Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Copa altera intenção de votos

Quem contava com a ajudinha de um suposto fracasso da Copa para mudar o cenário das eleições deste ano acabou decepcionado: ela não só está sendo um sucesso, mas ainda ajudou a candidata do PT, Dilma Rousseff, a recuperar alguns pontos nas intenções de votos dos eleitores: a candidata cresceu quatro pontos e passou de 34% para 38% desde a última sondagem do Datafolha (3-5 junho), revelou a pesquisa do mesmo instituto publicada na Folha de S.Paulo (3/7).

Outros candidatos também cresceram, mas em menor proporção: Aécio Neves (PSDB) subiu um ponto e tem 20%, e Eduardo Campos (PSB) conseguiu “desempatar a incômoda competição com o pastor Everaldo” (PSC), e passou de 7% para 9%. Há possibilidade de um segundo turno. Nele, Dilma aparece como vencedora de seus principais adversários. A situação foi avaliada como “passageira” pela oposição.

O Datafolha fez a pesquisa nos dias 1 e 2 de julho com 2.857 entrevistados em 177 municípios, e a margem de erro foi de 2%, para cima ou para baixo, informou a Folha, que publicou uma reportagem equilibrada: apresentou fatos apurados e a metodologia da pesquisa (que inclui o registro no TSE), além de dados para confrontar imprecisões estatísticas. O periódico não procurou ampliar a cena, que pode mudar ao sabor da evolução da conjuntura social (influenciada pelo campeonato mundial), da alteração no cenário político ou na economia.

Recuperação de Dilma

A Folha não partiu para conclusões ou conjecturas sobre o que poderá acontecer no futuro. O jornal apresentou um panorama sujeito a mudanças, mas sem aventurar-se a expandir a cena ou projetar cenários a partir da pesquisa, o que surpreendeu os apologistas dos cenários decadentes e negativos sobre o país, a Copa e o futuro do Brasil. Mas cuidado aqui, leitor(a): a Folha, desde 2007, tem sido a maior crítica da Copa em nosso país, comentou Ricardo Kotscho em seu blog (3/7). E fez uma campanha muito suja contra Dilma na última eleição.

A mudança do viés negativo do jornal contra a candidata para um viés neutro intrigou muita gente. Por que a Folha não fez como a Rede Globo e especulou sobre as variáveis que podem mudar o cenário favorável à líder das pesquisas? A pesquisa mostrou um instantâneo das intenções dos eleitores. E o periódico publicou os resultados sem muitos aprofundamentos. O Datafolha também acredita que o bom desempenho de Dilma está relacionado a uma conjuntura favorável passageira.

Diante do resultado desconcertante, ao comprovarem que Dilma estava no limite da margem de erro da pesquisa, os responsáveis pela pesquisa confrontaram o resultado de seu crescimento com outros dados obtidos. Que só reforçaram a subida da candidata: o aumento no emprego, o recuo da inflação e a expectativa de aumento do poder de compra dos salários ajudaram a confirmar a recuperação de Dilma Rousseff.

Profetas do obscurantismo

Até o xingamento contra ela na abertura da Copa foi execrado: 76% dos entrevistados não gostaram. A condenação foi unânime entre todos os principais candidatos para a eleição presidencial: a maioria dos eleitores de Aécio Neves e Eduardo Campos condenou o apupo (69% do pessoal de Aécio e 72% dos eleitores de Eduardo Campos). A imprensa tentou forjar nas cabeças dos brasileiros a ideia que nós não temos condições de hospedar uma Copa do Mundo sem causar embaraço e vergonha ao Brasil e ao mundo. A realidade provou o contrário.

Jornais, revistas e sites tentaram convencer o povo de que não podíamos organizar um torneio esportivo de grandes proporções. Subestimaram a população, ao culpar PT por um fracasso que não houve. Projetaram a conjuntura mutante de modo linear e concluíram que o Brasil iria, de uma forma ou de outra, fracassar. Já que houve tantos problemas na organização do torneio, com certeza fracassaríamos diante do mundo, na Copa da Fifa.

Erraram de forma grosseira. Se a situação é passageira ou não, pouco importa. Os resultados negativos previstos não vieram, a Copa empolgou o mundo, e só resta à imprensa um caminho digno: reconhecer a verdade que a contraria. O crescimento de Dilma é passageiro? É motivado pelo sucesso da Copa? No momento, isso não tem a menor importância.

Os profetas do obscurantismo erraram de forma desastrosa. Previram um fracasso que não veio no torneio, e ainda tiveram que aceitar a subida de Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de votos. Tentaram de forma primária misturar futebol com política e acabaram pasmos diante dos resultados da pesquisa. Que provou que a mídia errou ao tentar criar um clima de medo, fracasso e desespero na população antes da Copa.

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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor