Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quem vencerá essa guerra?

Mais de 80% não sabem o que é TV digital. Deu no Estado de S.Paulo de
domingo (26/3). Os leitores que apreciam assuntos tecnológicos sabem, de longa
data, quem é o Sr. Ethevaldo Siqueira. Das inúmeras matérias apresentadas pelo
dedicado jornalista, lembro-me de uma sobre as primeiras gravações de música em
alta-fidelidade realizadas através de computadores, lá pelos idos anos 70,
quando ainda imperavam os discos de vinil.


A tecnologia é um dos fatores de transformação da sociedade. Quem opera nessa
área é forçado a arriscar-se na projeção de cenários futuros. Várias previsões
do Sr. Siqueira concretizaram-se. O disco digital de áudio foi uma delas: chegou
ao país em 1982. Mas nem tudo acontece como indicam as tendências.


Quando o Brasil adotou seu sistema de televisão em cores, em 1972, os riscos
daquela aventura eram pequenos, pois os três sistemas disponíveis na época, o
americano, o francês e o alemão, haviam atingido aquilo que chamamos
‘consolidação’, isto é, haviam ultrapassado o limite de 50% de alcance em seus
respectivos territórios. Atualmente, os EUA estão amargando 7%, e a Inglaterra
até que vai bem: 25% desde a inauguração, em 1998. O artigo de Ethevaldo
Siqueira é didático, orienta os consumidores sobre a TV digital pura. O
articulista arrisca sobre o preço do conversor e o prazo de transição dos
sistemas, mas não põe a mão no fogo sobre o início das emissões terrestres no
Brasil…


Sobre TV em alta definição, por exemplo. O termo ‘alta definição’ é cercado
de relatividades. A TV nasceu eletromecânica, com algumas dezenas de linhas de
varredura, principal fator da definição (qualidade) da imagem transmitida. Todo
salto de qualidade de imagem vem apresentado com o rótulo de ‘alta definição’.
Durante a sua evolução, a TV eletrônica saltou de 325 linhas (sistemas
experimentais) para 425 linhas (Reino Unido) e 441 linhas (Alemanha).


A pressão continua


Após a Segunda Guerra mundial, os sistemas de TV totalmente eletrônicos se
acomodaram em 525 linhas (América) ou 625 linhas (Europa, África, Ásia e
Oceania), com algumas exceções. O primeiro sistema de televisão em alta
definição ‘Muse’, em 1.125 linhas, foi desenvolvido no Japão, pela NEC
(Companhia Elétrica Japonesa) e a NHK (Rede de Televisão Estatal), em meados da
década de 1980. Esse projeto tinha vários ingredientes para o sucesso. Recebeu
apoio dos EUA. Mas havia um único inconveniente: era analógico. Essa nova TV
acabou em uso restrito no Japão, via satélite. As transmissões terrestres
continuaram em 525 linhas. A ‘febre digital’ inibiu a expansão do padrão ‘Muse’
e matou o padrão ‘HD-Mac’, europeu, ainda em seu nascedouro.


A revolução digital concebeu os três padrões de TV em alta definição em uso:
americano, europeu e japonês. Essa mesma revolução deu origem aos sistemas
terrestres híbridos (desconhecidos por 99,999% das pessoas) e a IPTV, conhecida
apenas pelos usuários de computador em banda larga. A propósito, após 8 anos do
advento da TV digital terrestre nos EUA, a maioria dos telespectadores ainda não
sabe o que é isso…


Quem gosta de ler os dominicais surpreende-se com o anúncio de página inteira
dos radiodifusores sobre a premência da adoção do padrão digital japonês pelas
emissoras brasileiras de televisão.


Quem vencerá essa guerra?


** Os hiper-revolucionários (IPTV)?


** Os revolucionários (ATSC, DVB-T, ISDB-T)?


** Ou, os conservadores (dNTSC/Telisar)?


O que acha o Sr. Ethevaldo? Para saber mais, visite ‘TV digital em
sete quadrinhos
‘ ou Novela
digital
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Técnico eletrônico, Jundiaí, SP