Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Diretor de arte mudou a cara do New York Times

A missão de Louis Silverstein no New York Times era ajudar a atrair um público maior e mais jovem – na época, a televisão e a economia em declínio ameaçavam a influência e a receita dos jornais. Ele compreendeu que o diário precisava se modernizar; não dava mais para continuar com suas páginas recheadas quase que inteiramente de colunas apertadas com letras compactas, raramente cortadas por alguma fotografia ou mapa.

A solução encontrada pelo diretor de arte foi defender a ideia de que o jornal deveria se abrir para o design, usar fontes de letras mais criativas, aumentar o tamanho e a frequência das fotografias, adicionar gráficos explicativos e publicar menos matérias por página. “Ele queria que o jornal respirasse”, lembra Arthur Gleb, ex-editor-executivo do Times.

Silverstein morreu na semana passada (1/12), aos 92 anos, de parada cardiorrespiratória, em um hospital do Brooklyn. Ele era casado há 60 anos, e, além de sua mulher, deixa uma filha e dois netos.

Leitura confortável

Muitas das contribuições de Silverstein para o Times continuam em vigor, como o tamanho das letras para tornar a leitura mais confortável. Ele também comandou a reconfiguração da primeira página de oito para seis colunas, em 1976. Quando o Times expandiu de duas para quatro seções diárias, foi ele quem previu a necessidade e estimulou a mudança. “Toda vez que você pega o jornal, tem nas mãos um reflexo do talento brilhante de Lou”, afirmou, certa vez, o ex-editor-executivo A. M. Rosenthal, que comandava o diário nesta época.

E “Lou” costumava ser chamado para diagramar a primeira página quando surgia alguma pauta de proporções históricas. Foi o que aconteceu quando o homem chegou à Lua, em 1969. A primeira página foi dedicada inteiramente ao evento, trazia um poema feito especialmente para a ocasião por Archibald MacLeish e, até então, o maior tamanho de manchete da história do jornal, que anunciava: “Men Walk on Moon” (Homens andam na Lua).

Padrinho

Antes de se tornar diretor de arte do diário, Silverstein havia sido diretor de arte em agências de publicidade e trabalhado diretamente para a New York Times Company. Ele era também pintor abstrato.

Em uma pesquisa na revista Advertising Age, em 1984, especialistas em artes gráficas elegeram o Times o jornal com o melhor design dos EUA. Dois anos depois, o Los Angeles Times afirmou que Silverstein havia influenciado uma nova diagramação em jornais de todo o país, ganhando o mérito de “padrinho” do design moderno dos diários. Tom Bodkin, atual diretor de arte do Times, diz que Silverstein elevou o design de jornais de ofício a profissão.

Nascido em outubro de 1919, no Brooklyn, onde seus pais eram donos de um mercado e os vizinhos admiravam os desenhos que fazia nas calçadas, Silverstein estudou belas artes no Instituto Pratt e trabalhou com design gráfico enquanto servia na Força Aérea. Depois da Segunda Guerra Mundial, foi estudar no Instituto de Design de Chicago.

Promoções

Silverstein trabalhou para uma agência do Departamento de Estado americano como diretor de arte para uma revista em língua russa chamada Amerika, distribuída na União Soviética, até ser contratado pelo departamento de promoções do Times em 1952. No ano seguinte, tornou-se diretor do departamento. Em 1967, começou a fazer as mudanças no design do jornal. Dois anos depois, ele ganhou o cargo de diretor de arte da New York Times Company, e um ano depois assumiu a direção de arte do diário homônimo.

Em 1976, Silverstein foi promovido a chefe de redação assistente – na primeira vez que alguém do departamento de arte chegou ao posto. Em 1984, seu nome foi incluído no Art Directors Hall of Fame. Depois de sua aposentadoria, em 1985, Silverstein continuou a prestar consultoria para a New York Times Company, ajudando em reformas de 35 jornais regionais do grupo, e remodelou publicações no Brasil, na Espanha e no Quênia. Informações de Douglas Martin [The New York Times, 1/12/11].