Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

TV DIGITAL
Gerusa Marques

Último round da TV digital: Japão vence

‘Depois de seis meses de negociações, Brasil e Japão chegaram a um acordo sobre o Termo de Compromisso a ser firmado entre os dois países para implantação do padrão japonês de TV digital no Brasil. O anúncio oficial está previsto para a quinta-feira, dia 29, quando serão assinados, em cerimônia no Palácio do Planalto, o texto desse acordo e o decreto presidencial com as regras de transição do sistema analógico para o digital.

A decisão do governo em favor do padrão japonês representa uma vitória do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que se empenhou pessoalmente para emplacar a tecnologia japonesa. Também agrada às emissoras de televisão, que terão preservado o seu atual modelo de negócios.

O governo vinha estudando também os padrões europeu e americano, mas nos últimos três meses as negociações convergiram para o padrão japonês. A tendência se tornou mais evidente com a ida à Tóquio, em abril, de uma delegação de ministros brasileiros, quando foi assinado entre os dois lados um memorando de entendimentos, detalhado agora no Termo de Compromisso.

INOVAÇÕES

‘É um excelente acordo’, avaliou o ministro das Comunicações. Segundo ele, o governo brasileiro, por intermédio do Itamaraty, comunicou ontem ao embaixador do Japão no Brasil, Takahiko Horimura, que concordava com os termos do documento elaborado nesta semana por técnicos dos dois governos. Costa confirmou a vinda, no próximo dia 29, do ministro japonês do Interior e da Comunicação, Heizo Takenaka, para assinar o Termo de Compromisso.

Segundo uma fonte do governo, o decreto presidencial, cujo texto será fechado na próxima semana, terá 15 artigos e trará as diretrizes para a implantação do novo sistema. A idéia é de que as emissoras tenham um prazo máximo de 18 meses para iniciar as transmissões em sinal digital.

As empresas já disseram que pretendem começar a operar comercialmente, nas principais capitais, em um prazo de seis meses após a definição do padrão. A transição total para o novo sistema, no entanto, vai levar dez anos.

O acordo acertado com o governo japonês prevê a criação de um sistema nipo-brasileiro, que será uma variação do padrão japonês. Segundo o representante do padrão japonês de TV digital no Brasil, Yasutoshi Miyoshi, o padrão nipo-brasileiro deve incorporar inovações tecnológicas desenvolvidas no Brasil, mas ainda serão realizados estudos técnicos sobre a viabilidade dessas tecnologias. ‘Vamos avaliar todas as inovações que o Brasil deseja adotar’, afirmou Miyoshi, citando, por exemplo, o sistema de compressão de sinais de vídeo MPEG 4. ‘O que for bom para o Brasil, para a população e economicamente viável, será incorporado’, disse.

Serão criados grupos técnicos de trabalho, dos dois lados, que serão formados em até quatro semanas após o anúncio do padrão, para dar prosseguimento aos estudos em relação às inovações no sistema. Ainda não está definido se o padrão nipo-brasileiro será registrado como Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) ou se será criado um novo nome. A idéia do governo é trabalhar para que o padrão nipo-brasileiro seja implantado em outros países da América Latina.

FINANCIAMENTO

Os japoneses assumiram, além disso, o compromisso de tornar disponível uma linha de financiamento pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC), o banco de fomentos japonês. Ainda serão detalhados valores do financiamento, mas a estimativa de fontes do governo é de que os recursos sejam da ordem de US$ 500 milhões, que serão destinados às emissoras de TV. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiará a indústria nacional.

Também está certo que o Japão dará apoio para o desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil e para a modernização da indústria eletroeletrônica. O Termo de Compromisso, que foi elaborado em inglês, tem um tom diplomático e não abordará aspectos mais técnicos.’

Renato Cruz

Aparelhos de TV digital devem ser lançados em 2007

‘O consumidor não precisa se preocupar com os televisores que tem em casa. O período de transição, em que o sinal analógico continuará a ser transmitido ao mesmo tempo que o digital, deve levar pelo menos dez anos. Mesmo quem quiser receber o sinal digital não precisará trocar o aparelho já, pois há a opção de comprar um decodificador, uma caixinha ligada na TV, como aquelas usadas pela TV paga, que converte o sinal em analógico. A qualidade não será tão boa como num aparelho digital, mas deve ficar melhor que a do analógico.

‘É razoável pensar que levará em média um ano para o lançamento comercial dos aparelhos, depois de definido o padrão, com a tecnologia brasileira que será incorporada’, afirmou Benjamin Sicsú, vice-presidente da Samsung e diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica. ‘Se não fosse incorporada nenhuma melhoria, poderia ser mais rápido.’ Para ele, é importante o governo definir a tecnologia o mais rápido possível: ‘A decisão já está madura’.

A decisão sobre a TV digital diz respeito somente à TV aberta. Os 4,1 milhões de assinantes do serviço pago já têm acesso ao sinal digital há mais tempo. No satélite, empresas como Sky e DirecTV são digitais desde que nasceram. A Net e a TVA digitalizaram o sinal nas maiores praças. A TVA, em parceria com a BandSports, já começou a transmitir em alta definição os jogos da Copa.

A diferença para quem assina a TV paga é que, com a TV aberta digital, a adoção da alta definição deve se acelerar. As emissoras abertas começarão a colocar esse formato em sua programação normal, e os canais fechados deverão fazer o mesmo. Na alta definição, a imagem é formada por 1.080 linhas, contra 480 linhas nos televisores analógicos. O formato da tela é ‘widescreen’, mais largo, parecido com a tela de cinema. A proporção de largura e altura é de 16 por 9, ante 4 por 3 nos televisores atuais.

Quem planeja trocar o televisor hoje, e quer estar preparado para a alta definição, precisa verificar se a resolução dele vai até 1.080 linhas. Normalmente, eles vêm com uma indicação de ‘HD ready’, que quer dizer ‘pronto para a alta definição’. Mesmo com recepção analógica, ele poderá ser ligado, futuramente, a um conversor digital.

A alta definição não é o único formato que pode ser transmitido pela TV digital. A tecnologia também suporta a definição-padrão (como a das TVs analógicas); a definição melhorada, com 700 linhas, melhor que os DVDs atuais; e a baixa definição, com 240 linhas, para recepção em celulares e outros aparelhos móveis.

O padrão japonês permite que as emissoras transmitam seu sinal diretamente aos telefones móveis, sem custo para o assinante. O serviço já está disponível no Japão, e se chama ‘One Seg’.

Outra possibilidade criada pela TV digital são serviços interativos, parecidos com a internet. Para transmitir as informações da casa do assinante para a emissora, no entanto. é necessário ligar a TV a uma linha telefônica ou outro serviço de telecomunicações.’



MERCADO EDITORIAL / EUA
Katharine Q. Seelye

Jornais disputam fatia em site de empregos

‘Várias empresas jornalísticas dos EUA cobiçam parcelas do CareerBuilder.com, um site na internet de recrutamento de pessoal muito popular, tentando pegar carona no seu sucesso. À medida em que os anunciantes migram para a web, as receitas da maioria dos jornais com classificados de empregos online estão crescendo. Porém, o CareerBuilder tem um atrativo especial, porque é uma marca nacional que está ligada a jornais e pode aumentar a receita deles, ao mesmo tempo em que impulsiona o tráfego para seus sites na web.

Os maiores concorrentes do CareerBuilder são a Monster.com e o HotJob, uma operação da Yahoo. O CareerBuilder tem três proprietárias, cada uma delas detentora de um terço da empresa – a Gannett, a Tribune Co. e a Knight Ridder. Os dispositivos contratuais estabelecem que, se qualquer uma dessas proprietárias for vendida, os outras poderão comprar a parte desse proprietário. Assim, quando a Knight Ridder foi vendida para a McClatchy este ano, a Gannett e a Tribune disseram que queriam recomprar a parte da Knight Ridder.

A Knight Ridder deve ser vendida oficialmente para a McClatchy na próxima semana. Quando isso acontecer, a Gannett e a Tribune terão o direito de comprar a fatia da Knight Ridder pelo valor de mercado.

A Tribune, por sua vez, já indicou que quer ter mais do que seu atual um terço do CareerBuilder, mas fora isso, não se sabe como o bolo pode ser fatiado. O que está evidente é que várias outras empresas jornalísticas estão profundamente interessadas em deter uma porção dele e sua disponibilidade desencadeou uma luta até mesmo por uma pequena participação.

Esta semana, quando executivos de jornais e analistas do setor se reuniram em Nova York para suas apresentações financeiras, a Gannett e a Tribune mantiveram conversas privadas com várias outras empresas jornalísticas sobre a compra de partes do seu site.

Por outro lado, algumas empresas jornalísticas estão considerando estabelecer laços com o Yahoo, disseram os executivos. Tal associação poderá eventualmente permitir aos jornais formar alianças uns com os outros em áreas potencialmente lucrativas além dos classificados de emprego, incluindo pesquisas de notícias.

Juntando forças com outras empresas jornalísticas, o CareerBuilder poderá ampliar seu alcance. Atualmente, tem associações com 172 jornais, entre eles 90 diários da Gannett e 11 diários da Tribune, cobrindo 40% do país.

‘Podemos dizer que estamos conversando com todo mundo’, disse Matt Ferguson diretor-presidente da CareerBuilder, aos jornalistas após sua apresentação em Nova York na quarta-feira.

A CareerBuilder recebeu 8,1 milhões de visitantes em maio, um aumento de 9% em relação a abril, segundo a comScoreMediz Metrix, que afere o tráfego na web. Já a Monster.com teve 7,3 milhões de visitantes e a HotJobs, 3,4 milhões. Não sabe o quanto vale a CareerBuilder, mas alguns analistas sugeriram que um terça da empresa poderá valer ao menos centenas de milhões de dólares.

A expectativa de Ferguson é que a McClatchy, que é dona de jornais na Califórnia e também na Carolina do Norte e Minneapolis, permaneça como uma parte do conjunto. ‘Adoraríamos manter a McClatcly como parceira’, disse. ‘Estamos conversando com eles sobre como podemos fazer isso. Se fizer sentido, se houver um acordo, a coisa acontecerá.’

Gary B. Pruitt, diretor-presidente da McClatchy, disse que sua preferência seria manter uma participação acionária na CareerBuilder, mas, se isso não acontecer, disse esperar um ‘gordo cheque’. ‘Ou nós seremos um parceiro ou teremos muito dinheiro para liquidar nossa dívida resultante da transação com a Knight Ridder.’’



PUBLICIDADE
Carlos Franco

Ordem na publicidade é integração de mídias

‘O Festival Internacional de Publicidade de Cannes 2006 marcou uma nova onda na indústria mundial de propaganda, que movimenta US$ 300 bilhões por ano. A palavra de ordem agora é integração de mídia, de plataformas de distribuição de conteúdo. Com isso, foi-se a fase da compra de agências de publicidade e está aberta a temporada de aquisições de empresas que prestam serviços de comunicação, sobretudo em novas mídias.

O próprio presidente do festival, Terry Savage, informou que a criação da categoria Promo Lions, que premia os melhores casos de marketing promocional, é um reflexo dessa mudança e do interesse da indústrias por essas novas estratégias, onde grandes eventos, por exemplo, se tornaram veículos de exposição de marcas. No ano passado, o festival já havia incluído o rádio e, em 2002, o marketing direto na sua premiação.

O Brasil está inserido nessa nova onda. O presidente mundial do Grupo WPP, um dos mais importantes do setor, dono de redes como Ogilvy, JWT, Grey e Young & Rubicam, Martin Sorrell, disse ao Estado que a ordem são aquisições no País, sobretudo de empresas voltadas a esses segmentos novos e complementares à publicidade tradicional.

Sorrell não está sozinho na empreitada. Jean-François-Decaux, o homem da JCDecaux, um dos maiores grupos de mídia exterior do mundo, também quer novos negócios na América Latina e Ásia. Ele acredita que os projetos de integração de estratégias de comunicação cada vez mais vão abrir espaço para a mídia exterior.

Decaux citou o exemplo do contrato, no valor de US$ 50 milhões, que assinou com o HSBC para mídia em aeroportos. ‘O mobiliário urbano deve existir para prestar um serviço ao consumidor, e também pode ser um excelente canal de distribuição.’

Tom Freston, presidente do Grupo Viacom, que tem entre suas empresas a MTV, diz que 5% da sua receita hoje vem dos meios digitais de distribuição, mas ele acredita que isso irá se ampliar rapidamente via celulares. Freston e Decaux participaram de seminário que reuniu também, no Palais des Festivals de Cannes, os presidentes mundiais da Publicis, Maurice Levy, e Yusuf Mehdi, o homem de estratégia do MSN da Microsoft.’



***

Prêmio da Giovanni é cassado

‘A organização da 53.ª edição do Festival Internacional de Publicidade de Cannes acatou pedido da agência brasileira Giovanni, FCB e cassou um leão de bronze que havia sido conquistado pela agência. A decisão surpreendente da agência reduziu de 6 para 5 o número de leões conquistados pelo Brasil na categoria impressos (Press). O anúncio vencedor da Giovanni, FCB foi criado por seus ex-diretores, que abriram a agência de publicidade Santa Clara no mês passado e levaram contas importantes da Giovanni, como a da Intelig.

Mas a agência alegou que seu pedido de cassação se deveu à ética, e acusou a peça de ser fantasma, ou seja, ter sido inscrita sem ter sido veiculada. Em 2002, no entanto, a mesma Giovanni, FCB trouxe a Cannes uma campanha criada para a organização Médicos Sem Fronteiras, que não tinha autorização da ONG. A própria organização pediu a retirada da peça da lista de finalistas do festival, alegando que seu conteúdo nada tinha a ver com a entidade. Com a perda desse leão, o País agora contabiliza 26 estatuetas, sendo quatro em outdoor, nove em internet, um em mídia, um em marketing direto, cinco em rádio, cinco em impressos e um de Young Creatives.’



LÍNGUA PORTUGUESA
Aluízio Falcão

O hábito de escrever e falar difícil

‘A exposição sobre o nosso idioma e sua merecida repercussão trouxe para as salas de aulas e páginas de jornais um debate enriquecedor sobre o tema. Houve, na abertura do evento, reparos a imprecisões históricas em alguns de seus painéis, mas feitas num tom não construtivo que denunciava, antes do zelo, uma certa inveja dos formuladores. A exposição não sofreu com isso e despertou grande interesse da população.

Passado o impacto sobre a beleza da lusofonia, é preciso retomar a batalha por sua clareza. Até acho que todos os dicionários deviam ter na capa aquele aviso da propaganda de cerveja: use com moderação. A Língua Portuguesa precisa de um regime para emagrecer. Deve urgentemente perder celulites que agridem a decantada formosura do seu corpo. Perdão leitora, mas não há outro termo, somente celulite corresponde ao tenebroso vocábulo aleivosia, por exemplo, tão presente na oratória política e em alguns escritos que leio de vez em quando. Na tribuna, Suas Excelências querem afirmar que não admitem injúrias e acabam por dizer que não admitem aleivosias. Há outros recursos, talvez mais feios. Dizem ‘condutas deste jaez’, quando poderiam dizer simplesmente ‘condutas desse tipo’. Jaez, ínterim, encômio, vitupério, entrementes… a lista daria um dicionário. Um dicionário de sinônimos, provando que a cada palavra rebarbativa corresponde outra mais bonita e mais simples, de igual significado, que todo mundo entende. O problema é que falar difícil ainda confere status perante certas platéias. Ainda ontem, no restaurante, escutei um vizinho de mesa explicando qualquer coisa: ‘Esforço hercúleo…’ A julgar pelo franzido nas testas de sua mulher e dos filhos, ninguém entendeu o hercúleo.

De onde vem esse gosto pela incomunicabilidade? Vem de longe, dos primeiros bacharéis. Não satisfeitos com os excessos em português, decoravam um latinório para rechear de sabedoria suas petições e recursos. Um amigo advogado, Núncio Nastari, divertiu-me com páginas e páginas dessas invocações. Pesquei algumas: est modus in rebus (cada caso é um caso); ad argumentandum tantum (apenas para argumentar); data venia (com o devido respeito); res nulius (coisa de ninguém); dura lex, sed lex (a lei é dura, mas é lei); pacta sunt servanda (os contratos devem ser respeitados); ad impossibilia nemo tenetur (ninguém é obrigado ao impossível); mutatis, mutandis (mudando o que deve ser mudado) e vai por aí a listagem do Núncio.

Ainda hoje tais preciosismos adornam os papéis jurídicos. Rui Barbosa foi um precursor. Profissionais de outras áreas também criaram jargões próprios, dificultando a compreensão de seus textos pelos outros mortais. Daí o ‘economês’, o ‘sociologuês’ e outros idiomas dentro do idioma.

Houve uma literatura de linguagem complicada, que parte da crítica endeusou exatamente pelos exageros formais, e não por seu conteúdo superior. Foi o caso de Os Sertões, do grande Euclides da Cunha, repleto de afetações que mais escondiam do que mostravam a genialidade do autor. Joaquim Nabuco, em seus Diários, registra que não agüentou ler os adjetivos de Euclides: (…) ‘Aqui a floresta impede também de ver as árvores. É um imenso cipoal; a pena do escritor parece-me mesmo um cipó dos mais rijos e dos mais enroscados. Tudo isso precisa ser arranjado por outro, ou de outra forma.’ E houve um excelente poeta brasileiro, Augusto dos Anjos, que se tornou famoso pelos seus piores versos, aqueles de linguajar rebarbativo: ‘Cosmopolitismo das moneras / pólipo de recônditas reentrâncias…’

Os jornais, que no passado imitavam a literatura pedante, hoje primam pela expressão enxuta, e com isso prestam importante serviço ao idioma. Inclusive quando incorporam uma linguagem que, pelo uso corrente na oralidade, adquirem o direito de ingressar na linguagem escrita. Machado de Assis defendia esse valor da espontaneidade. Escreveu, a propósito de vocábulos que pulam das ruas para o papel: (…) ‘Eles nascem como as plantas da terra. Não são flores artificiais de academias, pétalas de papelão recortadas em gabinetes nas quais o povo não pega. Ao contrário, as geradas naturalmente é que acabam entrando nas academias.’

Os parnasianos contribuíram fartamente para difundir os palavrões. O termo é aqui usado para definir palavras solenes, cobertas de lantejoulas, que passeiam a sua pose nos sonetos. Mesmo aquele de Olavo Bilac sobre a Língua Portuguesa e que começa com ‘Última flor do Lácio, inculta e bela’, merece reparos. Primeiro, porque o poeta imaginou que todos os seus leitores tinham a obrigação de saber que o Lácio era uma antiga região da Itália, onde primitivamente se falava o latim. Segundo, porque já no quarteto seguinte ele chama sua musa de ‘Tuba de alto clangor’, parecendo insultá-la. Ainda bem que se redime dos excessos iniciais nos dois belos tercetos aqui transcritos em homenagem ao autor e ao nosso idioma:

‘Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens selvas e de oceano largo! / Amo-te, ó rude e doloroso idioma, / Em que da voz materna ouvi: ‘Meu filho!’, / E em que Camões chorou, no exílio amargo, / O gênio sem ventura e o amor sem brilho!’

Sonetos, discursos e papéis jurídicos não foram os únicos a prejudicar a clareza do texto em português. É preciso lembrar as dissertações acadêmicas, especialmente aquelas da área de humanidades. Claro está que várias teses desta área contribuíram decisivamente para o avanço do conhecimento e a compreensão do Brasil. Mas houve outras, e também muitas, que vieram mais para complicar do que para explicar. Ainda bem que não saíram em livros. Esconderam-se, xerocadas, no escurinho das bibliotecas. Talvez com algum acanhamento de serem tão ininteligíveis e confusas.

Deixei para o fim, como nas estórias policiais, um culpado acima de qualquer suspeita. Ele goza de certa respeitabilidade e provavelmente não tem exata noção do mal que faz, em nome do bem. Estou me referindo ao gramático obsessivo, um guardião fundamentalista do idioma, que também age como carrasco da boa prosa. Não falo de bons e anônimos professores de português empenhados em difundir as boas normas nas escolas secundárias. Palmas para estes heróis obscuros que nem sempre têm o reconhecimento dos alunos e dos patrões, sejam estes governos ou empresários do ensino. Mas o purista ortodoxo trava a fluência da escrita, inibe os predicados que a embelezam para receber a visita dos leitores. O purista não é mau sujeito, ele erra supondo combater o erro. Um pai antiquado, rigoroso além da conta, que proíbe a filha de se fazer bonita para os rapazes. E, sendo intolerante como um pai de outros tempos, adora palavras daquele repertório dos oradores e passadistas em geral.

Grandes criadores na literatura mundial já se queixaram amargamente das restrições desses fiscais do vernáculo, que não abrem um livro em busca de prazer estético, e sim de erros para denunciar ou criticar. Não são erros, mas carícias de quem adivinha, pelo trato constante e apaixonado, as mil possibilidades que as palavras oferecem aos seus verdadeiros amantes. Palavras, palavras. Poetas e escritores dormem com elas, decifram seus mistérios. Nessa intimidade o texto é concebido. Já os gramatiqueiros, brandindo regras inflexíveis, não cansam jamais em sua tarefa de patrulhar as aventuras das meninas com os seus artistas.’



TELEVISÃO
Cristina Padiglione

Belíssima só tem um final viável

‘Os segredos que cercam o desfecho de Belíssima tomaram um rumo jamais visto no gênero: diante de um enredo em que nada parece ser o que é, ninguém põe 100% de fé sobre qualquer versão anunciada aqui ou lá.

Vem daí uma certa segurança do autor, Silvio de Abreu, no que diz respeito à preservação do suspense até o último instante. ‘Acho que com a confusão criada, é impossível se ter a certeza e isso já cria uma expectativa impossível de ser quebrada. Podem falar à vontade e espero mesmo que falem’, diz.

Diferentemente de A Próxima Vítima, quando Abreu sacou do bolso duas alternativas viáveis para o nome do serial killer, e foram exibidas versões diferentes aqui e em Portugal, Belíssima só tem, segundo ele, um desfecho possível . ‘Vou fazer vários finais e vamos gravar todos, mas não quero usar nenhum deles, que, certamente não serão utilizados nem aqui nem em lugar nenhum’, diz.

‘Para mim, o fim só pode ser um e será o que tem de ser desde o início e mesmo que descubram e divulguem não será mudado’, fala.

Os crimes e segredos têm relação entre si. Ou quase todos. De tanto descrer nas pistas e esclarecimentos já feitos até aqui, era de se esperar que o assassinato de Pedro (Henri Castelli) na Grécia tivesse de ser relembrado para alinhavar todos os fios da trama misteriosa. Mas não será preciso recorrer a qualquer flash-back do ator, desastrosamente escalado para a novela das 7 que está no ar.

‘O crime contra o Pedro já foi mostrado, aconteceu daquele jeito mesmo e já foi dito na novela pela própria Bia que foi encomendado por ela para matar Vitória e a vítima acabou sendo ele’, diz Silvio.

Até o dia 7, mocinhos e vilões podem prazerosamente trocar de lugar. Apostas de bolão estão em alta. Quem se habilita?’



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