Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

IMPRENSA NA JUSTIÇA
Carla Soares Martin

´Se a Folha parar, vamos rever entrada de ações´, diz Paulinho, 7/3

‘Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, deputado federal (PDT-SP) e líder da Força Sindical, disse nesta sexta-feira (07/03) que, caso a Folha de S.Paulo reveja a sua postura em ´esculhambar` a Força Sindical, pode deixar de entrar com ações contra o jornal. ´Se a Folha parar, vamos rever a entrada de ações´, afirmou Paulinho, em entrevista ao Comunique-se.

O líder da Força protesta contra uma série de reportagens da Folha que denunciam a central sindical. Uma delas, ´Ministério do Trabalho lidera convênios irregulares, diz CGU´, de quarta (05/03), da Folha, mostra dados da Controladoria Geral da União, nos quais o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), teria privilegiado ONGs ligadas ao partido – entre elas aparecem as relacionadas à Força Sindical, à CUT e à Associação Nacional dos Sindicatos Social Democratas.

Paulinho havia dito que entraria com 20 ações contra a Folha e O Globo. Uma reunião, marcada para a próxima segunda, dia 10/03, com advogados da Força Sindical, definirá os detalhes. A tendência agora, no entanto, é que as ações contra O Globo não existam mais. Contra a Folha, serão também reavaliadas.

´Universal ensinou´

Segundo o presidente da Força Sindical, as ações movidas pela Igreja Universal e por fiéis contra a Folha impulsionaram a idéia. ´A Universal ensinou como a população brasileira deve agir contra a imprensa que não dá direito de resposta´, afirmou.

De acordo com Paulinho, o espaço dado para a resposta da Força nem sempre é o mesmo do espaço reservado pela reportagem.

Se entrar com alguma ação, o líder da Força adianta que serão da Força nacional e das 27 estaduais contra a Folha, e não ações individuais, como no caso da Universal.

Paulinho afirma que os trabalhadores sindicalizados estão na mesma situação dos fiéis da Universal. ´Daqui a pouco, o sindicalizado que andar na rua com a camiseta da Força será chamado de ladrão´, disse.

Lei de Imprensa

O líder da Força não vê qualquer contradição entre o PDT, partido do qual faz parte, entrar com o pedido de revogação da Lei de Imprensa no Supremo Tribunal Federal e entrar com as ações. ´Não é preciso uma maior rigidez contra a imprensa, mas vamos dar um basta aos abusos´, argumentou.’

Comunique-se

Defesa de Kfouri derruba multa imposta por Capez, 7/3

‘Após ter assegurado na Justiça o direito de citar o deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP), a defesa de Juca Kfouri conseguiu derrubar liminar que estipulava multa de R$ 50 mil por cada ofensa ao parlamentar. O recurso de Kfouri foi aceito na 1ª Câmara de Direito Privado de São Paulo na segunda-feira (03/03). Capez poderá recorrer.

A ação de Capez foi motivada por texto no blog de Kfouri sobre desempenho de alunos de Direito na Uniban no Exame da OAB. Capez se irritou por ser citado com diretor do curso e por ter sua gestão como promotor público qualificada como fracassada no combate à violência das torcidas.

Para os desembargadores do TJ-SP, o fato de Capez exercer função pública garante que o jornalista tenha o direito de tecer comentários, ´o que nem sempre agradará todos´. A multa não se justifica porque Kfouri está sujeito às decisões do Poder Judiciário, ´sem que seja possível impedi-lo de antemão, de fazer críticas´, concluiu o desembargador Luiz Antônio de Godoy.

Com informações do Consultor Jurídico.’

Marcelo Tavela

Abraji, Article 19 e Cejil alertarão OEA sobre abuso de ações contra imprensa, 7/3

‘A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e as ONGs Article 19 e Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) terão uma audiência na segunda-feira (10/03) com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre os casos em que há abuso de ações judiciais contra as liberdades de expressão e de imprensa no Brasil. Será entregue um dossiê reunindo casos como as mais de 50 ações movidas contra a Folha de S. Paulo e a jornalista Elvira Lobato por fiéis da Igreja Universal.

É possível que haja menção à ameaça de processo do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Segundo levantamento do Consultor Jurídico, existem hoje 3.133 processos contra profissionais de imprensa, e o valor médio das indenizações cresceu de R$ 20 mil, em 2003, para R$ 80 mil, no ano passado.

O objetivo do encontro é chamar atenção da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre o uso abusivo de ações de danos morais contra a mídia e militantes dos direitos humanos. O argumento das entidades é que este tipo de atitude gera uma restrição indireta à liberdade de expressão e tem também efeito intimidador.

Será pedido que a OEA auxilie o Brasil no treinamento de juízes de primeira instância sobre como proceder em casos de difamação, e como agir em casos de má-fé nas ações. Outra sugestão será a fixação de um teto para indenizações.’

Carla Soares Martin

Folha de S. Paulo e Folha Universal analisam reportagem de Elvira Lobato, 7/3

‘O Comunique-se convidou dois jornalistas que acompanham bem de perto a polêmica gerada entre fiéis da Igreja Universal pela reportagem ´Universal chega aos 30 anos com império empresarial´, de Elvira Lobato, da Folha de S. Paulo, para analisar o texto como forma de contribuir com o fazer jornalístico. O ombudsman da Folha, Mário Magalhães, e o chefe de redação da Folha Universal, Celso Fonseca, deram seus pontos de vista sobre a matéria.

Os dois profissionais levantaram pontos cruciais. Magalhães afirma que a matéria não ofende nenhum fiel da Universal, apenas fala dos interesses comerciais da Igreja. ´A reportagem não trata de crenças, mas de um grupo de comunicação associado, de modos diversos, à Igreja Universal do Reino de Deus.` Mas faz uma ressalva: a população pode interpretar reportagens diferentemente de como foram escritas. ´É possível que um leitor confunda a informação´, diz Magalhães.

Fonseca afirma que os fiéis podem se sentir ofendidos por sua fé, pela matéria dizer que o dinheiro que doam à Igreja não estar sendo usado para a obra divina, mas sim aplicado em paraísos fiscais. ´Os fiéis acreditam que o dinheiro seja usado regularmente e sentem-se feridos quando se diz que há uma hipótese de que não ocorra assim.´

Confira o debate.

Comunique-se – Os senhores identificam algum teor discriminatório na reportagem, em relação à crença da Universal?

Mário Magalhães – Absolutamente nenhum. A reportagem não trata de crenças, mas de um grupo de comunicação associado, de modos diversos, à Igreja Universal do Reino de Deus. Ou seja: o foco jornalístico é o empreendimento no ramo das comunicações, e não a crença de qualquer indivíduo.

Celso Fonseca – Sim, porque ofende a fé de quem professa a Universal.

Comunique-se – A afirmação ´uma hipótese é que o dízimo dos fiéis seja esquentado em paraísos fiscais` é, talvez, a grande polêmica da matéria, ao supor que o dinheiro dos religiosos esteja sendo usado ilegalmente. De alguma forma, a reportagem teria atingido os fiéis da Universal?

Magalhães – A reportagem não afirma que o dinheiro é esquentado, mas que existe essa hipótese. Nesse caso, é evidente que a autoria não seria dos fiéis que contribuem com a igreja. Ou seja: não há como a reportagem atingir os fiéis.

Fonseca – É o mesmo que afirmar que o dinheiro de um católico tenha parado em outro lugar que não seja a Igreja. Os fiéis se sentem feridos na sua fé pela reportagem insinuar que o dízimo dele pode estar sendo usado ilegalmente, mesmo que seja uma hipótese. É leviano insinuar que o dinheiro dos fiéis seja esquentado em paraíso fiscal e não provar.

Comunique-se – Até que ponto uma parte da população que não sabe interpretar a reportagem pode confundir as acusações contra os bispos da Universal com todos os religiosos? O jornalista também precisa ocupar-se dessa questão ao escrever uma matéria?

Magalhães – Os jornalistas devem se preocupar em ser claros. A clareza é um valor subjetivo que leva em consideração o perfil intelectual dos leitores de cada publicação. A mesma informação não deve ser transmitida da mesma forma na Folha, em uma publicação científica e em um jornal vendido a preço bem mais baixo. É possível que um leitor confunda a informação? Sim. No caso em questão, chama atenção a proposta de ações judiciais em cidades onde a Folha não circula.

Fonseca – O fiel tem o direito de se sentir ofendido e ir à Justiça. Ouvi de um dos fiéis que tem uma empresa e paga imposto que está se sentindo ultrajado com a situação. É chamar o fiel indiretamente de bobo, ao dizer que seu dinheiro não está sendo usado com o objetivo que doou.’

Diretor de redação do Globo responde à ameaça de Paulinho, da Força Sindical, 6/3

‘O diretor de redação do Globo, Rodolfo Fernandes, alfinetou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, que ameaçou processar o jornal do Rio e a Folha de S. Paulo por publicarem reportagens sobre o repasse de verbas do Ministério do Trabalho para entidades ligadas à central.

´Além de dar trabalho para o Globo, o nobre dirigente sindical poderia conseguir um para ele também, de preferência que passe longe de verbas públicas´, respondeu.

´Pode perder, não tem problema. Vou dar um trabalho desgraçado para eles. Meu negócio é dar trabalho para eles. Não é nem ganhar. É só para eles aprenderem a respeitar as pessoas. Eu estou fazendo apenas 20. Se não parar, vou fazer de 1.000 a 2.000 ações contra eles no Brasil inteiro´, disse. ´A Igreja Universal vai ser fichinha´, destacou o dirigente.’

AULA ONLINE
Bruno Rodrigues

Distância da educação a distância, 7/3

‘Ano passado, me propus a encarar uma experiência nova: me inscrever em um curso a distância. Não um curso comum, mas uma pós-graduação. Havia chegado a hora do tira-teima; eu, que tanto era questionado em entrevistas sobre o que achava de EAD (Ensino a Distância), finalmente faria uma ´imersão` nesta revolucionária técnica de ensino e pretendia sair de lá com algumas respostas.

Há muitos anos que EAD não é grego para mim. Ainda em 1996, quando dava meus primeiros passos como profissional web, conheci o Fabio Barcellos, então sócio da pequena MHW, cujo escritório ficava no lotado edifício Avenida Central, no Rio. Ainda produtora de sites, a MHW engatinhava no Ensino a Distância via web. Bastariam poucos anos para a empresa virasse referência em EAD no país, e aí – conseqüência natural – uma grande companhia decidiu comprá-la, neste caso a Xerox – uau! Cheguei a fazer alguns trabalhos para a MHW, tempos depois, e me impressionei com o que o EAD podia fazer pelo ensino e também pelo bolso de quem fazia a rodar girar. Pelo tamanho da nova MHW e pela carteira de clientes, a empresa ia longe – e foi.

Nesta mesma época, já havia travado contato com a UVB, ou Universidade Virtual Brasileira, que na época lançava seus cursos iniciais via web. Fui convidado a criar um deles, o de Webwriting. Como era uma época de ´pororoca` de trabalhos – eu estava terminando meu primeiro livro – o projeto ficou para depois, mas fiquei maravilhado com o kit do instrutor que recebi, que continha metodologia e técnicas em detalhes. Travar contato com a Profa. Graça Moreira, evangelista de EAD, então, foi um enorme prazer que ficou na minha memória.

Com tantas boas impressões, meu curso de pós-graduação via web tinha tudo para dar certo, não é? Pois não deu.

Ainda que eu tenha escolhido uma instituição para lá de reconhecida na área de Ensino a Distância – e com décadas em ensino de cursos de altíssimo nível – deu tudo errado desde o início. Para começar, houve um encontro presencial de dois dias (haja paciência), que começou com um tutorial de área de estudos do site e terminou com uma ´aula inaugural` para lá de constrangedora, adaptação mal-feita de auto-ajuda em grupo.

Voltei para casa arrasado. Tinha sido um início péssimo para um curso em que eu botava tanta fé. Não posso deixar de citar que minha casa, na época, ficava a dois quarteirões da sede da instituição de ensino, mas ainda assim, por uma questão puramente profissional, quis fazer o curso a distância.

Dois meses depois, eu havia trancado o curso, após uma sucessão de chats em que todos falavam ao mesmo tempo, fóruns confusos, tutores ora irônicos, ora antipáticos, e enunciados de exercícios mal formulados. Confesso que demorei meses para me recuperar do trauma.

Que fique bem claro: é óbvio que EAD é algo sério e transformador. O Fabio Barcellos, por exemplo, após deixar a sociedade de MHW, é hoje dono de uma das empresas de ponta no país em Ensino a Distância, a QuickMind, que tem clientes como Vale, Furnas e Oi. Não é para qualquer um. A UVB sobreviveu ao estouro da ´bolha da internet` de 2000, e está aí, firme e forte, oferecendo cinco cursos de graduação e pós-graduação. Estes são apenas dois exemplos de uma área que cresce cada vez mais no país e no mundo.

Qual o problema, então? Pessoas, sempre elas, e softwares, também sempre eles. Quem lida com EAD sabe que a facilidade de uso no ambiente de aprendizagem é primordial para o sucesso de um curso, e que para dar um nó fatal no bom andamento da história, é só utilizar um software/ambiente que lide com os alunos com a mesma sutileza e clareza de um buraco negro. Esta é a fórmula do apocalipse do EAD.

E quanto às pessoas? Não é todo mundo que tem facilidade de interagir a distância, mas isso se ensina – e é aí que deve estar a maior parte do esforço das equipes de EAD. Além disso, o tutor deve ir muito além da sua função pedagógica e envolver-se até o último fio de cabelo com os alunos. E isso, desculpe, não pode ter hora marcada.

Nos dias 28, 29 e 30 de maio, no Rio de Janeiro, acontecerá o I Seminário Internacional de EAD Senac Rio. Toda a nata do Ensino a Distância estará presente. Como eu estou preste a retomar meu projeto de curso online, pretendo estar na platéia. É a hora e o lugar certos para conhecer um pouco mais desta maneira genial de aprender longe da sala de aula tradicional, mas que ainda precisa corrigir – e muito – seus erros de percurso. Faça como eu: nem que seja para esbravejar, vale estar lá.

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Para você, duas boas dicas de cursos:

– Quem quiser ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é só entrar em contato pelo e-mail extensao@facha.edu.br ou ligar para 0xx 21 2102-3200 (ramal 4) para obter mais informações sobre meu curso ´Webwriting & Arquitetura da

Informação´. As aulas da próxima turma, que terá início em 01/04, serão ministradas no Rio de Janeiro, ao longo de seis terças-feiras à noite, em Botafogo.

– Estão abertas as inscrições para a segunda turma da Pós-Graduação em Gestão em Marketing Digital da FACHA, no Rio de Janeiro, da qual sou Coordenador. Com 16 disciplinas, entre elas E-commerce, Gestão de Contas, Gestão de Conteúdo,Gestão do Conhecimento, Inteligência de Mercado, Marketing de Relacionamento Online e Otimização em Mecanismos de Busca, o objetivo do curso é preparar profissionais capazes de tomar decisões no campo do marketing para a mídia digital e atualizar os que já estão no mercado. Para mais informações, posholos@facha.edu.br.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ´Webwriting – Pensando o texto para mídia digital´, e de sua continuação, ´Webwriting – Redação e Informação para a web´. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ´Webwriting` do ´Dicionário de Comunicação´, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

TERRORISMO
Milton Coelho da Graça

Acredite o que quiser, mas resista à mentira, 7/3

‘´Os guerrilheiros palestinos são considerados terroristas por Israel e tratados como tal.´

´Os guerrilheiros palestinos são terroristas e tratados como tal por Israel.`

As duas frases parecem iguais mas são muito diferentes,como qualquer um pode constatar. Eu escrevi a primeira, com o maior cuidado, na reportagem que escrevi para Realidade em 1969, depois de visitar os campos de treinamento do El Fatah. A segunda saiu publicada na revista, com uma pequena mas hábil mudança feita diretamente pelo diretor da revista, nomeado um mês depois da edição do Ato Institucional 5 (13/12/68) e a primeira em que eu aparecia no expediente como chefe de redação, substituindo o querido amigo Paulo Patarra, que pedira demissão.

Entre o surgimento do AI-5 e a publicação da reportagem, eu tivera seis meses de batalha com esse diretor em cada reunião de pauta e em cada discussão sobre matérias e/ou rumos da revista. A malandragem (para não dizer ´putaria´, no linguajar mais desabrido de ´Paulinho´, grande defensor dos trabalhadores brasileiros e das verbas opacas do Ministério do Trabalho) de usar a palavra ´terroristas` segundo os interesses políticos de quem a pronuncia não é coisa nova.

Terrorismo sempre foi uma palavra meio vaga como demonstram dicionaristas. Mas a acepção de que define ´ações de violência indiscriminada contra populações civis` hoje praticamente ficou ao sabor de quem a utiliza. Infelizmente, os editores de quase todos os nossos jornais, por vontade própria, dos donos dos meios de comunicação ou dos grandes distribuidores internacionais de informação, seguem a doutrina daquele diretor de Realidade.

El Fatah nunca realizou ações terroristas contra civis, mas sempre ações contra alvos ligados à ocupação militar da Palestina. Outras organizações palestinas praticaram e praticam atos terroristas – como o Hamas também faz agora – violentos mas sobretudo idiotas, porque só prejudicam a causa da paz e do progresso do seu próprio povo e dos árabes em geral. Mas, quando Istvan Rabin negociou a paz com Arafat, reconheceu obviamente (e os Estados Unidos também) legitimidade do Fatah e da OLP como entidades de resistência nacional.

E as FARC? Por que são terroristas? As dezenas de milhares de pessoas que foram às ruas de Bogotá protestar contra a violência nesta quinta-feira (06/03) não protestavam contra as FARC, que lutam nas selvas há 50 anos, mas contra o governo Uribe e as milícias paramilitares patrocinadas pelo Presidente da República, que já assassinaram milhares de colombianos, inclusive das FARC, quando estas tentaram suspender a guerrilha e se constituírem em partido legal e democrático.

As FARC não são santinhas. A ministra Dilma Roussef, o ministro Franklin Martins e muitos outros brasileiros buscaram derrubar pela força – de forma talvez errada politicamente, mas com razões legítimas – a nossa ditadura militar, cometendo atos violentos e previstos no Código Penal (roubo, seqüestro, assalto). A ditadura, através dos meios de comunicação, os chamava de terroristas. Mas a História e o povo brasileiro não apenas absolveram a resistência, descobriram que os ditadores eram mentirosos.

Cada jornalista tem a responsabilidade de avaliar a veracidade do que escreve ou diz. Pode errar, ser ludibriado, mas não pode ser conivente com a mentira. Quem não percebeu que o general chefe de polícia mentiu quando anunciou ´documentos` e ´indícios de material radiativo` no acampamento das FARC arrasado por bombas de fragmentação? Ou a notícia divulgada por uma desconhecida rádio colombiana de que ´a Venezuela financiou 300 milhões de dólares às FARC´?

Os mais antigos como eu não esquecem que um colunista chamado Cláudio Marques escrevia na Folha da Tarde, informando com base em ´fontes insuspeitas` que ninguém era torturado no Doi-Codi de São Paulo. E até se referia ao lugar em que Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho foram assassinados como Tutóia Hilton.

Certa vez, Roberto Marinho me perguntou por que o jornal estava escondendo o fato de que o autor do atentado contra o papa João Paulo II era um ´agente comunista búlgaro´. Respondi que o jornal só estava publicando noticiário enviado pelas agências internacionais, especialmente a Reuters. O diálogo tinha começado brabo, mas aos poucos Dr. Roberto se convenceu de que os redatores da editoria Internacional estavam seguindo fielmente as normas do Globo e do bom jornalismo. E aí revelou as razões da queixa inicial: ´Milton, a Ruth (esposa dele) é direitista demais, ela é até salazarista. E ela todo o dia se queixa de que nosso jornal está dizendo que esse Ali é um anticomunista, quando na verdade ele é um agente da Bulgária. Vamos dar um suelto (curto editorial) pedindo que essa versão também seja investigada. Mas mantém o noticiário do jeito que está.´

Alguns companheiros nossos realmente precisam se cuidar para não serem julgados no futuro como coleguinhas do Cláudio Marques ou porta-vozes de D. Ruth.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’

FUTEBOL
Marcelo Russio

A volta do bom humor à imprensa, 4/3

‘Olá, amigos. A última semana foi pródiga em comentários e teorias sobre os acontecimentos dos jogos de domingo nos campeonatos carioca e paulista, quando o choro tomou conta do noticiário. Choro de deboche, entenda-se bem, já que as demonstrações de Valdívia tiveram motivações diferentes da feita por Alexsandro, do Resende, que acabou revelando ainda em campo, logo após marcar um gol no Flamengo, que era torcedor do Botafogo.

Achei muito interessantes os comentários de Paulo Vinícius Coelho e de Fernando Calazans no ´Linha de Passe` da última segunda-feira. Calazans afirmou, corretamente, que ninguém está dando mais importância ao ´Créu` do que às demonstrações de choro. E PVC lembrou que a comemoração de Valdívia era a resposta, enfim, à comemoração de ´Porco` que Viola fez quando anotou um gol no Palmeiras, jogando pelo Corinthians.

Acho que essas sacadas, esse foco no humor e na irreverência mostrados pelos dois comentaristas, e replicados por todos os demais, principalmente dando espaço às músicas das torcidas cariocas no Maracanã, que finalmente incentivam os seus times e fazem gozações com os adversários, sem incitar violência e nem promover confrontos, são extremamente válidas para o esporte. Talvez não tanto quanto antigamente, quando o rádio e o jornal prevaleciam, e não existia a internet e a TV a cabo, mas a imprensa ainda é uma forte formadora de opinião.

Mostrar o lado engraçado, pitoresco e inteligente das arquibancadas ajuda a fazer com que novas manifestações, ainda mais criativas, sejam criadas pelas demais torcidas.

A guerra de palavras e de piadas é extremamente saudável, e faz parte da essência do futebol. Sem ela, que graça teria ir ao trabalho ou à escola após uma vitória ou uma derrota do seu time? Parece que aquele Flamengo 2 x 1 Botafogo, que já pode ser chamado de ´O jogo que não acabou` serviu para algo maior do que simplesmente um título a mais para o rubro-negro carioca.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Palavras malditas, 6/3

‘É bom o mar não ter dono

Não ser potro nem mordomo

(Nei Duclós in Novos Poemas, 2007)

Palavras malditas

Sob o título Jornalistas falam sobre a linguagem politicamente incorreta na mídia, a Escola de Comunicação deste portal debateu o candente tema e o considerado Eduardo Martins, autor do excelente Manual de Redação e Estilo do Estadão, discorreu a respeito de palavras e expressões como denegrir, favelado, lista negra, humor negro e o verbo judiar, entre tantos ´malditos´.

Janistraquis, que há quase meio século tenta subsistir do torturante exercício de escrever, está convencido de que não devem existir vocábulos ou sentenças precitas em idioma algum:

´A condenação de palavras pode ser o início da ação fascista que há de, mais tarde, incinerar livros e obras de arte. Não se pode esquecer que Che Huang-ti, imperador chinês, construtor da Grande Muralha, mandou queimar todas as obras escritas antes de seu nascimento, só para apagar da memória do mundo que a senhora mãe dele era puta…`

Insueto episódio

Janistraquis se interessou pelo entrevero entre Venezuela, Colômbia e Equador; escutou noticiários de rádio e TV, leu vários jornais e revistas, acompanhou a entrevista do nosso brilhante chanceler Celso Amorim, além de se ilustrar pelos blogs afora e chegou à seguinte conclusão:

´O episódio é tão insueto e peregrino que só falta chamarem o senador Sibá Machado para mediador.´

É mesmo; o mundo seria poupado da cena mais burlesca e cafona desde o arranca-rabo que vitimou Honduras e El Salvador, quando seus fantásticos esquadrões trocaram alguns tiros, rasteiras e rabos-de-arraia durante as eliminatórias da Copa de 70.

(Quem quiser relembrar aquela besteira, clique aqui)

Poema das águas

Leia no Blogstraquis a íntegra de É Bom o Mar, cujo fragmento encima a coluna. É o mestre Nei Duclós, poeta e gaúcho da fronteira, em meditação nas praias de Santa Catarina.

Assembléia Constituinte

Do professor Fábio Konder Comparato, presidente da Comissão Nacional de Defesa da República e da Democracia da OAB, em artigo na Folha de S. Paulo:

A Constituição de 1988 carece de legitimidade; não foi feita por uma Assembléia criada para esse fim, mas pelo Congresso Nacional.

Janistraquis tem opinião impublicável sobre esse trangalho que Ulysses Guimarães apelidou de ´constituição cidadã´, mas pede licença para lembrar ao professor Comparato que a chamada Carta Magna de 1946 também foi feita pelo Congresso Nacional. Aliás, quando foi que o Brasil elegeu uma Assembléia Nacional Constituinte?

A coluna consultou Bolívar Lamounier e a resposta foi: ´Nunca´!

(Leia no Blogstraquis a breve lição deste que é o melhor cientista político do país.)

Pra não esquecer

Tome boa nota deste nome: Carlos Alberto Menezes Direito, membro da União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro e (pasme!) ministro do Supremo Tribunal Federal…

Aventuras na História

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo banheiro, em subindo-se às bordas do vaso sanitário, é possível enxergar pela clarabóia o presidente do Equador, Rafael Correa, a pavonear-se de grande estadista, pois Roldão examinava a edição deste mês de Aventuras na História quando deparou com o seguinte trecho:

´Entre 1895 e 1897, a doença (febre amarela) foi a que mais matou no país. Três anos mais tarde, em Cuba, o americano William Gorgas descobriu o transmissor da febre amarela e criou a vacina. No Brasil, Emílio Ribas e, depois, Oswaldo Cruz, com a sua campanha de vacinação, controlaram o mal.`

Mestre Roldão, que quando mata a cobra sempre mostra o pau, encontrou erros no texto:

1. Quem descobriu o transmissor da febre amarela (o mosquito) foi o médico cubano Carlos Juan Finlay. O dr. William Gorgas foi quem conseguiu controlar o mosquito, primeiro em Havana e depois no Panamá.

2. A vacina contra a febre amarela só foi conseguida, de forma segura, muito depois, na década de 1930, pelo médico sul-africano Max Theiler. Sua vacina foi usada com êxito no Brasil entre 1937 e 1940. Ele ganhou depois o Prêmio Nobel de Medicina, em 1951.

3. Oswaldo Cruz controlou a febre amarela no Rio combatendo a proliferação do mosquito transmissor, o aedes aegypti.

A campanha de vacinação feita por Oswaldo Cruz no Rio foi contra a varíola, doença para a qual já então existia vacina.

A favor da vida?!?!?!

O considerado Jefferson de Arruda Campos, advogado paulistano cuja religião é o Corinthians, como ele mesmo apregoa, anda mais irritado com os dignitários católicos do que com o ex-presidente do clube, Alberto Dualib:

´Padres, bispos, cardeais, aparecem na TV para condenar as pesquisas com embriões e repetem a deslavada mentira de que a Igreja é ´a favor da vida´. Ora, quem estudou alguma coisa a respeito sabe que a Igreja sempre foi mesmo a favor da morte, principalmente a morte dos outros; basta ler algumas páginas sobre a Inquisição. E tem mais: tudo quanto é reza só fala da ´hora da nossa morte´. A favor da vida?!?! Querem é gozar com a nossa cara.´

Janistraquis e o colunista concordam plenamente, Arruda; a padralhada bem que poderia baixar noutro centro.

O que dá medo

Saiu na coluna do considerado Elio Gaspari:

LULA PUTIN

A oposição superestima aquilo que chama de ´falta de candidato` do PT. Nosso Guia tem a carta russa na manga, com a qual pode tentar eleger um poste. Funciona assim: Lula deixa a Presidência da República seis meses antes da eleição e disputa a cadeira de senador por Pernambuco. Percorre o Brasil dividindo palanque com o poste, fazendo a campanha do(a) candidato(a) como se fosse sua. Mais ou menos como fez Vladimir Putin.

Deve-se reconhecer que é mais fácil para Lula eleger um poste em 2010 do que foi reeleger-se em 2006, com o mensalão nas costas.

Janistraquis considerou tal presságio viável e, por isso mesmo, assustador.

Debaixo do braço

Sob o título Autor do Conjunto Nacional ganha tributo aos 79 anos, o empresário paulistano Leonardo Vieira Motta leu na Folha de S. Paulo:

(…) A pedido do IAB, Libeskind fez a primeira exposição de pinturas de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) em São Paulo, que julgava então o maior pintor do Brasil. ´Eu fui até Belo Horizonte e voltei com 30 telas debaixo do braço, sem seguro, sem nada´, diz, sorrindo.

Leonardo tem certeza de que nem um polvo gigante, daqueles que atacam navios em desenhos animados, conseguiria carregar 30 telas debaixo dos braços tentaculares. Janistraquis concorda plenamente:

´Considerado, conheci Guignard e sua obra e, no final dos anos 50, freqüentei muito a escola que ele mantinha no Parque Municipal de Belo Horizonte; não conheço e nunca vi o mestre pintar nenhuma tela que se poderia chamar de minúscula, mas, mesmo se tivessem as dimensões de uma pílula anticoncepcional, seria mais prudente trazê-las no bolso do que no sovaco, né não?`

De galinheiros

Janistraquis chegou da Catioca com várias poedeiras debaixo do braço, mais atrapalhado do que o cara aí de cima com os quadros de Guignard, e, resfolegante, anunciou:

´Considerado, essas aí são indispensáveis para o galinheiro que queremos ter.´

Barra pesada

Esta é uma das frases citadas pelo médico inglês Ronald Gibson, ao dissertar acerca do conflito de gerações:

´Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque essa juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.`

O considerado Fábio José de Mello, que sempre foi filho obediente e respeitador, repassa o texto recebido via internet e cuja leitura assusta e diverte os já tão preocupados pais de família.

Leia no Blogstraquis a íntegra da história e curta o final surpreendente.

Nota dez

Pedro Moreira Salles, vice-presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular, escreveu em carta à Folha de S. Paulo:

Ao abrir a Folha de sábado, encontrei dois artigos que me remeteram, subitamente, à Idade Média. Na página 3, o antigo procurador-geral da República, ao defender a inconstitucionalidade do uso de células-tronco embrionárias na pesquisa científica, alude à frieza da ciência e seu desrespeito pela vida.

Leia no Blogstraquis a íntegra da carta que merece o apoio de quem sabe ler, escrever e, principalmente, pensar.

Errei, sim!

´PRISÃO SECULAR – O leitor Lúcio Tadeu, mato-grossense habituado às excentricidades próprias do Pantanal, envia recorte de A Gazeta, de Cuiabá, com este espantoso titulaço: Osvaldão pode pegar até cinco séculos de prisão. Confinada à página policial, a rima pobre fora substituída na capa do jornal por esta chamada: Estupros – Osvaldão poderá ficar preso 500 anos.

Tão impressionado como Tadeu, Janistraquis gorgolejou: ´Considerado, depois de cumprir a pena acredito que Osvaldão não vai pensar mais em mulher; afinal, conheço jornalista com trinta anos de idade que já começou a ratear…´. E foi por aí afora, a lançar aleivosias sobre colegas de profissão, numa atitude deverasmente condenável.` (agosto de 1994)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ´Carta a Uma Paixão Definitiva´.’

DIA DA MULHER
Eduardo Ribeiro

À Mulher Jornalista, 5/3

‘O jornalismo brasileiro, como de resto de todo o mundo, tem problemas. Tem sérios problemas. Mas tem também virtudes, qualidades que o elevam à categoria de uma das mais respeitáveis instituições do País, apesar dos problemas. E uma dessas virtudes é a de ser um jornalismo guerreiro, muitas vezes guerrilheiro, que busca na intenção e vocação, ser o ego da sociedade, seja nas mazelas que aponta e denuncia, nas histórias comoventes que conta, nas investigações que produz, nos bastidores do poder que vasculha, nas coisas boas que descobre, nos personagens do povo ou da elite que descortina.

Tenho comigo – e penso não estar sozinho nesse sentimento – que o muito do bom que o jornalismo brasileiro e mundial tem hoje, deve à presença crescente da mulher em suas fileiras, em postos desde a apaixonante reportagem até os gabinetes de chefias de onde partem as decisões estratégicas e contundentes da cobertura desejada.

O jornalismo tem problemas. Sérios problemas. Na sanha de buscar o furo e elevar a audiência, ainda que a base do sensacionalismo barato e muitas vezes irresponsável, muitas reputações têm sido atacadas de forma agressiva, grosseira e muitas vezes criminosa, escondendo-se o jornalista que pratica esse tipo de antijornalismo numa espécie de imunidade profissional e corporativa para levar adiante uma indefensável atuação que fere todos os princípios éticos e humanos.

A corporação nem sempre tem coragem de atacar e isolar esses membros, como acontece a bem da verdade em quase todas as atividades. Como a própria corporação não consegue coibir os abusos, busca-se cada vez mais a Justiça para reparar honras atacadas e reputações maculadas. Contra a onda de denuncismo se viu uma outra de ações judiciais. E assim caminha a humanidade, por vezes com exageros de lado a lado, e no meio os de bom senso na eterna busca do desejado equilíbrio.

E novamente volto à mulher, para lembrar que onde ela tem chegado, salvo as exceções que só justificam a regra, o faz com competência, com dignidade, com espírito (já que está na moda falar isso) republicano, embora valha-se, por sua própria condição, muito da intuição e do coração para as decisões que toma. Dificilmente onde tem uma mulher no comando, a leviandade se faz presente. É raro que um veículo dirigido por mulher ceda à tentação do sensacionalismo barato e leviano. São mais questionadoras, menos suscetíveis aos apelos do ganho fácil, mais incisivas nos temas complexos em que se envolvem.

Não há a menor dúvida de que a mulher está engrandecendo o ofício do jornalismo e quanto mais numerosa for essa presença, mais ainda ele se engrandecerá.

É preciso, obviamente, que tenhamos cada vez mais mulheres preparadas para assumir responsabilidades crescentes. É necessário também que fiquemos atentos para que elas não sejam usadas como alternativa para baixar a remuneração profissional, como foi no começo. Devemos também nos empenhar para que o mercado consiga um ponto de equilíbrio entre a estressante atividade e a vida pessoal e familiar, permitindo que o talento feminino nas letras não oprima o seu lado mulher, em casa, na família, com os filhos e companheiros.

No Dia Internacional da Mulher, que chegará no próximo sábado, dia 8 de março, decidi fazer uma edição especial deste Jornalistas&Cia sobre a Mulher Jornalista, homenageando essas eternas guerreiras. E convidei para coordenar a edição uma dessas guerreiras, Célia Chaim, que está dando um banho de competência e talento, numa edição (sou suspeito para falar, mas vou falar assim mesmo) soberba e apetitosa.

É a nossa homenagem singela a essas colegas que compartilham o nosso dia-a-dia, engrandecendo não só os veículos onde trabalham, mas a própria instituição do jornalismo. Vamos penetrar, com o perdão da palavra, na alma de algumas das mais talentosas e reconhecidas jornalistas deste País, num texto solto, autoral, inteligente de alguém que tem vivido e sobrevivido quase em tempo integral dessa apaixonante atividade e que ama o que faz.

Tomo a liberdade de colocar um aperitivo para nossos leitores, que poderão conferir a íntegra da edição a partir da próxima segunda-feira, no site www.jornalistasecia.com.br. O texto é dela, Célia Chaim, ex-repórter, editora, chefe de Reportagem e chefe de Redação de veículos como Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, IstoÉ, Exame, Valor Econômico, O Estado de S.Paulo. Vamos a ele:

´Nordestinas, francesas, bravas argentinas, ribeirinhas amazonenses, loiraças, mulatas, negras, suecas, todas estão no mesmo barco no Dia Internacional da Mulher. Umas na proa, outras no porão. Não é feriado, não tem flores nem vela, tem origem polêmica, violenta e rebelde (*), muita coisa pra contar… E é contando histórias – de política, economia, moda, cultura … – que a vida das jornalistas enobrece a profissão. Nem mais e nem menos do que os homens jornalistas, mas diferentes. Ainda bem, para evitar que tudo fosse muito sem graça.

Adoro ser mulher – independentemente de ser jornalista –, para ser mãe perdidamente apaixonada por meus filhos Bruno e Pedro, para fazer de conta que tenho alguma coisa a ver com Todas as mulheres do mundo, filme de Domingos de Oliveira, de 1966, ou a balzaquiana do escritor francês Honoré de Balzac, a Maria, Maria de Milton Nascimento, a inspiração de tantos poemas de Vinícius de Moraes, a Gabriela de Jorge Amado. E a Rosa, de Pixinguinha, ´divina e graciosa estátua majestosa / do amor por Deus esculturada!´

Adoro ser jornalista por ter a chance de conhecer gente tão iluminada como Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer, o querido geógrafo Milton Santos (1926-2001), rebeldes como Romário, empresários como Antonio Ermírio de Moraes, intelectuais como José Mindlin, revolucionários como Fidel Castro, a médica e sanitarista Zilda Arns, exemplo de liderança e determinação, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança, que, com suas ações, ajuda a salvar milhares de crianças todos os anos, até mesmo fora do Brasil. E, não menos, tomar café e beber água sem nenhum tratamento servidos com tanta generosidade por dona Adália, moradora da favela Imigrantes, onde fui parar na cobertura de um trecho do percurso do translado do corpo de Mário Covas a caminho de Santos. As recomendações médicas em razão de minha saúde, fragilizada na época, passaram batido. E eu, que adoro tomar café em Paris, nunca vou esquecer o café de dona Adália – o melhor do mundo na minha cabeça.´

´Esta edição é dedicada a todas as jornalistas que, por meio de vários veículos, informam, opinam, alertam, vigiam, orientam, investigam, denunciam, no mais pleno e ético exercício da profissão que escolheram.´

(*) O Dia Internacional da Mulher foi criado em homenagem a 129 operárias que morreram queimadas numa ação da polícia para conter uma manifestação numa fábrica de tecidos, em 8 de março de 1857, em Nova York. Elas reivindicavam a diminuição da jornada de trabalho de 14 para 10 horas por dia e o direito à licença-maternidade.

Em tempo: não poderia, obviamente, deixar de antecipar minha homenagem à nossa chefe, neste Comunique-se, Miriam Abreu. Miriam, um beijo deste colunista, que envio em nome de todos os nossos leitores.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ´Fontes de Informação` e o livro ´Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia´. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Belos resmungos de Ferreira Gullar, 3/3

‘O XIS DA QUESTÃO – Foi preciso que um cronista, no pleno uso da liberdade de sentir, pensar e escrever, chegasse lá, à ´verdade` de um governante que, agindo e reagindo como ´dono do pedaço, sente-se num à vontade sem limites` – e as aspas servem para roubar não mais que uma migalha do precioso texto assinado por Ferreira Gullar na Folha de S. Paulo de domingo, 2 de março.

1. Insubstituíveis encantos da Crônica

A crônica literária é, seguramente, uma das mais qualificadas e saborosas marcas do jornalismo brasileiro. Pela crônica, aportam às páginas dos nossos grandes jornais o talento e a arte de poetas, e de escritores com alma de poeta, capazes de descobrir, em detalhes que só eles sabem captar, a representação de encantos e desencantos das realidades mais complexas.

Como escrevi no livro Sotaques d´Aquém e d´Além Mar – Travessias para uma nova teoria dos gêneros jornalísticos (São Paulo, Summus, 2008), cujo lançamento está programado para 26 de março, na Livraria Martins Fontes, ´o cronista é o olho poético do jornal, na redescoberta diária da vida. Por isso, a crônica é jornalismo e literatura. Atém-se à atualidade, mas consegue apreendê-la e compreendê-la mais profundamente, porque ao cronista se permite usar o ferramental poético da ficção´.

O nosso jornalismo tem uma tradição de grandes cronistas, artistas do texto que deram identidade e conceitos próprios a esse gênero híbrido do discurso jornalístico. Vale até a pena repassar os olhos pela galeria de nomes: Machado, Drummond, Cony, Rachel de Queiroz,Nelson Rodrigues, Orígenes Lessa, Antonio Maria, Eneida, Adalgisa Nery, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Flávio Rangel, Sérgio Porto, Diaféria…

Bons cronistas jamais faltaram à imprensa brasileira. Mesmo nos tempos da ditadura, a crônica resistiu como espaço de liberdade. E continua viva, vivíssima, na grande imprensa dos nossos dias.

Uma das frustrações que carrego é a de não ser bom cronista. Tento vez por outra, mas não passo disso. Em compensação, sou um devorador de boas crônicas. Tenho preferências, claro. Delicio-me, por exemplo, com Mário Prata, sempre que encontro uma crônica dele por aí. E não perco os textos de Roberto Damatta, Cony, Luís Fernando Veríssimo, entre outros.

Às vezes, os invejo…

2. O dono do pedaço

Ah! Como eu gostaria de ter escrito a crônica que Ferreira Gullar publicou ontem na Folha de S. Paulo, sob o título ´O dono do pedaço´. Ele conseguiu decifrar o enigma Lula. E realizou um duplo feito: pintou com requintes de sensibilidade e fidelidade o retrato das contradições de Lula (ele é o ´dono do pedaço´…) e, ao fazê-lo, expressou os seus e todos os nossos resmungos em relação aos comportamentos do presidente que elegemos e reelegemos. E do qual, diga-se de passagem, nada mais nos surpreende, tais e tantas são as habilidades com que maneja as artes políticas de dizer e desdizer, fazer e desfazer, arrotar Ética e afagar quem ao seu redor a viola.

De tudo o que tenho lido sobre Lula (e nisso incluo os textos que eu próprio já escrevi sobre ´o dono do pedaço´), só encontrei retratos imperfeitos do seu jeito de ser e governar. Foi preciso que um cronista, no pleno uso da liberdade de sentir, pensar e escrever, chegasse lá, ao xis da questão, à verdade de um governante que, agindo e reagindo como ´dono do pedaço, sente-se num à vontade sem limites` – e as aspas servem para roubar não mais que uma migalha do precioso texto de Ferreira Gullar.

Quem puder e quiser, que o leia, no jornal ou pela internet. Está na edição deste domingo, 2 de março, na página E12 (´Ilustrada´) da Folha de S. Paulo.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Quem precisa de TV para ver TV?, 4/3

‘Nos últimos dias, as principais manchetes do noticiário especializado anunciam o que já era mais do que previsível e anunciado: a decepção do público com a ´estabanada` inauguração da TV digital brasileira.

TV digital fracassa e deve ser relançada no Brasil 27/02/2008 | Marcelo Gripa | ADNews CPqD ,

Confusão na TV digital afasta consumidores, 28/02/2008 |Renato Cruz O Estado de S. Paulo

TV digital empaca e a culpa é do Ginga 29/02/2008 | Nelson Varón Cadena | Correio da Bahia

Devido ao fracasso, TV Digital deve ser relançada no Brasil, 27/02/2008 | Redação Portal Imprensa

´Nesta quarta-feira (27), o jornalista Daniel Castro afirmou, em sua coluna na Folha de S.Paulo, que a TV Digital brasileira deverá ser relançada no País. Isso porque, depois de quase três meses de seu lançamento, no dia 2 de dezembro de 2007, a TV ainda não obteve muito sucesso entre o público. Segundo Castro, emissoras e fabricantes de televisores já discutem o relançamento da TV Digital, apesar de ainda não terem divulgado o formato dessa reestréia´.

O fracasso era previsível. Para agradar ou pelo menos para ´tentar` não incomodar os donos das TVs brasileiras, o governo Lula caiu em mais uma armadilha política e tecnológica. Mas de quebra, aproveitou o momento para inaugurar mais uma rede de TV estatal.

O problema é que o fim da TV como a conhecemos é mera questão de tempo. E o pior é que para nós, jornalistas, o fim dos velhos telejornais parece ainda mais próximo (ver aqui ´TV News: An Endangered Species? ´) .

Afinal, quem ainda precisa de TV para ver TV? Quem ainda precisa de TV para ver as novidades da programação ou receber as últimas notícias de sua cidade, do país e do mundo? (Pesquisa revela que 50% dos norte-americanos usam a Internet como fonte de informação ver aqui)

Em evento recente nos EUA (ver aqui), altos executivos discutiram o futuro e a relevância da TV para transmissão de programas. Eles não estão somente preocupados com os conteúdos específicos, com o fracasso das milionárias séries produzidas pelas redes de TV ou com o sucesso cada vez maior dos vídeos realizados e transmitidos pelos telespectadores.

A verdadeira discussão está na queda vertiginosa de audiência das TVs abertas, na diminuição dos lucros e no cancelamento de assinaturas de TVs pagas. Nos EUA, assistir TV tende a ser programa de velho que ainda não conhece ou domina a Internet.

O telespectador, que não é bobo, já descobriu que já pode acessar o que há de melhor na TV pela rede. Ficar na frente da telinha esperando ou buscando programas de TV parece perda de tempo precioso, tarefa inútil frente às opções dos sites especializados e cada vez mais eficientes na Internet.

Segundo pesquisa divulgada pela LatinPanel, ´66% dos jovens ficam até três horas diárias plugados na rede. A nova palavra de ordem é a ´colaboração´, ou a produção do conteúdo. Trata-se de uma interatividade diferente, por ser pró-ativa.`

Na contra-mão desta tendência, analógica ou digital, a TV como a conhecemos está virando jornal: ainda existe, mas é cada vez mais irrelevante.

Aqui Ontem

Enquanto isso, aqui no Brasil, em meio à crise de tudo, investimos no passado. Reinventamos a pólvora, investimos milhões em velhas redes de TV estatais e perdemos a esperança na inovação e no futuro.

Esta semana, o SBT, sempre o SBT, anunciou a volta do… Aqui Agora. Ou seja, o que já era muito ruim vai ficar pior. O famigerado programa policialesco que acabou porque tinha que acabar, agora, feito pesadelo, volta a nos ameaçar. Volta ao nos aterrorizar.

O Aqui Agora teve a sua época. Apesar de criado na Argentina (em TV, nada se cria, tudo se copia), no Brasil inovou pelo realismo, surpreendeu e chocou o público refém das tardes preguiçosas e desleixadas na TV. É tradição do meio acreditar que o público vespertino merece o que há de pior na TV.

O Aqui Agora fez muito sucesso, mas foi vítima do desgaste da formula. Era sempre o mesmo, repetitivo e acomodado. Sofreu com o estigma de violência e com desinteresse comercial. Os anunciantes que sempre sabem tudo sobre as preferências e tendências do público logo perceberam que a formula de sucesso tinha prazo limitado de validade.

O Aqui Agora morreu porque tinha que morrer. Ninguém mais agüentava tanta violência e tanta ´armação´. Diz a lenda que os repórteres subiam e desciam escadas no SBT para ficarem bem exauridos e lerem seus offs com mais ´realismo´. O objetivo era ´parecer` que estavam narrando as fugas e perseguições.

O Aqui Agora morreu na hora certa. Assim como a TV como a conhecemos tinha que morrer.

Hoje, a tentativa de ressuscitar o passado, o pior do passado, é mais uma prova de desespero da TV brasileira. Pelo jeito, assim como o fracasso anunciado da TV digital, da TV Brasil e congêneres, o fim do meio está cada vez mais próximo. O obituário já está pronto. Só falta mais um empurrãozinho. Mais um escândalo, votação no Senado ou mais um Aqui Agora na programação.

Mas pelo jeito, nem todos apostam no fim imediato da TV.

Segundo o noticiário internacional (ver aqui), o governo do Irã confirma a abertura de um canal de televisão na …Bolívia. Estamos em boa companhia. Tudo a ver!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ´Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais´. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ´Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica´, ´O Poder das Imagens` da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ´Antimanual de Jornalismo e Comunicação` pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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