Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Comunique-se

ELEIÇÕES 2006
Antonio Brasil

Lula perde o primeiro debate, 9/10/06

“TV é antes de tudo uma combinação de muita emoção e alguns detalhes visuais.  Frente à telinha, principalmente nas noites de domingo, o telespectador está acostumado a não pensar. Fica dopado, em um certo estado de letargia cerebral induzido por muitos anos de bobagens na TV. O bom senso e a razão costumam ficar adormecidos em segundo plano.

Mas no debate da Band neste último domingo (08/10), o candidato Geraldo Alckmin (PSDB-SP) resolveu ignorar a tradição do dia e do horário e resolveu fazer televisão. Estava irreconhecível. Fez o dever de casa, ensaiou caras, bocas e movimentos gestuais, decorou muitos dados e como não tinha nada a perder, não desperdiçou tempo com carícias preliminares e partiu para o ataque.

Mentiroso e fraco

Pela primeira vez na história deste país, em rede nacional de TV, assistimos a um presidente da república ser chamado de mentiroso, fraco e leviano. Além de enfrentar o mito presidencial, exigiu aos brados, mesmo com o microfone desligado, respeito, respeito, respeito. Televisão é antes de tudo drama. A tendência do telespectador é torcer sempre pelo personagem ou candidato mais fraco. 

Não é à toa que o presidente Lula não compareceu a nenhum debate no primeiro turno. O plano original não incluía um segundo turno. Para as câmeras, Lula demonstrou despreparo, nervosismo e desconforto na posição de debatedor. Não está mais acostumado. Hoje, prefere os longos discursos nos palanques de campanha e as opiniões dos companheiros bajuladores. Não gosta de perguntas de jornalistas e criticas dos adversários. Em quase quatro anos, concedeu somente duas entrevistas coletivas a imprensa. A última, há poucos dias, foi meio forçada pelo resultado adverso no primeiro turno.  Lula estava visivelmente desconfortável de ter que se defender no debate. Agora, imaginem o mesmo debate com a candidata Heloisa Helena. Teria sido um massacre!

Mesas redondas

Mas como em todos os debates pela TV, não houve nocaute. O sistema é muito engessado por regras absurdas e extremamente limitadoras que não permitem um debate de verdade. Segundo pesquisa publicada pela Folha de S. Paulo nesta segunda (09/10), 67% dos entrevistados declararam a vitória de Alckmin.

Na minha opinião, debate na TV deveria ter mais cara de mesa redonda de futebol ao invés de imitarmos os debates presidenciais americanos. Somos povos diversos com temperaturas próprias. Mas é só uma sugestão!

O que ficou evidente, no entanto, é que neste embate, o presidente Lula foi mantido nas cordas durante quase todos os blocos pelo candidato Geraldo Alckmin. Repito. Ele não tinha nada a perder.

As tentativas de Lula de revidar os ataques eram dispersas e inconsistentes com o meio televisivo. Antes de tudo, um conselho. Não se lê perguntas durante um debate na TV. Pega mal. Para o telespectador, revela despreparo, descaso e o pior, demonstra visualmente uma falta de sinceridade.

Quem lê em TV é porque não sabe! Há muitos anos, o telespectador está acostumado com repórteres e apresentadores de telejornais que se utilizam de teleprompter – aquela maquininha que engana o telespectador para ‘parecer’ que os jornalistas sabem tudo. Por outro lado, os atores de novelas brasileiras não utilizam sequer pontos eletrônicos. Eles decoram seus textos para que seus personagens pareçam mais convincentes. Ler na frente das câmeras de TV é um pecado mortal. O candidato Alckmin, bem instruído pela sua assessoria, não perdeu a oportunidade de repreender Lula por ler suas longas e confusas perguntas. Após tantas denúncias e demissões, a equipe de comunicação de Lula está visivelmente desfalcada e despreparada para fazer televisão ao vivo. 

Detalhes reveladores

Aqui entre nós, apesar das falcatruas da edição do debate com Collor na Globo, a verdade é que Lula nunca foi muito bom de debate. Seu temperamento agressivo e o nervosismo lhe fogem sempre ao controle. Frente às câmeras, ao ter que ouvir as perguntas do adversário, principalmente nas imagens de quadro dividido, Lula demonstrava impaciência e irritação com os ataques do adversário. Ele não está mais acostumado. As câmeras da Band também o surpreenderam tomando diversos copos de água que também pode revelar nervosismo e desconforto. O telespectador de um debate na TV não percebe, mas é refém dos pequenos detalhes visuais. Ainda mais em um debate com tão poucos argumentos sólidos, raros itens de programas de governo e plenos de trocas de insultos e acusações.

Respeito e advertências

Além disso, em muitos momentos, Lula se perdeu no tratamento ao opositor. Em mais uma prova de despreparo, começou chamando o candidato Geraldo Alckmin de ‘Excelência’. Depois quis demonstrar autoridade ao citá-lo como ex-governador e acabou se referindo ao candidato como você e Alckmin. Para diluir os ataques, em um tom mais autoritário e professoral, Lula insistia em ironias e advertências ao candidato da oposição. ‘Vá com menos sede ao pote’.  Ou ‘Esse tom não fica bem em você, Alckmin!’

O candidato Geraldo Alckmin aproveitou a deixa para exigir respeito e repetir por inúmeras vezes que o presidente não respondia às perguntas. Insistia que Lula sabia mais sobre o governo FHC do que sobre a sua própria administração.

O papel dos jornalistas durante um debate de quase duas horas e meia divididos em 5 blocos foi mais do que discreto. Foi um papel secundário de coadjuvantes, quase imperceptível.

Aqui entre nós, para que serve um jornalista mediador em debate tão importante entre candidatos a presidência da república? Ricardo Boechat, de vez em quando, relembrava aos candidatos as regras engessadas do jogo televisivo. E só. Creio que é muito pouco para um jornalista tão bom.

Bum Bum Pom Pom

A Band tentou aproveitar a oportunidade do debate da melhor forma possível.

Mas não consegue deixar de ser a velha Band que sempre desperdiça grandes oportunidades. O excesso de comerciais de empresas menores e desimportantes durante os breaks revelavam a surpresa e o despreparo da rede paulista para usufruir desse verdadeiro momento histórico da nossa TV. A Band, pelo jeito, também não esperava um segundo turno. Mais uma vez, os anunciantes pequenos durante o debate revelavam ambições pequenas da rede Bandeirantes.

Mas aqui entre nós, de todos os momentos hilários do debate, nada superou a sabedoria ou a advertência de alguns comerciais para bebês: ‘Compare e escolha o melhor. Fraldas Bum Bum Pom Pom’. Por enquanto, já tenho o meu voto! Fraldas Bum Bum Pom Pom para presidente.

Agora é aguardar os próximos rounds. Quero dizer, os próximos debates!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.”



Eleno Mendonca

Para melhorar o nível da campanha, 9/10/06

“Se a economia não fosse tão engessada, Lula teria levado a Presidência da República no primeiro turno e com larga vantagem. Se as pessoas sentissem isso no dia-a-dia, se percebessem um Estado menos burocrático, com um juro nos padrões internacionais, livre de vínculo com a questão da dívida interna; se tivessem um quadro de dificuldade involuntária na questão do emprego, de abertura de empresas, de funcionamento de pequenos negócios, certamente teriam votado muito mais no candidato da situação. O debate de ontem na TV Bandeirantes, excelente porque confrontou pela primeira vez os dois principais atores dessa guerra por votos, mostrou-se mais político e bravateiro e pouco trouxe dessas questões práticas que movem o dia-a-dia de todos nós.

Lógico que é preciso haver discussões políticas e cobranças éticas. Ninguém quer um candidato cheio de boas intenções econômicas e sem um pingo de vergonha na cara. Os casos de corrupção estão aí e, no caso, os dois lados devem explicações. Mas falta muito o lado que de fato interessa a quem se posta na poltrona da sala. Afinal, terei emprego no ano que vem? Que rumo terão os impostos? O que se fará para desburocratizar a economia? Haveria controle maior de gastos público, em que áreas? E a saúde, educação, segurança? Poderei sair de casa e caminhar pelas ruas sem a inquietude que nos acompanha?

Os candidatos precisam se dar conta disso também em suas propagandas. Recebo diariamente dezenas de emails com cunho exclusivamente eleitoral. Alguns de amigos que defendem este ou aquele candidato de forma absolutamente apaixonada e, eu diria, cega. Ninguém é tão bom nem ninguém é tal mau. De perto, todos têm lá suas virtudes e defeitos. Mas recebo também os emails dos comitês e, para informação geral, deleto a todos sem ler. Não sei se é prática das pessoas adotarem esse caminho, mas como sei que é como me diz um amigo que de tempos em tempos me chama para um chope: ‘Vamos nos encontrar para falar bem da gente e mal dos outros’. Essa parte prefiro deixar para a imprensa.

Acompanho a tudo, absolutamente a tudo, e quero estar bem informado. Por isso leio vários veículos e vou formando uma opinião. Acho que de maneira geral se tem mostrado uma boa cobertura das eleições. Por isso, convém avisar aos candidatos e seus marqueteiros que a imprensa continua sim muito forte. Não fosse a publicação daquela foto na primeira página dos jornais e o presidente Lula teria levado o pleito em primeiro turno. E vejam que o escândalo já estava na mídia, em todas elas, há semanas sem mexer um ponto nas intenções de voto. Portanto, usem os canais que dispõem de forma diferenciada. Falem bem de vocês e mal dos outros, mas mostrem de forma direta e sem rodeios as dificuldades que existem no País e as soluções lógicas que vocês propõem. Se fizerem isso, quem sabe posso até começar a ler seus emails.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Rádio Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.”



MUDANÇAS NO ESTADÃO
Eduardo Ribeiro

Muda o comando do Estadão, 6/10/06

“O Grupo Estado acaba de anunciar formalmente a troca de comando editorial da empresa. O atual diretor de Informação (Redação), Sandro Vaia, e o Superintendente interino, Elói Gertel, deixam as respectivas funções e um dos substitutos já está definido: é Ricardo Gandour, atual diretor-executivo do Diário de S.Paulo, que aceitou convite para dirigir a área de conteúdo da empresa. O diretor-superintendente Célio V. dos Santos Filho acumulará interinamente a gestão das áreas de negócios que se subordinavam a Gertel. Dá-se como certa a contratação de Maurizio Mauro como CEO do Grupo, mas é pura especulação, por enquanto. Mauro foi o presidente-executivo da Abril até o início do ano, saindo quando Roberto Civita, presidente do Conselho, decidiu retomar as funções executivas. Sua eventual ida para o Grupo Estado foi divulgada na coluna de Ancelmo Gois, de O Globo, nesta sexta-feira (06/10).

Vaia já deixou suas funções na empresa e, até a chegada de Gandour, o jornal será tocado pelo editor-chefe Flávio Pinheiro e seu adjunto, Roberto Gazzi. Foi tudo muito rápido e surpeendente. Dentro da redação, a informação que circula – mas que não é confirmada – é de que Gandour assumiria o cargo em novembro. Embora sua saída do Diário também já esteja oficializada, ele permanecia na empresa despachando normalmente nesta sexta(06/10).

Sandro e Elói, que estavam há anos no Grupo Estado, participaram ativamente do processo de reestruturação da empresa, que teve como elemento motivador um plano incentivado de aposentadoria. Esse plano, posto em operação pouco mais de três meses atrás, teve entre os seus objetivos rejuvenescer a equipe e reduzir custos com folha de pagamento, oferecendo condições vantajosas para os funcionários mais antigos. Através dele, segundo apurou este J&Cia, deixaram o Estadão nesse período mais de uma centena de profissionais, a maioria jornalista. É o caso, entre outros, de Reali Jr., Paulo Sotero, Eduardo Martins, Castilho de Andrade, Márcia Glogovski, José Maria Mayrink, Adalbe Negrão, Denise Mirás, Marisa Folgato, Mariana Caetano, Luiz Carlos Ramos, Carlos Franco, Marinês Campos, Mauro Mug e Valdir Sanchez, lista agora engrossada pelos dois diretores.

A informação sobre a troca de comando do Estadão vinha circulando no mercado havia cerca de dez dias, mas de forma muito reservada, tanto que a redação só veio a saber nesta quinta-feira (05/10). Foi recebida com surpresa, sobretudo por ter sido concretizada no meio de um processo eleitoral dos mais acirrados e que seguirá assim, tudo faz crer, no segundo turno. Os rumores dão conta de que o nome de Gandour foi levado ao Conselho de Administração pelo conselheiro Carlos Alberto di Franco, que dirige o programa Master em Jornalismo, apoiado pela Unversidade de Navarra. Sobre o futuro, Vaia e Gertel ainda não se manifestaram publicamente. Comunicado distribuído no meio da tarde desta sexta e assinado pelo presidente do Conselho de Administração, Roberto Mesquita, afirma que ambos vão se dedicar a projetos pessoais, sem especificar quais.

Extra-oficialmente, esta coluna apurou que por trás da decisão estariam os resultados obtidos pelo jornal, muito aquém das expectativas do Conselho. A esse respeito, fonte de dentro do jornal ouvida por J&Cia diz que quando Sandro e Elói assumiram os respectivos cargos, cinco anos atrás, logo após o afastamento de Pimenta Neves, por conta do assassinato de Sandra Gomide, ‘o Grupo Estado tinha uma dívida equivalente a cinco vezes sua Ebtida, e hoje essa dívida equivale a pouco mais de uma vez a Ebtida’ e que ‘durante esse período, o Grupo foi saneado financeiramente e renegociou as dívidas com os bancos, tendo, nos últimos meses, obtido um crescimento de 10% no número de assinantes’. A fonte diz que esse quadro tem sido apresentado em vários fóruns, inclusive em palestras no auditório da empresa, em reunião com os editores, como a ocorrida nesta quinta (5/10), quando também a questão da elevação da circulação foi anunciada. Acrescenta que ‘o faturamento do ano, do grupo como um todo, está 14% acima do obtido no mesmo período do ano passado’. Diz ainda que ‘de fato, o Estadão está com um rombo no orçamento deste ano – em parte por causa do plano de demissões incentivadas, em parte por gasto de papel maior que o previsto (devido à Copa, às eleições e outros grandes acontecimentos) e em parte porque, por pressão dos acionistas, exige-se um faturamento acima do que é possível, viável’. E acrescenta que a decisão foi motivada pelo sentimento de vingança dos acionistas ‘que foram – por pressão dos bancos credores – afastados das funções executivas tempos atrás. Agora que a situação está saneada, dispensam profissionais que durante estes anos não atenderam a este ou aquele pedido’.

Alheio às questões familiares, Gandour, que chega para assumir a Diretoria de Conteúdo, deixa o cargo de diretor-executivo do Diário de S.Paulo, que assumiu em abril de 2002. Desde a saída de Paulo Moreira Leite, há mais de um ano, ele vinha acumulando também a Diretoria de Redação. Gandour, que também é engenheiro formado pela UFSCar, foi por muitos anos da Folha de S.Paulo, sendo um dos responsáveis pela implementação do projeto de fascículos que permitiu ao jornal, nos anos 90, circular com tiragens superiores a 1 milhão de exemplares. De lá, transferiu-se para a Editora Globo, como diretor, ocupando a função de publisher, inclusive da revista Época. Sua saída do Diário de S.Paulo já foi oficializada, conforme comunicado distribuído no final desta quinta (05/10) pelo diretor geral da Infoglobo, Paulo C. Novis. Diz o comunicado que Gandour sai ‘atendendo a convite para se dedicar à área de conteúdo dos jornais O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde’. Como não há ainda decisão sobre sua substituição, o staff do Diário vai se reportar diretamente ao próprio Paulo Novis nesse período de transição.

A seguir, a íntegra do comunicado do Estadão distribuído na tarde desta sexta para seus colaboradores, assinado por Roberto Mesquita:

‘Sandro Vaia e Elói Gertel, que desde a saída dos acionistas do comando Executivo do Grupo Estado ocuparam interinamente as funções de diretor de Informação e superintendente de Informação e Negócios, respectivamente, após um longo período no comando das áreas sob suas responsabilidades, deixam suas posições para se dedicarem a projetos pessoais. A posição de diretor de Conteúdo, até então ocupada por Sandro Vaia, será assumida pelo jornalista Ricardo Gandour. Ricardo Gandour, 44 anos, é jornalista pela Fundação Cásper Líbero, engenheiro pela UFSCar e com Especializações em Publishing pela Stanford University e em Gestão pelo Insead. Gandour sai da Infoglobo, na qual ocupava atualmente a posição de diretor executivo do Diário de S. Paulo. O diretor-superintendente Célio V. dos Santos Filho acumulará interinamente a gestão das áreas de negócios que se subordinavam a Elói Gertel. Na reunião de hoje, 6 de outubro, o Conselho de Administração aprovou moção de agradecimento aos dois diretores pela dedicação e competência com que desempenharam suas funções no Grupo Estado.’

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.”



VÔO 1907
Milton Coelho da Graça

Após a tragédia aérea, a batalha terrestre, 5/10/06

“Joe Sharkey cuida da coluna sobre viagens de negócios no New York Times. Escreve bem e viveu a incrível e inédita experiência de sobreviver a uma colisão, a mais de 11 mil metros de altitude, entre o jato executivo em que viajava e um outro, duas vezes mais comprido, três vezes mais largo e com 155 pessoas a bordo, que não tiveram a mesma sorte de Sharkey: seus cadáveres despedaçados estão sendo recolhidos no meio da selva amazônica.

Mas Sharkey, que viajava de carona a convite da Excel-Aire, compradora do avião à Embraer, não vem dando um testemunho plenamente confiável do que ocorreu antes e depois da tragédia.

Começou informando a seus leitores incautos, logo na primeira matéria, que Cachimbo é uma base ‘secreta’, mesmo sem indicar um só fato para justificar o adjetivo. A explicação mais plausível para essa falsidade (até agora não corrigida) seria a de insinuar que o caráter de ‘secreta’ teria impedido uma resposta mais rápida da base ao SOS emitido pelos pilotos do jato executivo. E, em seu blog,  Sharkey vem fazendo comentários que provocaram fortes protestos de internautas brasileiros – possivelmente ligados às vítimas.

Um especialista em direito aeronáutico me disse que o desastre pode levar à falência da Excel-Aire, se ficar constatada a culpa dos pilotos americanos, porque as seguradoras do Boeing da Gol (bem como dos tripulantes e passageiros) certamente irão processá-la para reaver as indenizações a serem pagas. 

Lisa Henderson, porta-voz da Excel-Aire, disse ao New York Times que ‘a empresa não tem evidências de que seus pilotos fizeram qualquer mudança inesperada no plano de vôo, que estabeleceu a altitude de 37.000 (11.300 metros) da cidade de São José dos Campos, onde o avião foi produzido, até Manaus, de onde o vôo da Gol era originário e onde os passageiros da Excel-Aire planejavam passar a noite.’ 

Adiante ela foi taxativa, afirmando que os pilotos ‘registraram seu plano de vôo e não se desviaram’. A batalha judicial já está se armando.

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Entenda melhor o nosso mundo

Se você se interessa pelas bagunças químicas que ocorrem em nosso cérebro e só recentemente começaram a ser desvendadas pela ciência, não deixem de ler o artigo da jornalista Cátia Moraes (‘Eu tomo antidepressivo – graças a Deus’, página 7 de O Globo, nesta sexta-feira, 7/10). Leia aqui – para quem tem cadastro.

Cátia, com linguagem notavelmente adequada, nos dá um panorama da causa cada vez mais comum de alterações de comportamento – baixa auto-estima, apatia, desinteresse e perda de interesse -, de como cada vez mais a ciência as identifica como desequilíbrios hormonais, e de como cada vez mais vai se tornando possível controlá-las e recuperar uma vida normal.

Insisto, não percam. Ouso dizer – simplesmente com base em quase 50 anos de convivência com centenas de companheiros de redação – que a incidência desses problemas deve ser mais freqüente entre nós do que na maioria das outras profissões e/ou atividades.  Cátia abre a porta para um melhor entendimento do nosso mundo.  

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.”



MÍDIA & VIOLÊNCIA
Cassio Politi

Sinal vermelho para repórteres nas favelas, 6/10/06

“A morte de Tim Lopes representou para o Jornalismo mais do que um divisor de águas na perigosa relação entre imprensa e crime organizado. Há uma nova realidade nas redações: jornalistas não podem mais ir às favelas. É assim em grandes veículos, como na TV Globo e no jornal O Globo.

Durante um curso de Jornalismo Investigativo, semana passada no Rio, o assunto foi amplamente debatido por profissionais experientes na prática desse tipo de reportagem. No evento, promovido pelo próprio Comunique-se, pôde-se ouvir Caco Barcellos, Flávio Fachel e Chico Otávio a respeito. Não há uma opinião unânime entre eles, embora não haja grandes divergências.

Por um lado, é compreensível a preocupação dos que comandam as redações em proteger seus repórteres. Assim como em guerras, o jornalista já foi uma figura neutra em meio a conflitos. Quem nunca viu imagens de um fotógrafo à beira da linha de fogo entre dois exércitos? Poderia ser facilmente alvejado por um lado ou pelo outro, mas estava ali, ileso, na sua nobre neutralidade. No mundo do crime organizado, a evolução parece ser a mesma.

Outro argumento que reforça tal proibição é o fato de o jornalista ter de pedir autorização à associação dos moradores das favelas para gravar imagens ali. Os editores e chefes de reportagem perguntam: é sensato reconhecer o poder dessas associações? Pode não parecer, mas o morro é uma área pública. Em tese, qualquer cidadão pode entrar ali, independentemente da legitimidade de ocupação daquela área, que é uma outra discussão.

Do outro lado, há a visão dos repórteres habituados às ruas. Eles são unânimes em dizer: isso prejudica, e muito, a reportagem. Há aqueles que acatam a decisão. Há aqueles que vez ou outra tentam encontrar alternativas para fazer grandes matérias policiais mesmo estando no ‘asfalto’ (ou seja, para cá do pé do morro).

Há quem tenha condição de simplesmente não acatar tal veto. Caco Barcellos está longe de qualquer rebeldia a regras impostas, mas conhece cada ramificação do crime organizado. Na produção do livro Abusado – O dono do morro Dona Marta, ele passou vários anos em contato direto com líderes do tráfico. Conhece os riscos. É um desperdício tirá-lo das favelas. É um risco calculado mantê-lo.

O próprio Caco fez uma observação que nos faz pensar. O assassinato do Tim Lopes foi grave, como qualquer crime dessa natureza. Mais temerário, pelas conseqüências possíveis para a profissão, talvez seja o recente seqüestro de Guilherme Portanova, repórter da TV Globo, e de Alexandre Calado, auxiliar-técnico.

(*) Cassio Politi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até 2004. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net. Ministra cursos de extensão há cinco anos e deu aulas em 24 estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. Atualmente, tem suas atenções voltadas para a área de Marketing. Ocupa o cargo de Diretor da Escola de Comunicação, a unidade de cursos e seminários do Comunique-se.”



PIAUÍ
NAS BANCAS
Comunique-se

Revista piauí estréia com proposta inovadora, 9/10/06

“Com a proposta objetiva de oferecer grandes reportagens sobre temas atuais, chegou às bancas a revista piauí, com ‘p’ minúsculo, iniciativa do documentarista João Moreira Salles. Textos aprofundados compartilharão seu espaço com contos, charges, ensaios fotográficos, quadrinhos, poesias, trechos de romance e qualquer forma de arte que possa ser contida em uma revista impressa.

A linha editorial da publicação surpreende por sua ousadia. No que tange o jornalismo, piauí não possui editoriais nem colunistas, apenas matérias e reportagens. A revista se compromete a partir de situações reais chegar ao seu produto final, deixando de lado as suposições. Nada de googlejournalism.

Também não existe um foco narrativo pré-definido, qualquer tema que tenha potencial para embasar uma grande reportagem poderá ser abordado pela revista. Por exemplo, em sua primeira edição o texto ‘Bom-dia, meu Nome É Sheila’, onde a repórter Vanessa Bárbara discorre sobre as nuances do telemarketing, divide espaço com um relato de Ivan Lessa, jornalista há 28 anos morando em Londres, que voltou para registrar suas impressões sobre o Rio de Janeiro na publicação.

Humor, leveza e graça também permeiam a proposta editorial. O site da revista deixa isso claro, ao afirmar que ela ‘fugirá dos clichês e envidará todos os esforços para evitar expressões como ‘envidar todos os esforços’. Da mesma forma, estão vetados termos como ‘governança corporativa’, ‘recursos não-contabilizados’ e ‘Roberto Justus’. piauí também conta com horóscopo, escrito todo mês por uma pessoa diferente e com estilo único, lúdico e leve, muito diferente das repetições encontradas na maioria dos veículos.

Os textos não possuem uma restrição de tamanho, é a diagramação da revista que se submete ao trabalho dos repórteres e não o contrário. O formato maior do que o padrão para revistas brasileiras pretende dar mais liberdade criativa e fazer com que o conteúdo impresso naquelas 64 páginas durem um mês nas mãos do leitor, para acompanhar a periodicidade da revista.

O time de profissionais que compõem a piauí a qualifica para encarar todos os desafios que a revista se impôs. Entre muito outros, nomes como Danuza Leão, Mario Sergio Conti, Eduardo Coutinho, Marco Sá Corrêa, Rubem Fonseca, Luiz Schwarcz e Angeli, que assina a capa da primeira edição, compõem seu corpo editorial. A revista será produzida pela carioca Editora Alvinegra e a editora Abril será a responsável por sua impressão, distribuição, gerenciamento de assinaturas e ações de marketing e divulgação.

O texto de apresentação da revista em seu site resume bem sua proposta de pluralidade ao afirmar que piauí ‘terá como matéria-prima a bagunça brasileira e, como pano de fundo, um período histórico de perplexidade geral. Numa situação como essas é melhor ser curioso, e ir atrás do real, do que prescrever receitas infalíveis de salvação. Um pouco de dúvida e ceticismo não faz mal à ninguém – e a nenhuma revista. piauí não tem resposta para nada, nem para quem pergunta por que ela se chama piauí’, conclui seu bem humorado texto de apresentação.”



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Delfim emburreceu, 5/10/06

“O interesse da vida

refletia apenas

indiferença em face do destino.

(Celso Japiassu in Leo, novo poema)

Delfim emburreceu

O considerado Guaracy Gomes Carneiro, de São Paulo, garante que nos escreve ‘às gargalhadas’, porque Delfim Netto ‘levou um tranco tão formidável nas eleições que perdeu até o rumo da língua portuguesa’. É mesmo. Sob o título Suponhamos…, escreveu Sua Excelência na Folha de S. Paulo:

(…) Como cortar a dívida do governo sem expropriar outra vez todos os brasileiros, pois eles é que são os portadores da dívida, não os bancos (como sugerem os gênios), que apenas a intermediam? Não têm respostas! Resta, apenas, a hipótese genial: ‘Suponhamos que essas questões não existam’…

Carneiro, que não é parente do Enéas, diverte-se:

‘Quer dizer que os bancos intermediam a dívida? Pois eu estava convencido de que os bancos intermedeiam não apenas isso mas, principalmente, o caminho do Brasil na direção do brejo…’

Janistraquis lamenta profundamente o, com perdão da palavra, emburrecimento do todo-poderoso ministro da ditadura militar e tem certeza de que o insidioso mal foi contraído por osmose, nos encontros íntimos entre o deputado derrotado e seu chefe, o presidente da República.  

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Inicial minúscula

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cuja varanda assistiu à chegada de formidável mala sem alça no Palácio do Planalto, mala em cuja etiqueta lia-se ‘Martha Suplicy’, pois Roldão resolveu deixar a política pra lá e despachou por via aérea:

O Correio Braziliense fez excelente cobertura do desastre com o vôo 1907 da Gol, dedicando ao caso sete páginas na edição de domingo, dia1º, e mais sete na edição de segunda-feira. Só não entendi porque grafaram o nome da fábrica do avião com inicial minúscula – boeing – , como se fosse um substantivo comum!!!

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São Paulo, 5 a 1

Depois da goleada de ontem à noite no Morumbi e tantas outras e recentes humilhações, Janistraquis filosofou:

‘Naqueles anos 40/50, quando o Vasco era o melhor, o Brasil era melhor. E, depois da II Guerra, o mundo era muito, mas muito melhor…’

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Mil anos

O considerado Fausto Osoegawa, de São Paulo, ficou perplexo com o que leu no Jornal do Brasil Online:

Lula sobre Collor: ‘Certamente ele vai fazer um trabalho excepcional’ 

RIO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse há pouco, em coletiva em Brasília, que o ex-presidente Fernando Collor, eleito senador por Alagoas este ano pelo PRTB, pode ser uma boa opção para o Senado porque ele traz para o Congresso a experiência como ex-chefe da nação.

Osoegawa informou que lhe faleciam palavras para nos transmitir seu estupor, porém Janistraquis entendeu:

‘Está tudo certo, considerado, tudo certo; para não interromper o Reich de Mil Anos, Lula e seus companheiros estão dispostos a fazer aliança até com a esquerda!’

Em seguida, meu secretário espalhou internet afora este titulinho que leu na Folha Online:

Collor diz que está mais próximo de Lula do que de Alckmin

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Elio Gaspari

Leia no Blogstraquis o artigo que Elio Gaspari escreveu na Folha de S. Paulo, intitulado A marcha dos palhaços. Sinta o drama:

NA SEGUNDA-FEIRA, com aquelas olheiras que só a adversidade eleitoral produz, ‘nosso guia’ se candidatou ao lugar de coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República (…).

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Título feio

O considerado leitor Hermes Fannucci, de Curitiba, lia as novidades do primeiro turno na internet quando fez uma pausa para apresentar o resultado de outra eleição, desta vez entre os amigos:

‘Juntamente com Serra, foi eleito o pior título desse período eleitoral:

Serra vence e se cacifa para 2010, obra do UOL. O considerado não acha esse ‘se cacifa’ a coisa mais horrível?’

Janistraquis acha que o título nem precisaria se candidatar, ó Fannucci; seria eleito por aclamação…

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Pitaco

O considerado Demóstenes Pinheiro de Arruda, de Salvador, que não votou no ‘fenômeno’ Jacques Wagner, pede licença para dar um ‘pitaco’:

‘Vocês não acham que se PC Farias fosse vivo seria a pessoa indicada para administrar as contas do PT neste segundo turno?’

Achamos, ó Arruda; achamos. E da próxima vez não precisa pedir licença.

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Marcelo Coelho

Leia no Blogstraquis o excelente artigo que Marcelo Coelho escreveu na Folha Ilustrada, intitulado O Homem de Gelo:

(…) Ironizei, num texto que já faz parte do passado, a sem-gracice com que Alckmin tecia elogios à tal ‘dona Nhá’.

Ele cometia um deslize, a meu ver, classificando de ‘imbatível’ o arroz-com-feijão da cozinheira. Se havia uma coisa imbatível, naquele momento, era a candidatura Lula. Não houve analista político que não desdenhasse das chances de ‘Geraldo’.

Agora, o picolé de chuchu ameaça o governo do Fome Zero.

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Besteira italiana

O considerado Giulio Sanmartini, nosso correspondente na Europa, aquele que é o mais carioca dos italianos, escreve de Belluno para contar uma boa do Corriere della Sera, como prova definitiva de que ‘escrever besteiras na imprensa não é exclusividade dos brasileiros’. Dê uma olhada no Blogstraquis.

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Incidente?!?!

O considerado Valmir Campelo Dias da Silva, do Rio, enviou este título de chamada de capa do Globo Online:

Desaparecimento é primeiro incidente grave da empresa Gol

Campelo lembra que incidente é uma coisa e acidente é outra:

 ‘O que aconteceu, e matou 155 pessoas, foi um a-ci-den-te, como o Houaiss nos ensina — qualquer acontecimento, desagradável ou infeliz, que envolva dano, perda, lesão, sofrimento ou morte; incidente, segundo o mesmo dicionário, é dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.    

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Celso Japiassu

Leia aqui a íntegra de Leo, novo poema de Celso Japiassu cujo excerto é a epígrafe desta coluna.

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De Janistraquis

‘A humildade caiu-lhe à cabeça como uma bigorna que despencasse do décimo andar de um edifício em São Bernardo do Campo.’

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Cruzada petista

‘O que seria o Brasil sem o PT? É de todo importante que o PT sobreviva. Como a Igreja Católica sobreviveu aos seus erros. Não se pode destruir uma instituição por causa de erros de seus integrantes’ (Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil).

Janistraquis leu, releu, não entendeu e ficou o resto do dia com cara de quem não gostou do que comeu.

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Repetência

Deu na coluna do sempre divertido Claudio Humberto:

Para algumas pessoas, o governo Lula é tão ruim que, se ganhar de novo, não será um presidente reeleito. Será um presidente repetente.

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De Janistraquis — 2

‘Considerado, Gedimar e Valdebran é dupla caipira ou parelha de zagueiros de time da Terceirona?’

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Esculhambação

Janistraquis leu no excelente site Consultor Jurídico:

Zero absoluto — Ninguém é aprovado em concurso para juiz de MT

Dos 740 candidatos que prestaram concurso para juiz em Mato Grosso nenhum, mas nenhunzinho, foi aprovado. O resultado foi anunciado em sessão pública convocada pelo desembargador Licínio Carpinelli Stefani, presidente da Comissão Especial Examinadora do Concurso Público do estado, na terça-feira (15/8).

Meu distraído secretário, que é torcedor do Vasco e anda a confundir vadiagem com veadagem, sentiu aquele alívio de quem se alivia:

‘Ainda bem que o concurso não foi para Juiz de Direito, considerado; esses do futebol não fazem mesmo tanta falta.’

(Leia aqui a excelente matéria de Priscyla Costa)

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Sabor antigo

A considerada Flávia Theodoro Gomes, de Salvador, pede desculpas ‘pela notícia velha’ e envia textinho da Folha de S. Paulo com sabor pós-Copa do Mundo:

TURFE: JÓQUEI PEDE DESCULPA POR CABEÇAD3A — Paul O’Neill agrediu seu cavalo após ficar irritado com seu comportamento em prova na Inglaterra. Ele ainda pode ser punido. ‘Nunca havia feito isso antes. E estou feliz em dizer que o cavalo está OK.’

Flávia, que garante gostar mais de bicho que de gente, ficou horrorizada com a atitude do jóquei:

‘O moço agrediu o cavalo com uma cabeçada à Zidane!!! Veja se tem cabimento uma coisa dessas.’

Janistraquis acha que somente um animal cometeria tal agressão; portanto, Flávia, segundo meu secretário, você deveria ser mais compreensiva com o enlouquecido jóquei. 

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Nota dez

Ao escrever sobre a globalização, assunto de mais um livro de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, o Mestre Sérgio Augusto deixa rolar:

(…) Se bem que por aqui a coisa esteja pretíssima-com sanguessugas liberados pelo TSE para as eleições de domingo e Lula costurando alianças com gente da pior espécie, como Jader Barbalho, sendo chifrado pela máfia sindical-partidária que se infiltrou no aparelho do Estado e metido numa espécie de ‘ardil 22’ (ou sabia de todas as falcatruas cometidas pelos delinqüentes do PT ou é o chefe de Estado mais trouxa de todos os tempos)-lá fora, o panorama é desolador. Da Hungria à Tailândia. Do Vaticano ao Japão. Do EUA à Africa do Sul. Da Indonésia ao México. 

(Leia no Blogstraquis a íntegra do excelente artigo/ensaio publicado no caderno Aliás, do Estadão.)

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Errei, sim!

‘O QUE RELUZ – Título de uma crítica de Tárik de Souza a um show de Arrigo Barnabé, no Caderno B do Jornal do Brasil: Nem tudo que reluz é blues. Achei confuso, mas Janistraquis aplaudiu: ‘Considerado, seja honesto’, desafiou; ‘afinal, não é sempre que o blues reluz; o título é corretíssimo!!!’. Fiquei na dúvida se meu secretário caiu na conversa do Tárik ou foi definitivamente cooptado pelo pessoal do Arrigo.’ (julho de 1989)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.”



JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Um fim de semana qualquer, 4/10/06

“Olá, amigos.

A semana sem rodada do Campeonato Brasileiro, e ainda com o grande espaço destinado às eleições, fez com que a imprensa esportiva tivesse também a sua pausa, ou pelo menos uma pequena quebra do ritmo frenético de trabalho que toda reta final de competição importante nos impõe. Essa pausa fez com que os colegas que trabalham nas editorias de esporte tivessem um fim de semana mais tranqüilo. Eu não fui exceção, e confesso que parei para analisar um pouco este ritmo a que nós somos impostos ano após ano.

Ser pai de uma menina de quase dois anos de idade, e estar ausente de muitos dos seus fins de semana, me faz tomar parte do clube dos jornalistas que pouco vêem seus filhos crescerem. Conversando com colegas mais experientes, confesso que temi pelo meu futuro como pai. Um me contou que, dos 25 aniversários de um de seus filhos, ele só participou de dois – os dois primeiros. Outro me disse que suas filhas gêmeas não o reconheciam até os três anos de idade, tamanha sua ausência de casa. Um terceiro, jovem e experiente repórter internacional, disse que já acordou em hotéis pelo mundo sem saber aonde estava, tendo que ligar a televisão para reconhecer o idioma e tentar lembrar-se do seu paradeiro.

Essa é a rotina dos jornalistas esportivos, que colocam o seu dever profissional e o prazer de fazerem o que fazem acima de qualquer coisa, inclusive da família ou da saúde. Ao mesmo tempo em que me orgulho de pertencer a tão dedicada classe, sinto uma ponta de tristeza por ver que somos tão pouco reconhecidos diante do esforço que empenhamos e de tudo do que abrimos mão pela nossa profissão.

A pausa das eleições me deu a chance de curtir a minha família e acompanhar menos freneticamente parte de um fim de semana esportivo. Eu estaria mentindo se dissesse que não liguei algumas vezes a tevê para assistir a um joguinho dos campeonatos europeus de futebol, ou que não liguei o computador para ver as últimas notícias dos clubes nacionais. Mas confesso, sem culpa alguma, que uma pausa na rotina massacrante de cobertura esportiva caiu como uma luva para que fosse possível ver o quanto somos dedicados às nossas carreiras.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.”



INTERNET
Bruno Rodrigues

Você gosta, mesmo, da web?, 5/10/06

“Esta semana fui entrevistado por um aluno de uma faculdade de Jornalismo que me fez parar para pensar – e muito. Além das perguntas habituais, havia uma rara, das que gosto: as que comparam web com ‘velhas mídias’.

‘Será que, na hora consumir informação, chegamos a um estágio em que jornais, revistas, rádio e tv ficaram em segundo plano’?

Não chegamos lá, e talvez isso nem aconteça. Há um hábito de décadas (em alguns casos, séculos) de consumir informação de outras mídias, a facilidade do leitor – no caso do jornal impresso – em encontrar o que deseja em um invólucro único sem precisar ‘navegar’, e por aí vai. Mas não foi este o ponto que me fez pensar.

Será que, de fato, gostamos da web?

A Rede ainda é uma novidade deslumbrante. Para fazer qualquer análise isenta, é preciso desvencilhar-se de holofotes, da purpurina e de quilos de confete.

Você gosta de saber, agora, do que aconteceu há cinco minutos? Ou prefere ler o jornal no dia seguinte, com um apanhado geral? Para muitos, esta realidade é a que combina com um dia-a-dia corrido.

Compras on-line? Sem tocar no produto? Escolher um DVD sem manuseá-lo, experimentá-lo, senti-lo? Talvez seja melhor ir à loja, e depois pedir pelo site. É o que muitos fazem.

Utilize um serviço público que seja prestado, apenas, via web. Parece prático e moderno, mas ouse ter uma dúvida que precise de resposta rápida. Em muitos casos, você verá que postos de atendimento e 0800 o mandarão de volta à internet. ‘Só pelo site’, dirão.

Nem tudo é perfeito na Rede. Ainda temos muito que aprender, e não basta olhar para a própria internet para ver o futuro. É preciso observar o subjetivo, o emocional, o ‘eu gosto’ e o ‘eu não gosto’ do usuário.

Não somos obrigados a gostar de tudo o que a Rede oferece. Para muitos, os comunicadores instantâneos já fazem parte da rotina; para outros, até o e-mail cria ruído no contato pessoal. Há os que transformaram o blog em modo de vida; há os que não vêem o mínimo motivo para tê-los.

Muito do que virá está na aceitação de que a web é apenas uma mídia – com vantagens e desvantagens em relação às que surgiram antes.

O combustível da Rede, contudo, está na liberdade do cidadão dizer o que prefere – ou não – encontrar na internet; em apontar o que ainda precisa evoluir; em avaliar o que acha que não deu certo, e o que já é impossível viver sem.

Vamos deixar o usuário falar – não apenas o usuário sinônimo de web, mas aquele que consome informação em geral, venha ela do jornal, da revista, da tv, do rádio.

É desta comparação equilibrada que surgirá uma web ainda mais útil e persuasiva – acredite.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.”



CASO CICARELLI
Gilberto Martins

Sex on the beach: a mídia pode publicar?, 9/10/06

“Sex on the beach era apenas um nome de drink. O episódio ocorrido há duas ou três semanas envolvendo uma celebridade e seu namorado em praia na Espanha, resgatou seu poder evocativo e inspirou acaloradas discussões. Os ingredientes eram realmente ‘quentes’: sexo, fama e um misto de exibicionismo e voyeurismo, condimentados por (falta de) privacidade, imagem, e liberdade de imprensa. Como fica essa ‘lasagna’? 

Para responder a pergunta, é preciso separar as lâminas. Primeira: ao ar livre, em local público aberto a qualquer um e em plena luz do dia, não parece haver privacidade possível, portanto não haveria direito a ela. Inclusive, ou principalmente, para celebridades.

Segunda lâmina: quanto a imagem, o buraco pode ser mais embaixo, conforme os usos variados que o vai-e-vem das ondas possa revelar. Pode ocorrer, por exemplo, de o fato ser passado adiante como arquivo de vídeo com intuitos diretos ou indiretos de promoção daquele que o enviou como e-mail ou o tornou disponível em um site. Nessas circunstâncias, a exploração da cena deve ser permitida? A negligência dos personagens pode ser comparada a autorização tácita?

Essas questões foram discutidas em acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que bem retrata a hesitação do Judiciário diante de tais assuntos. A decisão do tribunal foi em votação por dois a um, e além de não ter sido unânime, se contrapôs à decisão do juiz da primeira instância, que havia sido contrário à proteção dos Autores da ação.

Por ora, as decisões foram apenas provisórias, atendo-se ao pedido de imediata retirada da matéria pelos Réus, que são provedores de acesso e/ou de hospedagem. Aliás, esse fato, de a mídia ter sido a Internet, chamou a atenção de todos os desembargadores, que destacaram o risco de a decisão judicial ser inócua (pois uma infinidade de outros sites pode continuar a veicular a matéria) e a situação de fato já consumado para aqueles que tinham interesses conexos (particularmente, os patrocinadores de campanhas publicitárias estreladas pela celebridade, os quais, coincidentemente ou não, vieram a cancelar tais campanhas depois do episódio).

Aparte a premência, ou não, da retirada do ar, a decisão enfocou também alguns aspectos de mérito, com grande número de argumentos e contra-argumentos:

i) ausente informação de relevante interesse público, não há justificativa para se sacrificar o direito pessoal de imagem; em sentido oposto: avaliar interesse público pode levar a censura, e além do mais, celebridades sabem que seus comportamentos públicos motivam curiosidade coletiva;

ii) se uma foto se concentrar na paisagem em geral em vez de numa pessoa presente em tal paisagem, o interesse particular desta última é afetado independentemente de ela se encontrar em espaço público (a analogia comentada foi sobre a condenação em um caso em que a foto captou um torcedor com o dedo no nariz na arquibancada de um jogo de futebol);  mas por outro lado, quem comparece em público, se arrisca a ser flagrado pelo zoom de câmeras fotográficas ou filmadoras;    

iii) algumas estórias podem ser contadas mas não devem ser filmadas, a julgar pela premissa de que uma imagem vale mais do que mil palavras; contudo, vivemos numa era em que a informação é especialmente visual;

iv) na dúvida, o direito à privacidade deve prevalecer, porque se ele for lesado, jamais poderá ser recomposto, ao passo que o direito à informação pode ser restaurado a qualquer momento;

v) a divulgação de conduta de celebridade costuma ter finalidade mercantil, mais do que simplesmente direito à informação;

vi) um fato da esfera tão íntima das pessoas, como é uma cena de sexo, requer autorização expressa para a publicação de qualquer material, não basta autorização tácita;

vii) praia não é lugar para exibição de performance sexual, portanto foi conscientemente assumido o risco da presença de algum paparazzi, profissional ou amador;

viii) o histórico das pessoas deve ser avaliado, e quem no passado restringira a presença da imprensa em seu casamento, tem consciência sobre cuidados a serem adotados, quando queira, para evitar exposição pública;

ix) direitos de privacidade renunciados numa cena não podem ser reclamados logo em seguida, numa simples mudança de pensamento ou de querer, a seu bel prazer;

x) graças à velocidade da Internet, a matéria já havia caído em domínio público, portanto os proprietários dos sites podiam publicá-la.

Como visto, há razões para todos os gostos. Naturalmente, essa oscilação de prós e contras pode render muito pano para manga. Por isso, os canais de mídia precisam ficar atentos e se informarem sobre o estado da arte em tais casos, que tendem a se proliferar, à medida que cresce a veiculação de conteúdo ‘quente’ em plataforma ‘fria’ (high-tech, low-touch) como a Internet, na suposição – não necessariamente válida – de que o resultado fique ‘morno’ do ponto de vista de responsabilidades legais.

No próximo artigo, abordarei a questão da responsabilidade dos sites pela veiculação de matérias. O pano de fundo será o caso de um site que foi recentemente condenado na Justiça, aparentemente devido a confusão gerada pela expressão Imprensa Marrom.  

Até lá.

Advogado, formado pela PUC-Rio, já foi gerente jurídico da IBM e atua em direito da informática há 20 anos. É professor de Direito da Informática na PUC/RJ, desde 1996, e na FGV e consultor de entidades federais e regionais representativas do setor de Informática (FENAINFO, ASSESPRO, ABES e SEPRORJ). Colabora, como colunista, nas revistas Security Review e Webdesign e, em 2006, venceu o prêmio de Melhor Contribuição do Setor Privado, concedido pela seção brasileira da International Systems Security Association por seus trabalhos como professor, colunista e palestrante. É Co-autor do projeto de lei de crimes de informática, em fase final de aprovação no Congresso.”



MEMÓRIA / E. HEMINGWAY
José Paulo Lanyi

Hemingway assassino?, 3/10/06

“Ernest Hemingway era um criminoso de guerra. Ernest Hemingway era um falastrão. Ernest Hemingway era um irresponsável. Ernest Hemingway era um megalômano. Ernest Hemingway era um sádico. Ernest Hemingway era um doente.  

Leia com atenção cada uma dessas frases. São todos enunciados fortes. São ofensivos. Ou, ao menos em parte, simplesmente reveladores.

O que pensar da notícia de que o jornalista e escritor americano confessou, ou, mais acertadamente, gabou-se de ter assassinado 122 prisioneiros alemães durante a Segunda Guerra? 

Verdade? Mentira?

A notícia foi publicada no Estadão, em 29 de setembro, em reportagem de Antonio Gonçalves Filho. Transcrevo-lhe os trechos principais:

‘Hemingway afirma com orgulho ter atirado contra prisioneiros desarmados, numa carta enviada em 27 de agosto de 1947 a seu editor Charles Scribner (1890-1952). Ela foi divulgada pelo jornalista alemão Rainer Schmitz, da revista Focus. Seu conteúdo é menos literário que a descrição do conflito ético entre o impetuoso brigadista Jordan e o indiferente Pablo, narrado no livro mais conhecido de Hemingway, Por Quem os Sinos Dobram.

Nessa carta, grosseira e sem meias-palavras, Hemingway afirma ter matado um ‘chucrute’ (como ele se refere, de maneira pejorativa, ao soldado alemão) que ousou desafiar sua força. ‘Você não vai me matar, porque tem medo e pertence a uma raça de degenerados’, teria dito o militar alemão a Hemingway, invocando a violação à Convenção de Genebra (como correspondente de guerra, Hemingway transgrediu a lei, armazenando armas e granadas em seu hotel parisiense). ‘Você está errado, disse, e atirei três vezes, primeiro no estômago e depois na cabeça, fazendo cuspir seus miolos pela boca’, escreve o autor de Adeus às Armas na carta.

Três anos depois, numa outra carta – ao professor Arthur Mizener (1907-1988), da Universidade de Cornell -, Hemingway volta a contar bravatas sobre sua atuação na guerra, descrevendo, em tom macabro, sua paixão homicida: ‘Fiz alguns cálculos e posso afirmar com precisão ter matado 122 alemães.’ Um deles, segundo o escritor, foi um jovem de 16 anos, baleado ao tentar fugir de bicicleta’.

Um outro artigo, publicado nesse mesmo dia, questiona não só a literalidade como a novidade do conteúdo apresentado pelo jornalista Rainer Schmitz. A autora dessa reportagem é a argentina Patricia Kolesnicov, do diário portenho Clarín. Leia no original, no idioma de Borges (é uma honra escrever para leitores bilíngües):  

‘Muy interesante, pero nada nuevo. Un artículo publicado en ‘The Hemingway Review’-una revista de la Hemingway Society y la Universidad de Idaho- analiza, en 2002, las declaraciones de Hemingway respecto de su participación en la Guerra. Y para eso toma, entre otras, las misma cartas citadas por el alemán. Pero las toma de un libro donde ya habían sido publicadas, en 1992: A Life Without Consequences, de James Mellow’.

Note o destaque nos anos de 2002 e de 1992.

Em frente. Depois de considerar a ressalva do próprio Schmitz acerca da notória parlapatice de Hemingway, a jornalista argentina olha com atenção para algumas ponderações da revista americana: ora Hemingway dizia ter matado 26, ora 122 homens; o pintor Pablo Picasso, amigo de Hemingway, desconfiara de um relato do escritor de que matara um SS, tendo em seguida, arrancado-lhe a divisa. Picasso dissera que, se Hemingway tivesse matado um soldado, não precisaria de divisas como ‘souvenires’; sobre os três tiros no prisioneiro, o fato, estranho para os seus estudiosos, seria familiar a trechos de romances do escritor.  

Diz-se que, quando se declara uma guerra, a primeira baixa é a verdade. A mentira e a omissão são artifícios táticos preciosos para a consecução de objetivos estratégicos. No que diz respeito a Hemingway, trata-se, na melhor das hipóteses, de uma compulsão motivada pelo seu ‘complexo de super-homem’. Mas um super-homem bestializado, um super-homem à procura de si mesmo, alguém que precisava, a todo momento, se pôr à prova, em circunstâncias perigosas e, por vezes, menos dignas (o seu gosto pelo sangue das caçadas é uma indicação desse traço).

Resultado de um sentimento de inferioridade?

Talvez. Deixo a análise para os psicólogos. Digo apenas esta obviedade: as palavras iluminam os traços mais obscuros da psique. Ernest Hemingway era um criminoso de guerra? Ernest Hemingway era um falastrão? Ernest Hemingway era um irresponsável? Ernest Hemingway era um megalômano? Ernest Hemingway era um sádico? Ernest Hemingway era um doente?

Bom, doente ele era. Tanto é que se suicidou, em decorrência, dizem, de distúrbios provocados pelo alcoolismo. O suicídio, aliás, é um triste padrão em sua família (o pai, a irmã, ele mesmo, o irmão e uma neta padeceram desse mal). Genética gritante.

Assassino? Será? Não creio. Tendências homicidas? Aí sim. É o que dizem as suas palavras. É o que diz o modo que escolheu para morrer: uma morte a bala, um meio que, conjugado com outros fatores, pode ser visto como indício.    

De resto, lamento-lhe a irresponsabilidade, glamourizada na sociedade pelo culto à inteligência (que, por indiscriminar, revela-se burro) e pelos apelos da indústria da comunicação de massa.

Não se sabe se Ernest Hemingway era um assassino. Se queria ser conhecido como tal, realizou, ao menos, uma parcela de sua fantasia: instilar a dúvida e, sobretudo, a polêmica vazia e superficial, típica dos nossos tempos.    

(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).”



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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