Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Supremo julgou mensalão sob
pressão da mídia, diz ministro


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 30 de agosto de 2007


MÍDIA & PODER
Vera Magalhães


‘Tendência era amaciar para Dirceu’, diz ministro do STF


‘Em conversa telefônica na noite de anteontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), reclamou de suposta interferência da imprensa no resultado do julgamento que decidiu pela abertura de ação penal contra os 40 acusados de envolvimento no mensalão. ‘A imprensa acuou o Supremo’, avaliou Lewandowski para um interlocutor de nome ‘Marcelo’. ‘Todo mundo votou com a faca no pescoço.’ Ainda segundo ele, ‘a tendência era amaciar para o Dirceu’.


Lewandowski foi o único a divergir do relator, Joaquim Barbosa, quanto à imputação do crime de formação de quadrilha para o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, descrito na denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como o ‘chefe da organização criminosa’ de 40 pessoas envolvidas de alguma forma no escândalo.


O telefonema de cerca de dez minutos, inteiramente testemunhado pela Folha, ocorreu por volta das 21h35. Lewandowski jantava, acompanhado, no recém-inaugurado Expand Wine Store by Piantella, na Asa Sul, em Brasília.


Apesar de ocupar uma mesa na parte interna do restaurante, o ministro preferiu falar ao celular caminhando pelo jardim externo, que fica na parte de trás do estabelecimento, onde existem algumas mesas -entre elas a ocupada pela repórter da Folha, a menos de cinco metros de Lewandowski.


A menção à imprensa se deve à divulgação na semana passada, pelo jornal ‘O Globo’, do conteúdo de trocas de mensagens instantâneas pelo computador entre ministros do STF, sobretudo de uma conversa entre o próprio Lewandowski e a colega Cármen Lúcia.


Nos diálogos, os dois partilhavam dúvidas e opiniões a respeito do julgamento, especulavam sobre o voto de colegas e aludiam a um suposto acordo envolvendo a aposentadoria do ex-ministro Sepúlveda Pertence e a nomeação -que veio a se confirmar- de Carlos Alberto Direito para seu lugar. Lewandowski chegou a relacionar o suposto acordo ao resultado do julgamento.


Ontem, na conversa de cerca de dez minutos com Marcelo, opinou que a decisão da Corte poderia ter sido diferente, não fosse a exposição dos diálogos. ‘Você não tenha dúvida’, repetiu em seguidas ocasiões ao longo da conversa.


O fato de os 40 denunciados pelo procurador-geral terem virado réus da ação penal e o dilatado placar a favor do recebimento da denúncia em casos como o de Dirceu e de integrantes da cúpula do PT surpreenderam advogados de defesa e o governo. Na véspera do início dos trabalhos, os ministros tinham feito uma reunião para ‘trocar impressões’ sobre o julgamento, inédito pelo número de denunciados e pela importância política do caso.


Em seu voto divergente no caso de Dirceu, Lewandowski disse que ‘não ficou suficientemente comprovada’ a formação de quadrilha no que diz respeito ao ex-ministro. ‘Está se potencializando o cargo ocupado [por Dirceu] exatamente para se imputar a ele a formação de quadrilha’, afirmou.


Enrique Ricardo Lewandowski, 58, foi o quinto ministro do STF nomeado por Lula, em fevereiro do ano passado, para o lugar de Carlos Velloso. Antes, era desembargador do Tribunal de Justiça de SP.


No geral, o ministro foi o que mais divergiu do voto de Barbosa: 12 ocasiões. Além de não acolher a denúncia contra Dirceu por formação de quadrilha, também se opôs ao enquadramento do deputado José Genoino nesse crime, no que foi acompanhado por Eros Grau.


No telefonema com Marcelo, ele deu a entender que poderia ter contrariado o relator em mais questões, não fosse a suposta pressão da mídia. Ao analisar o efeito da divulgação das conversas sobre o tribunal, disse que, para ele, não haveria maiores conseqüências: ‘Para mim não ficou tão mal, todo mundo sabe que eu sou independente’. Ainda assim, logo em seguida deu a entender que, não fosse a divulgação dos diálogos, poderia ter divergido do relator em outros pontos: ‘Não tenha dúvida. Eu estava tinindo nos cascos’.


Lewandowski fez ainda referência à nomeação de Carlos Alberto Direito, oficializada naquela manhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Negou ao interlocutor que fizesse parte de um grupo do STF contrário à escolha do ministro do Superior Tribunal de Justiça para a vaga de Pertence, como se depreende da conversa eletrônica entre ele e Cármen Lúcia. ‘Sou amigo do Direito. Todo mundo sabia que ele era o próximo. Tinha uma campanha aberta para ele.’


Ainda em tom queixoso, gesticulando muito e passando várias vezes a mão livre pela vasta cabeleira branca enquanto falava ao celular, Lewandowski disse que a prática de trocar mensagens pelos computadores é corriqueira entre os ministros durante as sessões. ‘Todo mundo faz isso. Todo mundo brinca.’


Já prestes a encerrar a conversa, o ministro, que ainda trajava o terno azul acinzentado e a gravata amarela usados horas antes, no último dia de sessão do mensalão, procurou resignar-se com a exposição inesperada e com o resultado do julgamento. ‘Paciência’, disse, várias vezes. E ainda filosofou: ‘Acidentes acontecem. Eu poderia estar naquele avião da TAM’.


Além dos trechos claramente identificados pela reportagem, a conversa teve outras considerações sobre o julgamento, cuja íntegra não pôde ser depreendida, uma vez que Lewandowski caminhou para um lado e para outro durante o telefonema.


Logo após desligar, ao voltar para o salão principal do restaurante, Lewandowski se deteve para cumprimentar um dos proprietários, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, figura muito conhecida em Brasília e amigo de vários advogados e políticos -entre eles o próprio Dirceu, citado na conversa.


Lewandowski ficou pouco mais de uma hora no restaurante. A Expand Wine Store by Piantella é um misto de loja de vinhos, restaurante e bar localizada na quadra 403 Sul, no Plano Piloto. Pertence ao mesmo grupo de proprietários do Piantella, o mais tradicional restaurante da capital federal, ponto de encontro de políticos.


Só depois da conversa com Marcelo é que Lewandowski sentou-se e fez os pedidos: uma garrafa de vinho argentino Santa Júlia, R$ 49 segundo o cardápio, uma porção mista de queijos e outra de presunto, cada uma ao preço de R$ 35. No telão localizado às costas do ministro, eram exibidos DVDs musicais -um show do grupo Simply Red e uma apresentação da cantora Ana Carolina.’


Valdo Cruz


Primeira-dama é amiga da mãe de Lewandowski


‘Indicado pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, Enrique Ricardo Lewandowski teve o apoio da primeira-dama Marisa Letícia para ser nomeado ministro do STF pelo presidente Lula.


A mãe de Lewandowski, Karolina, é amiga de Marisa. Elas se conheceram em São Bernardo do Campo (SP), onde o hoje ministro foi criado e formou-se em direito.


Auxiliares de Lula admitem que a amizade ajudou, mas não teria sido decisiva. O aval de Bastos e de juristas de São Paulo é que teria feito o presidente decidir por ele após analisar mais de 11 nomes. Os defensores do hoje ministro elogiaram sua ‘sólida formação jurídica’ e o fato de ser professor titular da Faculdade de Direito da USP. O próprio Lewandowski procurou Bastos para manifestar seu desejo de ocupar a vaga. Ao final do processo, ele disputou o cargo com Misabel de Abreu Machado Derzi e Luiz Edson Fachin.


Lewandowski e Lula se conhecem de São Bernardo do Campo, antes de o petista se tornar presidente. Ele costuma dizer, porém, não se considerar um amigo de Lula.


Quando foi indicado para o STF, Lewandowski disse que admirava o presidente, mas afirmou que isso não influenciaria sua conduta no tribunal, por ser apartidário.


Nos anos 80, ele teve ligações com o PMDB -foi secretário de Governo do prefeito de São Bernardo Aron Galante (1984-1988).


Foi ele quem abriu inquérito para investigar o presidente do Senado, Renan Calheiros, e determinou a quebra do sigilo fiscal e bancário do senador desde 2000.


Carioca, três filhos, a posse de Lewandowski em 2006 contou com a presença de Lula e de Geraldo Alckmin.’


ECOS DA DITADURA
Kennedy Alencar, Letícia Sander e Eliane Cantanhêde


Lula promete a famílias que comissão vai ouvir militares


‘Em reunião ontem com familiares e mortos de desaparecidos políticos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu criar uma comissão para obter dos atuais militares informações sobre os restos mortais de opositores mortos pela ditadura militar (1964-1985).


Lula, porém, pediu que a decisão fosse mantida em reserva, para não atrapalhar as novas negociações sobre informações da repressão política que os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) estabelecerão com os comandantes militares.


Lula foi cauteloso no discurso público que fez logo após a reunião para lançamento do livro ‘Direito à Memória e à Verdade’, primeiro documento oficial do governo que assume como verdade histórica a versão de que a repressão política decapitou, esquartejou, estuprou, torturou e ocultou cadáveres de opositores de ditadura.


O formato da comissão ainda não está decidido. Lula pode aumentar o número de representantes da atual Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos ou criar uma nova instância coordenada pela Defesa e por Direitos Humanos.


Em entrevista coletiva após o evento, Lula foi questionado se reabriria arquivos: ‘Queremos colaborar e contribuir para que a sociedade feche e vire a página desta história de uma vez por todas. Há disposição para isso. (…) A comissão vai ser ampliada, vai colocar mais gente. É debate que precisa ser feito pela sociedade, e vamos fazê-lo’, respondeu o presidente.


A Folha apurou que Lula já disse aos três comandantes militares que nenhum deles é responsável por atos cruéis praticados pela ditadura, que, segundo o livro, instalou um ‘terror de Estado’ no Brasil. Os militares, porém, respondem que não há mais arquivos secretos.


No entanto, a cúpula do governo desconfia dessa versão. Em 1993, o então ministro da Justiça, Maurício Corrêa, recebeu relatórios das Forças Armadas a respeito de mortos e desaparecidos políticos.


A área de Direitos Humanos avalia que os autores desses relatórios devem ainda estar vivos e poderiam dar depoimentos dizendo onde obtiveram informações em 1993. O livro-relatório sugere a Lula que uma ‘instância administrativa permanentemente aberta para oitiva de policiais e militares, da ativa e da reserva’, que possam fornecer dados sobre ‘localização de restos mortais’ ou ‘documentos ou cópias ainda existentes’ para ‘elucidação dos fatos’.’


Letícia Sander


Jobim manda recado a militares em lançamento


‘No lançamento oficial do livro ‘Direito à Memória e à Verdade’, que acusa a ditadura militar por torturas e mortes, em evento no Planalto, o ministro Nelson Jobim (Defesa) deu um recado preventivo a eventuais críticas de militares. Disse que o país passa por processo de conciliação, que as Forças Armadas receberam o ato como ‘natural’ e que ‘não haverá indivíduo que possa reagir’.


‘Se houver, haverá uma resposta’, afirmou ele, sob aplausos da platéia de familiares das vítimas da ditadura, ministros e parlamentares, sobretudo do PT e do PSDB. Em conversas reservadas, ministros disseram que o discurso de Jobim foi uma forma de enquadrar as Forças Armadas, que, nos bastidores, criticam o livro.


Ele tem 500 páginas e foi produzido pela Secretaria dos Direitos Humanos com tiragem de 3.560 exemplares. Será distribuído para ONGs, bibliotecas públicas e órgãos oficiais.


Os militares aparentemente boicotaram o evento -não havia nenhum deles na cerimônia. A secretaria informou que os comandantes das três Forças foram oficialmente convidados, mas eles dizem que, se houve convite, foi por telefone, pois não há nada ‘protocolado’ nos respectivos gabinetes.


Ao deixar o evento, o presidente Lula disse ‘não saber’ se os militares gostaram ou não do livro, porque ‘não conversou’ com eles. ‘Fui convidado pela secretaria, o Jobim foi convidado. Não sei se eles foram.’ Nos discursos, houve uma preocupação unânime de demonstrar que o livro, que conta a história de cerca de 400 militantes políticos, não é um ato de ‘revanchismo’.


Lula foi o último a falar, leu um discurso e improvisou ao final. Disse que ações do gênero são indispensáveis para que esse passado ‘não se repita’ e que o livro simboliza um sentimento de ‘reconciliação’. Prometeu acelerar a busca pelos corpos até hoje desaparecidos, mas reconheceu: ‘É mais fácil falar e mais complicado fazer’.


Ele também falou que esse processo se dará ‘sem revanchismo’, até porque ‘a Lei da Anistia já está aprovada’.


Responsável pela publicação, o secretário Paulo Vannuchi teve o cuidado de ressaltar, em sua fala, a contribuição das Forças Armadas hoje na defesa dos direitos humanos. Nos bastidores, os militares criticaram o livro, classificado de ‘extemporâneo’ e ‘sem novidades’.


A cerimônia teve tom emotivo. Pelo menos três ministros choraram -Dilma Rousseff e Franklin Martins, perseguidos pela ditadura, e Tarso Genro.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Enquanto isso


‘Desde domingo, as imagens ocupam os telejornais da Record, de audiência crescente e que até venceu a Globo com um final de novela. São cenas do promotor acusado de assassinato, na academia, passeando, de bermudas, óculos escuros. Ontem, com narração de Percival de Souza, veio a notícia que levou o caso às manchetes: o Ministério Público decidiu reintegrá-lo ao cargo, com os salários que haviam sido suspensos. Nas barras de informação do ‘SP Record’ e do ‘Brasil Urgente’, ‘Promotor assassino é mantido no cargo’. Na locução da Band, ‘é justo um cara que matou um menino estar na rua e ganhando dez paus por mês?


E ainda rindo?’. Depois, ‘justiça é duro de fazer’.


A cobertura chegou ao ‘SPTV’ depois, ‘a família vai recorrer ao Conselho Nacional do Ministério Público e à Organização dos Estados Americanos’. Chegou a Fátima Bernardes, dizendo que ele havia sido ‘preso em flagrante depois de matar a tiros Diego, 20 anos’.


‘O PRIMEIRO’


Os esportes seguem na ponta, na atenção dos sites de busca de notícias sobre o Brasil, mas ‘New York Times’, ‘Financial Times’ e ‘Washington Post’ já deram os seus textos sobre o ‘aliado político próximo’, o ‘ex-assessor’, ‘um dos mais próximos confidentes do presidente’, ele, o ex-ministro José Dirceu. Alexei Barrionuevo, no ‘NYT’, lembrou o caso do ex-presidente Fernando Collor de Mello no Supremo, quando ‘foi aberto que operou fundo multimilionário de lama’. Também o ‘FT’ sublinhou o ‘primeiro desafio sério à impunidade’.


‘OLD CHICO’


A prestigiosa Rádio Pública Nacional dos EUA foi parar em meio à tribo Truka, no São Francisco, para reportagem sobre o conflito entre Lula e movimentos sociais quanto à transposição do ‘Old Chico, que é parte do imaginário dos brasileiros’. A representante da Pastoral da Terra acusou o plano ‘pelo que é: benefício ao grande negócio, ao cimento, agro-indústria, empreiteiras e, logo, cana para o etanol’.


CRISE DA COMIDA


O ‘Guardian’ voltou ontem à ‘crise da comida’, ou seja, o efeito dos biocombustíveis no preço dos alimentos, desde uma plantação de milho em Nebraska, nos EUA. Citou, do outro lado, a defesa por Lula de que a cana não afeta outras plantações por aqui. E ‘outros dizem que a elevação de preço é temporária e cai em um ano, quando o mercado reagir’.


SEDE DE ÁLCOOL


Com atenção do chinês ‘Diário do Povo’ à Reuters, ecoou que o ‘Brasil começa produção em larga escala de etanol de celulose’, a partir do bagaço de cana, até 2015.


Por outro lado, o ‘Wall Street Journal’, sob o título ‘Etanol sem fronteiras’, diz que cresceu a importação de álcool nos EUA, com o Brasil na frente, apesar da criticada tarifa, seguido da Jamaica.


FMI EM CAMPANHA


O ‘FT’ segue na cobertura da disputa pela direção do Fundo, agora com entrevista com o primeiro-ministro de Luxemburgo. Ele diz que, ‘no grupo de países do euro, todos estão conscientes de que [o indicado europeu] será provavelmente o último’, que ele ‘vai ajustar o Fundo aos interesses dos emergentes’. Eles que ‘poderiam indicar o diretor’ seguinte, quem sabe.


BRASIL ARMADO


‘Le Monde’ e ‘El País’ noticiaram ontem a pesquisa Small Arms Survey, que confirmou os EUA em primeiro lugar em armas ligeiras e levou o Brasil a oitavo. Falando ao correspondente espanhol, o diretor da entidade disse que o foco este ano é o Brasil, avaliando que ‘a origem da violência no país é a grave situação de injustiça social’. O estudo comparou o Rio a Uganda, país ‘onde as armas dos criminosos procedem da polícia’ em sua maior parte.’


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Folha de S. Paulo


Nokia lança rivais para iPhone e iTunes, da Apple


‘DA BLOOMBERG – A Nokia, a maior fabricante mundial de telefones celulares, apresentou ontem novos telefones equipados com tocador de MP3 e pretende passar a adotar interfaces de usuário mais simples para rechaçar a concorrência representada pelo iPhone, da Apple.


Os novos modelos 5610, 5310 e N81, equipados com tocador de música, além da versão atualizada do celular N95, que agora vem com 8 gigabytes de memória, começarão a ser vendidos no quarto trimestre deste ano, disse a empresa durante apresentação realizada em Londres.


A Nokia informou que iniciará a comercialização de modelos com tela que funciona por toque no ano que vem.


‘Eu não sei qual é a cópia ou qual é o original, mas, se há coisas boas no mundo, nós as copiaremos com orgulho’, disse Anssi Vanjoki, gerente da divisão de aparelhos multimídia, quando questionado sobre a semelhança dos novos modelos da Nokia com o iPhone.


Os modelos N81 e N95 de 8 gigabytes serão os primeiros que poderão baixar músicas da Nokia Music Store, a loja virtual da empresa finlandesa que concorre com o iTunes, também da Apple.


A Nokia Music Store será lançada nos ‘mais importantes mercados europeus’ entre setembro e dezembro deste ano e mais lojas virtuais serão inauguradas na Europa e na Ásia durante os próximos meses, segundo a empresa. O comunicado da Nokia não diz se o usuário brasileiro terá acesso à loja.’


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TECNOLOGIA: GOOGLE PODE TER PROGRAMA PARA CELULAR


‘O Google poderá lançar um software para telefones celulares nas próximas oito semanas com a intenção de promover seus serviços de e-mail e de mapas, disse o analista americano Gene Munster, da Piper Jaffray & Co. O programa permitiria à empresa formar parcerias com fabricantes de celulares. Sobre a possibilidade de a empresa lançar um telefone com a marca Google, apelidado de GPhone, Munster afirmou que ‘nós acreditamos que os rumores são parcialmente verdadeiros’.’


CRÔNICA
Carlos Heitor Cony


Caju amigo


‘RIO DE JANEIRO – Esta será a segunda ou a terceira vez que elogiarei o presidente da República. Ao longo do primeiro mandato e neste início do segundo, um dos meus temas prediletos foi criticá-lo -algumas vezes com alguma, e talvez injusta, veemência. Mas não resisti à sua foto exibindo um bonito caju, que se adivinha gordo e sumarento. Depois de lançar o Fome Zero e o Bolsa Família, promover uma cruzada de redenção para o caju é salutar, embora não seja necessário.


Para falar a verdade, não morro de amores pelo caju, embora aprecie uma cajuada feita a preceito. Gilberto Freyre e Humberto de Campos, um sob o ponto de vista sociológico, outro sob o aspecto literário, deixaram páginas admiráveis sobre a fruta, que tem realmente um gosto de Brasil.


Os primeiros visitantes que aqui chegaram deliciaram-se com a bebida que os índios ofereciam aos estrangeiros. Tratava-se de um refresco espumante, artesanal. O caju era mastigado pacientemente e cuspido numa bacia de barro. A massa ficava três dias ao relento, para a devida fermentação, mal comparando, como certos vinhos, que passam anos para se transformar em champanhe. O gosto -diziam- era melhor do que o do hidromel, a bebida servida aos deuses no Olimpo.


Há métodos modernos para obter fermentação mais adequada ao nosso gosto civilizado. Por tudo isso, louvo o presidente e sua foto contemplando com carinho um gordo e nutritivo caju. Seria mais simbólico, e condizente com o tempo que atravessamos, se ele estivesse segurando um abacaxi ou um pepino. Não colaria bem na sociedade o presidente da República patrocinar uma cruzada pelo abacaxi ou pelo pepino, que, aliás, não precisam de patrocínio nem de cruzada cívica para entrarem na pauta dos apetites nacionais.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo veta ‘velha-guarda’ no júri do ‘Faustão’


‘A direção do ‘Domingão do Faustão’ decidiu não convidar mais antigos diretores da Globo para o júri dos quadros do programa depois de Roberto Talma, no último domingo, ter dito que a miss Natália Guimarães ‘é linda, mas muito ruim’.


Talma foi jurado do quadro ‘Dança no Gelo’. Sua nota deixou a miss Brasil visivelmente constrangida. O comentário pegou muito mal internamente, porque a Globo pretende ter Natália em seu banco de atrizes _em breve, ela deverá cursar a oficina de atores da emissora.


Nos bastidores do ‘Domingão’, a ‘sentença’ de Roberto Talma (diretor de núcleo responsável por ‘Toma Lá, Dá Cá’) foi recebida como um fator que poderá dificultar a escalação de elenco de futuros ‘Dança dos Famosos’, ‘Dança no Gelo’ e ‘Circo do Faustão’.


Produtores do programa argumentam que já não é fácil convencer atores a encararem uma atividade que não dominam, como a dança. Tanto que a atual ‘Dança no Gelo’ não tem estrelas da casa _sobrou vaga até para a figurante de luxo Luciele di Camargo.


Não foi a primeira vez que um diretor da Globo causou constrangimento no ‘Domingão’. Antes, comentários de Maurício Shermann (‘Zorra Total’) e Mário Manga (‘Eterna Magia’) já tinham provocado desconforto. Para evitar novos incidentes, decidiu-se não mais convidar a ‘velha-guarda’ dos diretores da Globo.


CENSURADO 1 O Grupo Silvio Santos afastou o jornalista Albino Castro do projeto de uma biografia empresarial de Silvio Santos. O livro, pelos 50 anos do grupo, em 2008, deverá agora ser entregue a outro profissional.


CENSURADO 2 Castro foi censurado por ter dado entrevista a esta coluna. Ele argumenta que não lhe foi pedido sigilo. Além disso, o principal motivo da punição foi algo que ele não disse. A informação de que o grupo superou crise no início dos anos 90, graças à Telesena, veio de reportagem da Folha, em 2000, baseada em carta de Silvio Santos.


SAMBA DO MUTANTE O primeiro capítulo de ‘Caminhos do Coração’ marcou 17 pontos. Foi a melhor estréia de novela da Record.


CAPACETE 1 É grande a expectativa entre jornalistas da Globo para a festa dos 25 anos do ‘Jornal da Globo’, amanhã à noite numa boate de São Paulo. É que, na semana passada, o apresentador William Waack e o editor-chefe Erick Brêtas trocaram agressões físicas na Redação.


CAPACETE 2 O motivo da briga foi uma pergunta que Brêtas queria que Waack fizesse numa entrevista. Waack ameaçou não mais apresentar o telejornal, mas voltou atrás após conversar com a cúpula do jornalismo.


CAPACETE 3 O irônico disso tudo é que o convite para a festa dos 25 anos do ‘JG’ anuncia ‘que não vai faltar assunto’. A Globo diz que não houve qualquer atrito entre Brêtas e Waack.’


Laura Mattos


Para polícia, Taís é morta no lugar da gêmea boa


‘O assassino de Taís Grimaldi não queria matá-la. O criminoso a confundiu com Paula, sua irmã gêmea. A hipótese para o crime mais comentado no país é do delegado Romeu Tuma Júnior, da Dipol, a Divisão de Inteligência da Polícia Civil.


Ex-deputado estadual, ele já atuou na Divisão de Capturas da Polícia Federal e chefiou a Interpol em São Paulo. Entre outros casos famosos, acompanhou as investigações da morte do coronel Ubiratan, do prefeito Celso Daniel e os crimes do maníaco do parque. Segundo Tuma Jr., seu currículo inclui ainda o esclarecimento de ‘todos os assassinatos das novelas, desde o de Odete Roitman’.


A morte da vilã de ‘Paraíso Tropical’ foi gravada no início da tarde de ontem e irá ao ar nesta noite. Taís (Alessandra Negrini) será encontrada por Daniel (Fábio Assunção) na cozinha de seu apartamento.


O gás estará aberto, e ela, morta, caída no chão, como mostra o quadro abaixo.


Marion Novaes


Em entrevista à Folha, Tuma Jr., que vê a novela ‘não com muita freqüência’, a princípio apontou como sua suspeita a socialite Marion Novaes (Vera Holtz). ‘Ela poderá ter uma participação como mandante. Está envolvida em vários rolos, o filho [Ivan/Bruno Gagliasso] e Taís sabem, e ela pode ter mandado matá-la para se preservar’, afirmou.


Depois, em uma outra ligação, Tuma Jr. disse ter avaliado que Taís possa morrer no lugar da irmã gêmea, a mocinha Paula. Essa hipótese faz bastante sentido, uma vez que Taís, no momento do crime, estará no apartamento da irmã, fazendo-se passar por ela para tentar roubar seu passaporte e fugir.


Morta por engano


Nesse caso, o mais provável é que o assassino seja Ivan (Bruno Gagliasso), namorado da vilã. Segundo a Folha apurou, apesar de eles estarem brigados, ela telefona para o seu celular para avisá-lo do plano de roubar o passaporte e fugir.


Mas a ligação cai na caixa postal. Ele pode ter ido ao apartamento de Paula com o mesmo objetivo de Taís, roubar o passaporte, e, ao chegar, confunde-se e dá uma paulada na cabeça da namorada pensando estar diante da irmã gêmea.


Depois, para tentar simular um suicídio, coloca seu corpo na cozinha e liga o gás.


Ivan será preso como suspeito do crime, porque o delegado descobrirá que ele brigara com a namorada por ciúme de Olavo (Wagner Moura). Mas vai ser liberado quando a polícia ouvir a mensagem, na qual Taís, com voz doce, dá a entender que eles já fizeram as pazes.


Assassinato ou suicídio


Roberto Tardelli, promotor do caso Suzane von Richthofen, apesar de não assistir à novela, acredita que a tentativa de simular um suicídio possa ter relação com o fato de o crime não ser premeditado. ‘Não é incomum que criminosos tentem ocultar seus crimes simulando um suicídio. Isso ocorre quando o assassinato não é suficientemente planejado. Ou, por outro lado, quando ele é muito bem preparado’, diz.


Chefe da perícia do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Jane Marisa Pacheco Belucci analisou a cena do crime, a pedido da Folha. Ela tem no currículo a perícia dos von Richthofen, do pai e da madrasta do estudante Gil Rugai, do coronel Ubiratan e das vítimas do maníaco do parque. ‘Em um caso desses [morte por gás], é obrigatório que se faça uma necropsia. Se ela foi morta asfixiada pelo gás e não foi um suicídio, precisa ter sido amarrada ou então ter tomado um sonífero ou levado uma pancada, algo que a fizesse desmaiar e permanecer exposta ao gás’, disse a perita.


Segundo Belucci, se foi amarrada em vida e desamarrada após a morte, haverá marcas em suas mãos. ‘O que se faz em vida marca, em morte, não.’


Outro ponto: ‘Se ela realmente morreu em razão do gás, haverá vômito ao lado do corpo e seu rosto estará corado. É o que se chama de uma ‘morta bonita’. Também ficam petéquias, pequenas manchas, ao redor dos olhos. Mas, se foi por uma pancada na cabeça ou por envenenamento, isso pode ser detectado pelo perito no local do crime ou por exames toxicológicos feitos pelo IML’, diz.


Segundo a Folha apurou, o roteiro não diz se ela estará branca, corada ou se haverá vômito. A perícia do IML na novela será a princípio inconclusiva, para que a polícia tenha dúvidas entre suicídio e assassinato. Para Belucci, num caso assim, ‘a perícia só seria inconclusiva se fosse mal-feita’.


Nos capítulos recentes, vários personagens têm sido colocados como possíveis autores do crime, até os improváveis Ana Luísa (Renné de Vielmond) e Belisário (Hugo Carvana). Além de Marion e Ivan, os candidatos mais fortes são Antenor Cavalcanti (Tony Ramos) e Olavo (Wagner Moura).’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 30 de agosto de 2007


MÍDIA & POLÍTICA
Gilberto de Mello Kujawski


Lula, presidente vitalício


‘Lula castrou a oposição neste país. Por isso – com raras e honrosíssimas exceções – a oposição fala fino e não tem a coragem de assumir seu papel. Seus instrumentos foram a enxurrada de medidas provisórias, que apequenaram o Legislativo numa figura decorativa, a cooptação de parlamentares em todos os partidos e a tática escusa do mensalão – de que ele ‘não sabia’, mas que mesmo assim funcionou. Transformou o Brasil num deserto de estadistas e de idéias, num vazio político só preenchido pela sua descomunal ambição de erigir-se em presidente vitalício, emendando a Constituição para se candidatar novamente quantas vezes quiser. Lula acabou com a política, pois, onde não existe oposição, a política já era.


Não se trata de satanizar a pessoa do presidente. Nada de ódio, apenas muita indignação, muita decepção e bastante cobrança. Afinal, Lula faz o seu jogo, o jogo do carisma sem liderança. Nós, que estamos em desacordo, temos de fazer o nosso jogo: menos ‘carisma’ e mais liderança com responsabilidade. Numa partida de futebol, um time não sataniza outro. Apenas tenta impor limites ao outro time, com tanto mais garra e agressividade quando o outro time joga com deslealdade e quebra todas as regras. E também não queremos ser satanizados. Como diz José Pastore, censurando o último trem da alegria: chega desse papo de que mérito, eficácia e competência são conceitos neoliberais, contrários à ‘justiça social’.


Cônscio de que a oposição atualmente se refugiou na imprensa, Lula dirige sua ofensiva contra a imprensa livre, cooptando e comprando jornalistas. Um deles, que gozava de excelente situação financeira na televisão, foi transformado em ministro. Indagado sobre como faria para viver com R$ 8 mil, em contraste com sua remuneração anterior na TV, num rasgo de frio cinismo respondeu: ‘Acho que, agora, vou ter que apelar para minha poupança…’ Sem comentários.


O presidente carismático não entrega o poder, não admite a sucessão, não se sujeita à alternância no governo, como é próprio à democracia. Pois ele é ‘o’ homem, o salvador da pátria, o único apto a levar a cabo a obra messiânica de redenção nacional. Fidel Castro e Hugo Chávez não descem da Presidência. Lula, que não se julga menos do que estes líderes cucarachas, também manobra para ficar na governança ad perpetuum. Lula é ‘imexível’, como diria o ex-ministro Rogério Magri (num neologismo impecável, ao contrário do que acham os pedantes). Lula, o carismático, está acima do bem e do mal, à prova de qualquer denúncia, de qualquer sangramento e da alternância no poder.


Caminhando outro dia pelo meu bairro, como faço todas as manhãs, ao chegar a uma praça cheia de passarinhos cantando, um deles me contou alguns segredos do plano de Lula para proclamar seu dia do ‘fico’. A tal reforma política a ser feita pela Constituinte exclusiva que espera convocar vai se resumir em mudar a Constituição para ele ser reeleito, a partir de 2008, por mais seis anos.


Vem aí uma gigantesca reestruturação econômica para afagar o povão sem prejuízo dos banqueiros, e com apoio de grandes investidores europeus. Quem tem dinheiro na poupança e nos fundos que se prepare para o confisco.


Os fundos do FGTS vão entrar na dança para financiar obras de infra-estrutura, mediante medida provisória. Com quem ficará o risco do investimento? Claro que ficará com o trabalhador. Afinal, para que serve o sistema capitalista de risco, senão para construir o socialismo do século 21?


Contou mais o passarinho: carros populares serão financiados pela bagatela de R$ 5 mil, graças ao acordo fechado por Lula com uma companhia chinesa. Impostos para aparelhos de consumo popular seriam reduzidos e aumentada a carga tributária para automóveis de luxo. Para sufocar a violência está prevista a criação de ‘milícias de bairros’, na trilha de Hugo Chávez e dos ‘comissariados do povo’ na antiga URSS.


Contou o passarinho que Lula está riquinho. Sua fortuna pessoal foi estimada pela Revista Forbes em 2 bilhões de dólares (sic). Mas não se pense que ele vai gastar sua fortuna na compra de iates e de Picassos para seu deleite exclusivo. O que ele pensa fazer é comprar televisões a cabo para formar uma rede destinada a divulgar as comunicações do governo petista. O presidente dedica-se a manter sob seu controle várias redes de televisão, e segurar no freio muitos jornalistas aos quais paga ‘por fora’ (sem que precisem mexer na própria poupança…). Toda a sua preocupação se concentra em estabelecer as condições para um governo lulista de prazo indeterminado, a perder de vista.


Palavra de passarinho (sem parentesco com tucanos nem com os falcões da direita).


O passarinho baseou-se no Dossiê Americano sobre Lula (da internet).


Verdade ou mentira?


Lula não é de tomar medidas ousadas. Está mais para conservador e não gosta de assumir riscos, como seriam o confisco maciço de poupanças, criação de milícias, etc. Sobram certas iniciativas de impacto, como extensão da rede de propaganda pela TV, algum investimento em infra-estrutura e em moradias populares (o que é bom e importante), talvez medidas provisórias manipulando recursos do FGTS. Pode-se ter como certo o aperfeiçoamento do Bolsa-Família e, mais ainda, a cooptação da imprensa, o suborno de jornalistas, etc. Descontadas as iniciativas mais audaciosas e virulentas, que ponham em risco a estabilidade macroeconômica, tudo pode ser verdade.


Acresce que a turbulência do mercado financeiro veio estreitar a margem de manobra do governo lulista. Lula e seus comparsas já puseram de molho suas bem tratadas barbas antes que peguem fogo. O panorama mundial não está para grandes devaneios populistas (ou elitistas), o que pode cortar a megalomania lulo-petista.


* Gilberto de Mello Kujawski, escritor e jornalista, é membro do Instituto Brasileiro de Filosofia E-mail: gmkuj@terra.com.br’


ECOS DA DITADURA
Vannildo Mendes e Tânia Monteiro


Lula: ‘Desaparecidos são ferida aberta’


‘Brasília – Com o apoio do presidente da República, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos lançou ontem, no Palácio do Planalto, um livro-relatório especial para estabelecer um marco histórico no País: enterrar as versões dadas pelo regime militar (1964-1985) para o desaparecimento de presos políticos.


A versão oficial do período para a comissão, que funciona junto ao Ministério da Justiça, passa a ser a do livro Direito à Memória e à Verdade. O livro diz na abertura: ‘Não poderiam seguir coexistindo versões colidentes com a de inúmeros comunicados farsantes sobre fugas, atropelamentos e suicídios, emitidos naqueles tempos sombrios pelos órgãos de segurança, e a dos autores das denúncias sobre violação de direitos humanos’.


Na solenidade de lançamento do livro, carregada de emoção, mas também marcada pela ausência de chefes militares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a falta de informações para a localização dos corpos dos desaparecidos ‘é uma ferida que permanece aberta’. Segundo o presidente, ‘é direito dos familiares, por tradição milenar, reivindicar o justo direito de sepultar seus entes queridos’.


‘É esse direito que queremos resgatar sem rancor, sem revanchismo de qualquer ordem’, disse, citando um conjunto de esforços para identificação de corpos de desaparecidos. Ele admitiu também ajustar a legislação e insinuou a adoção do benefício da delação premiada para militares ou civis que tragam informações que possam levar à localização de corpos e esclarecimento de crimes. Lula disse que a iniciativa não tem qualquer sentido de revanchismo e lembrou que a lei da anistia impede esse tipo de retaliação.


O presidente reconheceu que o debate em torno dos desaparecidos políticos ‘tem ressentimento, tem dor e lágrima’. E avisou: ‘É preciso fazer pela sociedade e vamos fazê-lo’.


Sobre os arquivos que ainda não foram abertos, lembrou que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ‘é responsável por isso’ e que grande parte deles já foi para o Arquivo Nacional. ‘Nós queremos contribuir e trabalhar para que a sociedade brasileira feche a página desta história, vire a página de uma vez por todas e que a gente possa construir um futuro com muito mais solidariedade, mais irmanados, a sociedade trabalhando junto, esquecendo um pouco o que foi o regime autoritário’, declarou Lula. ‘Acho que há disposição para isso. Acho que há vontade dos militares, da polícia. O que nós vamos fazer é aquilo que temos condições de fazer’, prosseguiu o presidente, informando que a comissão dos desaparecidos vai ser ampliada. ‘Vamos ver quais as dificuldades, preparar novos membros e continuar o debate’, declarou.


PROCESSOS


Organizada pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, a publicação, de 500 páginas, detalha os processos a respeito de mais de 400 desaparecidos políticos e traz, pela primeira vez no Brasil, o reconhecimento de Estado de que as forças da repressão cometeram crimes como torturas, esquartejamentos, estupros e ocultação de cadáveres de vítimas do regime.


Parentes das vítimas e entidades de direitos humanos lotaram o salão nobre do Palácio do Planalto. Número expressivo de ministros, vários deles ex-exilados, ex-presos e ex-perseguidos, prestigiou o ato – entre os quais a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ex-guerrilheira da Aliança Libertadora Nacional.


A solenidade começou com execução da música O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, adotada como hino informal da campanha pela anistia. Enquanto a artista Kiki Freitas cantava a música, telões passavam flashes com imagens de ícones da esquerda, mortos ou exilados pela repressão. Entre eles, o jornalista Wladimir Herzog, assassinado em 1975 no DOI-Codi de São Paulo, e o capitão Carlos Lamarca, militante da ALN, considerado traidor pelo Exercito.


Momento de maior emoção ocorreu quando Elzita Santa Cruz, de 94 anos, mãe do militante Fernando Augusto Santa Cruz, desaparecido em 1974, disse com a voz embargada que há 30 anos espera o filho chegar, como fazia a mãe de um soldado que foi à Guerra do Paraguai. ‘Queria ao menos fazer o enterro do meu filho, saber o que aconteceu.’ Emocionada, disse que sentia ‘saudade eterna de mãe’ e não conseguiu encerrar a frase. Lula foi abraçá-la.’


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Comissão monta banco de DNA para desaparecidos


‘A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos está montando desde setembro do ano passado um banco especial de perfis genéticos. A comissão vem coletando amostras de sangue dos parentes consangüíneos dos desaparecidos ou dos mortos cujos corpos foram entregues aos familiares.


O objetivo de ter um banco de DNA é poder ‘comparar e identificar com certeza científica dos restos mortais que ainda venham a ser localizados, bem como de ossadas já separadas para exames’, diz o livro-relatório Direito à Memória e à Verdade.


A Polícia Federal, o Instituto Médico Legal (IML) de Brasília e o próprio Ministério da Justiça têm ossadas sob sua guarda para fazer as primeiras comparações.


Esses dados de DNA também podem ser comparados com novas ossadas, no caso de localização das covas clandestinas em que foram enterrados alguns dos guerrilheiros que fizeram oposição armado ao regime militar.’


TELEVISÃO
Julia Contier


Pacote estréia dia 7


‘O documentário brasileiro Jesus no Mundo Maravilha, dirigido por Newton Cannito, conta a história de dois ex-policiais expulsos da corporação que agora trabalham num parque de diversões. O filme faz parte de um grupo de 13 documentários que será apresentado no DocTV Ibero-América, com estréia prevista na TV Cultura para 7 de setembro.


O programa começa com o documentário Inal Mama, da Bolívia, e, na seqüência, o público pode aguardar produções da Argentina, México, Cuba, Porto Rico, Colômbia, Costa Rica, Peru, Panamá, Chile, Venezuela e Uruguai.


Sob a coordenação-executiva da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura do Brasil, a verba destinada ao programa vem do Fundo DOCTV IB (80%) e das TVs públicas locais (20%). ‘O grande objetivo deste programa é o intercâmbio cultural e econômico dos povos ibero-americanos’, diz o presidente da Fundação Padre Anchieta, Paulo Markun.


O secretário do Audiovisual, Orlando Senna, anuncia um possível DOC TV entre os países da América Central. No Brasil, a série será exibida pela TV Cultura sempre às sextas-feiras, às 22h40.


Musa alternativa


Chloë Sevigny volta à tela da HBO no dia 7 de setembro para a segunda temporada da série Big Love – Amor Imenso, produzida por Tom Hanks. Na foto, a atriz posa para a campanha verão 2008 da grife Ellus. Em junho, Chloë esteve na São Paulo Fashion Week.


Entre- linhas


Uma das cidades visitadas pelos Cassetas no quadro Brasil Adentro, Pau Grande (RJ), terra de Garrincha, ainda não foi para o ar. O que se fala nos bastidores é que as brincadeiras ficaram pesadas demais e que a direção decidiu limar a cidade.


Caminhos do Coração estreou com 17 pontos de média e 19 de pico, das 21h58 às 22h43 de terça. Foi a melhor estréia de novela na Record. A antecessora, Vidas Opostas, estreou com 16 de média.


Está agendada para 2 de dezembro, mesma data marcada para o início da TV digital em São Paulo, a estréia da TV Brasil, nova TV pública federal. Assim disse ao Estado o secretário do Audiovisual Orlando Senna.


O SBT pede correção: não foi de novo que Tom Cavalcante bateu o Domingo Legal, e sim pela primeira vez.


Cobras & Lagartos estreou ontem na Bulgária pelo canal Nova TV, às 16h30.


Ainda sobre Cobras & Lagartos: por obra do personagem Foguinho, Lázaro Ramos é semifinalista do International Emmy Awards deste ano.


Ninguém sabe como, mas o meio-campista do São Paulo, Richarlyson, topou participar do Rockgol, segunda-feira, na MTV.


Autor de grandes feitos no meio musical, Cayon Gadia, que nos últimos nove anos atuava como diretor musical no SBT, morreu na madrugada de ontem, aos 64 anos, vítima de diverticulite.’


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