Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tripla analogia

É mais “fácil” mudar de status social pela via do esforço individual ou familiar do que mudar as condições gerais da sociedade em que esse esforço será ou não exercido. Está ao meu alcance batalhar loucamente para “melhorar de vida” dentro do contexto social em que vivo. Não está em meu poder, apenas como indivíduo ou como unidade familiar, mudar o contexto.

É infinitamente mais “fácil” consumir um bem ou serviço do que promover a oferta pública de bens e serviços essenciais. No segundo caso, dependo da organização social, não do meu empenho ou do empenho de minha família. Dependo de um sistema político que sirva às maiorias (sem abandonar as minorias), e não que se sirva das maiorias.

Quebrar é mais fácil

Analogamente, é muito mais fácil convocar algumas centenas de indivíduos dispostos a quebrar o que lhes parecer alvo adequado, e a se confrontar com a polícia, do que convocar dezenas ou centenas de milhares a manifestar-se de forma unitária e ampla.

Por mais que as redes sociais e outros instrumentos da internet tenham facilitado as tarefas convocatórias, as multidões não se deixam levar sem razões que lhes pareçam boas (muitas vezes não são boas, são ruins ou péssimas, e o sucesso popular de Adolf Hitler está longe de ser o único exemplo dessa ressalva).

Analogamente, ainda, é muito mais fácil pretender que narrativas “independentes” temperadas com “ação” sejam algo relevante para o discurso da mídia jornalística do que batalhar dias, meses, anos para melhorar a mídia jornalística. De dentro, quer dizer, do lugar onde está a maioria dos jornalistas que continuam jornalistas (muitos jornalistas se tornaram assessores de imprensa, relações públicas, marqueteiros, caso do conhecidíssimo João Santana colaborador da presidente Dilma Rousseff).

Ou de fora. Caso deste Observatório da Imprensa, sempre em contato direto, porém, com as redações. Caso, também, de uma miríade de iniciativas surgidas fora do mainstream, “fora da caixa”.

Não existe atalho para mudanças sérias e duradouras na esfera social. Existem ilusões.