Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O retrato da exclusão digital

‘Por serem ainda pouco utilizadas pela população e pelas empresas brasileiras, as tecnologias de informação e comunicação (TICs) estão longe de representar um indicativo que mostre a riqueza do Brasil. Embora o país faça parte das dez maiores economias do mundo, índices que medem a taxa de utilização das TICs classificam o país em torno da septuagésima posição.’

A comparação foi feita por Augusto Gadelha, secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), na conferência ‘Sociedade da informação nos municípios brasileiros’, realizada na sexta-feira (25/5), último dia do 7º Congresso Ibero-Americano de Indicadores de Ciência e Tecnologia, em São Paulo.

Os preços ainda altos dos computadores e a ausência de um programa nacional que ofereça acesso à internet por banda larga em todas as regiões do país seriam dois fatores que explicariam a posição desfavorável frente a outros países na chamada sociedade da informação.

‘Políticas públicas existem para tentar reverter essa falta de conectividade. Com o advento da Lei do Bem, os preços de computadores novos tiveram uma redução significativa. Os primeiros estudos de mercado demonstram um aumento de quase 35% na aquisição de novas máquinas em algumas regiões do país’, comentou Gadelha, que também é coordenador pelo MCT do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), entidade responsável pela coordenação e integração dos serviços de internet no Brasil.

Indicador de deficiências

Gadelha apresentou também dados de um levantamento inédito conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o CGI. O trabalho foi caracterizado pela inclusão de novas questões, na edição de 2005 da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), sobre o uso das TICs no Brasil em áreas como governo eletrônico, comércio eletrônico e educação.

A pesquisa analisou 19 mil domicílios de todos os estados. Segundo ela, a televisão aberta e gratuita é utilizada em 97% dos domicílios entrevistados, seguida do rádio (90%), telefone celular (68%) e telefone fixo (50%). Computadores de mesa foram encontrados em 19% dos domicílios consultados, e o computador portátil, em menos de 1%. A internet via telefone celular é acessada em 18% dos domicílios e 5% utilizam TV a cabo.

O levantamento mostrou ainda que apenas 14% da população brasileira têm acesso à internet e 34% já usaram a rede alguma vez na vida. ‘O dado mais significativo, no entanto, é que mais de 40% das pessoas entrevistadas disseram não ter interesse em acessar a internet, um indicador das deficiências educacionais e culturais do país’, apontou Gadelha.

Domínio da internet

Para destacar indicadores que possam embasar a criação de políticas públicas para viabilizar maior conectividade à sociedade da informação, Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br (NIC.br) – entidade que implementa as decisões do CGI –, usou exemplos do crescimento da internet no país.

Segundo ele, nos últimos 12 meses o registro de domínios .br cresceu 20% e, hoje, o país conta com 1,1 milhão de domínios registrados, de 800 mil diferentes detentores. Cerca de 90% dos domínios registrados no Brasil usam a extensão .br.

Getschko criticou o pessimismo excessivo na sociedade quando se diz que a internet promove um distanciamento cada vez maior entre os indivíduos que têm e os que não têm acesso à rede. ‘A princípio, as novas tecnologias de comunicação podem parecer extremamente elitistas, mas, à medida que avançam, elas geram produtos amigáveis ao consumo, seja do ponto de vista do uso dos equipamentos de hardware ou dos próprios aplicativos da web’, destacou.

O diretor-presidente do NIC.br exemplificou com o caso da comunidade de relacionamentos Orkut, na qual os brasileiros representam quase a metade dos integrantes. Segundo ele, supondo que a maioria dos brasileiros que utiliza o Orkut tenha pelo menos conhecimentos mínimos sobre computação, o grande número de usuários representa um excelente indicador de que boa parte da população brasileira, ávida por novidades, está acessando a internet de maneira acentuada.

‘O cenário de mudanças sociais e econômicas que a internet traz precisa ser olhado de uma forma mais desprovida de preconceitos e de visões restritas. A internet não é mais uma forma de comunicação de um grupo restrito de usuários’, disse.

‘As barreiras tecnológicas estão cada vez mais invisíveis e os usuários estão conseguindo ter acesso à rede mundial de computadores por meio de browsers e sistemas operacionais cada vez mais simples’, destacou Getschko.

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Repórter da Agência Fapesp