Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Resposta às insinuações
do governo Aécio Neves

Em resposta às afirmações da Superintendência de Imprensa do governo de Minas Gerais, tenho a esclarecer, a respeito do meu filme Gagged in Brazil, que:


O filme Gagged in Brazil não foi publicado no YouTube, como afirma a Superintendência. Ele foi comissionado, exibido e distribuído pela Current TV e pela sua extensão na web, o site current.com. A versão em português no YouTube foi disponibilizada por um usuário do site que legendou a versão encontrada no site da Current.


Ao contrario do que a Superintendência tenta fazer parecer, os e-mails com links para o filme não foram enviados a partir de servidores gratuitos. Os primeiros e-mails com os links foram enviados por mim, e o que se viu em seguida foi o efeito ‘viral’, com a mensagem se espalhando e crescendo com e-mails sendo enviados pelas pessoas que assistiam ao filme. Isso se chama repercussão.


Entrevistados ‘não consultados’


O documentário Liberdade, essa Palavra, que a Superintendência de Imprensa afirma ter sido ‘lançado na internet como arma de campanha da oposição’, foi na realidade trabalho de conclusão de curso do então formando em jornalismo Marcelo Baeta, entrevistado por mim em meu documentário.


O órgão também afirma que não realizei pesquisa alguma sobre o noticiário para afirmar que não ha notícias negativas sobre o governador. Ora, não só realizei essa pesquisa, como ela está documentada em meu blog http://blog.danielflorencio.com, em inúmeros posts espalhados por inúmeros meses; basta procurar. Ela não apenas demonstra a não existência de notícias negativas, mas também demonstra um claro esforço editorial em favorecer a versão oficial dos fatos, em detrimento a eventuais críticos e opositores. Um documentário que exponha todos os exemplos coletados por mim e indicados por minhas fontes certamente necessitaria de mais do que oito minutos de filme.


Ela também afirma que as únicas entrevistas com jornalistas identificados são as retiradas do documentário Liberdade, essa Palavra e o vídeo-resposta do PSDB afirma que não consultei esses entrevistados. Não posso responder a essa acusação, pois para o fazer acabaria tendo que identificar algumas de minhas fontes.


Matérias cortadas e modificadas


Quanto a essas mesmas entrevistas, a Superintendência de Imprensa afirma que elas não têm credibilidade, pois seu conteúdo foi desmentido pelos entrevistados. Ora, nos depoimentos gravados pela campanha Aécio Neves 45, em 2006, os entrevistados não desmentem o que disseram antes; eles apenas dizem que não disseram o que efetivamente não haviam dito mesmo.


Quanto aos jornalistas não identificados no filme, usar fontes anônimas é ferramenta jornalística legítima, utilizada quando as fontes se sentem ameaçadas e/ou passíveis de sofrerem represálias. Dado o exemplo dos jornalistas Ugo Braga e Marco Nascimento, que sofreram o constrangimento de terem depoimentos gravados pela campanha de Aécio Neves em 2006, os jornalistas entrevistados em meu filme, a fim de evitar constrangimento semelhante, alem, obviamente, de manterem seus empregos, preferiram dar os depoimentos anonimamente.


As afirmações feitas no Gagged in Brazil pelo jornalista da TV Globo são de que as matérias referentes ao governo de Minas Gerais são enviadas a chefia superior para revisão. A Superintendência de Imprensa do governo de Minas afirma que é procedimento normal em redação o repórter apurar e redigir, e o editor, editar. Certamente o é. Mas a Superintendência de Imprensa parece desconhecer a estrutura de funcionamento de uma redação, pois editores não são ‘chefia’. Chefia em uma redação são chefes de Redação, editores-chefes etc. Chefes de Redação e editores-chefe normalmente não revisam todas as matérias. A afirmação do jornalista da TV Globo em meu filme é de que todas as matérias referentes ao governo do estado de Minas Gerais são checadas, cortadas e modificadas por essa chefia superior para que críticas ao governo sejam suprimidas.


Sinergia entre TV Globo e governo


Outra afirmação do vídeo-resposta do PSDB e da Superintendência do governo de Minas é referente ao uso do dólar como moeda para ilustrar e da inclinação do gráfico do crescimento das verbas publicitárias para ‘impressionar’ o espectador. Ora, esse filme foi produzido para audiências inglesas e norte-americanas que desconhecem a moeda brasileira, logo foi feita uma conversão simples dos valores encontrados no site da Secretaria da Fazenda pelo dólar com a cotação da época da produção do vídeo, e não o cálculo, no mínimo extravagante, que os vídeos-resposta insistem que eu deveria ter feito. Enfatizo, no entanto, que esses valores seriam ainda muito maiores se tivesse contabilizado as verbas publicitárias das empresas estatais Cemig e Copasa.


Realmente, estive em Belo Horizonte e não procurei o governo de Minas Gerais e os procurei depois de meu retorno a Londres. Quando os contatei, mostraram-se indignados por não ter lhes designado todo o espaço que eles pareciam exigir. E, sim, a nota enviada pelo governo foi publicada ao final do filme junto com uma nota da TV Globo. No entanto, nenhuma das notas foi publicada na íntegra; apenas a edição do que era a essência das respostas de ambos: de que os depoimentos ali presentes eram de natureza ‘político-partidária’.


Interessante notar também que existe uma sinergia entre TV Globo e o governo do estado, não só pelo fato de suas notas em resposta coincidirem em teor, mas também no fato de a Superintendência de Imprensa se apressar em sua resposta a justificar procedimentos jornalísticos que são atribuídos à TV Globo em meu filme, e não ao governo.


Estratégia de comunicação


Finalizando, a Superintendência de Imprensa do estado de Minas Gerais, bem como o PSDB em seus sete vídeos-resposta, parecem ter uma preocupação com a ‘honra pessoal e profissional de tantas pessoas’. Ora, a honra profissional e pessoal de tantas pessoas deveria ser objeto de respeito primeiramente de um governo que, como afirma o próprio chefe do executivo, Aécio Neves, ‘tem como primeiro compromisso, a liberdade’. Do lado de cá do oceano eu me pergunto: ‘Liberdade de quem?’ Pois certamente não é dos jornalistas, nem da livre circulação de idéias, pensamentos e opinião.


Infelizmente, a estratégia de comunicação do governo de Minas Gerais e a de outros estados é querer transformar a opinião pública em um deserto, onde a pouca vegetação existente seja aquela plantada pelos órgãos oficiais. Triste é constatar que para isso conta com a cooperação dos veículos de imprensa.