Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Basta da brincadeira inútil chamada CPI

Chega de CPI. Está na hora de dar um basta nessa brincadeira inútil do Congresso de querer fazer papel de polícia investigativa. Chega de Comissões Parlamentares de Inquérito, que não chegam a lugar nenhum e não produzem resultado algum. Aliás, dão resultado, sim! Terminam todas em pizza. Como na terça-feira 5/12, quando mais um deputado, José Janene, o último dos acusados no Mensalão, foi absolvido.

De que adiantou aquela atitude ‘heróica’ do deputado Roberto Jefferson, lá pelos idos de junho de 2005, quando denunciou dezenas de parlamentares envolvidos em desvios de verbas, em episódio que ficou conhecido como do Mensalão? Foi ali que conhecemos o mar de lama da corrupção nos meios políticos. Naquele momento, surgiram personagens hoje esquecidos, como Marcos Valério, José Genoino, Maurício Marinho, Delúbio Soares, José Dirceu e tantos outros.

Quem não se lembra da cobertura intensa e eufórica da mídia, que a cada dia divulgava novos nomes e novas denúncias? Não passava uma semana sem que um novo escândalo surgisse e nele estivesse envolvido um político de prestígio. E as provas eram sempre contundentes, com depoimentos, documentos, cheques nominais, imagens de circuito interno, fitas de áudio, gravações telefônicas. Dessa ninguém escapa, gente graúda finalmente vai para a cadeia .Até pensamos que um novo tempo de moralidade havia chegado ao Brasil.

Qual nada. O tempo foi passando, o esquecimento chegando, a impunidade tomou conta dos processos. Nada aconteceu com a maioria dos acusados nas diversas CPIs abertas no Congresso Nacional nos últimos anos. A não ser uns três medrosos, que renunciaram e outros dois, cassados, punidos como bode expiatório. E não foram poucas as Comissões Parlamentares de Inquérito que surgiram, prometendo apurar, dar nomes aos políticos corruptos, puni-los com cassações e denunciá-los à Justiça. Os nomes das CPIs e os seus interesses espúrios foram os mais variados. Mensalão, CPI dos Correios, das Armas, das Sanguessugas, dos Bingos, da Compra de Votos, e muitas outras.

Quem perde

A quem interessa a abertura de uma CPI se ela não pune ninguém? Com certeza, quem se beneficia mais com uma CPI são os próprios políticos nela envolvidos. Tanto os acusados de delitos como os integrantes de sua constituição. Os primeiros, porque sabem que no fim serão absolvidos e ainda ficam com o produto do roubo. Os segundos, como integrantes e denunciantes, porque recebem da mídia toda a visibilidade necessária para novos saltos políticos. E de graça.

Até mesmo a imprensa leva vantagem nessa história. Ganha com todo o ritual burocrático e circense das CPIs, com os premeditados, falsos e articulados depoimentos dos acusados. Fatura com as matérias precipitadas e sensacionalistas, produzidas por denúncias e sem investigações consistentes; e, mesmo perdendo credibilidade, a mídia acaba por conseguir o que mais interessa ao dono do negócio: o lucro financeiro.

E quem perde com esse faz-de-conta? Toda a nação brasileira, tida como livre e democrática, e seu povo, simples, bravo e lutador, que a cada dia se torna mais desiludido com a classe política e com uma Justiça, cada vez mais cega, lenta e parcial.

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Jornalista, Belo Horizonte