Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A entrevista na era digital

Estaria a tradicional entrevista face a face ou por telefone com os dias contados? É o que sugere Howard Kurtz em artigo no Washington Post [21/5/07]. No jornalismo impresso, o repórter costuma escrever as respostas do entrevistado para então selecionar quais trechos publicar. No televisivo, os jornalistas editam as entrevistas de modo semelhante. Já na era digital, alguns especialistas e executivos têm se dado ao luxo de responder somente por e-mail, o que permite que o conteúdo da entrevista seja posteriormente checado caso o entrevistado se sinta desrespeitado ou mal-interpretado.


‘O equilíbrio do poder mudou’, opina Jay Rosen, professor de jornalismo da Universidade de Nova York. ‘A mídia costumava ser o local para a discussão pública. Mas agora há outras opções e os leitores têm mais poder porque têm mais fontes; e as fontes têm mais poder porque podem ir diretamente aos leitores’. Rosen, por exemplo, é um dos que se recusam a dar entrevistas para a TV. ‘Consomem muito tempo para tão pouca contribuição para a discussão pública’, observa.


Respostas pensadas e frias


Alguns entrevistados, em especial os ligados a temas polêmicos, têm insistido para que os repórteres gravem as entrevistas. Recentemente, Mark Cuban – proprietário do time de basquete Dallas Mavericks – limitou os jogadores a conceder entrevistas por e-mail, o que permite que tenham mais tempo para pensar nas respostas e, caso achem necessário, possam publicá-las online. Para Jason Calcanis, executivo-chefe do Weblogs Inc., ‘jornalistas vêm, há tanto tempo, queimando filme de pessoas com citações erradas, que muitos entrevistados estão optando por responder apenas por escrito’.


Em defesa das entrevistas por telefone ou pessoalmente, o blogueiro Jeff Jarvis alega que, quando se vê as expressões do entrevistado ou se escuta o tom de sua voz, é possível apreender o sentido que ele quer passar com determinadas afirmações, enquanto as respostas por escrito são muito frias. ‘Já que o jornalismo é a arte da compressão, não é uma má idéia que as empresas de mídia postem as entrevistas por inteiro em seus sítios, para que os leitores e telespectadores possam julgar o processo da entrevista por eles próprios’, sugere.