Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Do bizarro ao exclusivo

Em 1950 era o rádio. Em 54 era o nada, como descrito no livro do Jô Soares A copa que ninguém viu. Em 58, o primeiro registro físico da mídia – não estou contando jornais ou revistas – na forma de comunicação audiovisual, após a conquista da copa na Suécia, foi o disco que consagrava a seleção, ainda gravado em 78 rotações, a campanha vitoriosa narrada pela voz de Estevan Sangirardi, com selo da antiga CBD, a atual CBF. Em 62, no Chile, explodiu o primeiro enredo, ‘A taça do mundo é nossa, com o brasileiro, não há quem possa’, que virou hino nacional, marcha de carnaval, e o ufanismo embalava a nação verde-amarela.

A transmissão pela TV em 1966 foi a mais bizarra possível; explodia a venda de TVs pelo país e as emissoras se esforçavam para mostrar os jogos da seleção através de um tabuleiro, mais ou menos parecido com um campo mal-acabado de futebol de botões de mesa. Chegamos a 1970. Um ano antes o homem pisara na Lua e deixava o maior legado da corrida espacial, a transmissão via satélite, ainda em preto em branco. ‘Ligo e aparelho e vejo o Rei Pelé, vamos então repetir o gol’ – claro, evidentemente, chegava também o VT, sem a sofisticação atual, sem o computador, mas dava para ver a ‘reprise’ dos gols.

O quinto

Viajamos pelo ano de 74, a primeira copa transmitida no formato próximo do atual, colorida e com alguns poucos recursos do evento ao vivo, como sons das torcidas, e deu para ver a cor laranja da camisa da Holanda. As redes transmitiam de forma simultânea a Copa do Mundo. Ainda vagando pelo passado, fomos parar na Argentina em 78, auge do regime militar naquele país, e assistimos ao nosso inédito título de ‘campeão moral’, e um gol inexplicável feito pelo Nelinho, contrariando todas as leis da física.

Em 1982, a copa que era para ser nossa não foi: a competição como sempre pôs à prova o pragmatismo do jogo. E o romantismo caiu por terra diante da eficiente Itália. A voz solitária de Juarez Soares, parado e estático diante do gramado do Estádio Sarriá (já demolido), tentava consolar os brasileiros pela Rede Globo, a primeira transmissão exclusiva da Copa, um avanço em tecnologia para muitos, um atraso na informação para os demais. Seguiram-se as transmissões de 86, 90, 94 e 98, quando soubemos, assustados, da convulsão de Ronaldo Fenômeno. Com a expansão da internet, lemos os boatos de que o Brasil entregara a copa, tudo, claro, sob a orquestração da Nike.

Conseguimos chegar a 2002, e Felipão conquistou aquilo que muitos davam como impossível, mais um campeonato, o quinto (intercalado, dois consecutivos 58 e 62), e aí já com a proliferação das transmissões do canais fechados. De quem? Claro, do canal Sportv, que pertence à mesma Rede Globo. Demoramos mas estamos em 2006, marketing vultoso, num estilo que faria a Voz do Brasil parecer brincadeirinha de criança. É só ligar a TV e ouvir a voz nacional: ‘Bem, amigos da Rede Globo…’

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Analista de sistemas, Peruíbe, SP