Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornais britânicos se opõem a órgão regulador estatal

Um grupo de jornais britânicos se manifestou ontem (25/4) contra a criação de um órgão estatal para fazer a regulação da mídia impressa no Reino Unido. As empresas apresentaram uma contraproposta ao plano, que segundo elas pode colocar em risco a liberdade de expressão no país.

A criação de um órgão oficial foi sugerida pelo governo britânico como consequência do inquérito Leveson, que investigou tabloides – sobretudo o extinto News of the World – acusados de grampear telefones para obter informações de maneira ilegal. O escândalo engajou políticos e celebridades numa campanha pela regulação da imprensa e levou ao fechamento do tabloide, de propriedade do empresário australiano Rupert Murdoch.

Os grupos britânicos que assinaram nota ontem contrária à criação do órgão incluem diários como The Times, Daily Telegraph, The Sun, Daily Mail e Daily Mirror. Não assinam – mas não descartam fazê-lo futuramente – The Guardian, Financial Times e The Independent. Segundo os jornais britânicos, a criação de um órgão estatutário nos moldes propostos pelo governo conservador, em acordo com a oposição trabalhista, pode subordinar os veículos à interferência indevida de políticos. A contraproposta apresentada ontem pelas empresas prevê a criação de uma entidade reguladora com poderes semelhantes, porém desvinculada do Estado e com mais voz para o setor.

Um modelo “duro, mas não estatal”

Ficariam mantidos os poderes de investigar supostos abusos, convocar editores para dar explicações públicas e aplicar multas de até 1 milhão de libras (R$ 3 milhões). A reação da mídia foi criticada pela ONG Hacked Off, que liderou a campanha pela investigação dos tabloides. “Eles não querem se desculpar pelos abusos apontados no inquérito e não aceitam a necessidade de mudanças reais”, disse o grupo, em nota divulgada.

A principal crítica feita ao modelo atual é de que é apenas baseado na autorregulação e que isso não é suficiente para coibir abusos da imprensa. Atualmente, quem tem a função de fiscalizar a mídia é um órgão chamado de Press Complaints Commission (Comissão de Reclamações da Imprensa).

O editor do conservador Daily Telegraph, Tony Gallagher, afirmou no Twitter que seu veículo não esteve envolvido no escândalo e que os jornais querem um modelo de regulação “duro, mas não estatal”. O primeiro-ministro britânico David Cameron prometeu analisar a contraproposta da mídia e outros políticos do Partido Conservador, como o prefeito londrino Boris Johnson, saíram em defesa dos jornais.

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Bernardo Mello Franco, da Folha de S.Paulo, em Londres