Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O assassinato de uma heroína

Passou-se um ano e o assassinato continua insolúvel.

No dia 7 de outubro 2006, ao entrar no elevador do edifício onde morava em Moscou, a jornalista Anna Politkovskaya foi assassinada a tiros, ela estava pronta para publicar uma pesquisa sobre as torturas cometidas os Forças de Segurança da Chechênia..

‘Um dia para lembrar Anna Politkovskaya’

Com essa manchete o jornal britânico The Times, publicou uma carta assinada por 60 personalidades entre as quais 4 prêmios Nobel, para lembrar o primeiro ano do assassinato da jornalista. Os signatários do apelo dirigido ao governo russo para que seja feita justiça, pertencem ao grupo pelos direitos humanos Reach all Women in War. Os prêmios Nobel da Paz envolvidos na iniciativa são: Rigoberta Menchu, Desmond Tutu, Jodi Williams e Shirin Ebadi. Também assinam Harold Pinter, Noam Chomsky e Zbigniew Brzezinski.

Desde 1° de outubro último, o celular de Anna Politkovskaya voltou a tocar, assim decidiram seus colegas da Novaja Gazeta, o bi-semanal de oposição onde ela trabalhou por sete anos: ‘Queremos que as pessoas a chamem e que digam alguma coisa. Sabemos que quem lhe telefonava era para pedir ajuda, para contar a morte de um filho desaparecido não se sabe onde; aqueles que tinham a necessidade de chorar no seu ‘ombro’ e também os que a insultavam e ameaçavam’. Anna escutava a todos e queira bem até a quem lhe queria mal.

Eram 16:10 horas do dia 7 de outubro, quando o killer lhe apontou a pistola com silenciador e atirou 5 vezes, três balas lhe atingiram o peito e duas a cabeça, o criminoso apressou-se me fugir entrando num carro onde o esperavam seus cúmplices.

As investigações forma manipuladas e chegou-se até a deter alguns suspeitos, mas o rosto do assassino continua desconhecido.

Muita discussão, pouco resultado

A oposição que tem por nome a Outra Rússia, composta principalmente pelo ex premier Mikhail Kassianov, o campeão de xadrez Garry Kasparov e por Eduard Limonov chefe do partido Nacional Bolchevista. Mas eles não conseguem juntar-se para um movimento homogêneo, portanto as discussões são muitas e os resultados nulos.

O celular de Anna foi desligado a meia noite do dia 7, em uma semana chegaram milhares de mensagens de escritores, políticos, jornalistas, diplomatas estrangeiros, mas em sua grande maioria de gente do povo.

Das publicadas na Itália (la Repubblica) separei a que penso ser a mais significativa. Foi escrita por um aposentado que assina Jurij A.: ‘Se tivesse que escolher a personalidade do ano, não, dos últimos 5, 10, 25, 50 e até cem anos e sabendo de início, que essa pessoa teria que ser a mais honesta, a mais corajosa, a mais tenaz e capaz de sacrificar-se pelos direitos dos oprimidos, na luta contra o monstro que se chama ‘o Estado Russo’, eis que poria o nome de Anna Politkovskaya. Anna não é só parte da Rússia, ela é todo o universo. Veio a este mundo para nos dar o exemplo de sacrifício e, com sua própria morte, para nos acudir e indicar o caminho da salvação. As autoridades e a Igreja (Ortodoxa Russa) fazem de tudo para que o nome de Anna seja esquecido. Com a morte de Anna viver na Rússia ficou mais perigoso e mais vergonhoso’

No primeiro artigo que escrevi sobre a morte da jornalista usei o fecho que segue, pois que ainda é atual: ‘Anna Politkovskaya não se alinhava com esse nacionalismo baboso, ao mesmo tempo compreensível mas brutal e inquietante. Era uma oposicionista por excelência, uma pedra nas rodas dessa enorme máquina concebida para retornar no tempo. Sobretudo era crítica ferrenha de Vladimir Putin e morreu por isso. Como morrem os heróis.’