Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sobre segredos, vazamentos e decisões

A coluna de Byron Calame [2/7/06] não poderia tratar de outro assunto: as duras críticas sofridas pelo New York Times pela revelação do programa secreto de vigilância bancária do governo americano. Apesar da informação ter sido publicada também pelo Los Angeles Times e pelo Wall Street Journal, foi o NYTimes o veículo mais citado durante a semana quando o assunto era o vazamento do programa.

A matéria de 23/6 causou grande revolta por parte de autoridades políticas do país. O vice-presidente Dick Cheney afirmou que o jornalão havia prejudicado a guerra contra o terror, deputados e senadores pediram que a imprensa passe a cooperar com o governo e o próprio presidente George W. Bush se manifestou, chamando a decisão de revelar o programa ao público de ‘vergonhosa’.

Também milhares de leitores deram suas opiniões, lotando diversas caixas de e-mail na redação do Times. O ombudsman conta que recebeu aproximadamente mil mensagens, cerca de 85% delas críticas à decisão do jornal de publicar a informação. Calame achou então que era hora de examinar com cuidado a situação.

Decisão correta

Uma análise maior o convenceu de que o editor-executivo Bill Keller tomou a atitude correta quando decidiu que os leitores do Times tinham o direito de saber sobre o programa secreto de vigilância bancária. ‘E as indicações crescentes de que esta e outras operações de vigilância de dados bancários dificilmente eram um segredo para o mundo terrorista minimizam a possibilidade de que o artigo em questões tenha feito dos EUA um lugar menos seguro’.

A principal razão para a publicação da reportagem, diz Calame, ‘era a obrigação de uma imprensa livre em monitorar o governo e outras poderosas instituições em nossa sociedade’. ‘Nosso trabalho é publicar informações que estamos convencidos ser corretas e precisas’, escreveu Keller em uma carta aos leitores publicada no sítio do jornal na semana passada, completando que ‘nossas maiores falhas geralmente aconteceram quando nós não apuramos ou reportamos o bastante’.

Sem receita mágica

Para Calame, o principal argumento contra a publicação do programa é o de que ele funcionava de maneira legal, ajudou a pegar alguns terroristas e não tinha nenhum indício de abuso de privacidade. Ainda assim, defende o ombudsman, seria preciso mais argumentos para justificar a decisão de manter o programa em sigilo.

Em artigo publicado no sábado (1/7) por Keller e pelo editor Dean Baquet, do Los Angeles Times, os dois dizem que não há fórmula mágica ou medição certeira para se equilibrar o interesse do público e os perigos da publicação de informações sensíveis. ‘Nós fazemos nosso melhor julgamento’, dizem. Calame afirma que o melhor julgamento de Keller e Baquet serviu bem a seus leitores no caso deste programa secreto. ‘Diante da intensa pressão do governo em um país normalmente polarizado politicamente, eles optaram corretamente por garantir que os leitores ficassem informados sobre a vigilância de movimentação bancária’, defende.