Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Perfil do rádio cearense: tem jeito?

Temos hoje uma verdadeira reflexão de que nosso rádio está com seus dias contados, o que não é uma visão derrotista ou fatalista, mas a constatação de um problema sério que parece não ser visto por ninguém e nos faz como o personagem da história de Dom Quixote. Não podemos entender por que o rádio não se recicla nem tem a atenção necessária de seus supostos proprietários ou do poder público, que tem provado sua inércia em relação ao setor e deixa que as mensagens de pornofonia continuem agredindo nosso povo e faça com que os que se levantem contra sejam simplesmente transformados em idiotas ou rebeldes sem causa. Temos problemas sérios no rádio que se situam na lógica de uma má administração ou planejamento.

O sucateamento do rádio é uma evidência em nosso estado, pois muitas de nossas emissoras têm condições de trabalho tristes, com estúdios pequenos, pouca tecnologia de apoio aos programas e emissões em muitos casos inaudíveis. Muitos programas são feitos na base do improviso e do humor do radialista, que muitas vezes, quando não está a fim de fazer o programa, passa até uma hora colocando música e fechando os telefones para uma suposta reclamação. A demagogia, o elogio fácil e o uso político deste meio de comunicação são situações comuns no meio rádio que infelizmente ainda não se compreendeu que é uma concessão pública. Há radialistas que simplesmente não vão fazer o programa em determinados dias e nenhuma satisfação é dada ao ouvinte que, infelizmente, tem de agüentar de tudo em um meio que já foi respeitoso e teve consideração com seus usuários.

Melhor acompanhamento do poder público

O rádio esportivo vem sendo também um problema sério, pois há uma situação inusitada a invasão de programas voltados para clubes que praticam o xingamento aos outros clubes e podem acabar induzindo os conflitos tão comuns de torcida dos dias de hoje. O pior de tudo é a falta de profissionalismo onde alguns são convidados a comentar jogos sem o mínimo conhecimento de esquema tático, futebol ou situações de jogo. Vale ressaltar que muitas vezes este convite se baseia no apoio financeiro do convidado aos programas que ao serem arrendados buscam dinheiro para cobrir o pagamento de todos os jeitos.

A venda publicitária do meio rádio se baseia no quesito amizade ou nos interesses que permeiam o meio onde as emissoras não movem uma palha no sentido de divulgar seus serviços ou mostrar a penetração do rádio nos lares ou sua repercussão na sociedade. Vemos também que muitas propagandas são feitas na base do deboche, sem nenhum tipo de planejamento ou respeitabilidade ao ouvinte.

No quesito respeitabilidade, o rádio cearense tem sido um verdadeiro terror onde alguns radialistas dizem o que querem sem nenhum tipo de acompanhamento dos chamados chefes de programação ou dos que se dizem donos da rádio e seque ouvem a rádio da qual têm a concessão. Portanto, não sabem o que se passa nem tomam providência alguma para mudar o processo de baixaria hoje comum neste meio. Claro que há exceções, mas a situação ainda é grave e merece até um melhor acompanhamento do poder público, que parece que não sabe da existência do rádio ou da sua importância.

O caos que enriquece alguns

No quesito interatividade, o pecado é capital onde há rádios que têm recomendações para alguns ouvintes não participarem simplesmente por terem questionado algumas anomalias da programação ou ter exigido respeito a sua pessoa. Acreditamos que tal processo é grave e atenta claramente aos direitos humanos e se trata de assédio moral ou cerceamento da liberdade. Claro que ninguém diz nada, pois vivemos no individualismo e quem fala jamais tem interesse no que está acontecendo com os outros. Há rádios em Fortaleza que não permitem a participação popular e até trancam o telefone para evitar participação dos ouvintes. Isso é rádio? Vemos nesse caso atentados contra a dignidade e a cidadania que são graves e mereciam tomada de posição. No entanto, ninguém coloca o guizo no pescoço do gato…

No quesito comunicação, há sites de rádios que estão há quase um ano desatualizados e o tal fale conosco é mero instrumento de retórica ou enganação. Vemos assim a gravidade de uma situação que denunciamos, mas não tem despertado nenhum tipo de ação firme por parte de quem de direito. A situação é grave, porém parece que estão todos anestesiados e embriagados pelo lucro imediatista que acaba cegando as pessoas. Há soluções, porém sabemos que para muitos é melhor manter o caos que enriquece alguns e afasta cada vez mais a possibilidade de redenção ou melhoria de um meio que sempre esteve a frente nas transformações da sociedade. Uma pena, não…

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE