Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Arthur Dapieve


‘Depois da edição de agosto, com Grazielli Massafera na capa, e depois da edição especial com as melhores entrevistas lá publicadas, a ‘Playboy’ agora comemora o seu 30 aniversário no Brasil com um livro de capa dura reunindo algumas de suas melhores fotos. Sem querer querendo, acaba sendo uma nota de pé de página à História do Brasil.


Lançado esta semana pela Editora Abril e pela Ediouro, ‘Playboy 30 anos de fotografia (1975-2005)’ tem todo o jeitão daqueles livros de arte que viram presente de Natal para o amigo macho. Não dá para imaginar, porém, alguém deixando-o casualmente em cima da mesinha da sala, entre os volumes dedicados às obras de Picasso e Caravaggio.


O lugar mais adequado para ele talvez fosse o cesto de jornais no banheiro, caso não tivéssemos, todos nós, passado da idade. A masturbação masculina, naturalmente, não foi abolida, mas, nos últimos trinta anos, encontrou outros canais pelos quais, hummm , escoar. Mulheres prestativas e temerosas da Aids, canais adultos, sites pornográficos, CPIs.


Esta aproximação onanista seria óbvia demais e não faria justiça à revista criada por Hugh Hefner nos EUA, em 1953. Vinte e dois anos se passaram antes que a ‘Playboy’ tivesse uma edição brasileira. Ela nunca foi um mero xerox da matriz. Refletiu nossos costumes e preferências sexuais, além das mudanças neles. E este é o meu ponto.


O Brasil já teve outras revistas de mulher pelada memoráveis. A pioneira ‘Status’ e seu pundonor de maquiar até os mamilos para não ofender a hipócrita moral da ditadura militar. A ‘Ele Ela’ e sua lendária seção ‘Fórum’, com pretensos relatos das aventuras sexuais dos leitores, que invariavelmente incluíam o bordão ‘o ambiente era de puro sexo’.


Hoje, devo dizer, a brazuca ‘Sexy’ tem acertado mais que a ‘Playboy’, tanto nas reportagens bem sacadas quanto na recusa em superproduzir as mulheres. Todavia, pelo conjunto da obra e pela longevidade, a revista das coelhinhas tomou melhor o pulso sexual do brasileiro. Folhear ‘Playboy 30 anos de fotografia’ é constatar como a espécie evoluiu.


Evolução não necessariamente em termos de progresso ou melhora, mas de mera mudança, que fique logo claro. Afinal, cada época, cada lugar tem a libido que deseja. Como este desejo é construído são outros quinhentos. Nossa tradição, por exemplo, é gostar de bunda grande e seios pequenos. A americana é gostar de seios grandes e quadris retos.


O livro se divide desigualmente entre fotos realizadas nas três décadas da ‘Playboy’ no Brasil: 1975-1984 (13 mulheres), 1985-1994 (55 mulheres) e 1995-2005 (se não errei, 109 mulheres, sendo que algumas, como Sabrina Sato e Carla Perez, aparecem mais de uma vez). Há duas solitárias gringas entre elas: Cindy Crawford e Pamela Anderson.


A mudança das brasileiras é notável conforme os anos passam. Do padrão de seios pequenos, nossas conterrâneas fotografadas pela revista vão ficando mais peitudas, mais beiçudas e até mais bundudas. Viraram superfêmeas. Responsabilidade dos hormônios na carne de frango, da onipresença do silicone e do botox ou do padrão americano? Vá saber.


Trabalhei na Editora Abril, mais especificamente na revista ‘Veja Rio’, no início dos anos 90. A lenda interna da empresa era que, até então, ou seja, nos primeiros 16, 17 verões de ‘Playboy’, apenas uma mulher não passara por retoques no computador. Uma certa senhorita Sueli, arremessadora de dardos olímpicos. Verdade ou mentira? Vá saber.


O que eu imagino é que hoje em dia os préstimos do Photoshop não sejam mais tão requisitados. Agora as mulheres se retocam antes de posar para craques como um J.R. Duran ou um Bob Wolfenson: jejuam, malham, esticam, enxertam, empinam. O sujeito no computador talvez só tenha que eliminar aquela espinha inconveniente na base aliada. Mudou a plástica: por vezes, ela parece de plástico. É tudo tão direito que algo está errado.


Uma possível segunda abordagem de ‘Playboy 30 anos de fotografia’, além das alterações na estética das suas modelos, diz respeito à invariabilidade do desejo masculino. Tanto quanto um catálogo dos tipos físicos brasileiros entre 1975 e 2005, o livro é também o cemitério simbólico de algumas das mulheres que mais nos atiçaram a imaginação. Em quais elevadores andará Michelly Machri, a ‘garota Sukita’, clicada em 2001?


Parafraseando o ‘Pneumotórax’ de Manuel Bandeira, trata-se da vida inteira que não podia ter sido e que não foi. Porque, tirando gente como Ronaldo Fenômeno, que conta as capas de ‘Playboy’ que ‘fez’ às dezenas, aquelas mulheres não são para o nosso bico. São apenas um ideal circunstancial de beleza, não de vida, amor ou, sequer, sexo.


O mais longe que um careca como eu já chegou foi ver pela primeira vez, na mão da própria fotografada, a famosa foto de Adriane Galisteu aparando a barba inferior com a gilete na mão e muita espuma ali na vizinhança. Contudo, esta história eu só conto se o Joaquim Ferreira dos Santos contar como foi o nescau dele com a Luma de Oliveira.’



JORNALISTA AGREDIDA


O Estado de S. Paulo


‘Jornalista sofre agressão em audiência pública ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 25/11/05


‘A jornalista Helen Michelet, do jornal A Estância, foi agredida em audiência pública anteontem da prefeitura do Guarujá (SP) para discutir a construção de uma ciclovia no bairro do Funchal. Após uma discussão com o prefeito Farid Madi (PDT), ela foi agarrada pelos cabelos e levou um chute na perna. No boletim de ocorrência registrado na madrugada, Helen apontou o secretário da Defesa Civil, Élvio José da Silva, conhecido como Americano, como um dos agressores. Segundo a prefeitura, ‘a agressão teria partido de um popular’.’



 


INCLUSÃO DIGITAL


Juliana Carpanez


‘Computador não atinge 55% dos brasileiros ‘, copyright Folha de S. Paulo, 25/11/05


‘Mais da metade dos brasileiros com idade superior a dez anos nunca utilizou um computador. Pesquisa do CGI (Comitê Gestor da Internet) mostra que 55% da população do país nessa faixa etária jamais teve contato com computadores e que 68% nunca navegaram na internet. O estudo, feito pelo Ipsos Opinion, avalia a penetração da internet no Brasil até o bimestre agosto/setembro.


Apesar da pesquisa apontar um longo caminho para a inclusão digital no Brasil, o número de internautas domiciliares dobrou nos últimos cinco anos: passou de 5,1 milhões de usuários em setembro de 2000 para 11,96 milhões em setembro deste ano, segundo levantamento do Ibope//NetRatings.


Se forem consideradas as pessoas que acessam a internet no trabalho ou em telecentros, por exemplo, o número de brasileiros on-line chegou a 32,1 milhões no terceiro trimestre de 2005.


O estudo do CGI também aponta que 16,6% dos brasileiros possuem computadores de mesa em suas casas, sendo que nem todas as máquinas permitem acesso à internet.


O grupo que utiliza micros diariamente fica por volta de 13,8% dos brasileiros com mais de dez anos, enquanto 9,6% deles navegam pela internet todos os dias.


O Distrito Federal é a região com o maior número de computadores em casa -31% dos domicílios-, seguido pela região metropolitana de São Paulo (27%), Curitiba (23%), Rio de Janeiro (22%) e Porto Alegre (21%).


‘Esses números estão diretamente relacionados à renda e à escolaridade da pessoa’, diz Rogério Santanna, secretário de logística e tecnologia da informação do Ministério do Planejamento.


A pior porcentagem divulgada refere-se à região metropolitana de Fortaleza, onde apenas 8% das residências têm computadores.


Ao considerar classes sociais, o estudo indica que 88,7% dos domicílios pertencentes à classe A são equipados com computadores. Já na classe B, esse número cai para 55,5%, seguido por 16,1% da classe C e 2% das classes D/E.


PC popular


Cerca de 43% dos 8.000 entrevistados disseram estar dispostos a pagar até R$ 1.400 para ter um computador em casa -esse é o preço limite do PC popular, que obedece uma configuração preestabelecida pelo governo (128 MB de memória RAM, HD de 40 GB e processador de 1,4 GHz) e financiado com juro baixo. No entanto, 22% deles disseram que não comprariam um computador mesmo se ele custasse R$ 300.


‘Os dados mostram a importância de políticas de acesso público à internet. Mesmo com redução de preços e facilidade de pagamento, ainda é grande a quantidade de pessoas que não pode comprar computadores’, afirma Santanna.


A principal barreira ao uso da internet nas casas se deve a um motivo óbvio: a falta de computadores. Cerca de 59% das pessoas citam esse fator, enquanto 33% são mais específicas ao culpar o custo elevado do equipamento.’



Aguinaldo Novo


‘No país, 68% nunca experimentaram a internet’, copyright O Globo, 25/11/05


‘Da população total do país, 55% nunca usaram um computador na vida, equipamento que existe nas casas de apenas 16,6% dos brasileiros. Para 68%, a utilidade da internet, principal ferramenta da nova era digital, ainda é um completo mistério. Estes são os principais resultados de uma pesquisa divulgada ontem pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), entidade formada por representantes do governo e da sociedade civil.


Nem mesmo o projeto de PC popular pode acabar com essa exclusão digital. Uma das conclusões da pesquisa é que nada menos do que 35% da população não têm condições financeiras para comprar um computador, mesmo com preço subsidiado. Segundo o secretário de Logística e Tecnologia de Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna dos Santos, que também é um dos conselheiros titulares do Comitê Gestor, esse segmento da sociedade reagirá menos a políticas de preços do que a projetos alternativos de acesso – como centros de uso livre.


Santos acredita que a pesquisa pode ser uma ferramenta valiosa para a definição de políticas públicas e também para o planejamento de empresas privadas. O estudo foi feito em parceria com o Instituto Ipsos-Opinion, que entre agosto e setembro entrevistou moradores com idade superior a dez anos em 8.540 domicílios do país.


– Para essas pessoas, principalmente os jovens, a inclusão virá se o governo atuar em outra frente, intensificando o acesso à web nas escolas e em telecentros – completou o diretor da Ipsos-Opinion, Clifford Young.


Exclusão acompanha a má distribuição de renda


A exclusão digital apontada pela sondagem reproduz os efeitos da distribuição irregular de renda no país: o internauta brasileiro é predominantemente das classes A e B e mora nos grandes centros urbanos. Pela pesquisa, 88,7% da população classificada como classe A (renda familiar acima de R$ 1.800 mensais) possuem computador em casa, contra 55,5% da B (renda entre R$ 1.001 e R$ 1.800). Nas classes D e E (com renda até R$ 300), o índice não vai além dos 2%.


Enquanto 31% dos domicílios de Brasília têm um computador de mesa, em Belém essa fatia é de 11%. Em Fortaleza, desaba para 8%. Na Região Metropolitana de Recife, 70% nunca navegaram pela internet, contra 55% em Curitiba e 53% em São Paulo. Os dados mostram ainda que apenas 24% da população usaram a internet nos últimos três meses e 9,6% acessam o serviço diariamente.


– O resultado é, infelizmente, compatível com a distribuição de renda do país – afirmou Santos.


O Comitê Gestor também fechou parceria com o IBGE para incluir 23 perguntas na próxima Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Estima-se que os dados estejam disponíveis em outubro de 2006.


Com despesas mais urgentes para quitar, o brasileiro diz que não tem computador ou deixa de usar a internet por causa dos altos custos dos equipamentos e de conexão. Essa foi a resposta escolhida por 26% e 16% dos entrevistados, respectivamente. Outros 9% responderam que não sabem usar o computador. Em um dado revelador da falta de políticas oficiais, só 2% dos que disseram ter habilidades para usar o equipamento freqüentaram curso mantido por órgãos públicos.


Brasil usou mais tempo a internet do que os EUA


A concentração na posse e uso de computadores provoca grandes distorções. Embora tenha só a décima população de internautas do mundo, o Brasil navegou mais na internet em outubro do que países desenvolvidos como França, Japão, Estados Unidos, Espanha e Alemanha. Segundo relatório do Ibope NetRatings, que passou a trabalhar em parceria com o Comitê Gestor, os brasileiros ficaram 18 horas e 42 minutos plugados na rede naquele mês. Foi um novo recorde para o país.


– Nossas classes A e B, que são o público da internet, não devem nada para outros países – afirmou o diretor-executivo do Ibope Inteligência, Marcelo Coutinho.


Ainda pelo relatório do Ibope NetRatings, que considera internautas com mais de 16 anos, a maioria (73%) usou a internet para ver correspondências. Para 75%, o microcomputador foi o único meio de acesso à web, enquanto 25% usaram também equipamentos como celulares e computadores de mão ( handhelds ).’



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‘‘Brasil tem apartheid digital’’, copyright O Globo, 25/11/05


‘Criador do Comitê para Democratização da Informática (CDI), primeira ONG do país voltada para a inclusão digital, Rodrigo Baggio critica o abismo que existe no Brasil: quem não consegue acesso a computadores e internet tem menos oportunidades de trabalho e integração social.


– Estamos formando um novo apartheid.


E o governo, segundo ele, não tem agido com eficiência na busca por soluções. Só este ano, Baggio relacionou 11 diferentes projetos que se sobrepunham e disputavam as verbas públicas.


– Falta eficiência na gestão das políticas de inclusão digital – disse.


Baggio não é uma voz isolada. O próprio Comitê Gestor da Internet no Brasil, formado por representantes do governo e da sociedade civil, aponta erros em projetos oficiais. O PC Conectado, que conta com subsídios na venda de computadores, na prática não garante acesso à rede. Falta regulamentar o preço de R$ 7,50 pelo acesso discado.


A Casa Brasil, definida pelo governo como um espaço comunitário para aperfeiçoamento tecnológico, divulgação científica, ciência, cultura e lazer, também enfrenta dificuldades. De uma meta inicial de 1.100 unidades, só 90 estão aprovadas. Cerca de R$ 23 milhões foram liberados, mas os computadores ainda não foram comprados.


Criado há dez anos, o CDI mantém 965 escolas em 19 estados e oito países. Só 4% dos custos são pagos por recursos públicos.’



Folha de S. Paulo


‘Brasil bate novo recorde no tempo de uso da internet ‘, copyright Folha de S. Paulo, 25/11/05


‘Os internautas brasileiros bateram mais uma vez o recorde no tempo de uso da internet residencial. Em média, cada usuário navegou cerca de 18 horas e 42 minutos em outubro, segundo o Ibope//NetRatings. O recorde anterior havia sido registrado em setembro deste ano: 17 horas e 30 minutos.


Com o novo recorde, o Brasil passou à frente de outros 11 países monitorados pelo Ibope//NetRatings em tempo de navegação. Entre as nações ‘concorrentes’ estão os Estados Unidos, o Japão, a França e a Espanha.


Um dos motivos para o crescimento é a adesão à banda larga por parte dos internautas. Para Marcelo Coutinho, diretor-executivo do Ibope Inteligência, questões relacionadas à segurança e o alto preço de opções de lazer também contribuem para o aumento no tempo de uso da internet em casa.’