Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lula diz que foi ‘trucidado’ pela imprensa

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o último dia em que a legislação eleitoral permite a realização de comícios para dirigir duras críticas à imprensa e ao que ele chama de “elite brasileira”. Ao passar por Diadema, tradicional reduto petista na Grande São Paulo, Lula disse imaginar que o “ódio” da elite contra ele se devia ao fato de ele ser analfabeto e ter chegado à Presidência. “No Brasil, quando uma pessoa que não faz parte da elite chega ao governo, normalmente, é trucidado pela imprensa. Eu fui durante oito anos.”

Na visão do ex-presidente, “não existe liberdade de imprensa”. “O que existe é uma doutrina de nove famílias que dominam a comunicação neste País, que determina quem é o inimigo, quem é bom e quem é ruim, o que vai mostrar e o que não vai mostrar”, disse ele, em ato de campanha do candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha.

Em discurso de cerca de 18 minutos dirigido à militância petista, Lula dedicou metade do tempo a criticar os meios de comunicação, que, segundo ele, seriam responsáveis por uma perseguição “descomunal” contra o PT. Em cima de um carro de som, na praça central da cidade, o ex-presidente citou dados do “manchetômetro”. Trata-se de estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro que mediu a publicação de matérias positivas e negativas sobre os três principais candidatos à Presidência nos principais veículos de comunicação do País – os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo, além do Jornal Nacional, da Rede Globo.

De acordo com os dados citados em voz alta por Lula, foram publicadas mais matérias negativas contra a presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, e positivas sobre Marina Silva (PSB). “Estou contando isso para que as pessoas saibam que a perseguição ao PT é um negócio descomunal.”

Ele afirmou que com a presidente Dilma Rousseff é ainda pior. “Contra a Dilma eles são muito mais violentos. É preconceito contra mulher.”

Como tem feito desde a semana passada [retrasada], Lula percorreu ontem [quinta, 2/10] redutos em que o PT tradicionalmente tem grande votação. Além de Diadema, esteve em São Miguel Paulista, na zona leste da capital. A intenção é reforçar a votação no “cinturão vermelho” para fortalecer as candidaturas de Dilma e de Padilha no Estado.

“Orgulho”

Lula afirmou ainda que, no médio prazo, pretende resgatar o “orgulho petista”, ferido após a prisão de líderes do partido no julgamento do mensalão. “Decidi ficar em São Paulo por dois motivos. Primeiro, reforçar São Paulo para fazer a Dilma crescer, fazer o Padilha crescer. Segundo, nós temos aqui em São Paulo um conjunto de ataques ao PT. Aqui tem um ninho e uma revoada de tucanos e nós precisamos levantar o moral para enfrentar os tucanos aqui”, disse ele.

Lula tem dito à militância que é preciso “levantar a cabeça” e encarar “de frente” a discussão sobre corrupção. Ontem, reconheceu que o PT “tem defeitos” e comparou o partido a uma família, que tem sempre “um (filho) que é mais capetinha”. “Aqueles no PT que erraram nós mesmos punimos, mas não podemos deixar de ter orgulho do PT”, disse, sem citar que José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha ainda são filiados ao partido e foram ajudados com “vaquinhas” para pagar multas a que foram condenados.

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Valmar Hupsel Filho e Carla Araújo, do Estado de S.Paulo