Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

ONG critica espionagem do governo

O comandante da polícia boliviana, general Miguel Vásquez, reconheceu na semana passada que o serviço de inteligência da polícia esteve envolvido na espionagem não autorizada de políticos do país e de Juan José Espada, subdiretor de jornalismo da rede de TV Unitel. O escândalo de espionagem doméstica teve início no dia 24/1, quando os canais privados Cadena A, ATB, PAT e Unitel e os diários nacionais La Razón e El Nuevo Dia divulgaram que receberam um CD contendo dezenas de arquivos, 40 memorandos e mais de 400 fotos revelando a espionagem ocorrida no final do ano passado, sem controle superior do governo.

Dentre os alvos de espionagem estavam 18 políticos, incluindo o ex-presidente Jorge Quiroga, chefe do partido de oposição Podemos; quatro governadores de províncias opostas ao presidente Evo Morales; o porta-voz do Senado, Oscar Ortiz; Gustavo Torrico e Guido Guardia, representantes do partido do governo no parlamento; e Espada, na época diretor de notícias adjunto do La Paz.

Proteção a fontes

A ONG Repórteres Sem Fronteiras declarou em seu sítio [28 e 30/1/08] que os jornalistas devem ser capazes de usufruir das garantias da privacidade profissional necessárias para que cumpram seu trabalho adequadamente. ‘A investigação sobre a espionagem de Espada deve estabelecer se o objetivo era identificar suas fontes. Se for o caso, isto constitui uma grave violação da liberdade de imprensa, que depende da proteção de fontes. Também queremos saber se jornalistas estão sendo investigados’, afirmou a RSF. ‘Estas revelações não devem ser usadas como argumento para reavivar a tensão entre a mídia e a classe política ou para polarizar a mídia’.

O rascunho de uma nova constituição gerou, no ano passado, uma crise política nacional, com a mídia de oposição e pró-governo sendo alvo de ameaças e violência. Até agora, governo e oposição tentam dissolver a tensão. Os escritórios do PAT em La Paz sofreram danos em um ataque no dia 19/1, assim como os da ATB no dia 25/1. Diversos jornais também divulgaram que René Fernández, da Rádio Cadena Nacional, foi atacado fisicamente no dia 25/1 em La Paz. A mídia tem expressado preocupação sobre possíveis mudanças na legislação em relação à confidencialidade de fontes jornalísticas. Iván Canelas, ex-jornalista que lidera o partido MAS na Câmara dos Deputados, disse que pediu pessoalmente ao escritório do promotor público para abrir uma investigação com o objetivo de verificar os responsáveis pela violência e ataques a jornalistas.