Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Para que serve a Secretaria de Comunicação?

A Secretaria de Comunicação da prefeitura de Cuiabá desempenhou um papel digno de repúdio na semana passada, colaborando com um grande esquema que prejudicou a população da cidade. É que na sexta, dia 10 de março, o Conselho Municipal de Transporte da cidade se reuniu no sétimo andar da prefeitura de Cuiabá para aprovar o aumento da tarifa, de R$ 1,60 para R$ 1,85, o que aparentemente não aponta nenhum envolvimento do órgão de comunicação em questão.

Agora, detalhando a situação, se perceberá o sujo papel da Secom, frenteada pelo experiente jornalista Pedro Pinto, professor universitário e ex-secretário de Comunicação do governo Dante de Oliveira. Pois a secretaria não divulgou a reunião do Conselho para a mídia. E olha que a Secom fica no mesmo prédio da prefeitura.

Para ser firme com o que ocorreu, a Secom informou da reunião apenas ao jornal A Gazeta, cujo proprietário, Dorileo Leal, é ligado ao grupo político de Dante de Oliveira, e se empenha hoje em defender os interesses do prefeito Wilson Santos, também tucano como o ex-governador. Dorileo é o maior acionista do Grupo Gazeta de Comunicação, que ainda tem concessão de TV (Record), duas concessões de rádio (AM e FM) e um instituto de pesquisa (Gazeta Dados). Dorileo também tem parte na DMD Associados, empresa beneficiada pela Secom nos dois governos de Dante (1995-1998 e 1999-2002), que acabou sendo o foco de um dos maiores escândalos da administração tucana em Mato Grosso, o chamado Secomgate.

Uma colega jornalista, indignada, disse que até dois dias antes do aumento o secretário de Transportes, Oscar Soares, havia lhe falado que a prefeitura ainda estudava a nova tarifa e que não tinha data para determiná-la. Outra colega informou que várias pessoas do periódico onde trabalha receberam advertência por não cobrir a reunião do Conselho.

Em forma de golpe

E o presidente da Femab (Federação Mato-grossense das Associação de Moradores de Bairro), Valter Arruda, informou que Oscar Soares estivera em seu programa de rádio – A Voz dos Bairros – e assegurou no ar a um ouvinte que não se planejava o aumento de um dia para o outro.

Contudo, contrariando o que dissera aos meios de comunicação, o secretário Oscar Soares convocou reunião do Conselho, no qual foi empossado e logo em seguida passou à votação da única pauta, a saber, o aumento da tarifa. E veja que a reunião foi marcada para as 7h, antes mesmo do início do expediente. Motivo oficial: nenhum. A verdade: para evitar as manifestações pela redução da tarifa do transporte.

E se foi marcada para a ‘madrugada’ de sexta, dia 10, o chamado aos representantes das entidades com assento na entidade ocorreu no dia anterior, ou seja, em cima da hora, em forma de golpe mesmo. A presidente da Assut (Associação dos Usuários de Transporte Coletivo/MT), Marleide Carvalho, disse que ficou sabendo da reunião pelo diretor técnico da entidade, por telefone, às 4 da tarde de sexta, e assim mesmo porque ele viu no site do jornal A Gazeta (www.gazegtadigital.com.br) a notícia de que os conselheiros votariam o aumento. A (Ame) Associação Mato-grossense e a Femab nem mesmo foram chamadas.

Bem social

Portanto, bem se vê que a intenção maior da referida reunião do Conselho foi a de que somente os representantes defensores do aumento da tarifa ou cooptados pela prefeitura participassem da mesma. Dessa maneira, a secretaria chefiada pelo experiente jornalista Pedro Pinto prejudicou a população, pois omitiu uma informação importante no processo de luta da população pela melhoria na qualidade do transporte e redução da tarifa.

Ainda mais que as manifestações populares na cidade por essas reivindicações vêm ocorrendo desde setembro do ano passo, com protestos de rua e intervenções em reuniões. Ainda mais que a CPI do Transporte da Câmara Municipal de Cuiabá apresentou em dezembro do ano passado relatório apontando que a tarifa correta atualmente deveria ser de R$ 0,81. Ainda mais que recentemente a própria Secretaria de Transportes divulgou que somente 26 dos 389 ônibus da capital reuniam plenas condições de uso. Ainda mais que os empresários do transporte, beneficiados com mais um aumento abusivo de tarifa, estão devendo R$ 138 milhões em impostos, taxas de outorga e multas, segundo relatório final da CPI do Transporte.

É por isso que a ‘falta de comunicação’ deliberada do comando da Secom merece ser denunciada e repudiada pelos colegas jornalistas de todo o país. Pois se espera que a notícia, a informação jornalística, de serviço, seja um bem social e não uma mercadoria, assim como a omissão de dados de interesse púbico deve ser criticada com veemência, visto que também infringe a ética da profissão.

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Jornalista e militante do Comitê de Luta pelo Transporte Público