Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O espaço e o tempo da mídia

O geógrafo britânico David Harvey (1935-), em sua obra Espaços de Esperança, destaca que a revolução da informação produziu importantes mudanças na organização do consumo e da produção, além de definir desejos e necessidades totalmente novos. Todavia, pondera o geógrafo, o “espaço e o tempo da mídia e das comunicações implodiram num mundo em que a monopolização do poder dos meios de comunicação vem se tornando um problema cada vez mais grave”. De fato, ainda que existam alternativas informacionais independentes em relação à mídia massificada, o monopólio de alguns grupos empresariais é preocupante.

O que acontece quando um grupo empresarial midiático detém o monopólio das informações numa determinada região do país? Além de ferir preceitos constitucionais e esmagar a identidade editorial dos pequenos jornais, tais grupos estabelecem a agenda do que deve ser noticiado. Mais do que isso: fundam o que consideram importante de ser divulgado, por meio de recortes grosseiros do que é veiculado em agências internacionais de notícias e muito distante de um jornalismo investigativo, que, efetivamente, se aproxime dos clamores das comunidades de uma cidade ou região metropolitana. A “massificação informativa” não contribui para a elevação do debate político, social e histórico de uma nação.

Metaforicamente, a aposta trágica do escritor britânico George Orwell (1903-1950) em sua obra 1984 parece se confirmar nos dias de hoje. No decorrer da ficção orwelliana os partidários do Big Brother são submetidos à “novilíngua”, onde a contração de certas palavras e a supressão de outras criaria uma “linguagem minimalista e universal”, totalmente instrumental. Coligada à novilíngua entraria um novo elemento: o duplipensar, mecanismo criado pela mídia oficial para submeter a população local a um pensamento contraditório e desmobilizador. O duplipensar seria responsável também por um processo de dissociação espaço-temporal, com profundas raízes na anulação das memórias e experiências coletivas. É como se os fatos históricos acabassem de ser inventados. O sequestro da memória é flagrante e aterrador. Enfim, estas parecem ser as questões centrais: há um limite no que tange ao controle e/ou à manipulação do que “consumimos” como informação? Informação e conhecimento são faces da mesma moeda?

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[Jéferson Dantas é historiador, doutorando em Educação (UFSC) e articulador e consultor pedagógico na Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz, Florianópolis, SC]