Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Precisamos de mais horas conectados à TV?

Com a implantação do sistema de televisão digital no Brasil, além da alta definição e de outras inovações, o brasileiro terá a chance de passar mais tempo vendo a programação dos canais por diferentes meios eletrônicos, em especial pelos celulares. A onda dos telefones móveis invadiu rapidamente o cotidiano de todas as classes sociais, graças aos preços mais acessíveis e às campanhas de marketing das operadoras. Não deve demorar, portanto, para que as pessoas cedam à novidade da TV via celular, depois da implantação do novo padrão de transmissão.

Afinal, adoramos assistir televisão. Somos um dos países que mais tempo ficam expostos à programação da TV aberta recebendo um conteúdo de qualidade duvidosa, salvo em raras exceções. Parece que em breve esse número de horas aumentará e muitos estarão, dentro e fora de casa, ligados na telinha do celular.

Imagine uma cidade como Brasília, onde existe a maior relação de habitantes por aparelhos de celular (mais de 1 telefone móvel por pessoa). Existirá um motivo a mais para dar adeus à interação entre as pessoas, já tão precária. Ficará mais difícil cumprimentar alguém dentro do ônibus ou metrô, na volta para o trabalho, ou ter a oportunidade de conhecer uma pessoa em um restaurante, shopping, parada de ônibus ou seja lá onde for.

Interação virtual

Esse breve artigo não defende que o Brasil deva abandonar a adoção do sistema de TV digital e perder competitividade com outros países do mundo. Até porque logo o padrão analógico será extinto, com rapidez maior ainda nos países ricos. A discussão sobre o modelo de TV que vai ser adotado já foi resolvida. Agora acredito que devemos nos perguntar qual modelo de vida queremos para nós. Interação real ou virtual? Um equilíbrio entre as duas? O que seria ideal para não cairmos na frieza das metrópoles tecnocráticas já tão impessoais?

Vem à lembrança um diálogo do filme Collateral (EUA, DreamWorks / Paramount, 2004) em que o personagem de Tom Cruise relata com um certo pessimismo conformado a história de um homem que morreu dentro do metrô de Los Angeles. Ele deu a volta na cidade diversas vezes, por horas e horas, até alguém percebê-lo morto.

******

Publicitário