Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A internet ajuda os jornais a respirar

O mais recente estudo do Centro de Pesquisa Pew sobre População e Imprensa, que analisou o consumo de mídia em uma amostragem de 3.104 americanos adultos, entre os dias 27 de abril e 22 de maio deste ano, constatou que os jornais continuam vendo seu público declinar significativamente, embora as perdas estejam sendo amenizadas por suas edições online.

O Pew é um instituto independente de estudos sediado em Washington e dedicado a monitorar as relações da população americana com imprensa, partidos, governo e políticas públicas. Suas descobertas têm orientado outras instituições e organizações representativas da mídia em todo o mundo.

Quatro em cada dez cidadãos americanos declararam que haviam lido um jornal no dia anterior, nas versões online ou impressa – ou em ambas as versões. Dez anos atrás, o estudo bienal havia revelado que 50% dos consultados eram formados por leitores de jornais.

A preferência pela internet na busca de notícias espalhou-se no período, mas não indica uma relação muito profunda – as pessoas que declararam ter se informado pela rede não dedicam tanto tempo a obter informação quanto o tempo declarado por leitores de jornais. Além disso, transparece certa complementaridade entre os meios, com os adeptos da internet declarando que também dedicam bastante tempo a outros meios na hora de se informar.

O advento dos blogs

Aqueles que migram para a internet priorizam a rapidez e conveniência da rede em detrimento de maiores detalhes da notícia. Dos que declararam ter se informado pela internet no dia anterior à consulta, apenas uma minoria havia visitado sites de jornais. Em lugar dos sites da imprensa tradicional, foram acessados sites que trazem resumos atualizados das principais manchetes, como MSNBC, Yahoo! e CNN.

Outra constatação interessante da pesquisa do Centro Pew é que a internet não estimulou o consumo geral de notícias pelo público norte-americano. Praticamente, a maior oferta de meios não alterou o percentual de americanos que procuram notícias. Em 1996, quando o estudo foi realizado pela primeira vez, as pessoas gastavam em média pouco mais de uma hora (66 minutos) se informando pela TV, rádio ou jornais. Atualmente, elas dedicam quase o mesmo tempo, 67 minutos, em média, obtendo informações das principais fontes, agora incluída a internet.

De qualquer modo, registre-se que a internet é o meio que mais cresce. Dez anos atrás, apenas um em 50 cidadãos americanos se informava com alguma regularidade através da então recente mídia digital. Hoje, aproximadamente um em cada três americanos usa a rede de computadores para buscar notícias, mas o crescimento do acesso motivado por informação se tornou mais lento desde o ano 2000, principalmente entre os mais jovens.

O estudo, que pode ser obtido aqui (em inglês), indica ainda as preferências do público por temas específicos segundo influências sazonais, como eleições ou eventos esportivos, e outros detalhes, como os hábitos de republicanos e democratas. Também se refere ao advento dos blogs, nos quais as pessoas discutem notícias, observando que na média apenas 4% das pessoas aderem a esse novo formato que, no entanto, atrai um número mais significativo (9%) de jovens entre 18 e 24 anos.

A melhor chance

Genericamente, a mídia chamada online cresce como uma fonte suplementar de notícias, e atuou como um amortecedor na queda de leitura dos jornais num prazo mais curto (desde 2002, quando a imprensa tradicional investiu mais em suas versões eletrônicas). No longo prazo, ou seja, comparado a um estudo do Instituto Gallup de 1965, observa-se que a imprensa perdeu muito mais leitores. Naquela época, há pouco mais de 40 anos, 71% dos americanos liam regularmente um diário, contra os 40% de 2006.

Algumas características do presente estudo do Centro Pew apontam para o claro envelhecimento dos leitores de jornais. O perfil etário dos leitores que apontaram maior preferência pela notícia impressa diariamente se aproxima mais dos 70 anos do que dos 60. Há 10 anos, a faixa entre os 30 e os 40 anos ainda era significativa. O estudo atual revela que esse público se fixa mais nos meios eletrônicos. Os mais jovens já apontam mudanças mais radicais de atitude, como o hábito de obter notícias curtas e expressas por veículos como o telefone celular, tocadores portátil de música como Ipod ou outros equipamentos digitais, como PalmPilot ou BlackBerry.

As conclusões da pesquisa, apresentadas num documento que ocupa 125 páginas em formato .pdf e exigindo pelo menos 10 horas de leitura, indicam que os jornais podem estar perdendo ainda mais audiência ao recusar a oportunidade de suprir a carência de notícias tratadas de forma mais profunda. Se os leitores migram para a internet mas não encontram no novo meio condições para a leitura de textos mais longos e profundos, é possível que a melhor chance dos jornais esteja exatamente em atender essa necessidade.

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Jornalista