Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma discussão necessária

Em tempos pós-modernos, o debate sobre a segurança torna-se cada vez mais constante no dia-a-dia da sociedade. Na modernidade, as preocupações eram com a liberdade; hoje, o assunto principal é a segurança. Em algumas profissões fundamentais para a sociedade, como o jornalismo, ainda existe a necessidade de uma discussão maior sobre a defesa da comunicação livre e dos profissionais da imprensa.

Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor do livro Globalização: As consequências humanas, uma das consequências da pós-modernidade é a preocupação excessiva com a segurança e isolamento. Em alguns países, os gastos com esses fatores são inclusive maiores dos que os voltados à educação. Enquanto em algumas áreas peca-se pelo excesso de precaução, em plena era da informação, o profissional que está relacionado à informação pública e democracia ainda encontra dificuldades para exercer sua função sofrendo censura, violência e crimes.

No dia 9 de março de 2012, com início às 9h30, aconteceu na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande (MS), uma audiência pública sobre Violência contra a Imprensa e seus profissionais. Proposto pelo deputado estadual Alcides Bernal, membro da Comissão de Trabalho, Cidadania e Direitos Humanos, o evento discutiu a necessidade da segurança dos jornalistas e abordou um dos recentes casos de violência acontecido em Ponta Porã, onde o profissional de imprensa Paulo Rocaro foi assassinado a tiros no dia 12 de janeiro.

Um progresso

O evento, transmitido ao vivo pela TV Assembleia, foi iniciado com o deputado Alcides Bernal comentando a importância de se tratar de um tema fundamental nos dias de hoje. “O ano mal começou e já contabilizamos vários atentados à liberdade de expressão em nosso país”, contou Alcides Bernal. O deputado comentou o caso recente do jornalista Paulo Rocaro, além de outros registros de mortes de profissionais da imprensa desde 1997. Ainda de acordo com Alcides Bernal, apesar das atitudes de muitos jornalistas serem duvidosas e criticadas, é preciso obedecer à Constituição Federal, o direito à vida. “Independentemente do tipo de jornalismo executado por um profissional da área ou órgão, nada justifica a violência. Para isso, existe a justiça.”

O promotor de justiça Paulo Cezar dos Passos argumentou sobre a responsabilidade de enfrentar os crimes contra a imprensa, pois a comunicação livre é um direito básico conquistado. “Qualquer ataque à liberdade de imprensa ou ao jornalista é um ataque não só à pessoa ou à família, mas também à sociedade.” A respeito do assassinato do Paulo Rocaro, o promotor de justiça comentou que não há dúvida de que se tratou de um crime de encomenda e que o mandante precisa pagar pela morte. “É duro e triste, principalmente para mim, ver que este tipo de crime se repete. O que exige uma reflexão profunda de que tipo de sociedade nós estamos vivenciando no Mato Grosso do Sul.” De acordo com Passos, para que as investigações deem resultado é importante que os órgãos de justiça trabalhem em conjunto.

A violência contra os jornalistas, segundo a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul, Vanessa Amin, não é um tema novo. “Eu realmente acredito que estar aqui hoje discutindo este tema é um progresso”, compartilhou a jornalista sobre uma agressão de um jornalista por um deputado, em 2000. Apesar do jornalismo passar por uma crise de identidade na era pós-moderna, a presidente do Sindicato ressalta que o profissional só deve ser considerado jornalista se este estiver relacionado à informação pública.

Assassinados por exercerem suas funções

Para Vanessa Amin, o auditório deveria estar lotado de jornalistas, mas no horário muitos estavam trabalhando. Ela ressalta que os profissionais deveriam estar lá participando, pois são os principais envolvidos no debate, e não somente na cobertura do evento. “Se alguém se sente prejudicado com relação a alguma matéria existem canais para se buscar justiça”, explicou Amin, que acredita que o jornalista acusado na justiça não deve se intimidar, pois se o trabalho foi bem feito e ético, este vai conseguir comprovar sua inocência.

O presidente do Sindicato dos Radialistas de Mato Grosso do Sul, Lucio Maciel, lamentou o assassinato de jornalistas e comentou que não consegue entender esta violência contra o profissional que produz um dos bem mais valiosos de hoje, a informação. Além de complexos, os temas Política e Administração Pública são os que mais geram violência contra jornalistas no Brasil, segundo informações da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apresentadas pela jornalista Vanessa Amin.

“A censura velada também gera muitos prejuízos ao exercício da profissão”, comentou o membro do Clube de Imprensa de Ponta Porã e jornalista Edmondo Tazza, que estava representando os familiares de Paulo Rocaro na audiência pública. Para Tazza, essa censura acontece por conta do dinheiro público, das empresas anunciantes e também dos diretores de jornais.

O consenso entre os presentes na audiência pública é de que este não deve ser violentado, e enfrente a justiça caso necessário. Com 34 anos de profissão, o jornalista Ademar Cardoso compartilhou a sua experiência com a discriminação e violência. O profissional foi agredido por um chefe de segurança enquanto tentava realizar entrevista em um evento. “A coragem que o profissional tem de usar o microfone não é correspondida por aqueles que praticam o ilícito”, desabafa o jornalista sobre a covardia cometida a ele e a outros profissionais. Para Maciel, a discussão sobre a violência contra os profissionais da imprensa é fundamental no Mato Grosso do Sul, pois os jornalistas, na maior parte das vezes, são assassinados por exercerem suas funções. “A censura é o ato mais grave contra os profissionais e veículos de comunicação”, acredita Lucio Maciel.

***

[Ben-Hur dos Santos Costa de Oliveira é estudante de Jornalismo, Campo Grande, MS]