Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A vitória pela censura

No pleito para o governo do Paraná, Beto Richa (PSDB) ‘venceu no primeiro turno com 3.039.774 votos, o equivalente a 52,4% dos votos válidos’. As principais manchetes foram de que o tucano venceu seu adversário Osmar Dias (PDT), que contava com o apoio de Lula. A campanha foi turbulenta e repleta de acusações, mas um expediente usado pelo peessedebista foi o diferencial. A impugnação do resultado de pesquisas via TRE.

O fato é que Osmar Dias adiou ao máximo se declarar como candidato. Enquanto isso, Richa já trabalhava em sua campanha, organizando-a melhor. O retardatário anúncio de que Dias seria candidato causou grande estupefação no candidato peessedebista, que demonstrou publicamente irritação com a notícia. Entretanto, como havia iniciado a campanha na dianteira e é herdeiro de grande prestígio político – de seu pai, José Richa –, iniciou a campanha com boa vantagem nas primeiras pesquisas. ‘Segundo pesquisa Datafolha feita de 9 a 12 de agosto e divulgada nesta sexta, Richa tem 46% de intenção de voto, contra 34% de Dias.’

Entretanto, o pedetista Osmar Dias, além de manter certo eleitorado, era o candidato da da coligação dos partidos da base governista. Além de fornecer importante palanque para Dilma Rousseff no Paraná, procurou vincular sua imagem à figura e ao sucesso do governo Lula. A estratégia rendeu mais lucro que prejuízo. Por um lado acenava que, com sua vitória e a possível e provável vitória de Dilma no plano federal, o Paraná gozaria de governo alinhado ao governo federal. Por outro lado, seus adversários o criticavam por se aliar a seus rivais do último pleito. Em 2006, Dias perdera a disputa do Palácio das Araucárias para Roberto Requião, agora senador eleito.

Tucanos se sentiram lesados

Como era de se esperar, os números das pesquisas do primeiro turno começavam a dar sinal de mudança. Situação que desestabilizou Richa perceptivelmente. Os colunistas locais chamavam a atenção para a mudança no seu tom de bom moço e político arrojado para uma postura que negava até o legado democrático de seu pai. A impugnação de pesquisas, via TRE, realizadas por vários institutos abalizados, causou reação negativa de vários setores da sociedade (http://www.youtube.com/watch?v=N4Y0c7JvFL4&feature=related). ‘Para especialistas ouvidos ontem pela Gazeta do Povo, a série de impugnações de pesquisas de intenção de voto para o governo do Paraná, a pedido da coligação de Beto Richa (PSDB), é um ato de autoritarismo e censura.’

A versão do tucano é de que as perguntas dos formulários dos institutos induziam os eleitores a declarar intenção de em seu adversário. O elemento curioso é que quando as pesquisas eram favoráveis à coligação encabeçada por Richa não houve qualquer pedido de impugnação. Evidentemente, apenas setores reacionários se manifestaram de forma favorável ao expediente tucano. Até que ponto os números das pesquisas poderiam interferir nas eleições, não se sabe, mas ‘nem bem terminou de beber o primeiro Moet & Chandon (…) e o governador eleito do Paraná, Beto Richa, PSDB, já estava se explicando sobre a estratégia da campanha de censurar nove pesquisas dos três principais institutos (…) nos 15 dias que antecederam o 3 de outubro’. Os tucanos, ainda assim, se sentiram lesados pelas pesquisas.

Um precedente perigoso

Para o Senado, a pesquisa Ibope mostrou Gleisi Hoffmann à frente, com 33% das intenções de votos válidos, o ex-governador Roberto Requião (PMDB) em segundo lugar, com 31%, e Gustavo Fruet (PSDB) com 18%. O resultado nas urnas confirmou a vitória de Gleisi, mas mostrou uma situação muito mais apertada entre Requião e Fruet: 24,8% contra 23,1%, respectivamente. Gustavo Fruet (PSDB) diz acreditar que a pesquisa do Ibope influenciou na sua derrota para o Senado.

Chamar a atenção para um debate sobre os métodos utilizados pelos institutos de pesquisa é uma coisa; impedir a divulgação dos resultados das pesquisas realizadas por esses é outra bem diferente. A última eleição para o governo do Paraná chamou a atenção para duas questões: a tonalidade autoritária do próximo governo e a abertura de um precedente perigoso.

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Professor de História, Ponta Grossa, PR