Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O medo de agir ou a neutralidade que destrói

No rádio cearense temos graves problemas. No entanto, ele continua firme e cada vez mais conquistando adeptos, o que faz crer que os discursos sobre seus problemas não passam de simples revanchismo ou declarações equivocadas de quem não aceita a modernidade nem a mudança da sociedade. Acontece que, em virtude dos problemas elencados, o rádio continua perdendo grandes nomes que ou procuram outras atividades mais rentáveis ou acabam sendo expulsos das programações sem satisfação plausível ou qualquer explicação aos usuários sobre mudanças ocorridas. Tais fatos se tornaram realidade quando aconteceram mudanças em rádios como Ceará Rádio Clube e Dragão do Mar, o que todos sabem, porém poucos tiveram coragem de denunciar ou questionar.

O processo de sucateamento do meio rádio e sua entrega quase total ao interesse dos grandes grupos e igrejas continua forte e deixa seus usuários sem opções de questionamento ou reação, pois os espaços para discussão da programação estão completamente fechados e vedados. Em rádios cearenses, a participação do ouvinte continua cada vez controlada, pois há temor de que nessas participações ouvintes mais críticos ou que tenham conhecimento possam expor as feridas do rádio.

Será que querem o fim?

No meio rádio a situação é de gravidade e parece que seus atores procuram fingir o não acontecimento na realidade, pois as vozes que se levantam em relação ao questionamento das mudanças são ocultadas, ignoradas ou em muitos casos ridicularizadas. A idéia de gerar críticas ao modo como se faz comunicação via rádio é pouco divulgada e tem cada vez menos adeptos, pois acontece entre nós uma espécie de medo de ser queimado pela mídia e não ter direito a falar nas rádios. A atitude de alguns dirigentes de emissora é completamente antidemocrática, pois se o ouvinte não concordar com o caos que está estabelecido será declarado persona non grata à rádio mesmo de forma velada ou indiretamente.

Os bastidores do rádio são perigosos, pois o que se diz sobre ouvintes fora do ar demonstra total falta de respeito aos que fazem com que o meio ainda persista em existir. No estado do Ceará temos blogs, sites e outras comunicações das quais fazem parte grandes radialistas que empurram a crise do rádio para debaixo do tapete, pois têm medo de se indispor com a emissora ou com outros colegas que contribuem para o caos. Ouvimos programas de grande audiência proferirem todo tipo de agressão verbal ou espetáculos de discriminação que são aplaudidos por outros radialistas, como se fossem algo normal ou de grande contribuição para o povo.

A indiferença ao que se passa no rádio está promovendo uma destruição lenta e gradual deste meio de comunicação que todos sabem existir, mas não querem deixar que o povo entenda ou faça algo para mudar a situação. Não entendemos essa conivência com o caos nem sabemos o porquê de tanta passividade em relação à situação. Nosso nome é um nome maldito no meio rádio para alguns que fazem de tudo para não divulgar ações em prol do rádio desencadeadas por quem tem interesse na mudança e sabe da importância deste meio para o crescimento de nossa sociedade. Nossas idéias são divulgadas em vários meios de comunicação e via Twitter, porém geralmente não temos respostas, comentários nem apoio. O que querem será o fim? O rádio vai sucumbir diante da ignorância e da passividade?

Mudanças que não serão boas

A luta pelo rádio é, na maioria das vezes, muito ingrata para quem se dispõe a se engajar no processo, pois as incompreensões deixam para quem luta poucas opções de escolha e pouco ânimo para a luta. Durante aproximadamente sete anos travamos uma luta contra gigantes que têm ao seu lado o poder do dinheiro e a maldição da incompreensão e da falta total de coesão da sociedade em prol de um direito que é de todos. Parece-nos que falamos uma linguagem diferente da maioria das pessoas e que proferimos mentiras sobre o que se passa no meio rádio. O poder de contestação acaba sendo tolhido pelo poder da riqueza e da ignorância de nosso povo e de nossos gestores. Há problemas, sim, no rádio. Muitos fingem que não vêem o problema pelo fato de que as conveniências são mais fáceis no jogo da vida que a contestação.

Resta, então, pedir um pouco mais de respeito ao rádio e à sua história que não terá fim, mas terá mudanças que certamente não serão boas para a população nem para a geração de uma sociedade melhor.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE