Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Relatório sobre serviço secreto será divulgado

Legisladores alemães decidiram tornar público o dossiê confidencial sobre as investigações de jornalistas pelo serviço secreto alemão, o BND. O documento, apresentado inicialmente por Gerhard Schäfer, ex-juiz do Supremo Tribunal Federal, ao comitê parlamentar que investiga o órgão, revelou que um jornalista recebeu 334 mil euros para entregar 856 relatórios ao BND sobre seus colegas.


Depois da revelação que o BND vinha há anos pagando a jornalistas para investigar outros profissionais da mídia, a chanceler alemã Angela Merkel ordenou na segunda-feira (15/5) o fim da espionagem de repórteres. ‘O governo lamenta o incidente. A Chancelaria Federal Alemã ordenou ao BND que não tome mais medidas operativas contra jornalistas’, afirmou o porta-voz do governo, Ulrich Wilhelm, informando que jornalistas não poderiam mais ser usados como fontes em investigações e que funcionários do alto escalão do BND poderiam ser demitidos.


Wilhelm comunicou que funcionários do BND seriam interrogados esta semana pelo comitê parlamentar. O BND só pode conduzir operações na Alemanha a fim de proteger seu próprio trabalho. O serviço secreto pode, entretanto, usar jornalistas como contatos em operações estrangeiras, informou o porta-voz. Os ministérios da Defesa e do Interior afirmaram que o escritório federal alemão de proteção à Constituição – a agência de inteligência doméstica – e o Serviço de Inteligência Militar também não devem usar jornalistas como fontes.


Alguns dos mais prestigiosos veículos de mídia no país, incluindo a revista Der Spiegel, admitiram que membros de suas equipes cooperaram com o BND ao fornecer, até o ano passado, informações sobre seus colegas de trabalho. O BND aparentemente também vigiou jornalistas para descobrir como informações do serviço secreto vazaram à imprensa.


Opiniões divergentes


‘O objetivo de usar jornalistas como informantes era evitar a publicação de artigos prejudiciais e descobrir onde os jornalistas estavam obtendo informações de dentro do BND’, afirmou o ex-chefe do serviço secreto Volker Foertsch ao jornal Berliner Zeitung. Já Hansjörg Geiger, ex-presidente do BND, negou ter permitido a espionagem de jornalistas durante o tempo em que administrou o serviço secreto, de 1996 a 1998. ‘Durante o meu termo, eu deixei explícito ao BND que jornalistas não poderiam ser usados como fontes’, disse. O conselheiro de inteligência do ex-chanceler Helmut Kohl, Bernd Schmidbauer, acusou Geiger de ter pedido em 1996 que um jornalista fosse investigado para ‘esclarecer vazamentos do BND’. Ele afirmou ainda que a Chancelaria não havia sido informada da espionagem.


Debate político


O escândalo gerou um debate entre políticos que pedem que seja feita uma investigação completa do caso. ‘Até os serviços secretos têm de agir de acordo com sua capacidade; os limites foram evidentemente ultrapassados neste caso’, afirmou Wolfgang Bosbach, vice-chefe dos conservadores democratas-cristãos. ‘Temos de ir fundo nesta investigação’, disse Ralf Stegner, do Partido Social Democrata. ‘É uma questão de se pesar direitos fundamentais – o direito à liberdade da imprensa e o direito básico do BND de se proteger’, afirmou o ministro do Interior, Wolfgang Schaeuble.


Já está sob investigação pelo comitê parlamentar o caso de dois agentes alemães de Bagdá que compartilharam informações com Washington no começo da Guerra do Iraque, em 2003 – atitude que foi condenada publicamente pelo governo alemão. Informações da Deutsche Welle [15/5/06], Reuters [15/5/06] e de Claudia Rach [Bloomberg, 17/5/06].