Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

O Estado de S. Paulo

CONCESSÕES SUSPEITAS
João Bosco Rabello

Fora da lei, 1 em cada 10 deputados detém concessão de rádio ou TV

‘O Ministério das Comunicações tem até amanhã para responder ao pedido de informações do Ministério Público Federal sobre parlamentares que detêm concessões de emissoras de rádio e televisão. Uma representação em curso na Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) investiga a denúncia de que um 1 cada 10 deputados é proprietário direto (em nome próprio) de meios de comunicação, o que é proibido pela própria Constituição.

A representação do Ministério Público poderá ter um efeito explosivo sobre o Congresso, já que dos 513 deputados nada menos do que 50 têm emissoras de rádio e televisão em seu próprio nome. O número pode crescer se forem contabilizados os deputados detentores das concessões em nome de terceiros, como parentes ou empregados.

A relação em poder da PR-DF não contempla os 25 senadores que, direta ou indiretamente, também detêm o controle de veículos de comunicação, como Efraim Morais (PFL-PB), que presidiu a CPI dos Bingos, e Antônio João (PTB-MS), suplente que assumiu a vaga de Delcídio Amaral (PT-MS) no dia 3 de maio.

A prática é comum entre parlamentares, que sem alarde ou indignação popular atropelam a Constituição. No artigo 54, a Constituição proíbe deputados e senadores, desde a expedição do diploma, de ‘firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público’. O dispositivo também proíbe que parlamentares sejam ‘proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público’.

No artigo 55, a Constituição prevê a perda do mandato do congressista que desobedecer a qualquer uma das proibições do artigo 54.

Com base nos dispositivos constitucionais, o Projor, entidade mantenedora do site Observatório da Imprensa, ofereceu a mencionada representação, em novembro do ano passado, ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pedindo a investigação das irregularidades.

‘Se a Mesa da Câmara tivesse interesse em fazer cumprir esse dispositivo constitucional, traria considerável benefício à democratização dos meios de comunicação no País’, afirmou o jornalista Mauro Malin, do Observatório da Imprensa, durante seminário na Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara.

PESQUISA

A denúncia resultou de uma pesquisa realizada pelo professor Venício A. de Lima, da Universidade de Brasília (UnB), que cruzou os nomes dos sócios e diretores de empresas de comunicação com os nomes dos deputados da atual legislatura (2003-2007) na Câmara. O trabalho de Venício não seria possível antes de janeiro de 2004, quando o então ministro das Comunicações, Miro Teixeira, divulgou os dados no site oficial do ministério.

‘Os meios de comunicação nas mãos dos políticos são moldados para atender aos interesses deles’, alerta Malin. ‘No interior, aonde não chega a maioria dos grandes jornais, o poder do político dono de um meio de comunicação cresce demais. O tecido político do País no interior fica frágil.’

‘Eles (parlamentares) próprios avaliam e autorizam as concessões. Não é curioso que tantos tenham tios, sobrinhos e outros parentes concessionários de rádios e TVs, além deles próprios? Em nenhum outro segmento da sociedade há tanta concentração de concessionários públicos’, denuncia a advogada Taís Gasparian, especialista em mídia e propaganda, que elaborou o requerimento do Projor.

PUNIÇÕES

De acordo com a advogada, a investigação do Ministério Público pode resultar na cassação do mandato do parlamentar, ou pelo menos na fixação de um prazo para que o deputado ou senador renuncie à concessão da exploração do rádio ou da televisão. Na Procuradoria da República no Distrito Federal, o caso tramita sob a responsabilidade da procuradora Raquel Branquinho, que integrou a equipe especial de procuradores, designada pelo procurador-geral da República, para acompanhar as investigações da CPI dos Correios. Ela também conduziu a investigação que considerou irregulares os contratos da multinacional Gtech com a Caixa Econômica Federal, no escândalo que envolveu o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.

COLABOROU A EQUIPE DA SUCURSAL’



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Dono de emissora trava mudanças

‘São parlamentares ligados à radiodifusão que analisam e aprovam pedidos de outorga e renovação de concessões

Muitos caciques da política nacional compõem a bancada da comunicação no Congresso. Isso contribuiu para que a legislação sobre concessões e comunicação não seja modificada, embora mudanças sejam cogitadas desde outras legislaturas.

Na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI), há parlamantares ligados a empresas de comunicação. Essa comissão é justamente a responsável pela análise e aprovação dos pedidos de outorga ou de renovação das concessões que chegam ao Congresso.

‘Isso vem de várias legislaturas’, diz o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), vice-presidente da CCTCI. ‘O problema é que não querem aprovar a nova Lei de Comunicação de Massa. O ex-ministro (das Comunicações) Sérgio Motta deixou um projeto pronto. O ex-ministro Miro Teixeira também. A atual legislação é anacrônica e não querem mudar. Falta vontade política dos parlamentares.’

A participação de proprietário de rádio ou TV na comissão significa um desrespeito às leis que vai além da burla ao artigo 54 da Constituição. Pelo artigo 180 do Regimento Interno da Câmara, o parlamentar que se encontra em situação de legislar em causa própria – como é o caso – fica obrigado a se declarar impedido de votar e avisar a Mesa Diretora. Se não fizer isso, pode responder a processo no Conselho de Ética.

Mas, na CCTCI, Fábio Souto (PFL-BA), 1º vice-presidente, detém a concessão da Empresa Camacaense de Radiodifusão. Suplente da CCTCI, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN), é sócio da TV Cabugi, de Natal, e das rádios Baixaverde AM e Difusora de Mossoró AM, ambas no Rio Grande do Norte.

Além disso, o 1º vice-presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PL-PE), é dono da Rede Nordeste de Comunicação, de Caruaru, e de três emissoras de rádio. O ex-presidente da Câmara Jader Barbalho (PMDB-PA) controla a Rede Brasil Amazônia de Televisão (afiliada da Bandeirantes, em Belém) e uma rádio.

SENADO

Da Câmara para o Senado existe pouca diferença no que diz respeito ao controle político sobre os meios de comunicação. Há 14 senadores que controlam, em nome próprio, empresas de radiodifusão; outros 11 detêm o controle indireto – em nome de parentes ou terceiros. Feita a conta, 31% dos 81 senadores estão nessa condição.

A relação dos senadores, não enviada ao Ministério Público Federal, vem de levantamento feito pelo pesquisador James Gõrgen, com a supervisão do jornalista Daniel Herz, diretor do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom), morto em maio. A lista de Gõrgen é mais abrangente que a do professor Venício Lima, por se estender aos senadores que não têm as empresas registradas em seu nome, mas em nome de terceiros.

Na CPI dos Bingos, presidente e relator eram concessionários de radiodifusão. O senador Efraim Morais aparece no cadastro do Ministério das Comunicações como dono da rádio Vale do Sabugy FM. Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) detém, em seu próprio nome, a TV Cabugi, retransmissora da TV Globo, e uma rádio AM.

O presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), é dono da TV Jangadeiro, retransmissora do SBT em Fortaleza (CE), e da rádio FM Jangadeiros. O líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN), é dono de quatro emissoras de rádio e da TV Tropical, retransmissora da Record em Natal.

Na ala governista, Romero Jucá (PMDB-RR) é sócio da Serra Negra Radiodifusão FM, em Pernambuco. Com a posse em maio de Antônio João Rodrigues, suplente de Delcídio Amaral (PT-MS), o número de controladores diretos chegou aos 14 apontados na lista. O suplente do presidente da CPI que reavivou no País a necessidade do resgate da ética e da moral na administração pública descumpriu a Constituição ao tomar posse e não se afastar do controle de seu grupo de comunicação – o jornal Correio do Estado, a TV Campo Grande e duas emissoras de rádio.

O caso mais emblemático é o do próprio ministro das Comunicações, Hélio Costa, licenciado do mandato de senador, que até hoje consta do banco de dados de seu ministério como sócio-cotista da rádio FM ABC de Barbacena (MG). Ele já deu declarações afirmando tratar-se apenas de um sócio, sem funções de diretor da empresa. Em dezembro passado, disse que iria à Comissão de Ética do Senado para formalizar seu licenciamento da emissora. Se o fez, não informou a seu próprio ministério.

Conhecido pelo controle do Grupo Mirante, conglomerado de comunicação que alcança mais de 90% do Maranhão, o ex-presidente José Sarney não tem concessão em seu nome. Mas a família Sarney, por meio dos filhos do senador – inclusive da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) e do deputado Sarney Filho (PV-MA) -, é proprietária do grupo, segundo dados do cadastro do Ministério das Comunicações.

O ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães possui, em nome de filhos e netos, TVs e rádios em sua terra natal. A Televisão Bahia, retransmissora da TV Globo em Salvador (BA), está em nome de sua esposa, Arlete Maron de Magalhães, do filho Antonio Carlos Magalhães Júnior e dos netos Luís Eduardo Magalhães Filho, Carolina Magalhães Guinle e Paula Magalhães Gusmão. A família do senador ainda detém o controle de uma TV em Feira de Santana, outra em Vitória da Conquista e da rádio Antena 1, em Ribeira do Pombal.’



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Emissoras dão prejuízo, alegam parlamentares

‘Farra das concessões começou no governo Sarney, cujo clã controla uma rede de comunicações com seis emissoras de rádio e três de televisão

Muitos parlamentares ouvidos pelo Estado confirmaram que possuem concessões de emissoras de rádio e televisão. É o caso, por exemplo, dos senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Agripino Maia (PFL-RN) e do deputado Osvaldo Coelho (PFL-PE). Chefe de um clã que controla uma rede de comunicação no Maranhão, o senador José Sarney (PMDB-AP) respondeu, por meio de assessores, que as seis rádios e três emissoras de televisão da família estão em nome dos filhos e são dirigidas por Fernando, filho que está fora do jogo político.

Foi justamente no governo Sarney (1985-1990) que aconteceu a farra de concessões para políticos. O ministro das Comunicações da época, o atual senador e dono de emissoras na Bahia Antonio Carlos Magalhães (PFL), foi procurado para comentar o assunto, mas não respondeu aos telefonemas. Segundo sua assessoria, não era possível encontrá-lo porque ele passara a sexta-feira em eventos políticos no interior.

Em seu oitavo mandato, o deputado Osvaldo Coelho, de 75 anos, diz que as cinco rádios e as duas TVs que tem no semi-árido pernambucano ajudam a ‘preencher um vazio de informação e conhecimento’ na área. ‘É o que tem aberto a cabeça do povo’, afirma. ‘Essa gente sente prazer em ter acesso ao conhecimento’, explica. ‘Faço todo o esforço para que as pessoas do semi-árido possam receber informação.’

DEFICITÁRIAS

Coelho ressalta que suas emissoras são deficitárias, pois priorizam uma ‘programação cultural’. Ele cita as coberturas de festas juninas e o espaço dado ao noticiário internacional. ‘Essas rádios dão prejuízo’, alega o parlamentar, que não se queixa da trajetória política. Antes de eleger-se para a Câmara, ele foi deputado estadual por três mandatos e secretário do governo de Pernambuco.

O senador Tasso Jereissati, por meio de sua assessoria, confirmou ter as concessões da TV Jangadeiro, retransmissora do SBT no Ceará, e da Rádio Jangadeiro FM, em Fortaleza.

Agripino Maia diz que as rádios que possui são deficitárias. O senador do PFL foi enfático ao ser indagado se a concessão a parlamentares é prejudicial à informação e ao processo democrático. ‘Se você entende o veículo de comunicação como concessão de serviço público, não’, disse, por meio da assessoria. ‘Se entende o veículo como concessão que deve dar oportunidade a todos, com o estabelecimento de ponto e contraponto, argumentos a favor e contra e permite o debate, a resposta é não.’

Com o nome na lista e aliado de ACM, o senador e ex-governador César Borges (PFL-BA) disse, também por meio de sua assessoria, que antes de assumir uma cadeira no Senado, em 2003, vendeu a terceiros as rádios Rio Novo FM, em Ipiaú, e Aimoré, em Piritiba. Borges reclama que o Ministério das Comunicações ainda não atualizou o cadastro de concessões. A rádio em Ipiaú teria ficado para sócios do senador; a outra emissora, com parentes.

O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), membro de uma família que se alterna no poder do Rio Grande do Norte com o clã dos Maia, afirmou não ter emissoras de rádio e televisão em seu nome. ‘Em meu nome, não tenho. Também não tem ninguém com concessão que esteja me representando, nem da maneira mais suave’, disse o peemedebista, acrescentando: ‘Não tenho laranjas.’ Ele contou que ‘no passado’ possuiu sim uma concessão de emissora de TV. Explicou que a família vendeu para um grupo de fora do Estado a TV Cabugi, retransmissora da Rede Globo.

Garibaldi Alves, que foi relator da CPI dos Bingos, avalia que a concessão de emissoras para parlamentares pode comprometer a notícia. ‘Acredito que não deixa de comprometer de certa maneira a informação, que precisa ser divulgada da forma mais independente possível’, afirmou. ‘Hoje, é mais difícil chegar a esse purismo, pois as atividades estão muito interligadas. Mas quando o jornalismo era mais panfletário, os líderes sempre se valiam dessas concessões’, admitiu.

AFASTADA

A senadora Roseana Sarney (PFL-MA) informou, por meio da assessoria, que não é mais sócia das rádios que aparecem em nome dela. Ela diz que ainda têm sociedade com irmãos na TV Mirante, retransmissora da Globo no Maranhão, mas está afastada das decisões da empresa desde 1994, quando assumiu pela primeira vez o governo do Estado. O deputado José Sarney Filho (PV-MA), irmão de Roseana, também está afastado da direção da TV.

Também procurados pelo Estado, os deputados Mussa Demes (PFL-PI) e Moacir Micheletto (PMDB-PR) não foram encontrados. Seus assessores disseram que não era possível localizá-los. Igualmente foram procurados, sem sucesso, os senadores Edison Lobão (PFL-MA) e Mão Santa (PMDB-PI) e os deputados Inocêncio Oliveira (PL-PE), Pedro Irujo (PMDB-BA), Wanderval Santos (PL-SP) e Jader Barbalho (PMDB-PA).

Os gabinetes dos últimos cinco parlamentares estavam fechados no fim da tarde de sexta-feira. Os telefones celulares deles ou de seus assessores davam sinal de estar fora da área de cobertura.’



COPA 2006
Daniel Piza

O sorriso e o sotaque

‘TRAMAS DA FAMA

Ouvi aqui muitas vezes, sobre a histeria da mídia em torno dos ídolos, a seguinte justificativa: ‘Esse é o preço que o cara paga pelos milhões que ganha, pela fama que tem.’ Boa maneira de eximir a imprensa… Então tudo bem ser desrespeitoso, injusto e invasivo com um ser humano só porque ele faz sucesso? Ao final, a mídia não está sendo independente nem mesmo em relação ao público, pois este se comporta da mesma forma: por trás de cada fanático ou torcedor, existe alguém pronto para se tornar seu carrasco ou detrator, como já se viu tantas vezes. O jornalismo oscila na mesma curva juvenil, apenas com eventuais diferenças de momento… Quem perde com tudo isso é a capacidade de distanciamento e a capacidade de admiração, duas qualidades que se alimentam do atrito mútuo. E o bom gosto também, pois nada mais cafona do que fofoca sobre celebridades.

O admirador aprecia; o fã projeta. O admirador se sente feliz por ver algo bem feito por quem quer que seja; o fã gostaria de ser aquele que o fascina, antes de mais nada por ser algo que ele próprio não consegue ser. O admirador cultiva; o fã cultua. O admirador perdoa defeitos em nome da grandeza vista na ação; o fã sente tal intimidade com o ídolo que, ao se sentir ‘traído’ por uma mera falta de atenção equivalente, acha que pode maltratá-lo sem perdão. O admirador jamais deixa de analisar; o fã jamais chega a se auto-analisar. O admirador ressalva; o fã não tem salvação. O admirador tem prazer; o fã é um frustrado.

UMA LÁGRIMA

Faltou reproduzir aqui na semana passada o que escrevi em meu blog quando soube da morte de Bussunda: ‘Bussunda morreu, entre futebol e piadas, como viveu. Marrentinho Carioca, Ronaldo Fofômeno, Lula, suas encarnações ficam. O segredo de seu talento de comediante era não se bastar em ter uma figura engraçada. Captava os tipos e tinha ‘timing’ rápido. Fala sério.’’

O Estado de S. Paulo

Enfim, o senso crítico

‘Ainda bem que isso aqui não é território francês, que só começa a fazer festa depois que a vitória se anuncia. Pois não é que ontem, consumada a derrota de Parreira, a Globo teve a pachorra de colocar no ar a incondicional cena do Olodum fazendo auê no Pelourinho? Tanto faz se o Brasil perdeu ou ganhou. Lá estão eles, prontos para o consolo pela derrota, como estiveram, nos jogos anteriores, prontos para a comemoração pela vitória.

Desenhada a tragédia da data, à parte toda a decepção de dom Galvão Bueno, Casagrande e Falcão, convinha notar um certo alívio do trio em poder falar exatamente o que o pensamento mandava. A Globo já não precisa da complacência de Parreira para seduzir os Ronaldos a contracenar com Fátima Bernardes no Jornal Nacional na madrugada alemã. Já não tem de apagar incêndio entre seus diretores porque um (do Fantástico), queria desvendar as palavras do técnico à beira do campo, enquanto outro (de Esportes), queria lhe beijar as mãos. Acabou o conflito. Já não há o que decifrar.

E dom Galvão permanece como o locutor que a platéia mais ama odiar. Tá certo que a Globo transmite a Copa sozinha na TV aberta e estamos falando de um País em que só 9% da população paga para ver TV. Mas, não custa lembrar, em 1998, quando a França já tinha sapateado sobre nosso canarinho, dom Galvão não estava só e mesmo assim a Globo liderava com folga a audiência. Acontece que, justiça seja feita, ele tem o dom de arrastar para a frente da TV o mais blasé dos franceses, a qualquer minuto da partida. É uma narração ególatra, ufanista e tudo mais, mas o ritmo de dom Galvão sempre leva o ouvinte a crer que o gol está para sair. Eis o seu mérito.’



TELEVISÃO
Leila reis

Todos sob suspeita

‘A novela Belíssima caminha para a reta final com uma platéia digna de fim de Copa do Mundo. A audiência da novela vem crescendo paulatinamente desde que estreou, mas na semana passada bateu nos 57 pontos de média no Ibope.

Isso quer dizer que mais de 3 milhões de lares da Grande São Paulo estão interessados em saber a identidade do vilão que manipula muitos destinos e quem é o filho que Bia Falcão (Fernanda Montenegro) abandonou ao nascer.

Não parece enredo de dramalhão mexicano? Mas não, é a fórmula clássica das histórias em capítulos. Nenhuma telenovela se segura sem um grande segredo, muitas intrigas, desencontros amorosos (que se resolvem quase sempre no capítulo final) e algumas situações de humor.

A diferença da trama de Silvio de Abreu em relação às outras é que ele força a mão no suspense. A isca não é saber quem vai ficar com quem no final e qual será o fim dos maus, mas quem é o ser misterioso que manipula os maus ou os aparentemente mal-intencionados. André Santana (Marcello Antony), sabe-se agora, não se trata de um arrivista habilidoso no golpe do baú. Até a imperial Bia Falcão pode não agir por vontade própria.

A descoberta da identidade do vilão oculto levará à revelação do nome do filho de Bia e Murat (Lima Duarte). Será mesmo o açougueiro Fladson, Pascoal, Jamanta ou Rebeca? Assim, o autor vai semeando pistas aqui e ali para confundir. E alimentar as revistas que se alimentam de TV.

Personagens simpáticos e leves passam a ter atitudes comprometedoras. O bon vivant Gigi (Pedro Paulo Rangel) larga o cinema noir e o dolce far niente que tanto aprecia para articular maldades contra Nikos (Tony Ramos). Ornela (Vera Holtz) anuvia sua boa vida de perua endinheirada com atitudes suspeitas. E mais gente que até então parecia mais inocente do que recém-nascido está dando sinais de ter conta alta no cartório.

Silvio abre o leque de suspeitos e desnorteia a platéia. Admirador confesso de Alfred Hitchcock, ele acaba negando o mestre do suspense ao abrir a possibilidade para qualquer um ser declarado a iminência parda no final. Na linha das referências, é possível enxergar na relação de Tosca (Jussara Freire) com o filho Fladson um pouco do clássico Psicose. A queda da garçonete Valdete remete a Um Corpo que Cai. Mas, segundo o repórter Jotabê Medeiros, torna-se anti-Hitchcock ao destruir as pistas que constrói. Fazendo isso, desvirtua personagens que delineou tão bem a princípio.

Que sentido tem o inescrupuloso André se revelar agora um homem apaixonado pela mulher que traiu e roubou? Ele é realmente o bom que se fingiu de mau, ou é o mau que se faz de bonzinho? Alberto (Alexandre Borges) ser colocado na lista de suspeitos não combina com o melhor playboy que surgiu nas novelas nos últimos anos. Dar outra função ao personagem, que não a de se dar bem e conquistar todas as mulheres do mundo, estraga tudo. O mesmo ocorrerá se ele cair na tentação de tornar a lasciva Safira (Cláudia Raia) uma romântica apaixonada.

O fato é que, mesmo com esses deslizes, Belíssima entra no currículo de Silvio de Abreu no departamento reservado aos sucessos. E poderá ser melhor lembrada ainda se tocar seu barco para o rumo que as revistas especializadas em novelas vêm apontando. Rebeca (Carolina Ferraz), a mulher mais independente da novela, se desilude dos homens e acaba nos braços de Karen (Mônica Torres). O comentário é que , com essa reviravolta, Silvio se vinga da frustração que lhe foi imposta na novela Torre de Babel. A rejeição do público o obrigou a eliminar o romance entre as personagens de Christiane Torloni e Sílvia Pfeifer. Mas até lá, sabe como é novela, tudo pode mudar.’



INTERNET
O Estado de S. Paulo

Boleira virtual

‘Sites dão uma forcinha ao clube da Luluzinha para entender melhor o assunto da hora. Dá até para esnobar

Se para você cama-de-gato é onde seu bichano dorme, volante é apenas a peça que comanda um carro e quadrado mágico, mais um número do ilusionista David Copperfield, você precisa de aulinhas básicas sobre o assunto do momento: futebol.

Tudo bem que ninguém é obrigada a ser boleira de carteirinha como Soninha Francine, mas alguns sites se propõem a dar uma forcinha às torcedoras que não querem dar bola fora nos jogos da Copa.

Alguns resumem de forma bem interessante e didática dúvidas comuns da torcida de batom. É o caso do site Bolsa de Mulher (www.bolsademulher.com.br), que preparou um pequeno Manual da Torcedora. Outros, como o www.portalbrasil.eti.br podem ser úteis para o público em geral, com regras e denominações do esporte publicadas pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), o órgão máximo do esporte.

Apesar de mais detalhados, esses que trazem as regras oficiais da tal Fifa tratam como idiotas, em boa parte, os curiosos pelo esporte, trazendo explicações como: a bola do jogo será sempre esférica. Jura? Quadrado já basta o mágico. Bom, voltaremos a ele depois.

Uma das dúvidas mais freqüentes explicadas à exaustão nos sites é o famoso impedimento. O próprio Bolsa de Mulher diz que o tema merecia um especial solo, de tão confuso que é. Segundo o site, um jogador está impedido quando é dado um passe em sua direção por um companheiro do time e há menos de dois adversários (geralmente o goleiro e mais um) entre esse atacante e a linha de gol do time adversário. Entendeu? Não? Então, bem-vinda ao clube.

Aulinhas

Escanteio já é mais simples. Pode ser chamado também de tiro de canto e é uma forma de reiniciar o jogo quando a bola sai do campo na linha de meta (a última, lá no fundo, atrás do goleiro) depois de haver tocado por último um jogador da equipe defensora. Quem cobra o escanteio vai chutar a bola lá da pontinha do campo, onde tem uma bandeirinha. Fique atenta, pois é do escanteio que saem os gols de muitos jogos.

Quando ouvir falar no esquema 4-4-2, que é em geral o esquema da seleção brasileira, pense na seguinte explicação: são quatro jogadores na defesa, quatro no meio do campo e dois no ataque. Simples, não?

Os armadores são, como o nome diz, aqueles que armam as jogadas, no caso, Kaká e Ronaldinho Gaúcho. São chamados de meias também. Para ilustrar melhor, pense na posição atual de David Beckham, da Inglaterra. O.k., você perdeu a concentração, tudo bem.

Os atacantes são os que atacam, claro. Os da seleção são Ronaldo Fenômeno e Adriano. Aí está o famoso quadrado mágico: Kaká, Gaúcho, Ronaldo e Adriano. Ficou claro?

Zagueiros são homens da defesa, e os nossos são os grandões Juan e Lúcio.

Laterais ficam nas laterais (não ria, é sério). Geralmente correm mais que o time inteiro e auxiliam na defesa. No time brasileiro há dois bem famosos: o Cafu, nosso capitão, e Roberto Carlos, aquele das coxas largas.Os volantes são os que jogam mais recuados, ajudando na defesa. Ah, mas essas denominações podem mudar de acordo com a posição que cada um adota no campo.

Dar pontapé, empurrar, pular em cima, agredir, trancar a jogada do adversário – tudo isso é falta. Se for grave, tipo cuspir no adversário ou chutá-lo sem que ele esteja com a bola, é motivo de cartão vermelho, ou seja, expulsão. Faltas mais leves são punidas com cartão amarelo. Se um jogador levar dois cartões amarelos no mesmo jogo também é expulso. Cometer qualquer uma dessas faltas em um jogador que está com a bola na área penal, aquela um pouco maior em torno do gol, é motivo de pênalti e com isso, chance de gol.

Ah, já ia esquecendo da cama-de-gato, que é quando um dos jogadores pula para cabecear uma bola e um adversário o escora pelas pernas, provocando desequilíbrio e uma queda. Falta.

Se essas dicas não forem suficientes para você arrasar no maior estilo Casagrande de plantão (o ex-jogador é comentarista da Globo), aqui vão algumas curiosidades para impressionar. Diga do nada que a bola do jogo não pode pesar menos que 410 gramas antes de a partida começar. Lance sem dúvidas no olhar que não há impedimento se o passe sair de um arremesso lateral. E lembre-se sempre que aquele com apito nas mãos e roupa diferente de todos os outros jogadores não é um excêntrico, e sim o juiz. Não o confunda nunca, caso contrário sites e aulas de futebol terão sido em vão.’



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