Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

“A tapioca é a mesma; só muda o gosto”

O maior destaque nos grandes jornais de quinta-feira (7/2) é o descontrole do governo nos gastos com cartões de crédito.


A Folha de S.Paulo informa em manchete que o governo decidiu retirar os cartões dos ministros, o Estado de S.Paulo publica, no alto da primeira página, que dez funcionários do gabinete presidencial gastaram mais de 3 milhões e meio de reais em 2007 com cartões corporativos. O Globo se adianta aos fatos e afirma que o governo saiu à frente da oposição e tomou a iniciativa de propor a criação de uma CPI no Senado, para controlar a investigação.


Alguns articulistas e colunistas observam que, ao propor uma investigação oficial sobre o uso dos cartões corporativos nos últimos dez anos, o Executivo estaria, de fato, colocando um freio na oposição. Afinal, o cartão corporativo para altos funcionários da administração pública foi criado em 2001, no segundo governo Fernando Henrique Cardoso.


Então, pergunta o leitor, como se pretende fazer investigações sobre um período anterior, desde 1998? A resposta está no texto que propõe a criação da CPI. Ali se diz que serão investigados os ‘suprimentos de fundos’ para despesas de agentes públicos, que antes dos cartões eram feitos por meio de contas bancárias especiais.


Risco permanente


Uma das ironias da história é que o senador Romero Jucá, líder do atual governo no Senado e porta-voz do presidente Lula na proposta de criação da CPI, também foi líder do governo Fernando Henrique, quando ocorreram as primeiras denúncias de mau uso do sistema de ‘suprimento de fundos’.


Outra ironia é que as irregularidades no uso de cartões corporativos no atual governo não foram descobertas pela imprensa ou denunciadas pela oposição. Foram publicadas pelo próprio Executivo.


Os jornais já informaram que mais de 7 mil funcionários públicos são autorizados a usar cartões corporativos para despesas urgentes. Alguns deles possuem mais de um cartão, o que explica a existência de cerca de 13 mil e quinhentos cartões corporativos no governo.


Trata-se de um sistema mais transparente de controle de despesas oficiais, e o mau uso é um risco permanente. Tanto para a reforma de mesa de sinuca como para a compra de tapiocas, a tentação de sacar o cartão e mandar a conta para os cofres públicos é permanente.


E foi o sempre governista Jucá quem definiu o nome que vai marcar a futura CPI: ‘A tapioca é a mesma; só muda o gosto’, declarou o senador.

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Jornalista