Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Rádio dá prejuízo?

Nos dias de hoje, é comum o arrendamento de emissoras a grupos religiosos ou políticos deixando aos ouvintes dúvidas no tocante à programação e ao emprego dos locutores e operadores, que certamente serão submetidos a mudanças que mexerão no seu trabalho, no ritmo dos programas e no processo de caracterização da mensagem radiofônica. A grande questão é saber por que ocorrem tantas transferências de emissoras e por que será que os supostos proprietários não conseguem segurar e garantir o funcionamento de suas rádios.

Hoje em dia, o rádio é uma incógnita em termos de lucratividade; não se sabe realmente se a mídia rádio dá lucros ou prejuízos e muitos dos que se dizem proprietários não procuram mostrar a viabilidade financeira deste meio ou divulgar a importância do rádio e sua penetração em termos de público. Acho válidas, porém simplórias, algumas campanhas de valorização do rádio. É preciso se investir mais na propaganda positiva deste meio para mostrar aos publicitários e empresários a importância do rádio no que se refere ao público ouvinte ou seu alcance e versatilidade.

No Brasil, já há grupos constituídos que trabalham com a importância do rádio e buscam sua valorização, mas parece que não há reconhecimento por parte do segmento patronal (Abert) em relação ao processo de importância desta mídia nem se busca união com estes grupos para seu crescimento. É preciso muita união para soerguer este meio não em termos de importância, que já foi provada, mas para colocá-lo como elemento de catalisação de investimentos e de busca da propaganda e da divulgação.

Lucratividade tremenda

O rádio precisa de pessoas que lutem por ele, pois sabemos que há lucro na sua ação, porém parece que o lucro é muito pequeno diante da gana dos empresários. É preciso que os que detêm a concessão de rádio procurem investir firmemente na sua melhoria em termos de audiência, em variedade de programas, em conquista de público e em democratização do meio para que todos possam dizer o que querem. Fica claro que os programas de rádio mais democráticos têm, certamente, maior audiência e maior valorização.

Nesse sentido, há muitas alternativas para o crescimento do rádio, mas é preciso clarividência em relação ao seu processo de geração de lucros, é preciso saber o que se passa neste meio, para que sejam tomadas medidas que gerem seu crescimento em termos de lucratividade e melhoria. Conclamamos uma campanha pela valorização do meio rádio, que é urgente, necessária e precisa de todos os segmentos da sociedade no processo e na ação.

A viabilidade do rádio deve ser uma discussão constante, pois se fosse tão inviável economicamente não haveria tanta briga e tanta barganha política por concessões deste meio. O rádio é, sim, viável. Pesquisas da própria Abert já dão uma lucratividade tremenda deste meio e provam que não é de prejuízos que vive o meio rádio.

Comunicação interativa

Precisamos que o rádio seja encarado com seriedade e que os outros meios reservem espaços para a discussão, o conhecimento e a importância deste meio para a sociedade e para a própria história de nossa sociedade. Os que hoje fazem parte de outras mídias com certeza ou começaram no rádio ou nele tiveram a inspiração necessária para iniciar seu trabalho como comunicadores.

O rádio é importante, sim. Sua importância, porém, é descaracterizada quando emissoras são vendidas ou arrendadas a grupos que mudam seu papel e monopolizam suas emissões em cima unicamente de seus interesses e/ou dogmas. Não é apenas dinheiro o problema do rádio. Há algo mais além que se traduz na falta de um processo de conscientização da sociedade em busca de homens que confiem e respeitem o rádio.

No meio rádio temos muito aprendizado, muito conhecimento e muita cidadania. Esses ingredientes não são reconhecidos pelos seus proprietários, que não têm a visão da lucratividade social e só vêem o sentido financeiro e monetário deste meio. Se houver uma campanha forte e dedicada na valorização do rádio e na busca de novos ‘clientes’, que é a massa jovem que quer saber, que tem curiosidade, certamente este meio só tende a crescer. A campanha pelo rádio-cidadão e pela valorização da comunicação interativa é urgente, necessária e talvez seja a solução pela melhoria financeira e social de um meio que estará sempre conosco em todos os momentos.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE