Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A Veja de volta à carga

O texto da revista Veja, edição de 18/8/2004, sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo, carece de reflexão crítica de cada profissional, da sociedade e dos leitores do periódico. A reportagem fala de atentado à liberdade de pensamento e expressão, como se fosse exclusividade da imprensa o direito de pensar e manifestar-se. Esse direito é universal, soberano e sagrado de todo e qualquer cidadão. Agora, a responsabilidade em publicar um fato, sim, é da inteira e total responsabilidade do meio de comunicação. E a sua publicação é para ser pautada na ética, na moral na e responsabilidade.


A matéria é misto de discriminação, preconceito e desinformação, porque quem o redigiu não teve o cuidado de fazer uma leitura crítica do projeto de criação do CFJ. Podem ser pontuadas várias outras situações, como a de querer desqualificar a categoria de assessores de comunicação ou imprensa e a própria diretoria da Federação Nacional de Jornalistas, como se assessor de comunicação ou imprensa não fosse jornalista profissional e a Federação não fosse representativa da categoria. São os mesmos argumentos utilizados por detentores do poder e neoliberais.


Linguagem chula


O texto faz-nos pensar, sobre as armas utilizadas pela elite para manter o controle dos meios de comunicação, como instrumento de perpetuação dos seus interesses individuais e conservadores. A reação da Veja é a mesma dos grandes jornais e das redes nacionais de comunicação. É uma orquestra afinadíssima e poderosíssima. Estão sempre atentos e organizados na defesa de seus interesses, em detrimento do bem-estar social e da coletividade.


Moral do texto da Veja: difamar, caluniar, ofender, mentir, publicar ‘notinhas’ e especular sobre informações, eis a base de sustentação da liberdade de pensar e manifestar-se. Agora, como vivemos em plena democracia, em que a liberdade de pensar e de se manifestar é soberana e universal, acreditamos que o mesmo espaço seja dado, também, a quem defende o CFJ.


Agora, passados quase dois anos, a revista Veja volta à carga sobre o mesmo assunto. Utiliza uma linguagem chula para combater a criação do CFJ. A edição 1.965, de 19 de julho de 2006, diz : ‘O presidente Lula fará um bem ao país e à sua biografia se vetar a segunda tentativa da Federação Nacional dos Jornalistas de instituir no Brasil mecanismos de coerção e mediocrização da atividade jornalística’.


Um marco


Jornalismo é ‘atividade profissional da área da comunicação social que visa à elaboração de notícias para publicação em jornal, revista, rádio, televisão, etc., acompanhadas ou não de comentários’. Assessor de imprensa é o ‘profissional, geralmente jornalista, que trabalha em assessoria de imprensa’. A definição é de Aurélio Buarque de Holanda. O assessor de comunicação, a exemplo do jornalista, exerce uma atividade da comunicação social que tem, como fundamento básico, a divulgação de informações que chegam ao seu conhecimento que, depois de checadas e avaliadas, são tornadas públicas.


A transparência, a verdade, a justiça, são fundamentos do jornalismo. E, também, do assessor de comunicação. O jornalista não divulga tudo que chega ao seu conhecimento por uma série de fatores e conseqüências, antes medidos, pesados e avaliados. Dizendo melhor, não divulga nada sem que, antes de tudo, sejam checados e avaliados os prós e os contras. O mesmo acontece com o assessor de comunicação. Este cuidado é salutar para os meios de comunicação, para a sociedade, para a democracia, para a liberdade, para a responsabilidade. Enfim, para todos.


A comunicação, nos vários papéis que desempenha e ocupa na sociedade, sempre será crítica, questionadora, problematizadora. Agora, afirmar que a criação do CFJ vai cercear o direito de expressão e a liberdade de imprensa nada mais significa do que hipocrisia, visto que tanto nas redações como nas assessorias prevalecerão os interesses, o que é natural no cotidiano das pessoas, dos grupos, do Estado. É verdade que os meios de comunicação estão nas mãos de políticos para defender seus interesses e acusar adversários. Isto, sim, é atentado à democracia, à liberdade de manifestação, aos valores éticos e morais. Frisa-se que uma situação não justifica a outra, porém serve de abordagem para uma avaliação do verdadeiro papel dos meios de comunicação.


O erro médico pode resultar em suspensão ou cassação do diploma do profissional. À vítima do jornalista é dado, apenas, o direito de resposta (remendo mal feito) ou pedido de desculpa. Grande consolo! O erro médico deixa seqüelas físicas e neurológicas irreversíveis, quando não leva à morte. Com a vítima do jornalista o caso é parecido. São danos morais irreparáveis. E, muitas vezes, levam o cidadão ao isolamento, à angustia, à depressão, à morte. A história é testemunha. O Conselho será um marco. Se conseguir sobreviver, claro.

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Jornalista e assessor de imprensa, Fortaleza (CE)