Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Não ao rádio parecido com a televisão

Bem antes de me formar em jornalismo, sou ouvinte de rádio. Acredito até que a escolha da minha profissão se deu, também, por influências dos hábitos de meus saudosos pais, Djalma e Geny, que desde as primeiras horas do dia pautavam suas vidas ao som do AM. Isso nos idos dos anos 1970. Lembro-me muito bem que as informações e as opiniões dos comunicadores da época passavam a ser temas de boa parte das conversas na nossa casa.

Comunicadores como Haroldo de Andrade, Paulo Lopes, Paulo Barbosa, Luiz de França, Luciano Alves, Benedito Nunes, Antonio Carlos, Arlênio Lívio ou Fernando Mansur, entre tantos outros de igual importância (desculpem-me a falta de citação) traduziam um rádio próximo do cidadão e parceiro da família. A música era só um complemento na programação, muitas vezes contestada pelos ouvintes, como no caso do meu pai, que preferia os debates e as notícias.

Nossa casa tinha uma televisão, preta e branca, somente ligada à noite. Aí, nos divertíamos com as novelas do tipo Semi-Deus, Saramandaia, O astro, só para citar algumas; e programas como Chico City, Balança, mas não cai e Flávio Cavalcanti, também só para citar os mais vistos.

Palco de espetáculos ridículos?

Pois bem, amigo leitor, meu resumo não é só saudosista, é também comparativo. E agora o amigo vai entender o motivo de expor a realidade da minha família e de muitas por esse Brasil afora. Debater a qualidade da programação de TV seria redundante, já que não é preciso ser profissional de comunicação para constatar o ridículo como principal pauta dos responsáveis pela programação do veiculo. Debato, sim, a tentativa de alguns ‘gerentes’ de programação de implantar o mesmo modelo no rádio. E para referendar meu desabafo, me permitam lembrar a exclusão do grande Haroldo de Andrade, simplesmente tirado das nossas manhãs – isso depois de quarenta anos – devido a um ‘novo’ projeto de programação em rede. E quem não lembra da frustrada tentativa de renomada diretora de televisão que tentou mesclar os dois veículos em questão e implantou um programa comandado por ‘famosos da hora’ que ocupou o horário de um tradicional radialista (perguntem ao Francisco Barbosa). Por último, chamo a atenção para a linguagem ridícula que, infelizmente, hoje faz parte da TV, começar aos poucos a ser utilizada também no rádio.

Minha preocupação fica mais forte com o fato de não estarem surgindo novos valores que possam substituir a altura os ‘velhos’ radialistas ainda em atuação. Hoje o rádio do Rio de Janeiro se resume a Tupi e Globo, o que é muito pouco para a grandeza e importância do veículo. E aí pergunto: O que vai ser do nosso AM? O que se vislumbra é mercadoria a ser vendida, basta ver, ou melhor, ouvir, nas muitas igrejas que compram e negociam o dial. Reduto de ex-BBBs? Ou mais um palco de espetáculos ridículos, estrelados por ‘aventureiros’ sem compromisso com o veiculo, mas patrocinados pela ‘dona ganância’? Se alguém pode responder ou fazer alguma coisa, ainda é tempo.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ