Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A revolução na internet

O boletim online do jornal Washington Post anunciou, na manhã de sexta-feira (11/2), que o exército egípcio respalda o ditador Hosni Mubarak mas promete eleições livres para setembro, com as mudanças exigidas pelos manifestantes da Praça Tahrir.


A imprensa brasileira descobriu a velha Praça Tahrir, na cidade do Cairo, no dia 25 de janeiro, quando ela foi ocupada por centenas – que logo eram milhares – de manifestantes que protestavam contra uma ditadura corrupta que ocupava o poder no Egito havia três décadas.


O mesmo havia acontecido em 1989 em Tienamen, a Praça da Paz Celestial, que separa a Cidade Proibida do Grande Palácio do Povo, em Pequim, quando milhares de estudantes foram brutalmente reprimidos pelo exército chinês.


Assim como os egípcios em 2011, os jovens chineses também pediam mais liberdade em 1989. De 1989 para esta data, o regime chinês caminhou linearmente em direção ao capitalismo de Estado, subvertendo alguns velhos cânones da história da economia, e dificilmente voltaria a promover um banho de sangue em caso de novas manifestações na praça milenar. E uma das razões é a existência da internet, que permite o livre e imediato fluxo de informações e vai muito além das possibilidades da imprensa tradicional.


Também não havia sinais, até a revolta na Tunísia, em janeiro deste ano, de que pudesse haver um movimento popular no mundo islâmico em favor de liberdades democráticas. A internet foi o estopim da revolta.


Sinais sutis


Essas afirmações são verdadeiras, ou estamos simplesmente repetindo o que nos oferece a mídia tradicional?


A imprensa ocidental, e a brasileira em particular, conhece suficientemente bem o que acontece para lá do Mediterrâneo?


Há poucos anos, em viagem de trabalho à Líbia, este observador foi surpreendido pelo mar de antenas parabólicas nos telhados e pela pujança econômica do país, em contraste com a imagem passada pela imprensa por aqui.


Pela internet, somos informados diariamente do alto grau de organização das entidades de classe e sindicais do Egito, como os metalúrgicos do Canal de Suez, que entraram em greve contra o regime e obrigaram os Estados Unidos a repensar rapidamente sua política dúbia para a região.


Nesta semana, chegou mensagem com uma declaração oficial da Faculdade de Direito do Cairo, assinada pelo reitor, Dr. Ahmed Awad Belal, respaldada por um fórum que se reuniu na segunda-feira (7/2) e declarou ilegítimo o regime do governo egípcio, apoiando a ‘revolução de 25 de janeiro’.


Lembra a OAB brasileira dos anos 1980, lutando pela redemocratização.


São sutilezas de um momento histórico que a imprensa tradicional não consegue retratar em toda sua complexidade.