Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A verdade no jornalismo

Conhecimento é poder. Quem detém o conhecimento, detém o domínio do mundo, em todos os sentidos.

O jornalismo é uma ciência e como tal tem seus métodos. A verdade está impregnada pelas experiências de vida, atrelada aos interesses de quem é proprietário do veículo de comunicação.

No período mítico, o mundo era explicado pelo poder do sobrenatural e do extraordinário. Era fácil dominar pela ameaça da ira dos deuses.

À medida que o conhecimento foi sendo socializado pelos métodos filosófico-científicos, iniciados por Tales de Mileto, o controle da ‘verdade’ foi passado para todos os homens.

Na Idade Média, a Igreja tentou e conseguiu, em parte, levar o domínio da verdade para dentro de seus corredores, onde estavam os monges estudiosos. Deus passou a centralizar o medo de se discutir ‘verdades’ que somente a Ele eram permitidas. A fé passou a ser o guia, o modelo, o parâmetro. Bastava crer sem contestar. Aquilo que não era compreendido, ou que não ‘devia’ ser questionado, era considerado ‘mistério de Deus’. Aos homens comuns restava aceitar a verdade, que só era revelada para alguns ‘escolhidos’.

Formas de interpretar o mundo

A filosofia sempre foi e continua sendo um perigo para os detentores da verdade (poder). Tanto esta afirmação é verdadeira que muitos pensadores foram perseguidos pela Inquisição.

Para Heráclito, o ‘ser é e não é’, o que leva o homem a questionar a vida. A filosofia desconstrói a explicação do mundo pelo mythus (ficção, imaginário, mentira) e coloca nas mãos – ou nas cabeças – de cada um a responsabilidade para com a forma de ver e interpretar o mundo.

Descartes questiona a tradição, o conhecimento, as crenças. Duvida da existência do mundo, do ‘eu’ e até de Deus. Inicia uma revolução no pensamento e na busca da verdade, sempre fugidia e sempre relativa. Lutero contesta o poder da Igreja e dá início à Reforma. A ‘verdade’ foge, é perseguida e o mundo toma novas feições, novos significados.

Encontrar a verdade absoluta é uma tarefa impossível, mas certamente as várias formas de se interpretar o mundo dão ao homem maior domínio sobre seu próprio (do homem) destino.

Questionar sempre, desconfiar sempre

John Locke e David Hume afirmam que os sentidos é que dão a razão. Kant junta as idéias de Locke, Humes e Descartes e conclui que a verdade não é possível de ser atingida.

A busca pela verdade, como se vê, é uma luta insana, interminável. Cada homem possui uma forma peculiar de enxergar o mundo. A visão que o jornalista tem da realidade é impregnada de subjetividade e sofre influência de suas experiências pessoais, sua crenças, filosofia de vida etc.

A fenomenologia explica que não há um lugar no homem (consciência) que vai até o mundo. Antes, o mundo atinge o homem. Uma atitude do homem diante da realidade torna essa mesma realidade (verdade) subjetiva e passível de contestação.

Qual a saída? Como atingir a verdade? Não há saída. A verdade absoluta será sempre uma utopia. A verdade pode ser ‘verdadeira’ durante um tempo, num espaço geográfico, mas poderá se transformar em outra ‘verdade’ em tempo e espaço diferentes. O poder econômico pode determinar qual é a faceta da realidade que será eleita à condição de ‘verdade’. Questionar sempre, desconfiar sempre, este é o método para continuar a vida.

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Estudante de Jornalismo, Salvador, BA