários não têm condições de investir em sua melhoria, crescimento e
interatividade. O que vemos em alguns casos é um processo de sucateamento e
perda da qualidade no meio rádio que vem acontecendo de forma bastante rápida e
perigosa para o futuro da comunicação.


Em algumas rádios a tendência tem sido se unir a redes nacionais e deixar a
programação nas mãos de emissoras do sul maravilha – que tem poder, porém não
tem a cara de nosso povo nem da cultura local. Alegam para isso que o rádio não
dá dinheiro e que somente com afiliação é possível manter o funcionamento das
rádios. Em virtude dessas modificações, vários profissionais perdem espaço na
programação e as mudanças acabam por não se adequar aos interesses dos ouvintes,
que perdem espaço no comentário, no conhecimento e na concretização da cidadania
participativa e democrática.


Mas há muitos mistérios no meio rádio que muitos procuram esconder ou
preferem que ninguém conheça. Os principais mistérios deste meio de comunicação
estão na lucratividade, pois a olhos nus parece que há prejuízo no rádio, porém
se há tanto prejuízo por que será que tantos políticos e empresários se utilizam
dos mais diversos meios para conseguirem concessões de rádio? Por que grupos
religiosos insistem em arrendar as rádios? Por que é tão difícil para o cidadão
comum conseguir uma concessão de rádio? Por que não conhecemos a viabilidade
econômica deste meio? Por que os Congressos de radiodifusão não colocam em
claros a crise do rádio?


Luta foi sempre rechaçada


Perguntas como estas precisam ser respondidas e debatidas, mas há um
problema: ninguém quer abrir a caixa preta do rádio… Ninguém pesquisa a crise
(que existe) nem seus motivos.


É urgentíssima uma mudança nos hábitos da população em relação ao rádio. É
preciso crescer o número de organismos que unam os ouvintes em prol da melhoria
do rádio e no respeito aos que fazem este meio de comunicação. O rádio precisa
ser modificado e somente ouvintes conscientes poderão efetivar uma luta
verdadeira em prol do crescimento deste meio de comunicação – que tem muita
importância e certamente jamais irá morrer mesmo com o avanço tecnológico das
outras mídias e com o desprezo de muitos jornalistas que teimam em ocultar a
importância deste meio de comunicação.


Basta uma análise detalhada dos jornais de circulação de qualquer cidade, e
realizar uma estatística de notícias e referências sobre o rádio, que veremos
como é mínima é referência a esse meio. Vale ressaltar que em tempos passados as
revistas sobre rádio eram inúmeras e tinham sucesso garantido. As revistas de
circulação nacional e os tablóides falam quase totalmente na televisão e muito
pouco é reservado ao rádio. A Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará
(www.aouvir.com.br) já tentou inúmeras
vezes pautar a discussão sobre o rádio e a luta pela comunicação democrática e
foi sempre rechaçada pelos editores, que parecem não ver o rádio como meio de
comunicação.


Comunicação desrespeitosa e truncada


É vital que se abra um debate firme sobre o rádio, sabendo de sua
viabilidade, compreendendo sua importância, mostrando a forma correta de
programar este meio e dar a todos a oportunidade de conhecer sua história, sua
evolução e seu papel nos dias de hoje. Para que todos saibam, no rádio são
realizados casamentos, pessoas curam-se de depressão, informações de todo tipo
são dadas e muitos se utilizam deste meio para conquistar espaço na política.
Muitos departamentos de governo pautam ações a partir da reclamação dos
ouvintes. Como se vê, o rádio não é o que os jornalistas pensam. Tem
importância, sim, e muitas vezes a pauta é riquíssima se for feita de forma
séria e verdadeira.


Não compreendemos o fato de muitos jornalistas das revistas de circulação
nacional emitirem tão pouco conhecimento sobre o rádio. Não aceitamos que o
rádio não tenha espaço nos programas jornalísticos e nas páginas dos jornais,
uma injustiça que tem de ser reparada.


Para o rádio crescer, é preciso união entre os que fazem o rádio e muita
organização dos que ouvem rádio, pois não dá para conviver com comunicação
desrespeitosa e informação trucada e fora da realidade – que normalmente é
pautada pelos interesses políticos, econômicos e religiosos do grupo que detém a
concessão. É preciso que se compreenda e se evidencie urgentemente a importância
deste meio, que tem história, verdade e, sobretudo, papel forte na melhoria da
vida do povo e no fortalecimento da justiça social.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE