Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A polícia que a mídia não vê

Na edição passada, o Observatório publicou artigo que analisava os pesos e as medidas que a mídia usa ao registrar acontecimentos na área de segurança pública [remissão abaixo]. Realmente, a morte de traficantes, ladrões e até inocentes não faz parte do noticiário da grande imprensa: a elite quer, na realidade, uma polícia que faça ‘faxina’, matando pobres sem muita escolha na sociedade do ‘eu sou o que tenho’, sociedade em que a publicidade coloca na cabeça das pessoas a necessidade de ter, cuja lógica é ter, e não ser.


Nossa polícia exerce primorosamente a função determinada pelas elites, ou seja, matar o pobre, manter-se ignorante (para não refletir) e ser corruptível (por isso ganhamos mal: a Polícia Federal já provou o que uma polícia bem paga pode fazer com as elites).


Coberturas diferentes


No entanto, por trás das últimas manifestações da Polícia Civil (lembremos do episódio em que, segundo a Globo, ‘invadimos’ a Assembléia Legislativa), existe um grupo que se nega a se enquadrar nos três grandes segmentos que formam a polícia: os que se escondem, os que estudam para sair e os corruptos. Não queremos ‘mineirar’ bandidos ou trabalhar para o ‘Seu Manel da padaria’. O que pretendemos é ter condições de exercer nossa profissão da melhor forma.


Esse grupo é formado por novos policiais, na maioria com curso (no mínimo) superior, e alguns antigos policiais que amam a profissão. Mas o que poucos sabem é que enfrentamos muita resistência por parte do governo do estado (eu mesmo estou respondendo a uma sindicância) e a descrença dos colegas mais velhos. Apesar disso, estamos lutando. Mas isso é uma outra história.


Voltando ao artigo, o que mais chama a atenção da grande imprensa é o fato de Pedro Dom ser oriundo da classe média (aliás, eu já o conhecia desde o início de 2003) e, principalmente, por ele roubar residências da Barra, do Recreio e da Zona Sul. É só comparar a cobertura dada à guerra entre Rocinha e Vidigal (Zona Sul) com a dada à guerra entre Vigário Geral e Parada de Lucas (Zona Norte).


Vamos ver a cobertura


Mas um fato que, na minha opinião, não poderia ser deixado de lado é que o Rio de Janeiro é o estado em que mais morrem policiais. Só a polícia do Rio anda com pelo menos um fuzil (arma de guerra) em cada viatura. A vitimização que as populações carentes sofrem e a naturalização de suas mortes é a mesma sofrida pelos policiais, principalmente os PMs que têm contra eles um regulamento disciplinar militar inconcebível para um país democrático. O policial mata porque não quer morrer, mata por reproduzir uma política que vem de cima para baixo.


Enquanto a sociedade criar capitães do mato, por intermédio de uma polícia militarizada, em vez de policiais que defendem a sociedade, teremos mortes, corrupção e arbitrariedade. Em vez de desmilitarizar-se a PM estão querendo militarizar (e abandonar) a civil.


Bem sei que o problema da violência e da ditadura midiática não se resolve com polícia. Mas estou fazendo a minha parte, refletindo e agindo. Dia 28/9, às 12h, em frente à Chefia de Polícia, teremos manifestação por salários, contra o ‘bico’ do policial e contra a corrupção policial. Estamos chamando diversos grupos, como Basta, Viva Rio, Viva Polícia, além de deputados e imprensa.


Vamos ver a cobertura que a mídia dará.

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Policial civil formado em Jornalismo