Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A excitante e perigosa vida dos stringers

Correspondentes ocidentais que cobrem o conflito no Iraque não trabalham sozinhos. Não conseguiriam sem o apoio de uma rede de stringers – iraquianos que auxiliam na apuração de reportagens, trabalham como guias e tradutores. Eles não são garantia de segurança para os jornalistas, mas conhecem os caminhos, a língua, os costumes e meios de sair de situações problemáticas.

Para o público que recebe as notícias em países distantes do Iraque, importa pouco como foram feitas: importam sua precisão, sua veracidade, sua clareza. Para os jornalistas responsáveis pelas matérias, o trabalho dos stringers é algo próximo e surpreendente. É o que afirma o correspondente do New York Times James Glanz, em artigo do dia 25/9. Segundo ele, questões como quem são estes iraquianos, como e por que fazem este trabalho pairam na mente dos jornalistas ocidentais.

Jornalistas inexperientes

A função dos stringers em apurar informações precisas e corretas não é diferente das apurações feitas pela imprensa ocidental. Eles funcionam, de certo modo, como jornalistas pouco experientes, mas dedicados. A diferença é que, por colaborarem com a mídia, correm risco de vida. Stringers nunca estão seguros, e por isso costumam usar pseudônimos e esconder sua profissão. A relação com os jornalistas ocidentais também tem limites: eles não costumam ser vistos juntos fora dos horários de trabalho e não se aproximam de suas famílias. O trabalho paga bem para os padrões iraquianos, mas Glanz não acredita que este seja o único motivo pelo qual estes cidadãos locais aceitem se arriscar. ‘Para a maior parte da população, o terror sob o poder de Saddam Hussein era episódico, mas o tédio era constante’, explica. Nada podia ser questionado ou expressado publicamente. Hoje, estes iraquianos, que Glanz classifica como ‘sedentos por um trabalho interessante e uma vida estimulante’, têm os meios para esta escolha – mesmo que perigosa.

Morte misteriosa

Fakher Haider, iraquiano que trabalhava para o Times desde o começo de guerra, em março de 2003, era uma destas pessoas. ‘Enquanto ainda estava aprendendo a função – ele falava em cursar jornalismo na Jordânia –, ele entendia cada parte da sociedade em que vivia e que cobria’, diz Glanz. Haider foi assassinado há duas semanas, por homens que se diziam policiais e invadiram sua casa, em Basra, levando-o na frente de sua mulher. Ainda não se sabe exatamente por que ele foi morto, e se sua morte teve relação com seu trabalho para o Times. Mas ele havia, recentemente, apurado uma reportagem sobre o aumento da violência na cidade e os conflitos entre soldados britânicos e membros de milícias xiitas infiltrados na polícia local.

Glanz afirma que Haider exemplificava, de diversas maneiras, o que um stringer iraquiano deve ser. Ele tinha grande conhecimento de sua cultura e experiência de guerra; sabia como contar uma piada e conseguir passagem enquanto armas eram apontadas para o seu rosto (e o do jornalista que o seguia); podia usar suas raízes tribais e religiosas para ganhar rapidamente a confiança de poderosos xeques tribais que controlam grande parte do sul do país.