Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Começou a verdadeira guerra da mídia

Estourou a guerra Google x Globo.

Desde meados dos anos 2000 estava claro, para os grandes grupos de mídia, que o grande adversário seriam as redes sociais.

Rupert Murdoch, o precursor, deu a fórmula inicial na qual se espelharam grupos de mídia em países periféricos. Adquiriu jornais em vários países e fez a aposta maior adquirindo uma rede social bem colocada na época. Falhou. A rede foi derrotada pelos puros-sangues Google e Facebook.

Percebendo a derrota, Murdoch decidiu levar a guerra para o campo da política. Explorou alguns recursos ancestrais de manipulação da informação para estimular um clima de intolerância exacerbada, especialmente na eleição em que Barack Obama saiu vitorioso.

Não é por outro motivo que uma das primeiras reuniões de Obama, depois de eleito, foi com os capitães das redes sociais – Apple, Google e Facebook.

O caso brasileiro

No Brasil, sem condições de terçar armas com as grandes redes sociais, os quatro grandes grupos de mídia – Globo, Abril, Folha e Estado – montaram o pacto de 2005, seguindo a receita política de Murdoch.

1. Exploração da intolerância. Nos EUA, contra imigrantes; aqui, contra tudo o que não cheirasse classe média. Nos EUA, contra a ascendência de Obama; no Brasil, contra a falta de pedigree de Lula.

2. Exploração da dramaturgia. Transformando adversários em entidades superpoderosas, misteriosas, conspiratórias. O “reino de Drácula”, no caso brasileiro, foi a exploração do tal bolivarianismo, a conspiração das FARCs.

3. Manipulação ilimitada do produto notícia. É só conferir a sucessão de capas da revista Veja em sua parceria com Carlinhos Cachoeira. Ali, rompeu-se definitivamente os elos entre notícias e fatos.

4. Pressão contra a mudança do perfil da publicidade. Historicamente, os grandes veículos sempre se escudaram no conceito de “mídia técnica” para impedir a pulverização da publicidade. Por tal, entenda-se a mídia que alcance o maior número possível de público leitor.

Quadro atual

Agora, tem-se o seguinte quadro.

Na grande batalha, a velha mídia perdeu. O Google entrou com tudo no país. Este ano deverá faturar R$ 2,5 bilhões, tornando-se o segundo maior faturamento do país, através apenas da Globo, e na frente da Abril.

Tem se valido de duas das ferramentas que a velha mídia utilizava contra concorrentes menores: o BV (Bônus de Veiculação), para atrair as agências; e o conceito de “mídia técnica” (a de maior abrangência).

A Globo reagiu, atuando junto ao governo, e denunciando práticas fiscais do Google, de recorrer a empresas “offshore” para não pagar impostos. Agora, constata-se que a própria Globo também se valeu desse subterfúgio fiscal. A denúncia foi veiculada por blogs independentes

E a velha mídia descobre que, em sua estratégia tresloucada para dominar o ambiente político, queimou todos os navios que poderiam levar a alianças com setores nacionais. Apostou no que havia de mais anacrônico, criou um mundo irreal para combater (cheio de guerrilheiros, bolivarianismo, farquismo etc.), encheu colunas e programas de TV com simulacros de profetas malucos, preconizando o fim dos tempos, e, quando os inimigos contemporâneos entraram em cena, não consegue desenvolver um discurso novo.

É o bolor contra o mundo digital.

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Luis Nassif é jornalista