Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

PAN & CENSURA
Tiago Cordeiro

Carlos Latuff é ameaçado de prisão por charge sobre os Jogos Pan-americanos, 26/07/07

‘O chargista Carlos Latuff foi citado pela Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) por violação de direito autoral do personagem Cauê, mascote dos jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Mas, segundo a advogada Eliane Y. Abrão, especializada em direitos autorais, Latuff não pode ser preso por violar direitos autorais porque, embora o Comitê Organizador do Pan (Co-Rio) seja dono da marca, a Constituição garante ao artista a liberdade de expressão.

‘Direitos autorais são garantidos pela Constituição do mesmo jeito que é garantida a liberdade de expressão’, explica ela. Eliane disse que os trabalhos de Latuff sequer se encaixam no termo ‘paródia’, que prevê a referência a uma obra. ‘Paródia geralmente é uma coisa gozativa, de caráter jocoso, engraçado. No caso, esse protesto é algo que a Constituição dá direito de liberdade de expressão mesmo’, ressalta.

Virgem

Ouvido pela reportagem, o chargista criticou a cobertura da mídia no Pan e a situação. ‘Não tem ninguém na imprensa do Rio que faça uma cobertura crítica sobre o Pan. A liberdade de expressão é uma piada, não estou desenhando a Virgem Maria dando o c… Estou desenhando o Cauê, e ele foi alçado à categoria de santo. É o exemplo mais claro de que é perseguição política’, ressalta.

Latuff oferece seus desenhos na internet gratuitamente. Seu trabalho foi usado pela Organização Não Governamental (ONG) Rede de Comunidade e Movimento Contra a Violência em camisas que usavam sua imagem do Cauê com um fuzil, protestando contra a violência contra comunidades carentes. A ONG trabalha com denúncias de violência policial. O fato de não haver lucro com a venda da camiseta foi usado como atenuante pelo delegado Ângelo Ribeiro, em entrevista ao Globo. Apesar de não ter tomado ciência da comercialização de camisetas com seu desenho, o artista apóia a atitude. ‘Acho que o movimento acertou’.

Não é a primeira vez que fatos como esse acontece com Latuff. Em novembro de 2006, ele ficou em segundo lugar em um concurso sobre charges no Irã. O cartunista polemizou ao colocar um palestino com um uniforme de concentração. A colocação rendeu ameaças ao brasileiro em um site ligado ao Likud, partido de extrema direita de Israel.’

Marcelo Russio

Zona mista é a visão do inferno, 25/07/07

‘Olá, amigos. Após a cobertura de alguns eventos do Pan, é possível dizer uma coisa: quem inventou a zona mista do jeito que ela está nos eventos no Brasil, ou nunca escreveu uma linha, ou odeia a nossa classe. No Mundial de basquete de 2006 foi assim, e no Pan a coisa segue do mesmo jeito. A área destinada aos jornalistas é mínima, e invariavelmente embaixo da arquibancada, de onde os torcedores, até compreensivelmente, gritam para que seus ídolos olhem para eles, pedem autógrafos, tiram fotos e jogam camisas para serem assinadas.

Na foto em anexo fica a prova de que é quase impossível se conseguir trabalhar amontoado com um bando de outros jornalistas, com câmeras, gravadores, blocos e tudo mais que se leva para esta área do ginásio.

Pior: as entrevistas duram no máximo dez minutos, como foi a do jogo de despedida da Janeth, em que o Brasil perdeu a disputa da medalha de ouro para os Estados Unidos na última terça-feira. Foi avisado pela organização do Pan que a zona mista duraria exatos dez minutos, e que a coletiva com TODAS as jogadoras, duraria 20 minutos. Uma piada!

O que se viu na zona mista foi um amontoado de repórteres sem conseguir entender quase nada do que as atletas falavam, por conta da gritaria da torcida, colocada exatamente em cima de todos, e alguns organizadores arrastando as jogadoras para a área de entrevistas coletivas sem a menor cerimônia.

Tudo bem, estamos aprendendo a fazer eventos de grande porte, mas é imprescindível que se repense a questão da zona mista ao fim dos jogos. Se isso não for feito, é bem provável que um dia aconteça um problema sério entre jornalistas e torcida.

******

Por outro lado, a assessoria de impresa da equipe americana foi de uma eficiência total. Marcamos, eu e o colega Rodrigo Alves, uma entrevista com a técnica Dawn Staley para terça-feira, dia da final, às 14h15m. A assessora, além de disponibilizar um media guide de dar inveja a qualquer associação esportiva, foi pontual e extremamente profissional. Para não dizer que tudo foi perfeito, a treinadora atrasou-se exatos cinco minutos, para constrangimento da assessora, que vinha, a cada minuto, informar que ela já estava vindo. Feita a entrevista, vimos que ainda é possível evoluir e chegar a um patamar de organização de primeiro mundo.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

Comunique-se

Larry Rohter causa confusão durante atletismo do Pan, 26/07/07

‘O correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rohter, fecha com chave de ouro sua temporada no País. Na tarde de quarta-feira (25/06), durante as provas de atletismo no Engenhão, o repórter teria tentado entrar na pista – o que só é permitido com a credencial de rádio e TV.

Com a negativa, Rohter ficou irritado e ofendeu voluntários e outros jornalistas. Quando um coordenador de imprensa no estádio tentou ajudar, foi bem claro, em português: ‘Vá à m…’. As informações são do blog Aydano no Pan, no Globo Online. Segundo outras fontes, Rohter teria ainda se queixado que ‘com uma organização dessas, esse Pan parece ser na República Dominicana, e não no Brasil’.

Seguindo política da empresa, os profissionais do NYT não dão entrevistas.’

CRISE AÉREA NA MÍDIA
Milton Coelho da Graça

A grande imprensa não ouviu, 26/07/07

‘‘O que podemos dizer a esses ilustres jovens militares? Não desistam. Os certos não devem mudar e sim os errados. Podem ter certeza de que milhares de pessoas estão do lado de vocês. Um dia, não se sabe quando, mas com certeza esse dia já esteve mais longe, as pessoas de bem desse País vão se pronunciar, vão se apresentar, como já fizeram em um passado não muito longe, e aí sim, as coisas vão mudar, o sol da democracia e da Justiça brasileira vai voltar a brilhar’. A declaração é do ministro do Superior Tribunal Militar, Olympio Pereira da Silva Junior, e foi feita durante a entrega de espadins a alunos que ingressaram nas academias militares do Exercito, Marinha e Aeronáutica, em julho deste ano.

A história, exatamente desse jeito, foi contada pelo jornal on-line Montblaat (www.montblaat.com.br), criado e dirigido pelo jornalista Fritz Utzeri, com a colaboração de vários companheiros. O jornal vive exclusivamente de assinaturas (e por preço bem pequenininho), mas é acessível gratuitamente por um mês.

Mais ditadura: como a música sofreu

O companheiro André Rocha e dois amigos criaram um site interessantíssimo – www.censuramusical.com -, onde estão disponíveis documentos do período de censura, aquela época da qual nosso ministro do STM tem tanta saudade. ‘Também estão publicadas’ – informa André – ‘entrevistas com cantores, compositores e depoimentos inéditos de uma ex-técnica de censura que relata o cotidiano da DCDP (Divisão de Censura de Diversão Públicas). O site terá atualizações periódicas, com novos documentos e entrevistas.

O Pan acaba. Mas Juca pede mais

Juca Kfouri, seguramente um dos jornalistas esportivos mais completos e respeitados do país, afirma que os Jogos Pan-americanos, mesmo acabando neste domingo, ainda serão discutidos em duas CPIs, uma no Congresso, outra na Câmara de Vereadores do Rio. O Comitê Olímpico vai ter de explicar como um orçamento de R$ 720 milhões acabou transformado em um custo real de R$ 4 bilhões. E o Governo Federal cobriu toda essa diferença para não deixar que o Brasil ganhasse uma medalha de ouro da irresponsabilidade. Juca contou tudo o que pensa sobre o Pan em uma entrevista ao repórter Lucas Ferraz, do jornal on-line www.congressoemfoco.com.br

Clarín começa a tocar por la grana

Grana, segundo o Houaiss e o Aurélio, tem origem desconhecida, mas tenho grande suspeita de que seja o lunfardo, a gíria de Buenos Aires. E o Grupo Clarín, que edita o jornal de maior circulação na Argentina, Clarín (400 mil em dias de semana, 800 mil aos domingos), vai lançar ações não só na bolsa local, mas também nos Estados Unidos e Europa, em busca de uma boa grana – aí por volta de uns US$ 500 milhões. Por coincidência, esse é o preço que o banco americano Goldman Sachs pagou há quase dez anos (na época da crise) por 18% do capital do grupo, que, com quase 8 mil funcionários, inclui também os jornais Olé e La Razón, seis revistas, gráficas, indústria de papel, agência noticiosa, oito emissoras de TV e rádios.

Há alguns meses o Goldman vinha negociando com um grupo sul-africano, que só ofereceu US$ 400 milhões. Aproveitando o boom econômico dos últimos anos no país, os sócios argentinos que detêm os restantes 82% querem recomprar a parte do Goldman (que pode vender essa fatia para um indesejável) e dividi-la entre alguns milhares de acionistas minoritários.

Depois, com o galope da globalização, ninguém sabe o que poderá acontecer. Mas, certamente, se tudo der certo, outros grupos editoriais da América Latina, inclusive no Brasil, poderão ser seduzidos pelo exemplo. Até porque o caminho das pedras já foi mostrado na televisão a cabo.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

MERCADO EDITORIAL
Comunique-se

Revista da Semana: lançamento da Abril fará resumo dos últimos sete dias, 27/07/07

‘Com o objetivo de informar rapidamente, reunindo os principais temas da imprensa nacional e estrangeira, chega às bancas em agosto a Revista da Semana. O lançamento é a nova aposta da Editora Abril no mercado de semanais, tendo como diferencial ser um agregador de informações voltado para quem tem pouco tempo disponível.

Cerca de 30 profissionais já estão trabalhando na revista, sob o comando de Wagner Barreira, futuro diretor de redação. A publicação terá por volta de 50 páginas, com textos rápidos, poucos gráficos ou infografia tendo como meta um tempo de leitura de menos de uma hora.

Uma edição zero estará pronta no dia 23/08. O primeiro número chega às bancas uma semana depois. ‘Existe no mercado brasileiro um segmento de público ávido por informação, que está acostumado a buscar as notícias em várias fontes. A partir de 30 /08, esses brasileiros terão toda a informação em um só lugar’, diz Barreira, por meio de press release.’

IMPRENSA REGIONAL
Marianna Senderowicz

O Taquaryense faz 120 anos em formato original de impressão, 27/07/07

‘O jornal O Taquaryense, de Taquari (RS), completa 120 anos em 31/07. O periódico, o segundo mais antigo em circulação do estado, foi fundado em 31 de julho de 1887 e mantém o mesmo processo de impressão – por tipografia – desde sua criação.

Fundado por Albertino Saraiva, o semanário permanece sob o comando da mesma família até hoje. Seu ex-diretor, Plínio Saraiva (que morreu em 2004), investia dinheiro pessoal para manter o semanário em funcionamento nos mesmos moldes do pai. ‘Por ter uma aposentadoria considerável, ele tinha condições de manter o jornal. Hoje, porém, a situação é mais complicada’, lembra José Harry Saraiva Dias, que ocupa o cargo que já foi do avô.

Segundo Dias, por não ter formato comercial – a impressão por tipografia dificulta inserção de fotos e anúncios, por exemplo -, O Taquaryense encontra dificuldades para continuar circulando. ‘Em 28/7 sairá a primeira edição de 2007’, lamenta.

As edições, que circulam principalmente em Taquari e na região metropolitana de Porto Alegre, são impressas em uma rotativa francesa do século 19, que imprimiu as primeiras edições do Correio do Povo, o jornal de maior circulação do Rio Grande do Sul.

Museu vivo

Na opinião de Dias, O Taquaryense é um verdadeiro arquivo da história gaúcha e nacional. Em suas páginas foram publicadas matérias referentes à Proclamação da República, Abolição da Escravatura, guerras mundiais e a fatos mais recentes como o impeachment de Fernando Collor de Melo e a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência. Todo o acervo do jornal foi microfilmado por meio de um projeto em parceria com o Centro Universitário Univates, de Lajeado (RS), que fez do semanário uma fundação e o transformou em um museu vivo da comunicação.

Entretanto, conforme o diretor, a parceria foi desfeita no fim do ano passado porque não arrecadou dinheiro suficiente, o que inviabilizou a continuidade da publicação. ‘Já recebemos propostas para modernizar a estrutura e garantir um retorno econômico, mas ainda não há uma decisão concreta sobre mudar o formato de impressão.’

O semanário, que conta com a participação de colaboradores da região e não tem redação própria, possui 500 assinantes. Os microfilmes das edições antigas estão disponíveis ao público no endereço Sete de Setembro, 1849, na cidade de Taquari, localizada a 94 Km da capital gaúcha.’

CARTA A UMA PAIXÃO…
Comunique-se

Japiassu reúne em livro crônicas publicadas na década de 80, 27/07/07

‘Os fãs de literatura acabam de ganhar mais uma obra para apreciar. Do jornalista Moacir Japiassu, colunista deste Comunique-se, o livro ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’ proporciona uma viagem no tempo – duas décadas atrás. Trata-se de uma coletânea das crônicas semanais publicadas entre 1986 e 1989 no suplemento ‘Modo de Vida’, do Jornal da Tarde.

Com episódios capazes de nos fazer rir e outros de chorar, Japiassu passeia entre os sentimentos de amor e amizade. Às vezes, mostra a perplexidade diante das novidades do mundo moderno, sempre com bom humor e uma pitada de saudosismo. Escrevendo em época de Plano Cruzado, a crítica política também não falta.

O ‘sertanejo de João Pessoa’, como se autodenomina, revela nas 50 crônicas as passagens mais importantes de sua infância, adolescência e início da fase adulta, usando sempre a ironia.

A idéia de publicar as crônicas em livro se deu por acaso. Japiassu estava – e ainda está – escrevendo um outro romance quando, durante uma pausa nesse trabalho, resolveu reler textos antigos ‘para aliviar a cabeça’. ‘Deparei com algumas das crônicas escritas para o Jornal da Tarde e gostei de reviver aqueles tempos. Perguntei ao meu amigo e editor Nélson dos Reis se ele achava que os textos mereciam publicação. Ele disse que sim; então, selecionei os 50 que compõem ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’, título de uma das crônicas’, conta o autor.

Na época da publicação das crônicas, o público leitor do suplemento do JT era essencialmente composto por mulheres. ‘Eram fiéis leitoras, escreviam cartas ao cronista, sugeriam temas. Muitas apareciam na redação onde trabalhava dispostas a conhecer o autor que tanto abria o coração naquelas páginas’, lembra.

O amor, por fim, é o tema que permeia todas as páginas da obra. ‘Amar é sempre prazeroso. Foi e assim será pelos séculos afora. Apaixonar-se é, talvez, a mais formosa das loucuras’, acrescenta Japiassu.

‘Carta a Uma Paixão Definitiva’, de Moacir Japiassu

Editora Nova Alexandria

Preço: R$ 31,00

144 páginas’

WEBJORNALISMO
Ana Maria Brambilla

Jornalismo colaborativo funciona, 27/07/07

‘Fonte:Jornalistas da Web – Há tempo um fato não repercutia tão polemicamente no meio jornalístico: no auge da cobertura do desastre aéreo com o vôo JJ 3054 da TAM, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o UOL publica a imagem de uma pessoa se jogando do alto do hangar da companhia aérea em meio às chamas. O conteúdo teria sido enviado por um internauta que atendia ao chamado do portal: ‘Você manda: a tragédia em Congonhas’. Vinte e oito minutos mais tarde, outro (?) internauta alerta o UOL de que se tratava apenas de uma montagem e que a cena do corpo caindo naquela foto não passava de um trabalho amador em Photoshop. O portal admitiu o erro publicamente e retirou a imagem do ar – e ainda levou um puxão de orelha da ombudsman Tereza Rangel. Pelo menos!

O episódio provocou questionamentos sobre a eficácia do jornalismo colaborativo e despertou uma certa alegria vingativa nos coleguinhas cabeças-de-papéis que não acreditam que cada cidadão possa ser um repórter. Era possível sentir o clima de ‘Eu avisei! O público só faz besteira. Quem diz a verdade somos nós, jornalistas!’.

É bom lembrar, no entanto, que aquela imagem não foi parar na homepage do UOL pelas mãos de um internauta. Mas de um jornalista. Ou ao menos deveria! O conteúdo produzido pelo usuário pedido pelo UOL nessa tentativa mambembe de jornalismo colaborativo não era publicado imediatamente. E isso está correto! É preciso que haja o olhar do jornalista antes de um conteúdo ser veiculado. Olhar esse que consiste em checagem de informações e edição. É simples! São duas funções que qualquer jornalista deve – ou deveria – saber desempenhar. Principalmente quando se trata de UGC (user generated content ou, no português, conteúdo gerado pelo usuário). Esses dois processos justificam a importância e a necessidade do profissional no jornalismo colaborativo. E foram esses dois processos que, claramente, foram negligenciados pela redação nesta trapalhada do UOL.

Faltou jornalista. Faltou olhar clínico. Faltou humildade para pedir ajuda a fotógrafos, designers e cinegrafistas. Faltou a tal vigilância que a imprensa tanto se orgulha de ter perante a origem das informações. Faltou competência. E sobrou afobação.

Reparem nesse trecho em que Tereza Rangel relata como aconteceu a correção:

‘Diante desses avisos (dos internautas apontando a farsa), a redação consultou a Gerência de Interface do UOL. Na opinião deles, parecia ser uma fotomontagem e merecia investigação. Assim, a equipe de UOL Fotoblog passou a olhar álbuns da concorrência em busca de alguma foto que se assemelhasse a essa (ou seja, tirada por outra pessoa de um outro ângulo) ou que fosse idêntica, exceto por alguns detalhes (ou seja, a foto original sobre a qual teria sido feita a fotomontagem). A redação descobriu uma foto idêntica à enviada pelo internauta, exceto pela imagem do corpo que caía.’

Ah, então a Gerência de Interface do UOL soube constatar a fotomontagem? Então a equipe do UOL se prestou a pesquisar álbuns da concorrência? E não é que a redação descobriu uma foto idêntica, mas sem o corpo? Então apuração é algo possível! Por que não foi feita ANTES da veiculação?

Outro detalhe: o UOL sequer se deu ao trabalho de checar no Google quais as referências do dito autor daquela foto. Identificado aleatoriamente por ‘Junior Ferrarye’, esse sujeito simplesmente não existe para o maior buscador de conteúdos na Rede. Dar um Google no cara e encontrar nenhum resultado não é um procedimento cabal, mas serve ao menos para levantar suspeitas sobre a veracidade da identidade desse colaborador.

E vejam que curioso: quando procurei o nome no Orkut, o sistema me deu acesso ao perfil de um certo Leandro Jönk, que assim se apresenta: ‘Quem sou eu: fake!’.

Essa total falta de aptidão – e até de uma certa malícia – para trabalhar com conteúdo colaborativo por parte do UOL, infelizmente, não me surpreende. Desde que ouvi a diretora de conteúdo do portal, Márion Strecker, comparar jornalismo colaborativo a um ‘show de calouros’ (nas suas palavras!), fica clara a postura de um veículo que, apesar de ser nato da Internet, pensa papel.

E pensar papel é manter como norte a arrogância do jornalista como dono absoluto do poder de fala. É não reconhecer no público o potencial de melhorar o nível de jornalismo, seja enviando conteúdos de qualidade, seja aguçando a capacidade do jornalista gerenciar um espaço editorial. É ver o cidadão repórter como concorrente, não como aliado.

Aliados, a propósito, são conquistados com o tempo, com confiança mútua e interesse de ambas as partes. Se o UOL não quis ao menos saber quem era seu colaborador, não merece a sua seriedade.

Longe de mim achar correta a atitude deste cidadão-repórter-zombeteiro. Mas, infelizmente, espíritos de porcos estão por toda a parte. E no ciberespaço também. Quero dizer, com isso, que não apenas noticiários colaborativos online estão suscetíveis a receber informações falsas. Aliás, não apenas a mídia colaborativa pode veicular inverdades. Caso contrário, Jayson Blair não seria a vergonha da história de um dos jornais mais críveis do mundo, o The New York Times.

Identificar, checar, apurar, confirmar, pesquisar, desconfiar, editar, conversar… Isso toma tempo e dá trabalho! Mas acaba sendo tão oneroso quanto fundamental para a decência de um espaço de conteúdo colaborativo.

É possível entender, assim, que jornalismo colaborativo dá muito mais trabalho ao profissional de imprensa do que o jornalismo tradicional?

É possível se dar conta de que não é qualquer jornalista que pode trabalhar com conteúdo colaborativo e que, para isso, deve-se ter todo um preparo, uma visão específica do processo?

É possível, por fim, admitir que jornalistas profissionais, bem preparados nunca foram tão necessários e que o fato de cada cidadão ser um repórter não significa que precisemos rasgar nossos diplomas?

O vexame dado pelo UOL foi extremamente útil para nos provocar esses questionamentos. O saldo me parece: mais do que comprovar que o UOL não sabe fazer jornalismo colaborativo, ficou claro que a colaboração funciona! Especialmente porque o erro foi apontado pelos próprios internautas. Basta ter jornalistas competentes e ouvir o que o público diz.

(*) Jornalista, mestre em Comunicação e editora assistente de conteúdo colaborativo na Editora Abril.’

Tiago Cordeiro

Blue Bus apaga notícia falsa e desmentido, 26/07/07

‘Na terça-feira (24/07), o site Blue Bus divulgou nota sobre um possível retorno da revista Amiga, que seria republicada pela Editora Símbolo. A notícia estava correta, porém atrasada em dois anos e foi dada pelo jornalista Eduardo Ribeiro, colunista do Comunique-se. De acordo com o editor Julio Hungria, o erro ocorreu porque uma fonte ‘que era confiável, não é mais’ enviou a notícia como se fosse atual.

‘Ficou umas duas horas. E depois disso, a própria Símbolo desmentiu a notícia e publicamos, mas eu deletei essa nota também depois de uns três minutos’, explica Hungria.

De acordo com o editor, a decisão de apagar os dois textos foi tomada para evitar confusões, já que a segunda nota trazia uma mensagem da Símbolo dizendo que não publicaria a revista, sem que o veículo explicasse que a confusão ocorrera por uma notícia atrasada. Ele descartou a hipótese de publicar uma errata sobre o incidente. Embora não seja mais possível ler a nota, o Google ainda identifica o texto apagado em sua busca.

‘O que o Blue Bus cometeu foi um erro de engano, como diriam nossos irmãos lusitanos. Como também eu já cometi. E quem não cometeu que atire a primeira pedra. Mas talvez fosse melhor explicar isso para os leitores, coisa que, me parece, não foi feita. Se fizer isso, está tudo certo’, declarou Eduardo Ribeiro ao Comunique-se.’

Bruno Rodrigues

Ponto perdido no meio da curva

‘Há exatos três anos, meu amigo Fernando Villela, o FerVil, pioneiro do jornalismo online no Brasil, era assassinado dentro do carro, em um assalto; há cinco meses, o pequeno João Hélio morria arrastado pelas ruas do Rio; há uma semana, parentes e amigos das vítimas do vôo 3054, em choque, tentavam entender que país é esse – mais uma vez.

É chato voltar a estes assuntos, não é? Incomoda.

Como disse o psicanalista Jorge Forbes no programa ‘Saia Justa’ (GNT) de ontem, pega mal para os brasileiros, os eternos festeiros, dar muita atenção a tragédias e mortos. Um minuto de silêncio em estádios de futebol está muito bom, e olhe lá.

A vida continua, bola pra frente e vamos lá que atrás vem gente. Que gente? Seríamos nós mesmos, os eternos extrovertidos, animados e simpáticos brasileiros? Lembrar os mortos, pela cartilha do ‘bom selvagem’, é ser melancólico, olhar para trás, viver no passado.

Por isso insisto, repito, copio e reproduzo aqui, como um eco daqueles bem incômodos, e tão igual à dor aguda que o estampido de um revólver e a explosão de um avião deixam no ouvido, o texto que escrevi quando meu amigo Fernando morreu, em 2004:

‘FerVil se foi

Eu estava com meu filho no colo, fazendo hora em frente a um jornaleiro. Era 1996, e a edição da ‘Revista da internet.br’ olhava para mim, apenas esperando que eu a comprasse. E lá estava o Fernando, posando para a foto do editorial que ele assinava como editor da primeira publicação brasileira sobre internet.

De lá pra cá, FerVil acompanhou minha vida, e eu a dele, em alguns momentos à distância, em outros bem de perto. Estive com ele há poucos dias, no grupo de estudos de webwriting.

Ele havia aceito o convite para participar, e em nossa última troca de e-mails, eu pedia: ‘não some, cara, eu sinto falta de você, e toda a nossa área carece de sua inteligência’. O Fernando brincou: ‘Não se preocupe, não, Bruno, ressuscitei de vez’.

Quando lancei meu primeiro livro, pedi que o FerVil escrevesse o prefácio. Só podia ser ele, mais ninguém. Ele era a minha referência. No meu primeiro curso de webwriting, foi FerVil que chamei para ministrar uma palestra. Ele estava de malas prontas para ir trabalhar em São Paulo, no iG, e me perguntou se eu achava que ele devia mesmo ir. ‘Fernando, sou suspeito’, disse. ‘Você só tem a acrescentar, em qualquer lugar’.

Nos reencontramos aqui, na Webinsider, e passamos mais de um ano, eu, ele o Vicente, querendo marcar um almoço que nunca saiu. Há pouco mais de um mês, ele reapareceu no meu curso, como aluno. Quando adentrou a sala, parei tudo, e, num misto de brincadeira e reverência, perguntei: ‘Você veio me dar aula, não é?’. FerVil ficou vermelho. ‘Só pode ser brincadeira, Fernando!’. Era – e não era. Ele queria se reaproximar do jornalismo online, do webwriting, do bom e velho mercado, após alguns anos trabalhando com conteúdo para telefonia celular. E queria entrar de cabeça no meio acadêmico. ‘Você sabe que deixou uma lacuna’, eu disse. ‘Os estudantes precisam de você’. Ele só sorriu. Na noite desta segunda-feira, FerVil foi assassinado em uma tentativa de assalto, dentro do carro, ao sair do trabalho. Assim, de um jeito que não merece mais uma linha de explicação.’

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

IMPRENSA SEM TRANSPARÊNCIA
Comunique-se

Estudo afirma que mídia mundial não mantém transparência com o público, 25/07/07

‘O International Center for Media and the Public Agenda (ICMPA) divulgou nesta semana um estudo sobre a transparência da mídia mundial. Em seu site, o instituto cita recentes escândalos extensamente abordados pela mídia como o do ex-assessor Lewis Libby e das empresas Enron e Arthur Andersen (investigadas por fraude em auditorias).

‘Os casos Libby, Enron and Arthur Andersen exigem a introdução do termo ‘transparência’ na frente das notícias. Mas quão transparentes são os veículos? Quão imparciais eles são sobre como cobrem as notícias? Como os veículos procuram fazer suas reportagens e edições de seus padrões públicos?’, afirma o texto que anuncia a pesquisa.

O ICMPA foi criado pela Universidade de Maryland e pela Faculdade Merrill de Jornalismo, em 2006. O objetivo do Centro é estudar a mídia em todo o mundo, estendendo seus estudos ao universo acadêmico das duas instituições de ensino.

Processos

De acordo com o estudo, a maioria dos veículos evita permitir que o público veja como seu processo editorial funciona. ‘A imprensa pede transparência para governos, corporações e todo mundo. Mas aqui os repórteres rejeitam transparência para eles mesmos, e ainda dizem que estão praticando bom jornalismo. O público precisa da explicação completa, que só pode ser dada pelos próprios repórteres’, afirma o repórter Sydney Schanberg, vencedor do prêmio Pulitzer, no texto que conclui o estudo.

A pesquisa comprova que os jornalistas não apenas hesitam em explicar o que e como sabem, mas também são reticentes para admitir erros e permitir que o público leia suas críticas internas. O estudo propôs questões aos 25 maiores veículos do mundo. Cada um deles foi dividido em cinco categorias de transparência: correções (como retificam seus erros), posse (que avaliou se está claro para os leitores quem são os donos da organização), políticas de funcionários (como a empresa lida e se previne contra eventuais conflitos de interesses), políticas editoriais (se os veículos explicam aos leitores seus valores e ideais) e interatividade (o veículo é aberto a comentários e críticas?).

Posse

Como resultado, a pesquisa avalia que, entre as questões propostas, a melhor avaliação dos sites das empresas está no fato delas revelarem a quem pertencem. A maioria mantém algum aplicativo onde leitores podem comentar ou enviar críticas, mas não se preocupa em respondê-los ou usá-los em seu conteúdo. O fato de apenas sete dos 25 veículos manterem um ombudsman é explicado como prova da falta de preocupação com a opinião dos consumidores de notícias. Dos que têm ombudsman, cinco são jornais e dois são as rádios CBS e National Public Radio.

A maior surpresa fica por conta da forma como os sites publicam suas correções. De acordo com o estudo, apenas 11 dão visibilidade às suas retificações. A pesquisa conclui afirmando que embora a transparência não garanta a honestidade individual de cada repórter – como o exemplo de Jayson Blair demonstra – ela permite que os leitores entendam melhor o julgamento de cada veículo para cada cobertura.’

VENEZUELA
Comunique-se

RCTV pode sair do ar novamente, 27/07/07

‘Autoridades venezuelanas exigiram que a Radio Caracas Televisión (RCTV) apresente seu registro como operador nacional de cabo perante a Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela (Conatel). A exigência foi feita na quinta-feira (26/07) e, caso a empresa não se registre, pode sair do ar novamente – a RCTV não teve sua concessão de sinal aberto renovada pelo governo de Hugo Chávez.

Jesse Chacón, ministro das Telecomunicações, afirmou que a exigência está de acordo com a Lei de Responsabilidade Social para Rádio e TV que obriga que qualquer operadora de TV a cabo possa colocar a RCTV em sua grade. ‘Eles deveriam estar inscritos, e não foi respeitado o trâmite. A lei estabelece um prazo de cinco dias úteis para que respondam’, advertiu Chacón, que pediu aos operadores de cabo que comprovem que a empresa possui o registro e o enviem ao ministério o quanto antes.

‘Se não cumprirem as exigências, será aberto um processo administrativo’, declarou o ministro se referindo aos operadores. Entretanto, a RCTV alega que deve ser tratada como um canal internacional, pois, além de sua sede agora ficar em Miami, possui acionistas americanos.

Sobre a obrigatoriedade de veicular mensagens oficiais do governo venezuelano, a emissora afirma que ‘transmite para vários países da América Latina, assim como a Telesur, a Sony, a Televisión Española ou a CNN, pelo qual não pode emitir mensagens de um governo particular’, como disse Oswaldo Quintana, vice-presidente jurídico da RCTV Venezuela, à Agência France Presse.

(*) Com informações da Agência France Presse.’

MEMÓRIA / JODOÉ DE SOUZA
Marianna Senderowicz

Morre o jornalista gaúcho Jodoé Caxias de Souza, 27/07/07

‘O jornalista e radialista gaúcho Jodoé Caxias de Souza morreu na última quarta-feira (25/07) em decorrência de um câncer. O comunicador, que nasceu em Bagé e vivia em Porto Alegre desde a infância, teve passagens pelos veículos Rádio Difusora, Folha da Tarde, Folha da Manhã, Rádio Guairá, TV Guairá, Correio do Povo e Zero Hora.

Souza, que morreu aos 68 anos, foi enterrado no cemitério São Miguel e Almas, na capital gaúcha.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Imorredouro fedor, 26/07/07

‘Numa tarde de Barcelona,

tarde também na Borborema,

vertia uma gota de sangue cada poema.

(José Nêumanne Pinto in Barcelona, Borborema)

Imorredouro fedor

Intrigadíssimo, com as barbas de molho e os dois pés atrás, o considerado José Truda Júnior leu no Plantão de O Globo:

Obra em gabinete de Renan deve acabar com mau cheiro

BRASÍLIA – A Diretoria-Geral do Senado aproveitou o recesso parlamentar para tentar acabar de vez com um forte odor que vinha incomodando os ocupantes das salas que compõem o gabinete da Presidência do Senado, onde trabalha o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Segundo informações da assessoria de imprensa da Casa, durante determinada hora do dia várias dependências da presidência eram invadidas por um mau cheiro, um refluxo com odor de esgoto. (…) Não foi realizada nenhuma licitação e ainda não há como estimar os gastos.

‘Não sei nem o que dizer diante desta notícia’, escreveu Truda, notícia que também deixou Janistraquis cabreiro e com várias pulgas atrás da orelha:

‘Considerado, tenho certeza de que não existe obra de engenharia capaz de eliminar os odores expelidos por Renan; e a ausência de licitação prova e comprova essa verdade.’

******

Temperatura alta

O considerado Enéas Ladeira Mendes, advogado em São Paulo, foi o primeiro de dezesseis leitores a denunciar o desastre que também vitimou este Comunique-se, a julgar pelo texto intitulado Tragédia no vôo 3054: emissoras deram diferentes espaços para o acidente:

A primeira emissora a chegar ao local foi a Rede Bandeirantes, antes das 19h. O repórter Márcio Campos sobrevoava a cidade com o helicóptero da emissora para dar o boletim de trânsito no Brasil Urgente. (…) Ele enxergou algo que parecia com a calda de um avião’, afirma o repórter Rodrigo Hidalgo, repórter da TV Bandeirantes, que esteve na cobertura da tragédia na quarta-feira (19/07). A emissora chegou ao local às 18h56min.

Um dos ‘denunciantes’, o qual preferiu não assinar a mensagem, foi o mais, como direi, desalmado:

‘É macabro, mas o redator do C-se, ao falar de calda de avião, deve ter pensado nos mil graus a que chegou a temperatura do incêndio. Alguns já estão dizendo que escreveu isso por falta de glicose no sangue. Suspeito que ele queria um sorvete com calda de caramelo e transferiu tal desejo inconscientemente para o texto.’

Janistraquis comentou com certa ingenuidade:

‘É, considerado, no dos outros é sempre refrescante…’

******

Jardim da esperteza

Deu no UOL:

Brasil de Lula é ‘paraíso de ricos’, diz Figaro

O Brasil governado pelo ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva é o ‘paraíso dos ricos’, de acordo com uma matéria publicada nesta quinta-feira no jornal francês Le Figaro.

Em texto intitulado ‘Política econômica de Lula faz a alegria dos ricos brasileiros’, o diário matutino afirma que (…) ‘As fortunas brasileiras souberam tirar proveito da política econômica do governo Lula. Com o objetivo de conter a inflação, ele tem mantido as taxas de juros em níveis astronômicos, fazendo a alegria do setor financeiro’.

‘Diferente do passado, os ricos não se concentram no eixo Rio-SP. O Nordeste, região historicamente miserável – e de onde Lula é originário – conta com mais de mil milionários, que querem reproduzir a vida da elite paulista.’ Segundo o diário francês, ‘as cópias de lojas Daslu se multiplicam em Salvador, Recife e Fortaleza, onde as coleções de bolsas Gucci se multiplicam’.

Janistraquis, que jamais teve dinheiro em nenhum governo ou regime, perorou com a discrição de um comensal do La Tour d’Argent:

‘Se há alguma instituição francesa que merece respeito é o Le Figaro.’

******

Zé Nêumanne

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo excerto encima esta coluna. Pertence à generosa lavra de José Nêumanne Pinto e faz parte do seu festejado livro intitulado Barcelona, Borborema.

******

Só para militares

A considerada Miriam Abreu, nossa editora neste C-se, passou todo um final de semana a se recuperar do choque, depois despachou da Redação:

Estávamos escrevendo sobre a triste morte de Ismar Cardona quando tivemos que acessar o site do Memorial do Carmo, do Rio de Janeiro, onde ele foi enterrado no sábado passado. O slogan deles é, pasme, ‘O primeiro cemitério vertical do Rio. O único com qualidade de vida’. Que horror! Confira em http://www.memorialdocarmo.com.br/.

Janistraquis conferiu e também ficou besta, ó Miriam, mas como encontra explicação para tudo e anda mais enrolado do que os assessores do presidente, mandou ver:

‘Acontece que a parte mais antiga do Memorial do Carmo, realmente o único cemitério do mundo com ‘qualidade de vida’, é chamada de ‘vertical’ porque foi construída por militares na época da guerra do Paraguai; ali o herói era sempre sepultado em posição de sentido.’

******

Rir ou chorar?

Toda a mídia se ocupou deste assunto:

Estatuto da criança e do adolescente completa 17 anos.

Janistraquis refletiu e refletiu e me perguntou acerca desta que ainda é menor de idade:

‘Considerado, é pra rir ou pra chorar?’

Respondi que é melhor deixar assim pra ver como é que fica.

******

Macaquices

O considerado Paulo Emílio Martins, aeroviário no Rio de Janeiro, envia título de matéria que leu na Folha de S. Paulo:

Chimpanzés são capazes de ato generoso, diz estudo (Grupo da Alemanha demonstrou altruísmo sem nepotismo entre esses macacos)

Martins anexou o seguinte e instigante comentário:

‘Você há de convir que é duro a gente suportar o egoísmo da Martha Suplicy, quando até macacos fazem o bem sem olhar a quem…’

Janistraquis concorda e também lamenta; e convida o honorável leitor a ler a íntegra da matéria abrigada no Blogstraquis.

*****

Comendo m…

Sob o título Yoko Ono come cachorro para protestar contra caça à raposa, lia-se na Folha de S. Paulo:

A viúva de John Lennon, Yoko Ono, e o artista britânico Mark McGowan comeram nesta terça-feira um cão da raça corgi, a favorita da rainha Elizabeth II, para protestar contra a caça à raposa.

McGowan, que já tinha comido um cisne durante uma performance, ‘jantou’ o cão ao lado de Yoko Ono durante um programa de rádio em Londres.

Janistraquis fez aquela cara de nojo de quando vê os políticos corruptos na televisão:

‘Considerado, como neste país imitam todas as besteiras que fazem lá fora, prepare-se: daqui a pouco teremos alguns politicamente corretos a comer m… para protestar contra a proliferação dos lixões…’

******

De cavalos

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo varandão debruçado sobre a incompetência oficial ainda se avista o ministro (?) Waldir Pires a esvaziar lerdamente as gavetas cheias de xarope Levantol, pois Roldão dessa vez lia O Globo, só para espairecer, quando encontrou esta notícia a galopar sob o título Brasileiros ficam fora da briga por medalha no cavalo:

Rio – Os brasileiros Moshiah Rodrigues e Danilo Carvalho tiveram uma pontuação abaixo do esperado e ficam foram (sic) da disputa por medalha no cavalo. O ouro ficou com o venezuelano José Luís Fuentes que ganhou ouro na prova individual geral. Moshiah ficou com 14.525 pontos e Danilo com 14.250.

Roldão, que nunca precisou disputar as provas do Pan para ser um campeão, foi atropelado por dúvida crudelíssima:

Por falta de mais esclarecimentos, fiquei pensando que se tratasse de uma prova de hipismo. Pesquisando outras fontes, descobri que era uma prova de ginástica sobre o cavalo-de-pau…

******

Nota dez

O considerado Augusto Nunes escreveu na coluna Coisas da Política, do Jornal do Brasil:

‘Ninguém bateu no ar, tá?’, zangou-se Denise Abreu, diretora da Agência Nacional da Aviação Civil, no meio da entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. ‘Então, o acidente não tem nada a ver com o número de vôos em Congonhas. Vocês estão confundindo. O acidente é o acidente. O sistema aéreo é o sistema aéreo’.

Denise sempre se zanga quando confrontada com questões incômodas. Em outubro passado, dias depois da queda do Boeing da Gol na selva de Mato Grosso, perdeu a paciência com as perguntas de parentes que teimavam em enterrar seus mortos. ‘O avião caiu de 11 mil metros de altura’, esbravejou. ‘Vocês são inteligentes. O que esperavam? Corpos?’.

Leia no Blogstraquis a íntegra do texto que revela os males desse lamentável conúbio entre a má-fé cínica e a obtusidade córnea de que nos fala o Mestre Eça de Queirós.

******

Errei, sim!

‘MULHERES, SIM! — O Diário do Povo concorre realmente em todos os níveis com o Correio Popular, se arquiinimigo em Campinas (SP). Acidente provoca cinco mortes, anunciava necrologicamente o título. No texto, lia-se: ‘Um padre e três freiras, além de duas pessoas não identificadas(…)’. Mais abaixo, o redator havia escondido: ‘Duas mulheres que viajavam no caminhão também morreram mas não foram identificadas’. Janistraquis não gostou: ‘Considerado, então não eram duas pessoas, mas duas mulheres! Isso parece coisa da Folha da Tarde…’ (fevereiro de 1992)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros(dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro

Jornalismo e negócios, mistura perigosa, 27/07/07

‘O XIS DA QUESTÃO – Em Portugal se discute um desvio ético de jornalistas que, sob a falsa capa de acionistas, assistem a assembléias gerais de um grande banco, para obter e divulgar informações supostamente convenientes aos grupos que os credenciaram, usando como referencial fontes não identificadas. Será que podemos fazer analogias com o jornalismo brasileiro?

1. Um caso cabeludo de instrumentalização

O jornalismo português vive um momento de discussão sobre comportamentos ética e deontologicamente inconvenientes, verdadeiramente inusitados, que caracterizam uma nova modalidade de uso do jornalismo e dos jornalistas para fins que nada têm a ver com informação de interesse público. Mas que têm a ver, e muito, com negócios, investimentos e lucros, no mercado de capitais. O desvio ético envolve interesses de acionistas do BCP – Banco Comercial Português, a mais poderosa instituição bancária do país.

O caso aflorou no noticiário por meio de uma reportagem no diário Público, dia 29 de maio passado. Em texto assinado pelas repórteres Natália Faria e Rosa Soares, revelava-se que um jornalista do Expresso (principal semanário do país) assistira à Assembléia Geral do BCP, com credenciais passadas pela própria empresa jornalística em que trabalhavam. O Expresso havia comprado um lote de ações do banco e, na condição de acionista minoritário, estava interessado em conseguir e usar informações obtidas de forma privilegiada. Para isso colocou jornalistas dos seus próprios quadros na Assembléia Geral do banco, com representação de acionistas.

O caso entrou e ganhou repercussão no espaço da discussão pública graças a um artigo do colunista e ex-provedor de leitores do mesmo Público, no qual ele criticava a aparente facilidade com que jornalistas vestem a ‘camisa’ que circunstancialmente lhes convém, ‘ignorando a questão de princípios’.

Mas, em vez de regredir, a prática ampliou-se, tendo em vista a realização de mais uma Assembléia Geral do BCP, esta no próximo dia 6 de agosto. Por alguns meios de comunicação da área econômica, soube-se que a Associação de Investidores e Analistas Técnicos do Mercado de Capitais passou a comprar ações do BCP para, em seguida, passar procurações aos jornalistas interessados em assistir à assembléia geral do referido banco. E tudo isto coincide com uma estranha proliferação, nos espaços jornalísticos de Economia e Negócios, de declarações de analistas e operadores do mercado de capitais não identificados.

A situação levou o Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas a divulgar, dia 25 de julho, uma Recomendação, em que, depois de detalhar os fatos, considera ‘ética e deontologicamente reprovável que jornalistas assumam, no exercício profissional, papéis que não são os seus’, lembrando que a regra da obrigatoriedade da identificação como jornalista só pode ter exceções justificadas ‘por razões de incontestável interesse público’ – e não é este o caso, ao que parece.

Em sua recomendação, o Conselho de Ética adverte para ‘o risco de instrumentalização’ que tais expedientes podem acarretar ‘para a credibilidade do jornalismo e dos jornalistas envolvidos’. E concita a Comissão do Mercado de Valores Imobiliários ‘a derrubar as barreiras no acesso à informação, em vez de pretender a ajuda de jornalistas para controlar o mercado’.

2. Pontos de preocupação e discussão

Sobre o assunto, conversei hoje, por telefone, com Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Portugal. E ele me manifestou a grande preocupação da entidade com esse caso de outorga de mandatos de acionistas a jornalistas. ‘Eles se apresentam com a capa de acionistas apenas para, em favor de quem os credenciou, fazer relatos públicos do que se passa nas assembléias gerais de um banco de grande expressão financeira, ‘.

Alfredo Maia vê no episódio três questões que particularmente o preocupam, e que, em sua opinião, deveriam ser debatidas pela classe e pela própria sociedade:

1) A configuração de uma forma de acesso privilegiado à informação, contrariando o preceito constitucional de garantia de acesso sem discriminações à informação.

2) O comprometimento da independência indispensável ao jornalismo e à sua confiabilidade social. Ao assumir outros papéis que não os seus, os jornalistas abrem mão, também, da sua próprias razão de ser, tornando-se dependentes de interesses que nada têm a ver com os objetivos da profissão nem com as expectativas sociais que a cercam.

3) O sacrifício da virtude da lealdade, própria da dignidade da profissão. Ao se beneficiarem de acessos privilegiados à informação, os jornalistas que aceitam ser usados em tais expedientes traem o dever de lealdade que têm para com os colegas.

Embora ainda seja cedo para avaliar resultados da Recomendação emitida pelo Conselho de Ética do Sindicato, Alfredo Maia acredita que a discussão que já ocorre possa motivar uma tomada de consciência nas redações, por parte tanto dos diretores quanto dos jornalistas, para que sejam repudiadas quaisquer tentativas de instrumentalização que ameacem a confiabilidade da informação jornalística.

******

A partir da revelação deste caso de desvio ético no jornalismo português, e das discussões que o assunto já motiva em Portugal, seria o caso de perguntar:

– Será que temos práticas desse tipo também no Brasil?

– No caso da imprensa brasileira, a abusiva freqüência de informações atribuídas a fontes não identificadas não poderá fazer parte de estratagemas de acesso privilegiado a informações, tendo em vista não o interesse público da informação, mas o favorecimento de empresas, partidos políticos, governantes, e outros que tais, nos jogos do poder e dos negócios?

Pode ser uma bela discussão.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

CNN e YouTube reinventam os debates presidenciais, 23/07/07

‘Hoje, segunda-feira, os americanos estarão diante de uma verdadeira revolução no formato e conteúdo dos debates presidenciais. A CNN do grupo Time-Warner e o YouTube do Google anunciaram uma parceria para transmitir ao vivo pela TV e pela Internet o debate com oito pré-candidatos democratas (ver aqui). A principal novidade fica por conta das perguntas que foram gravadas em vídeo pelo público e transmitidas via rede para os organizadores.

Os presidenciáveis democratas em maior evidência como Hillary Clinton, Barack Obama e John Edwards responderão ao vivo, pela CNN, a perguntas que foram enviadas para o YouTube há vários dias. Os americanos buscam mudanças no jornalismo e na política e pelo jeito os jornalistas foram excluídos dessas mudanças. Para Jeff Jarvis, ex-crítico de TV e hoje blogueiro especializado em mídia e política (ver aqui buzzmachine.com), ‘com esse novo formato, os jornalistas tradicionais podem aprender fazer perguntas melhores aos políticos’. Tremendo puxão de orelha! E tem gente que ainda duvida do poder do jornalismo participativo e das TVs na Internet.

Primeiro debate pela TV

Trata-se de momento histórico na transmissão de debates políticos. Em 1960, Richard Nixon, um tarimbado político foi massacrado pela bela e jovem figura de John Kennedy no primeiro debate transmitido ao vivo pela TV. Nixon sabia tudo de política, mas menosprezou o poder do novo meio. Kennedy disse pouco mas mostrou muito mais. Quem ouviu o debate pelo rádio, preferiu Nixon. Quem viu Kennedy na TV ficou deslumbrado.

A audiência para a novidade foi estrondosa, recorde histórico. Cerca de 66 milhões de americanos assistiram ao debate em uma população total de 179 milhões. A título de comparação, para entender a perda de poder do meio televisivo e desinteresse pela política nos últimos anos, nas eleições de 2004, em uma população de mais de 300 milhões, somente 62.5 milhões de telespectadores assistiram aos debates presidenciais. Kennedy ganhou as eleições e a TV marcava a sua presença definitiva e determinante nas futuras eleições nos EUA e nos demais países.

Hoje, os produtores de TV reconheceram a ameaça da Internet e resolveram reinventar os debates políticos. Vale tudo para não perder ainda mais verbas publicitárias e audiência. E o público apóia a novidade. Foram postadas mais de 2000 perguntas em diversos formatos de vídeo. A maioria dessas perguntas foi produzida de forma bem tradicional. O telespectador ou internauta ficou de frente para câmera e fez sua pergunta. Questões previsíveis sobre saúde, economia e política em geral.

Exclusivo pela Internet

Mas algumas produções enviadas para o YouTube foram bem mais ousadas e criativas. Teve gente que recorreu a vídeos de arquivo com o ex-presidente Eisenhower para lembrar e cobrar dos políticos de hoje as ameaças da indústria bélica contra a democracia americana. Não faltaram perguntas sobre o caso de adultério do ex-presidente Clinton para a pré-candidata democrata, a senadora Hillary Clinton. Segundo matéria do New York Times (ver aqui), enquanto candidata que lidera as pesquisas, ela deve ser o grande alvo de ataque do público e dos demais candidatos.

Mas o que mais surpreendeu os organizadores do debate foi o maior número de perguntas sobre a crise em Darfur na África que superou as perguntas sobre o Iraque. É evidente que os americanos não suportam mais esse assunto, querem soluções imediatas e, se possível, evitar novos conflitos.

Seguindo o mesmo formato, os Republicanos também serão questionados pelos eleitores em 17 de setembro. E nos próximos dias, as mudanças nos debates presidenciais prometem ser ainda mais revolucionárias. Segundo a Reuters, ‘[…] está quase tudo pronto para o 1º debate presidencial transmitido exclusivamente na internet. O evento está sendo capitaneado pelo superblog The Huffington Post, junto com a Yahoo!, que vai cuidar da parte interativa, e a revista Slate. Os usuários poderão fazer perguntas ao vivo por meio do envio de texto e de vídeo. E o mais interessante – os candidatos não ficarão no mesmo estúdio. Será usado um modelo de videoconferência. Só achei o tempo longo para a internet – 90 minutos de debate.’

TV UERJ online entre as 10 + do TopAward

E por falar em revolução nos debates políticos, vídeos e TVs na Internet, é importante citar e parabenizar a equipe da TV UERJ online, a primeira TV universitária na Internet. O projeto, que está no ar com tantos sacrifícios desde 2001 e que já recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, inclusive o prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM para projetos inovadores, acaba de ser selecionada entre as 10 melhores IPTVs do Brasil.

Estamos em boa e poderosa companhia. Disputamos o primeiro lugar com grandes empresas do setor como a UOL, Terra e allTV. A TV UERJ online, projeto pioneiro de TV digital na Internet desenvolvido por alunos e professores de em uma universidade pública brasileira, é a única TV universitária a concorrer ao Top Comm Award. Estamos orgulhosos e agradecidos pelo reconhecimento. Agora é hora de votar no primeiro prêmio.

O Prêmio Top Comm Award 2007 procura apontar, mediante votação popular e votação do júri oficial (Conselho de Jurados) as principais empresas e instituições na área de comunicação. A Votação Popular escolherá, no período de 04/05/2007 a 08/06/2007 as 10 melhores empresas de cada categoria através do site. Cada pessoa poderá votar uma única vez, em uma empresa de cada categoria.

A Divulgação dos Vencedores de cada Categoria e entrega de Troféus acontecerá no dia 25 de agosto de 2007, às 21 horas, no Hotel Ouro Minas e Termas de Araxá, em Araxá, Minas Gerais.

Contamos com os votos de vocês!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

COMUNIQUE-SE
Cassio Politi

Jornalismo perde ACM, a melhor fonte que já existiu, 23/07/07

‘Três dias na home page: ACM sorridente e cercado de pessoas

Não acreditou no título que leu? Pois foi esse o enfoque da reportagem que o Comunique-se publicou sobre a morte do senador Antônio Carlos Magalhães. Intitulada ‘Morre senador, repórter e fonte ACM’, a matéria o descreve assim:

Eleito deputado estadual em 1954, ele se tornaria anos depois a melhor fonte de informação segundo os próprios jornalistas.

Selecionei trechos de dez comentários que manifestam perplexidade:

* Louvor a uma ‘fonte de valor???’. Ora, um manipulador da informação e jornalista pela posição que ocupava!

* Estou perplexa com a matéria. Em mais de 30 anos de carreira, nunca vi tanta distorção da verdade.

* A impressão geral, ao terminar a leitura, é que morreu um grande homem, pois todas as virtudes dele estão ressaltadas e os defeitos esquecidos.

* ACM deveria dar nome ao prêmio Comunique-se de agora em diante, assim vcs prestem um digna homenagem a um homem tão adorado, um santo, uma fonte muy digna para a imprensa brasileira! No Brasil, basta morrer um canalha para que ele vire santo.

* O político em pauta sempre exerceu seu poder na política em benefício próprio.

* A notícia só não fala que foi um dos políticos mais truculentos do Brasil que, agora, está sendo incensado pelos comensais habituais. Vejam os blogs mais lidos. Todo mundo chorando, ó, que pena.

* Não creio que o jornalista que escreveu [a matéria] conheça só isto do ACM. O autor fez um texto ruim e parcial propositadamente ou foi orientado para isso.

* Faça-me o favor, C-se! Centenas de pessoas que mereciam uma matéria como essa morreram há menos de uma semana em um desastre aéreo, resultado da impunidade de políticos como ACM.

À redação do Portal, faltou conhecimento do personagem, bom senso ou sensibilidade. Ou as três coisas.

Resposta da redação

O senador era um homem importante, influente tanto na política quanto na própria imprensa. Começou a carreira como jornalista, fundou um importante grupo de comunicação na Bahia e era uma das fontes mais procuradas pela imprensa. Isso não é ser simpático, é simplesmente não tapar os olhos para uma personalidade que teve extrema relevância na história do País. Se ele fez uma série de coisas que não fazem dele um santo, isso é outro fator. Otávio Frias de Oliveira também não era jornalista – embora suas atitudes, perto de ACM, o façam quase um santo – e nem por isso deixamos de fazer uma bela cobertura sobre sua morte.O perfil enfoca principalmente a relação dele com a mídia e cita, relacionada a isso, dois fatos: atuação no ministério das Comunicações e os grampos que ele autorizou.

Miriam Abreu

Editora do Portal Comunique-se

:: Tragédia em Congonhas (I)

A cobertura do acidente com o vôo 3054 pode significar uma guinada na cultura de redação do Comunique-se. Houve o que se espera de uma redação na noite da tragédia. Acertos e erros são inerentes a uma cobertura complexa. O saldo final confere com esse comentário:

* É essa celeridade que acho fundamental num veículo como esse. O Comunique-se foi brilhante ao desdobrar a lamentável questão do acidente nos diferentes enfoques da mídia.

Concordo com o elogio do leitor. Quem não fica abalado com um acidente desses? Mas o Comunique-se manteve uma postura profissional. Nem fria nem sensacionalista.

:: Tragédia em Congonhas (II)

Uma das matérias mais comentadas abordou a atuação das assessorias da TAM, CDN (terceirizada pela companhia aérea), FAB e Infraero. Foi um texto equilibrado. A maioria dos leitores concordou com o tom crítico adotado pelo Comunique-se em relação à Infraero. Para ficar em apenas um exemplo:

* Ainda esperamos ansiosos pelo pronunciamento das autoridades, só espero que seja diferente dos últimos, que diziam que estava tudo certo com a aviação.

O espírito é esse: onde houver concentração de jornalistas, deve haver um repórter do Portal. Segundo a redação, ir à rua vem sendo prioridade nos últimos meses. Outra reportagem que merece avaliação positiva é a acusação feita pela Band, de que a Infraero privilegia a Globo na distribuição de material.

O Portal deu o devido espaço também à morte da jornalista Katia Escobar, que estava a bordo do Airbus 320. Primeiro, o factual; no dia seguinte, o perfil da assessora.

Exigentes, alguns leitores debocharam da redundância do último parágrafo da matéria sobre os diferentes focos dos jornalistas na noite da tragédia:

A jornalista Daniela Paixão representou o jornalismo do iG. Sua tarefa era estar onde havia informação e levar matéria para o portal.

Concordo: a afirmação é óbvia. Mas pondero que esse é o tipo de erro que acontece mais facilmente quando se trabalha em tempo real. O deslize não invalidou a matéria.

:: Tragédia em Congonhas (III)

No dia seguinte ao acidente, a redação analisou as coberturas das emissoras de TV aberta. Fez-se uma comparação embasada, exceto pela seguinte afirmação:

A primeira emissora a chegar ao local foi a Rede Bandeirantes, antes das 19h.

Segundo a Folha de S.Paulo de 18/7, a TV Cultura foi quem chegou primeiro. Na Record, o Domingo Espetacular de 22/7 também citou a Cultura como tendo sido a primeira. Acompanhada do cinegrafista Marcelo Scano, a repórter Laís Duarte já estava nas redondezas fazendo reportagem rotineira sobre o apagão aéreo. Quando ouviu a explosão, correu para a frente do prédio em chamas. Laís viu uma gerente da TAM Express se atirar do primeiro andar. ‘Foi horrível. O barulho do corpo batendo no chão eu nunca vou me esquecer’, declarou Laís aos repórteres da Folha.

A Cultura possui imagens exclusivas da queda fatal da funcionária. Mas, conforme informou em comunicado, se recusa a veicular ou ceder o vídeo, por uma questão de respeito às normas da TV pública. Postura louvável.

O Comunique-se deixou a informação passar em branco. Barrigada! A redação admitiu o erro.

:: Jogos Pan-Americanos

A cobertura do Pan trouxe informações interessantes, mas algumas matérias têm um defeito específico: objetividade. Um exemplo é a reportagem intitulada ‘Cobrindo uma (quase) medalha de ouro no Pan’. Gerou, pelo menos a este ombudsman, uma dúvida simples: qual é a informação? Despeja tantos dados que fica impossível fixar-se em algo.

Por um problema semelhante, a manchete que atravessou o fim de semana foi contestada. A pauta sobre a imprensa de Cuba era interessante, mas, da mesma forma, se perdeu no excesso de linhas.

:: Engenhão

Recebi dois e-mails e li diversos comentários que contestaram a seguinte afirmação:

A elogiada infra-estrutura do Engenhão só tem um furo, para infelicidade dos fotógrafos: a iluminação.

Ao pé da letra, o estádio foi de fato elogiado por um dos entrevistados na matéria. Mas quando se lê ‘elogiada infra-estrutura’, a percepção que se tem é outra. Todos a elogiam mesmo? No dia 19/7, por exemplo, torcedores compraram ingressos para o setor X, que simplesmente não existia. Isso faz parte da infra-estrutura.

Boa parte das cobranças dos leitores veio na mesma linha: se a apuração apontar dados positivos, ótimo, que se faça o elogio. Mas é preciso ter dados completos e compará-los com outros estádios que sirvam de referência.

Resposta da redação

Cobrindo uma (quase) medalha de ouro – O foco era mostrar como os veículos pareceram estar arrependidos por não terem feito uma cobertura mais dedicada ao ouro do Diogo Silva. O taekendo é um esporte, como outras modalidades são, que pouco atenção recebe da mídia. E a imprensa tentou se redimir, como mostra o Marcelo. Isso poderia ter ficado mais claro tanto na matéria quanto no título.

Engenhão – ‘Uma análise do Engenhão já tinha sido feita antes de mim pela imprensa carioca. Várias pessoas que já cobriram a Copa do Mundo disseram que o estádio não fica nada a dever e o repórter do Lance fala isso na matéria. Sobre a luz, foi o fotógrafo quem falou, o que também já tinha sido mencionado na apuração’, disse o Marcelo Tavela.

Miriam Abreu

Editora do Portal Comunique-se

:: Eleições na Fenaj

Pegou muito mal. Em 19/7, o Comunique-se divulgou o resultado das eleições na Fenaj, dando a Chapa 1 como vencedora. Acontece que os dados divulgados eram de uma parcial de São Paulo, e não o resultado final da eleição.

* E o pior é que ninguém acorda cedo. E a notícia furada continua no ar. [postado às 9h37 do dia 20]

* É uma falha irreparável do C-se. E o pior é que serviu para alimentar urubus. O melhor é tirarem do ar. A matéria e os comentários ridículos que foram influenciados pela matéria ridícula. Não acredito que tenham feito de propósito.

A errata foi publicada somente no meio da manhã de 20/7. A demora se deu, segundo a redação, pelo fato de a equipe ter sido escalada para cobrir os desdobramentos do acidente com o vôo 3054. Horas mais tarde, saiu o resultado oficial da Fenaj: a Chapa 1 foi a vencedora. A coincidência evitou o que poderia ser uma grande confusão. Um erro que contou com a sorte.

:: Bastidores pelo Brasil

Duas reportagens merecem elogio. Uma aborda a mudança na TV A Crítica, de Manaus, que troca a retransmissão do SBT pela da Record. A outra revela uma discussão nos bastidores da TV Globo. Galvão Bueno e um diretor da emissora bateram boca em plena switcher e quase se agrediram.

:: Geografia do Beleléu – o Retorno

Moacir Japiassu apontou na coluna Jornal da Imprença de 19/7 um erro no site da organização Repórteres Sem Fronteiras. Ao noticiar o fim do seqüestro de um repórter paraguaio, a RSF registrou Assunção como capital do Uruguai. Ao dar a mesma notícia, o Comunique-se corrigiu esse erro, mas cometeu outro na mesma disciplina: geografia.

Após ser levado para Pedro Juan Caballero, onde foi torturado e teve a família ameaçada, Galeano foi solto em Campo Grande, no Mato Grosso, com a ameaça que ‘se retornasse ao Paraguai, ele e sua família seriam mortos’.

Um leitor esbravejou:

* Por favor arrumem o ‘Campo Grande’ , não tem coisa que deixa o sul-matogrossense mais injuriado, nervoso e de mau humor do que confundirem Mato Grosso do Sul com Mato Grosso. Mais cuidado por favor! E a matéria ficou legal!

:: Banco de Empregos

O gerente da Unidade de Tecnologia da Informação do Comunique-se firmou o compromisso: até sexta-feira (27/7), as medidas sugeridas por este ombudsman estarão no ar com o objetivo de eliminar cadastros irregulares no Banco de Emprego, área que visa a prestar um bom (e gratuito) serviço aos jornalistas. Enfim, um avanço: nesta segunda-feira (23/7), a ferramenta estava pronta e em fase de testes.

:: Anônimos com a palavra

Gerou mal-estar um comentário cujo autor leva o nome, aparentemente, de uma empresa. Dou razão ao protesto abaixo.

* Gostaria de saber por que o C-se permite a entrada de pessoas que se utilizam de pseudônimos. Desde 2002 nós lutamos para que isso deixe de acontecer. Conseguimos minimizar o problema, mas me parece que isso foi insuficiente.

Faz pouco tempo o usuário perdeu o direito de alterar seu nome de cadastro. Porém, usuários cadastrados há tempos com nomes de pessoas jurídicas não foram acionados para corrigi-los.

Cobrarei da Unidade de Pesquisa da empresa uma solução. A medida ideal seria o rastreamento da base e correção de todos os nomes inadequados. Porém, isso é inviável no curto prazo. A base de usuários é grande. A saída, nesse caso, é inserir uma nova funcionalidade em que usuários possam denunciar um fake a qualquer momento.

:: Bizz e democracia on-line

Um leitor contesta duplamente este ombudsman. Para contextualizar: na última coluna, critiquei a redação por não ir a fundo nos bastidores da revista Bizz, que deixou de circular regularmente.

* Minha crítica é ao comentário ‘até onde se sabe, não houve atraso na remuneração de funcionários nem de freelancers. A Abril pagou em dia até o fim da Bizz’. Duas contestações, na verdade. Primeiro, se é preciso ir a fundo na história, ‘até onde se sabe’ é vago demais para se fazer uma crítica a outro jornalista, já que o autor dela acaba fazendo o mesmo.

A redação se propôs a trazer à tona ‘informações de bastidores’. Nesse contexto, o repórter pode relatar que, em sua apuração, não ouviu reclamação sobre atraso de pagamento. Equivale a noticiar o incêndio em uma fábrica e informar que ‘não há registro de vítimas’.

* Segundo, que um jornal pagar em dia é (ou deveria ser) uma não-matéria. Pagar em dia é obrigação. Notícia seria um atraso de salário. Sei que no jornalismo isso acontece. Mas é por considerarmos isso normal, a ponto de o soldo em dia virar um elogio, que nos tornamos uma classe muito, mas muito, desvalorizada. Culpa nossa também.

O histórico de comentários mostra que o jornalista conhece o drama do mercado e sabe que os atrasos são comuns em ocasiões como essa, relatada na matéria. O próprio Comunique-se noticiou muitos problemas dessa natureza em outras empresas. Claro, o Portal jamais poderia estampar na manchete o ‘não-atraso’, pois seria a antinotícia. Mas é recomendável que a informação esteja no texto, pois muitos leitores provavelmente irão procurá-la. Novamente, vale o exemplo do incêndio na fábrica.

Gosto desse tipo de debate com foco na prática. Neste caso, com um valor especial: ambos (leitor e ombudsman) apreciam neurose pela precisão.

:: Periodicidade das colunas

Um leitor ironiza, com classe, a edição do canal de colunistas.

* Interessante a periodicidade das colunas ‘Direito na Mídia’ (semestral) e Link SP (bimensal).

A última edição da coluna Direito na Mídia foi publicada dia 3/7, mas não aparece na página de colunistas. As edições de maio e junho simplesmente não saíram.

Quase dois meses depois da despedida de José Paulo Lanyi, a coluna Link SP ainda não foi tirada do menu de colunistas. A redação explica que o link permanece no ar por dois meses ‘para que usuários possam salvar, guardar alguns textos’.

Cassio Politi é jornalista. Atua na Internet desde 1997, com passagens por projetos pioneiros e grandes portais, como o UOL. Ministra cursos de Jornalismo On-Line e Videorreportagem desde 2001. Deu aulas em 25 estados brasileiros para mais de 2,5 mil jornalistas. Em janeiro de 2007, tornou-se o primeiro ombudsman do Comunique-se, empresa na qual também ocupa o cargo de diretor da Escola de Comunicação.’

******************

Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Veja

Terra Magazine

Comunique-se

Último Segundo