Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Cobertura esfria, mas perigos continuam

A cobertura da guerra do Iraque parece ter esfriado, mas os perigos para jornalistas ocidentais – e locais – que continuam a reportar o conflito ainda são enormes. Profissionais de imprensa estrangeiros em meio à zona de guerra muitas vezes se encontram diante de ataques de atiradores, explosões em estradas e seqüestros, entre outras situações igualmente ameaçadoras. Para os jornalistas iraquianos, os riscos são ainda maiores, com a possibilidade de ataques às famílias e prisões por suspeita de ligação com insurgentes.

Pelo menos 85 jornalistas, em sua maioria iraquianos, foram mortos desde o início da invasão americana ao país, em março de 2003. O número ultrapassa os índices de morte de profissionais de imprensa da Guerra do Vietnã e da Segunda Guerra Mundial. A situação de segurança parece se tornar cada vez pior, e, até agora, 2006 se mostrou o ano mais letal, com 25 jornalistas mortos.

A mídia virou alvo

Há poucas semanas, homens armados invadiram uma estação de TV recém-lançada e mataram 11 funcionários, no que foi considerado o pior ataque a uma empresa de comunicação no Iraque. Não se sabe ao certo o motivo do atentado, mas há uma certeza: a mídia virou alvo em meio ao conflito sectário de sunitas e xiitas, e ao conflito entre soldados americanos e insurgentes iraquianos.

Qualquer correspondente de guerra sabe que é perigoso reportar diretamente de uma zona de conflito, e profissionais de imprensa foram mortos ou feridos no Afeganistão, em Serra Leoa e na Bósnia, entre outros. No Iraque, entretanto, os insurgentes não vêem muita diferença entre os militares e os jornalistas ocidentais. O Palestine, hotel em Bagdá onde muitas equipes de mídia costumavam se hospedar e montar a base de suas operações, já sofreu diversos ataques.

Dezenas de profissionais já foram detidos ou seqüestrados. Nomes como o da americana Jill Carroll, o da italiana Giuliana Sgrena, e o dos franceses Georges Malbrunot e Christian Chesnot apareceram por meses neste Observatório enquanto seus captores divulgavam vídeos dramáticos e estipulavam o preço por suas vidas. Houve quem fosse simplesmente assassinado, como a repórter iraquiana Atwar Bahjat. E alguns jornalistas passaram por maus bocados ao ser atingidos por explosões, caso do âncora americano Bob Woodruff.

Redução de pessoal

Acuados, muitos profissionais de imprensa deixaram o Iraque. A necessidade de mais segurança aumentou o custo das empresas, que também acabaram decidindo por reduzir em pessoal. Hoje, alguns poucos correspondentes ocidentais contam com a ajuda de colegas iraquianos, que conseguem maior acesso a personagens e cenas de ataques.

Segundo o editor-chefe de uma emissora iraquiana, os insurgentes não respeitam nenhuma lei de proteção aos jornalistas. ‘O jornalismo é a profissão mais perigosa no Iraque atualmente’, afirma. Informações de David Rising [Associated Press, 13/10/06].