Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Alckmistas assanhados no Estadão-ão-ão

O Estado de S.Paulo foi o único jornalão a bradar em manchete, na quarta-feira (15/3), que Geraldo Alckmin foi escolhido pelo PSDB para enfrentar Lula. O Globo e a Folha podem ter exultado ou se decepcionado, mas se comportaram com mais compostura. O centenário jornalão rasgou a fantasia, foi a sua forma arrevesada de assumir o apoio ao candidato tucano. Este e não o outro.


A titulação dos comentários políticos seguiu a receita marqueteira que será usada na campanha: o governador paulista ganhou porque foi obstinado, inflexível, dono de uma tremenda força de vontade escondida atrás da aparência sossegada.


Era proibido escrever que Serra desistiu na véspera porque, para descumprir a promessa de terminar o seu mandato como prefeito, teria que contar com a unanimidade do partido.


Uma comentarista chegou a afirmar na primeira página que o vitorioso usou uma estratégia ‘típica de um médico anestesista que sabe que a coisa pode mudar a qualquer momento’, para em seguida apresentá-lo como ‘um trator’. O anestesista Geraldo Alckmin nunca chegou a exercer a profissão, mas isso são firulas. O estilo Armani passa ao largo dessas insignificâncias.


Trailer eleitoral


Mas foi no domingo (19/3), que o Estadão-ão-ão soltou a franga. Na primeira página, duas matérias sobre Alckmin e nas páginas internas um show alckmista: cinco páginas sucessivas. Parecia CartaCapital logo depois da posse do presidente Lula.


O analítico caderno ‘Aliás’ também desandou e na capa retoma o argumento dos marqueteiros – enquanto os caciques ungiram Serra, a base tucana emplacou Alckmin. Para justificar a elaborada teoria, na abertura da matéria uma referência ao encontro no restaurante Massimo, em São Paulo, onde Serra jantou com FHC, Tasso e Aécio e, logo adiante, uma pergunta ao cientista político Bolívar Lamounier para obrigá-lo a referendar a tese, coisa que recusou.


O que chama a atenção neste diapasão tão passional é que os dois pré-candidatos são do mesmo partido e a disputa entre eles encerrou-se quatro dias antes. Se neste trailer eleitoral os alckmistas do Estadão-ã-ão jogaram tão pesado pode-se imaginar como se comportarão quando começar a disputa com o presidente Lula.