Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Desvio de foco

Devo estar fora de moda e envelhecendo. Os conceitos e ensinamentos que recebi de meus pais não devem estar mais valendo neste século 21, da globalização e do mundo virtual. Sinal dos tempos. Na ânsia de defender o vice-presidente, o jornalista J. Carlos de Assis faz sua salada e envereda pela política econômica neoliberal, agiotagem institucionalizada, dívida da Globo (que, segundo o Observatório, será amenizada pelo Proer da Mídia, patrocinado pelo BNDES, do governo Lula), Banco Central e outros temas que se desviam completamente do foco da questão.

Separando as coisas, não há como negar que foi um pedido indevido de um poderoso executivo público, confirmado pelo assessor da Vice-Presidência (visivelmente constrangido) e pelo amigo Sr. Dadinho, que espontaneamente (espera-se) o confirmaram nas entrevistas do Fantástico. Não importa em nada se a carta chegou quatro dias após o resultado do concurso. Pedir "especial interesse" mesmo na leitura da carta, para bom entendedor, significa interpretação para que o neto médico fosse efetivado no concurso. O vice-presidente, em sua defesa, alega algo como eficiência de seu gabinete, que todos os documentos devem ser enviados com rapidez, que todo executivo tem secretária etc. Sem triagem? Todo e qualquer documento?

Em vez dessas explicações, José Alencar poderia dizer à sociedade qual o significado da expressão "leitura com especial interesse". Infelizmente, estamos longe de sair da cultura do jeitinho brasileiro e das influências das elites no poder do "pode tudo". Outros jornalistas também se indignaram com a reportagem e o "linchamento". Estranhamente Hildegard Angel, de sobrenome glorioso e famoso pelas lutas contra as desigualdades, também saiu em defesa de Alencar. Prefiro ficar com a coluna de Dora Kramer, no Jornal do Brasil, cuja opinião diverge dos acima.

Concordo que não se trata de falta grave. Daí a dizer que Alencar acertou e foi correto vai um precipício. Bem que nosso vice poderia se retratar, assumir o erro e dar o exemplo, que deve sempre vir de cima. A turma do andar de baixo, sem pistolão, que se mata de estudar para conseguir êxito em concursos, agradece.

Luiz Antonio de Sousa da Silveira, Rio de Janeiro

 

Pagando caro

O autor, enquanto jornalista, deveria estar mais bem-informado a respeito da causa e efeito dos acontecimentos mundiais. O nosso vice, em entrevista a Boris Casoy, no Passando a limpo, declarou basicamente o seguinte: "Os judeus deviam se retirar da Palestina para que haja paz naquela parte do mundo", declaração essa que indignou sobremaneira o entrevistador, e fez com que o entrevistado fosse mais tarde interpelado por um rabino, e acabasse se desculpando. Creio que as coisas não pararam por aí. A Rede Globo, endividada, necessita da boa vontade dos "banqueiros", e por isso bate forte no "vice", que se expôs demasiadamente com sua resposta pouco diplomática, e agora está pagando caro.

A catilinária contra os juros apenas demonstra o grau de ignorância do "vice", que não percebe que os juros não estão tão altos assim, pois devemos descontar a inflação para percebermos os juros reais. Esses juros não podem baixar porque estimulariam o aumento de consumo, ficando evidente entre outras coisas que não temos reserva de energia, a indústria não cresce do dia para noite e os empresários acabariam aumentando seus preços para lucrar mais com o mesmo investimento. Ou seja com inflação. Recomendo ao prezado jornalista que leia os artigos de Stephen Kanitz da Veja, principalmente a de 14/1/04, eles o ajudariam a digerir melhor o neoliberalismo. Cordiais saudações.

Regis Baldino

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