Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Campeonato novo, velhas polêmicas

O Campeonato Brasileiro de 2004 começou na quarta-feira da semana passada e, com ele, os velhos lamentos (e não sem razão) dos torcedores de todo o país sobre a programação das emissoras que detêm os direitos de transmissão das partidas. O ponto a ser discutido diz respeito aos critérios empregados pela TV Globo e a Rede Record para definição dos jogos que serão mostrados, ao vivo, às quartas e aos domingos. O aborrecimento dos torcedores se deve ao fato de a Record estar transmitindo o mesmo jogo que a Globo para todos os estados, exceção feita a São Paulo. Em Brasília, por exemplo, na primeira e na segunda rodadas da competição, as emissoras transmitiram Grêmio x Flamengo e Atlético (MG) x Vasco, respectivamente.

O que se sabe é que a Record está presa a cláusulas do contrato que assinou com a Globo. Por esse motivo, está obrigada a transmitir a mesma partida que a concorrente-parceira. Com efeito, o torcedor não terá como escolher entre um jogo e outro. A emissora dos bispos teria aceitado essas condições, digamos, leoninas para ter liberdade de decidir qual jogo exibirá ao vivo para São Paulo a cada rodada. Dizem que a Record teria concordado com as regras para não se distanciar de seu público e, mais que isso, para não deixar a Globo reinar sozinha na área esportiva.

Em respeito ao direito de escolha do torcedor, o ideal seria que as demais emissoras, como Band e SBT, tivessem condições de ratear o custo financeiro das transmissões, o que ampliaria as opções de jogos ao vivo, às quartas e aos domingos. Mas, claro, sem as amarras com as quais a Globo tem segurado a Record. Essa situação teria evitado, inclusive, o surgimento de nova polêmica envolvendo Globo, Record e Bandeirantes.

Na quinta-feira da semana passada, o apresentador do Esporte Total, Jorge Kajuru, gastou boa parte do tempo de seu programa para anunciar que a emissora teria sido vítima de retaliação por parte da TV Globo. A Band, segundo o apresentador, fora impedida de entrar no Morumbi para cobrir o jogo do São Paulo contra o Atlético (PR). A determinação teria partido do Clube dos 13 a pedido da Globo.

Essa decisão bastou para que Kajuru passasse a valorizar o caso, apontando como causa principal dessa suposta retaliação o fato de a Band estar conquistando audiência aos domingos à tarde. A sagaz Marlene Mattos, ex-Xuxa, hoje comandando o elenco de artistas da Band, encontrou brecha aos domingos e lançou o Show de Bola. Apresentada por Kajuru, a novidade não teria agradado às concorrentes. Na estréia, Show de Bola mostrou os gols da rodada e entrevistas diretamente dos vestiários, momentos depois de encerradas as partidas. Ocorre que tanto a Record quanto a Globo (mesmo que indiretamente) têm seus programas esportivos domingo à noite. A primeira leva ao ar o Terceiro Tempo, de Milton Neves, e a segunda, o Troca de Passes, no Sportv, dos canais fechados Globosat.

Ilegalidade ou não?

O pronunciamento da Band, por meio de Jorge Kajuru, foi carregado de indignação e excessos. Chegou-se ao absurdo de comparar o caso da suposta retaliação aos que ocorriam na época da ditadura, quando a mídia brasileira tinha sua atividade limitada por imposição dos generais. O protesto de Kajuru foi acompanhado por caracteres de teor forte, tais como ‘Band censurada’, ‘Retaliação ou censura?’, ‘Equipe da Band proibida de entrar no Morumbi’. Kajuru anunciou que a Band acionaria seu departamento jurídico para cobrar explicações. Afirmou também que, no mesmo dia, o SBT teria tido acesso a estádios nos quais a Band fora proibida de entrar.

De modo geral, as imagens captadas pelas câmeras das TVs que não têm direitos de transmissão são de péssima qualidade. Explico: muitas vezes essas emissoras vão a campo com apenas uma câmera, naturalmente para cobrir as equipes nos vestiários. Mais: os gols que o torcedor verá não serão os captados por essa única câmera, e sim os filmados pelas numerosas câmeras espalhadas nos estádios por Globo e Record.

Essas emissoras argumentam que pagaram (e caro) para terem o filé mignon do Campeonato Brasileiro, isto é, o direito de explorar primeiro os lances da rodada. A Band, por sua vez, não investiu um centavo na competição. Ainda assim, tem saído na frente dos demais programas, usando justamente as imagens das concorrentes que pagaram para tê-las. Pode-se afirmar, popularmente, que a Band está fazendo caridade (conquistando audiência) com chapéu alheio.

Mas é bom aprofundar o debate e saber até que ponto a Globo cometeu ou não ato de ilegalidade ao barrar a Band nos estádios. É, pois, assunto para análise técnica e jurídica.

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Jornalista em Brasília