Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

De surpresa em surpresa, o esvaziamento da crônica esportiva

Na manhã da estréia do Brasil contra a Croácia (terça, 13/6), quem dominou as capas dos cadernos esportivos foi Ronaldinho Gaúcho. Deu Kaká. Na quarta-feira os espanhóis golearam os ucranianos e só então nossos bravos coleguinhas na Alemanha descobriram que a Espanha estava na Copa.


Depois, com a goleada argentina, começamos a nos assustar com o brilho e a garra dos hermanos. Nova descoberta no sábado (17): os americanos não são tão ridículos assim no trato com a bola redonda.


O futebol é uma caixinha de surpresas – o Conselheiro Acácio não conseguiria escrever algo tão óbvio. Mas de surpresa em surpresa, o leitor dos jornalões começa a descobrir que, além do material atrasado e frio, a coordenação das equipes de jornalistas está com um problema tático – tal e qual a seleção que entra em campo. Todos querem cobrir e escrever sobre o jogão das estrelas e ninguém quer estudar o desempenho dos nossos adversários. Daí a sucessão de surpresas.


Pingos nos iis


Depois da inconvincente vitória sobre os australianos, os cadernos esportivos de segunda-feira (19/6) continuaram o blablablá de que é preciso melhorar aqui e ali. O Globo foi na direção contrária: a partir da capa do caderno iniciou um bombardeio arrasador do esquema tático. Parreira foi classificado como teimoso, o quadrado foi caracterizado como quadrado mesmo, as mudanças durante o jogo foram cosméticas etc., etc.


Nossa imprensa esportiva sempre foi muito crítica e afirmativa. Agora, com tantos recursos à disposição, está tíbia e contemplativa. Justo no momento em que os jornais de todo o mundo lutam desesperadamente para encontrar o seu lugar no espectro midiático.


Há indicações de que os jornalistas escolhidos para cobrir a Copa estão sendo muito exigidos, esmagados pela obrigação de escrever três, quatro matérias por dia. Para diferentes veículos. Sem contar os respectivos blogs. Mas o leitor não está preocupado com isso. Quer informação, quer sentir-se bem orientado, ciente e consciente.


Se a manutenção de Ronaldo engessa o ataque brasileiro é preciso que isso seja dito com todas as letras a despeito de desagradar a CBF, os patrocinadores e as legiões de fãs. Se Ronaldinho está com um rendimento muito abaixo do esperado, que isso seja claramente exposto apesar do craque ser o xodó das leitoras e dos jovens.


É preciso não esquecer que a conquista do hexacampeonato é tão importante quanto o resgate do jornalismo esportivo em letra de forma.


Em tempo


Certamente preferiríamos ter o Bussunda entre nós. Mas o seu trágico desaparecimento foi decisivo para convencer a direção da TV Globo a acabar aqueles acessos de riso das suas apresentadoras.